(HD) - O Governo brasileiro fez muito mal ao tentar justificar a
suposta “contraespionagem” da ABIN contra países estrangeiros. Poderia ter sido
dito, simplesmente, que essas operações não foram realizadas pelo atual
governo.
À medida, no entanto, que mais se descobre sobre as
atividades da ABIN, e da Divisão “Antiterrorismo” da Polícia Federal, fica mais
claro o descompasso entre a situação do Brasil no mundo, e a visão de alguns de
seus homens sobre nossas relações internacionais – apesar dos EUA também terem
sido “espionados” em território brasileiro.
É preciso que alguém lhes explique que a Al Qaeda, o Hamas,
as FARC, os iraquianos, ou os iranianos, – por serem inimigos dos
norte-americanos – não são automaticamente nossos inimigos.
Ao contrário dos EUA, não nos metemos na casa dos outros com
hipocrisia e mentiras, para invadir e destruir nações como eles fizeram no Iraque e tentam fazer na
Síria.
Nós não torturamos prisioneiros estrangeiros, nem os
prendemos sem direito a julgamento, em bases extraterritoriais, como Abu Ghraib
e Guantanamo.
Não bombardeamos crianças e idosos com aviões não tripulados.
Não julgamos os outros porque não aceitamos ser julgados por
gente de fora, e não temos, graças a Deus, nem a disposição ou a arrogância de
agir como se fôssemos perfeitos ou os xerifes do mundo.
Que temos grandes colônias árabe e judia, que vivem em paz e
harmonia, e que não corremos o risco de ser atacados por “terroristas”.
Que na década de 1970 milhares de brasileiros trabalharam no
Iraque e foram muito bem tratados, e que vendíamos armas a Bagdá, na mesma
época que os EUA também o faziam, e que eles
venderam também armas à Líbia de
Kadafi, e até mesmo aos iranianos – à época do caso Irã-contras.
Ou o fato de que, no comércio com a Venezuela, temos grande
superávit, enquanto temos prejuízo no comércio com os Estados Unidos.
Ou que não somos aliados das FARC – mas cooperamos para a
libertação de reféns que estavam em seu poder várias vezes – e que essa
organização já está em processo de negociação - ao que parece bem sucedida -
para a sua pacificação, com o governo colombiano.
Se, alguma vez,
houver um grande atentado terrorista no Brasil, com certeza, ele não
partirá desses "inimigos" mas sim daqueles que querem nos
indisponibilizar com o resto do mundo, ou nos arrastar com eles para uma
"guerra contra o terror".
Por esta razão, é preciso – e o Congresso deve providenciar
isso imediatamente - extinguir qualquer resquício da DAT, a "Divisão Antiterrorismo" da Polícia Federal,
devolver os prédios e os equipamentos recebidos, no passado, como forma de
“cooperação” - e que são compartilhados por agentes norte-americanos em
nosso território - aos Estados Unidos e convidar “educamente”, todos os agentes
do FBI, da CIA e da NSA operando em território brasileiro a deixar o país.
Se quiserem, que se disfarcem de diplomatas “normais”, e
finjam que são do Departamento de Estado, como fazem em Delhi, Pequim ou Moscou, por exemplo.
É um acinte que operem livremente no Brasil, com seus cartões
de visita, como faziam à época de FHC, e foi denunciado pelo ex-secretário
Nacional Antidrogas Walter Maierovich.
Quanto às “doações” norte-americanas, na área de segurança,
deve se tornar padrão a norma de não receber nenhum prego no futuro.
Não é o Brasil que precisa dos Estados Unidos, mas sim o
contrário, se não, nós não seríamos, com quase 250 bilhões de dólares emprestados,
o terceiro maior credor dos norte-americanos.
Finalmente, nunca é demais lembrar que o trabalho de
informação não deve ser confundido com a atividade policial – embora ele possa
ser usado também pela polícia.
Em todo o mundo essa é uma área complexa e de elite, que
depende de formação de primeira linha.
Considerando-se, que, para quem está no setor, é mais que
recomendável o domínio de línguas estrangeiras, e – como fica a cada dia mais
patente – um profundo conhecimento de geopolítica e relações internacionais, a
formação de nossos analistas de informações deveria ocorrer paralelamente à da
diplomacia.
Concluído o curso do Instituto Rio Branco, os formandos, igualmente
bem preparados, poderiam optar pela carreira diplomática ou pela área de
informações – - com plano de carreira e remuneração semelhantes.
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