postado em: 07/11/2013
Tudo indica que o ano terminará politicamente empatado. O país não cresceu tanto quanto esperava o governo, expectativa extraída de suas projeções feitas em documentos oficiais. Mas tal defasagem não chega a ser novidade, pois desde o seu início, o mandato da presidenta Dilma Rousseff tem sido marcado pela recorrente frustração dos indicadores de crescimento. Frustração, fundamental dizer, alimentada pela própria equipe econômica e seus anúncios triunfais, veiculados na mídia impressa e audiovisual. É verdade também que a economia não tem deixado de avançar, sendo que especialmente neste atual 2013 o crescimento provavelmente superará as previsões pessimistas feitas por especialistas em meados do ano. Assim, desempenho medíocre para ruim no que se refere ao avanço do PIB fará necessariamente parte do cenário eleitoral.
Após período conturbado, o da Copa das Confederações e as manifestações de junho, o governo readquire patamares elevados de aprovação e se torna mais uma vez favorito nas projeções dos institutos de pesquisa eleitoral. Por um lado, é certo que as taxas de apoio não voltaram aos alcançados em inícios de 2013, mas, por outro, já era esperado que os sucessivos recordes de aprovação acabassem afetados pelos indicadores de inflação elevados e desempenho econômico abaixo do esperado. É razoável trabalhar então com a hipótese de que os números atuais, naquilo que são informativos a respeito do cenário político e humores dos votantes, expressam com mais fidedignidade o que deve ser o ponto de partida do ano eleitoral.
É importante, creio que central, refletir com mais cuidado sobre o que tem ocorrido na economia, os motivos pelos quais não vem crescendo tanto quanto se esperava e o que pode ser feito para a frustração não resultar ainda maior em plena corrida eleitoral. Ao longo dos primeiros anos de exercício à frente da presidência, Dilma Rousseff promove mudanças importantes e consideradas vitais, pelo conjunto mais significativo e expressivo do empresariado, para que o país pudesse crescer de maneira consistente com seu potencial, estimado em torno de 4,5 a 5 % ao ano: após promover pequena desvalorização no câmbio, o Banco Central inicia uma série de rodadas de redução na taxa básica de juros.
Além disso, o custo da energia é reduzido de forma significativa, além da adoção por parte do Ministério da Fazenda da política de desonerações tributárias em segmentos fundamentais da indústria. Em outras palavras, o governo fez o que o empresariado demandava como providências de curto-prazo para a que a indústria retomasse seu papel de polo dinâmico do desenvolvimento.
Os efeitos das medidas, como se sabe, longe estão de corresponder aos objetivos colimados. É possível sustentar que o setor produtivo agiu de forma oportunista, vale dizer, usufruiu dos rendimentos oferecidos por taxas de juros menores e custos mais baixos de produção, via desoneração e redução do preço da energia, e não entregou o que o governo e sociedade esperavam: investimento. Como desculpa para o comportamento, a mesma retórica de sempre: peso do estado ainda elevado, ineficiência nos serviços de infraestrutura, falta de preparo da mão de obra, etc... Nesta altura, cabe a indagação: seria de se esperar um comportamento distinto?
Para tornar a reflexão mais palpável: seria razoável esperar um comportamento cooperativo por parte do empresariado unicamente por default, sem a criação de espaços de interlocução nos quais resultados pudessem ser explicitamente cobrados e demandas supervenientes eventualmente colocadas?
Relevante ressaltar que a falta de um ambiente de interlocução entre governo e setores da sociedade não adveio do empresariado: grande parte dos sindicatos, em diversos momentos, chamou a atenção para a ausência de diálogo entre a presidenta e trabalhadores. A agressividade e eclosão do movimento grevista, inclusive por parte de categorias que há anos não enredavam por esta via, só acabou por comprovar o ponto.
Assim, parece razoável também sustentar que alguma parte do insuficiente desempenho econômico brasileiro durante os últimos anos se deve ao fator político. É possível, enfim, que a desconsideração da interlocução política como essencial para convencer os atores a aderirem aos planos de governo seja um dos motivos principais para a ausência de resultados mais expressivos das políticas estabelecidas para o curto-prazo.
Setores ligados ao capital já perceberam a possibilidade de se criar um ambiente econômico desfavorável em 2014, consolidando assim sentimento majoritário oposicionista. O assunto da vez é o descontrole das contas públicas, numa primeira demonstração da estratégia a ser utilizada pelo capital financeiro privado no próximo ano. A resposta, para esta rodada do jogo, e para as próximas tem de ser política. Definir os interlocutores e estabelecer uma agenda de trabalho na qual parte do capital produtivo, sindicatos de trabalhadores e setores dos movimentos sociais deixem claro quais são seus anseios e expectativas e ouçam do governo claramente quais são seus limites, e daí derivando acordos factíveis de cooperação, parece ser um primeiro e decisivo ponto de partida.
(*) Professor e Pesquisador - IESP/UERJ
Tudo indica que o ano terminará politicamente empatado. O país não cresceu tanto quanto esperava o governo, expectativa extraída de suas projeções feitas em documentos oficiais. Mas tal defasagem não chega a ser novidade, pois desde o seu início, o mandato da presidenta Dilma Rousseff tem sido marcado pela recorrente frustração dos indicadores de crescimento. Frustração, fundamental dizer, alimentada pela própria equipe econômica e seus anúncios triunfais, veiculados na mídia impressa e audiovisual. É verdade também que a economia não tem deixado de avançar, sendo que especialmente neste atual 2013 o crescimento provavelmente superará as previsões pessimistas feitas por especialistas em meados do ano. Assim, desempenho medíocre para ruim no que se refere ao avanço do PIB fará necessariamente parte do cenário eleitoral.
Após período conturbado, o da Copa das Confederações e as manifestações de junho, o governo readquire patamares elevados de aprovação e se torna mais uma vez favorito nas projeções dos institutos de pesquisa eleitoral. Por um lado, é certo que as taxas de apoio não voltaram aos alcançados em inícios de 2013, mas, por outro, já era esperado que os sucessivos recordes de aprovação acabassem afetados pelos indicadores de inflação elevados e desempenho econômico abaixo do esperado. É razoável trabalhar então com a hipótese de que os números atuais, naquilo que são informativos a respeito do cenário político e humores dos votantes, expressam com mais fidedignidade o que deve ser o ponto de partida do ano eleitoral.
É importante, creio que central, refletir com mais cuidado sobre o que tem ocorrido na economia, os motivos pelos quais não vem crescendo tanto quanto se esperava e o que pode ser feito para a frustração não resultar ainda maior em plena corrida eleitoral. Ao longo dos primeiros anos de exercício à frente da presidência, Dilma Rousseff promove mudanças importantes e consideradas vitais, pelo conjunto mais significativo e expressivo do empresariado, para que o país pudesse crescer de maneira consistente com seu potencial, estimado em torno de 4,5 a 5 % ao ano: após promover pequena desvalorização no câmbio, o Banco Central inicia uma série de rodadas de redução na taxa básica de juros.
Além disso, o custo da energia é reduzido de forma significativa, além da adoção por parte do Ministério da Fazenda da política de desonerações tributárias em segmentos fundamentais da indústria. Em outras palavras, o governo fez o que o empresariado demandava como providências de curto-prazo para a que a indústria retomasse seu papel de polo dinâmico do desenvolvimento.
Os efeitos das medidas, como se sabe, longe estão de corresponder aos objetivos colimados. É possível sustentar que o setor produtivo agiu de forma oportunista, vale dizer, usufruiu dos rendimentos oferecidos por taxas de juros menores e custos mais baixos de produção, via desoneração e redução do preço da energia, e não entregou o que o governo e sociedade esperavam: investimento. Como desculpa para o comportamento, a mesma retórica de sempre: peso do estado ainda elevado, ineficiência nos serviços de infraestrutura, falta de preparo da mão de obra, etc... Nesta altura, cabe a indagação: seria de se esperar um comportamento distinto?
Para tornar a reflexão mais palpável: seria razoável esperar um comportamento cooperativo por parte do empresariado unicamente por default, sem a criação de espaços de interlocução nos quais resultados pudessem ser explicitamente cobrados e demandas supervenientes eventualmente colocadas?
Relevante ressaltar que a falta de um ambiente de interlocução entre governo e setores da sociedade não adveio do empresariado: grande parte dos sindicatos, em diversos momentos, chamou a atenção para a ausência de diálogo entre a presidenta e trabalhadores. A agressividade e eclosão do movimento grevista, inclusive por parte de categorias que há anos não enredavam por esta via, só acabou por comprovar o ponto.
Assim, parece razoável também sustentar que alguma parte do insuficiente desempenho econômico brasileiro durante os últimos anos se deve ao fator político. É possível, enfim, que a desconsideração da interlocução política como essencial para convencer os atores a aderirem aos planos de governo seja um dos motivos principais para a ausência de resultados mais expressivos das políticas estabelecidas para o curto-prazo.
Setores ligados ao capital já perceberam a possibilidade de se criar um ambiente econômico desfavorável em 2014, consolidando assim sentimento majoritário oposicionista. O assunto da vez é o descontrole das contas públicas, numa primeira demonstração da estratégia a ser utilizada pelo capital financeiro privado no próximo ano. A resposta, para esta rodada do jogo, e para as próximas tem de ser política. Definir os interlocutores e estabelecer uma agenda de trabalho na qual parte do capital produtivo, sindicatos de trabalhadores e setores dos movimentos sociais deixem claro quais são seus anseios e expectativas e ouçam do governo claramente quais são seus limites, e daí derivando acordos factíveis de cooperação, parece ser um primeiro e decisivo ponto de partida.
(*) Professor e Pesquisador - IESP/UERJ
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