Apesar do socorro de 100 bilhões de euros à Espanha, crise faz aumentar o temor de que as dificuldadess econômicas arrrastem outros gigantes europeus - e coloca em dúvida o futuro do euro
A mesma espiral de destruição que levou a Grécia à lona chegou agora à Espanha. Na quarta-feira 13, a agência de classificação de risco de crédito Moody"s rebaixou o rating (capacidade de um determinado emissor de títulos de cumprir compromissos com investidores) do país e uma série de indicadores negativos vem causando pânico nos mercados. Segundo a agência, a queda da classificação reflete a necessidade de a Espanha recorrer a um plano de socorro de 100 bilhões de euros, que serão liberados pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (ESM, sigla em inglês) e principalmente a persistente fragilidade da economia do país ibérico. A crise reforça os temores de um contágio à Itália, colocando Roma no centro da crise europeia e gerando um efeito dominó. "Se isso acontecer será o fim do euro", afirma José Luis Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB). A economia espanhola entrou oficialmente em recessão ao registrar uma queda de 0,3% de seu Produto Interno Bruto no primeiro trimestre. Com uma demanda interna fraca, a produção industrial despencou e o emprego sumiu – mais da metade dos jovens espanhóis estão sem trabalhar. O cenário fez com que investidores internacionais corressem para a porta de saída e, pior ainda, os bancos domésticos não dão conta de tampar buracos na economia.
A essa altura da crise, o que mais preocupa é que outras importantes economias entrem em recessão. Tudo indica que a bola da vez seja mesmo a Itália. Segundo dados divulgados na última semana, o PIB italiano, que já vinha encolhendo desde o terceiro trimestre do ano passado, caiu novamente nos três primeiros meses de 2012. Apesar de alguns economistas considerarem os indicadores da economia italiana melhores do que os espanhóis, o problema é a percepção dos mercados de que a Itália seguirá o mesmo caminho. No caso de um calote espanhol, nem as economias consideradas mais fortes da Europa, como Alemanha e França, sairiam ilesas. De acordo com um levantamento da Autoridade Bancária Europeia, as instituições financeiras alemãs têm 146 bilhões de euros a receber do governo e do setor privado espanhol. A França, que emprestou aos espanhóis 115,2 bilhões de euros, também seria afetada por um eventual calote. Para o primeiro-ministro Mariano Rajoy, a crise será atenuada no segundo semestre, mas a onda de protestos que varre o país revela que a população não confia numa recuperação imediata.
Como reverter um cenário que, ao contrário de prognósticos feitos no início do ano, parece piorar? Até agora, a política de austeridade tem se mostrado pouco eficiente. O corte de gastos em meio à recessão induz à queda da atividade econômica, o que leva a uma diminuição das receitas tributárias do governo e, no fim das contas, o déficit se mantém tão grande quanto no início. Até o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman já defendeu que, para a Espanha sair da crise, é necessário um aumento da demanda doméstica, o que, num primeiro momento, requer um aumento dos gastos do governo espanhol, em vez de uma redução. Krugman chegou a afirmar inclusive que a política de combate à crise da chanceler alemã Ângela Merkel representa um empecilho difícil de ser superado. Num momento de crise acentuada, não é hora de apertar demais o cinto – mas é justamente isso que a Espanha e a Grécia fizeram nos últimos meses.