sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Governo quer acabar com política de indexação do salário mínimo.

Sensor publica artigo de Tereza Cruvinel, transcrito do Conversa Afiada. 

O comunicado do FMI emitido nesta quinta-feira, após a primeira visita oficial ao Brasil na fase Temer, recomendou o fim do mais importante instrumento de combate à pobreza e à desigualdade adotado nos governos Lula e Dilma, a política de valorização do salário minimo. De 2003 a 2015, o aumento real do SM foi de 76%, alterou o perfil de consumo e foi o principal fator para redução da pobreza registrada pelo Brasil, segundo a ONU. Como diria Lula em outros tempos, nunca antes neste país o salário mínimo fora tão forte.
No início do segundo mandato de Lula, o governo e as centrais sindicais firmaram o acordo que estabeleceu novas regras para a correção anual do salário mínimo, sepultando a velha prática de corrigi-lo apenas pela inflação (e às vezes nem isso), o que não garantia aumentos reais do seu poder de compra. Desde sua criação pelo presidente Getúlio Vargas, aumentos maiores para o salário mínimo sempre despertaram reações conservadoras, tais como as que derrubaram o ministro do Trabalho de Vargas, João Goulart, quando ele propôs um aumento de 100% em 1954. O acordo negociado por Lula com as centrais resultou na regra pela qual o salário mínimo passou a ser reajustado anualmente com base na variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano retrasado, somada à inflação acumulada do ano anterior, medida pelo Índice Nacional de Preços do Consumidor (INPC). No governo Dilma, em 2011, o Congresso transformou o acordo que já vinha vigorando na Lei n° 12.382.
Uma forma de aferir o poder de compra do salário mínimo é pelo cálculo de quantas cestas básicas ele pode comprar. Se em 1995 podiam ser compradas 1,02, em 2014 podiam ser compradas 2,21.
Mas o FMI está recomendando não apenas o fim desta política que beneficiou os mais pobres, incrementou o mercado de consumo e a dinâmica da economia. Quer também que seja quebrada a vinculação das aposentadorias e pensões do INSS ao salário mínimo, o que afetará cerca de 25 milhões de brasileiros.
Se o Governo Temer, como o de Macri na Argentina, render-se ao FMI, e aceitar tais recomendações, teremos o mais grave de todos os desmontes sociais que vêm sendo feitos.

A demissão de Trajano da ESPN

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-demissao-de-trajano-da-espn-e-um-prenuncio-da-caca-as-bruxas-nas-grandes-corporacoes-jornalisticas-por-paulo-nogueira/

A resposta patética da Globo à bofetada de Jandira Feghali

http://www.ocafezinho.com/2016/09/30/a-resposta-patetica-da-globo-a-bofetada-de-jandira-feghali/

Entrega do pré-sal: capítulo doloroso do script do golpe.



*José Álvaro de Lima Cardoso.
         As multinacionais em geral, e as de petróleo em particular, estão exultantes com o governo que ajudaram a empossar. Recentemente, a estatal norueguesa Statoil, que adquiriu da Petrobrás a participação de 66% no campo Carcará, no pré-sal na Bacia de Santos, comemorava em seu site: “Por meio dessa aquisição, nós estamos tendo acesso a um ativo de primeira classe e fortalecendo nossa posição no Brasil, uma das áreas consideradas chave para a Statoil devido ao grande volume de recursos e à sintonia perfeita com nossas tecnologias e nossa capacidade de execução. O campo de Carcará irá aumentar significativamente os volumes produzidos internacionalmente pela Statoil a partir da década de 2020”. Cálculos conservadores dão conta que o poço adquirido por US$ 2,5 bilhões, deverão gerar para a Statoil US$ 10 bilhões de lucros. Negócio extraordinário para a empresa.
          Em 27 de setembro, o presidente da Shell, Ben van Beurden, reuniu-se com Michel Temer e afirmou que o Brasil é um dos principais países de interesse para a petroleira investir. Segundo o executivo:  "Não temos um anúncio ou um pedido a fazer, só viemos sublinhar a importância do Brasil para a empresa. A indústria do petróleo tem um tempo de vida muito grande e os investimentos são feitos pensando no longo prazo". Na prática as empresas estrangeiras de petróleo estão comemorando a temporada de vendas na Petrobrás e a abertura do mercado do pré-sal, que atende diretamente os interesses destes grupos.
         A nova direção da Petrobrás, com sua política de privatização mal disfarçada, vem abrindo espaços crescentes para as multinacionais. O novo Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 da Petrobrás prevê redução dos investimentos da empresa para os próximos cinco anos. O valor previsto para os investimentos no novo Plano, US$ 74,1 bilhões, significa uma redução de 25% em relação ao plano anunciado anteriormente (período de 2015 a 2019), que projetava investimentos de US$ 98,4 bilhões.
        A anglo-holandesa Shell, que hoje comemora a possibilidade de acessar com grandes vantagens os já mapeados poços do pré-sal, devolveu ao governo brasileiro em 2001, uma área localizada na Bacia de Santos, sob o regime de Concessão. Justamente nessa área devolvida, nove anos depois, seria descoberta a maior jazida de petróleo do pré-sal, o poço gigante de Libra. A Shell desenvolveu poço exploratório que atingiu 4 mil metros, mas desistiu, por não encontrar indícios importantes de petróleo. Nove anoso depois, ao nível de 6 mil metros, a Petrobrás descobriu uma jazida gigante de petróleo. Apesar da impressionante blindagem da mídia em relação às multinacionais, há indicações de que o equipamento utilizado pela multinacional era obsoleto e inadequado. A Shell informou que, naquela ocasião, a empresa não reconhecia o potencial do pré-sal. Pode-se imaginar o que diriam os entreguistas, se fosse a Petrobrás que tivesse devolvido o campo de Libra à Agencia Nacional de Petróleo e, posteriormente, uma multinacional verificasse no local a existência de uma jazida bilionária.
        A capacidade tecnológica da Petrobrás é reconhecida em todo o mundo. O pré-sal já responde por quase metade da produção nacional, mais de uma milhão de barris diários, resultado alcançado apenas após dez anos da descoberta destas jazidas, verdadeiro fenômeno na história do petróleo. O fato mostra a extraordinária produtividade do pré-sal: o primeiro milhão de barris diários de petróleo produzido pela Petrobras só foi atingido em 1998, quando a estatal tinha 45 anos de existência. O recorde foi atingido com a exploração de apenas 52 poços ativos, quando o primeiro milhão de barris diários foi alcançado com a exploração de mais de 8 mil poços produtores.
        O custo de extração do barril no pré-sal, que vem sendo gradativamente reduzido nos últimos anos, passou de US$ 9,1 por barril de óleo equivalente (óleo + gás) em 2014, para US$ 8,3 em 2015, e, no primeiro trimestre deste ano, chegou a um valor inferior a US$ 8. Segundo a estatal, o custo médio da indústria oscila em torno dos US$ 15 por barril de óleo equivalente. Não é casual que o pré-sal seja um dos objetivos centrais do golpe de Estado em curso no Brasil. Essas jazidas possuem taxa de produtividade bastante superior à média mundial, operando com tecnologia de ponta e risco zero em cada poço, sendo economicamente viável a partir de um barril em torno de U$45/50. 
      É bastante possível que o encontro entre o presidente mundial da Shell, Bem van Beurden, e Michel Temer visou acertar detalhes da entrega do pré-sal à voracidade das multinacionais. A prioridade do governo no Congresso após as eleições municipais é alterar as leis que regem a exploração do pré-sal, em prejuízo da Petrobrás e dos interesses nacionais. Até o mundo mineral já sabe que a entrega do petróleo é o golpe dentro do golpe. O projeto que tira a obrigatoriedade da Petrobras ser a única operadora nos campos é de autoria de José Serra, que prometeu à Chevron acabar com o regime de Partilha. Há muito já se denuncia, sem repercussão quase nenhuma, que a legislação que regula a exploração do pré-sal seria uma das primeiras a ser guilhotinada. Do script previsto no processo golpista, esse capítulo foi sempre o mais evidente e o mais doloroso para aqueles que amam o Brasil.
                                                                                  *Economista.

Jandira, mulher de coragem.

https://www.facebook.com/sigajandira2/videos/1312529465448379/

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A Lava Jato só acaba quando acabar com o PT

Jeferson Miola, no site Carta Maior
  Consumado o golpe para derrubar a Presidente Dilma e interromper o ciclo dos governos do PT que o PSDB não conseguiu licitamente nas últimas quatro eleições presidenciais, a Lava Jato seria encerrada. Uma vez concretizado o plano inicial, a Operação perderia sua razão de ser. Esta era a aposta prevalente na crônica política.

A evolução da Lava Jato, entretanto, indica que os controladores da Operação preferiram evitar o alto custo político de encerrá-la logo após a farsa do impeachment. Optaram por continuá-la, porém ajustando seu caráter, que passou a ser abertamente eleitoral e partidário.

Confortáveis no regime de exceção e de arbítrio que dá guarida à sua atuação político-ideológica, os juízes, delegados e procuradores da Lava Jato removeram a máscara da imparcialidade e da isenção que nunca tiveram.

Perderam o pudor, abandonaram o menor senso de decência pública e atuam acima e à margem da Lei. Se mostram tão despudorados quanto o candidato a prefeito de Curitiba que, sem auto-censura e vergonha humana, admite vomitar com o cheiro de pobre [sic].

Esses personagens se sentem poderosos, heróicos e inatingíveis graças à Rede Globo e à mídia que, no noticiário, incensa-os e glorifica-os, assim como sublima os não-valores que eles representam.

A virulência empregada contra o PT e o ex-presidente Lula assumiu um padrão totalitário nas fases recentes da investigação. Nas semanas pré-eleitorais, a força-tarefa promoveu um espetáculo propagandístico para condenar midiaticamente o ex-presidente Lula sem provas, mas com “muita convicção”; e para decretar a prisão de dois ex-ministros dos governos do PT, em flagrante inobservância ao devido processo legal e ao Estado de Direito. Tudo sob medida para fornecer munição e alvejar as candidaturas do PT na eleição municipal.

O contorcionismo dos agentes da Lava Jato para livrar de investigação e julgamento os integrantes do governo golpista, não é menos apavorante que esta realidade autoritária. A força-tarefa se esgueira em explicações inexplicáveis que não conseguem ocultar a seletividade e o direcionamento para mirar exclusivamente os “inimigos do regime” e safar os “bandidos do regime”.

Por dois anos e meio, os justiceiros da Lava Jato perseguem e caçam Lula, sem encontrar nenhuma ilegalidade. Apesar disso, e com impressionante petulância, transformam Lula no “comandante máximo”, “no general”, no “maestro” do “maior esquema de corrupção” do país.

Contraditoriamente, entretanto, a força-tarefa não investiga, não processa e não julga Cunha, Temer, Aécio, Jucá, Serra etc – todos, sem exceção, multi-campeões em delações, e donos de sabidas contas bancárias em paraísos fiscais, abastecidas aos milhões, com dinheiro provindo de corrupção na Petrobrás e em outras estatais que controlam.

A oligarquia golpista firmou um grande pacto para a restauração neoliberal na sua versão ultra-reacionária, que combina retrocessos nas conquistas do povo brasileiro, com regressão em matéria de direitos e liberdades civis e a re-colonização do Brasil pelas metrópoles imperiais.

A Lava Jato é um instrumento da oligarquia para aniquilar o PT e destruir a biografia e o legado de Lula, impedindo-o de disputar e vencer a eleição de 2018. A verdadeira disputa em curso não é a eleição do próximo dia 2 de outubro, mas sim a guerra final que a Lava Jato proclamou contra o PT e Lula.

A Lava Jato só acaba quando acabar com o PT. Nesta guerra, não há alternativas: ou vence o fascismo, ou vence a democracia

E com vocês, a Petrobrax!

Paulo Kliass *, no site Carta Maior

  
Em um país que costuma apagar rapidamente eventos históricos importantes de sua memória coletiva, nunca é demais recuperar fatos carregados de significado. Tanto mais pelo simples fato de que, muitas vezes, tendem a se repetir por aqui ensaios esfarrapados, como se fossem a maior novidade da face da Terra.

Refiro-me, no caso, a todo esse carnaval que vem sendo feito em torno da tentativa de desmonte que o governo Temer está tentando patrocinar em cima de uma das maiores conquistas do povo brasileiro ao longo das últimas décadas - a Petrobrás. A blindagem dos meios de comunicação em torno de críticas às opções de política econômica se completa com a construção de uma narrativa, segundo a qual a equipe é formada de indivíduos de elevada competência técnica e profissional. E o mesmo fenômeno se dá com o Pedro Parente, o indicado para a presidência da nossa petroleira. Tudo na base da torcida e do embalo do “agora, vai!”.

Ocorre que, durante o governo FHC, já haviam sido encaminhadas uma série de medidas com o mesmo objetivo de hoje: preparar o pacote para viabilizar a privatização da empresa. Em 1999, por exemplo, o governo tucano preparou o lançamento de ações do grupo para serem negociadas na Bolsa de Nova Iorque. Tal iniciativa nos era vendida como mais um importante passo para a nossa aceitação no glorioso mundo das finanças internacionais. O pequeno detalhe - para além de todas as demais implicações perigosas de natureza política, financeira e econômica - residia no fato de que a empresa estaria sujeita às chantagens e demandas judiciais no universo do financismo ianque e globalizado.

No ano seguinte, outra importante decisão foi tomada com relação à empresa. No pior/melhor estilo de submissão ao “glamour” do ambiente determinado pelos interesses do capital internacional, a equipe de FHC resolveu que o nome do grupo era, digamos assim, por demais brasileiro. Assim, dando seguimento ao caminho definido pelo complexo de vira-lata, ele deveria ser alterado para uma referência mais internacional: Petrobrax. O então presidente Reichstul dá início a essa complexa e custosa operação, que deveria sair por US$ 50 milhões apenas para a mudança da logomarca. Estávamos em dezembro de 2000, articulou-se uma ampla inédita resistência política entre o Natal e Ano Novo e o processo terminou não se consumando. A empresa se manteve perante o mundo com o nome pelo qual sempre fora conhecida.

Dezesseis anos depois, a coisa tenta se repetir. Aproveitando-se da crise de imagem e das inegáveis dificuldades conjunturais enfrentadas pela Petrobrás em função da Operação Lava Jato, o financismo se prepara para mais uma tentativa de bote. O atual presidente tucano da empresa se arvora direitos imperiais e começa a decidir isoladamente a respeito do futuro do conglomerado estatal. Vale lembra que todas as vezes em que o PSDB ensaiou colocar o tema da privatização da Petrobrás na pauta de disputa eleitoral, foi fragorosamente derrotado nas urnas. Assim, torna-se bastante compreensível que tenha se aproveitado do subterfúgio de chegar ao poder pela via do golpe para implementar tal estratégia.

Dessa forma, Parente decidiu que não interessa mais à empresa a participação em áreas estratégicas, a exemplo de biocombustíveis, distribuição de GLP (gás de cozinha), produção de fertilizantes e petroquímica. De acordo com o novo plano de negócio divulgado há poucos dias, a Petrobrás deveria se voltar exclusivamente para a simples exploração de óleo e gás, justamente o tipo de atividade que gera menos valor agregado. Reproduzimos aqui o velho esquema neo-colonialista de produtor/explorador de “commodities” na periferia, ao passo que as atividades mais estratégicas ficam para os países do centro do mundo.

Além disso, a orientação estabelecida por Parente para os próximos anos é de “desinvestimento”, termo charmoso do financês que significa nada mais, nada menos que a privatização de ativos (empresas) existentes no grupo e a retirada estratégica do crescimento previsto em áreas nobres do setor. Sob o argumento falacioso de que a Petrobrás estaria “quebrada”, não restaria outra alternativa do que a venda de seu patrimônio para solucionar problemas de endividamento.

No mais típico estilo monárquico do “Estado sou eu”, Parente resolveu que o Brasil não precisa de uma Petrobrás tão forte e influente. E ponto final. Como se não bastasse esse tipo de postura autoritária e antidemocrática, ele também decidiu que os programas de conteúdo nacional tampouco são benéficos ao país e à empresa. Assim vai sugerir mudança na legislação e abrir escancaradamente a possibilidade de importação dos componentes dos núcleos de alta tecnologia exigidos no processo operacional produtivo. Ora, se há problemas de fornecimento no modelo atual, o estímulo deve ser na direção de melhor capacitar a indústria nacional para tal missão e não abrir esse precioso mercado para a China e demais países.

Esse é um dos aspectos do verdadeiro desmonte que se pretende impor, sem que nossa população seja sequer consultada a esse respeito. Há uma enorme confusão entre as perdas derivadas dos efeitos da Operação Lava Jato e a situação real da maior empresa petrolífera do País. A Petrobrás continua sendo uma das maiores e mais importantes empresas petrolíferas do mundo. Atualmente ela ocupa a 14ª posição. E vale a observação de que a grande maioria das empresas que estão à sua frente são também estatais ligadas a países que possuem níveis elevados de reservas a serem exploradas. Assim, estão ali no topo da lista empresas públicas de Arábia Saudita, Noruega, Irã, México, Kuwait, Abu Dhabi, Rússia, Argélia, Qatar, China, Iraque, Venezuela e outros.

Assim, ao contrário do que pretende nos enganar o libelo privatista, a  maior parte das grandes petroleiras do planeta é composta de empresas públicas. O blá-blá-blá privatizante não se sustenta entre os que conhecem minimamente o funcionamento de um mercado tão específico e complexo como esse. As reservas do Pré Sal são a garantia plena e segura de que os problemas atuais da Petrobrás podem ser facilmente solucionados no médio prazo, com a consolidação das dívidas acumuladas e a urgente retomada dos investimentos. Não é necessário privatizar para superar a crise. Pelo contrário, recuperar a Petrobrás é essencial para retomada do crescimento de nossa economia, tendo em vista sua importante contribuição na formação do investimento agregado e na manutenção da atividade econômica de forma geral.

A cada semana que passa, são divulgadas novas informações a respeito da produção física da empresa. As últimas estatísticas são relativas ao mês de agosto. Assim, por exemplo, no mês passado batemos novo recorde na produção total de petróleo e gás no Brasil. Além disso, foi atingido no mês um novo valor máximo na média diária de exploração de petróleo, com o pico de 2,22 de barris por dia (bpd).

O que mais impressiona não é exatamente a intenção privatizante do governo Temer. Afinal isso já era amplamente esperado, desde o lançamento do documento “Ponte para o Futuro”. Esse foi o momento em que o PMDB se ofereceu de forma aberta ao mundo financeiro como uma alternativa confiável para ocupar o Palácio do Planalto e toda a Esplanada dos Ministérios.

Na verdade, o que chama a atenção é que o governo tenha nomeado para a presidência da empresa alguém que se declare tão abertamente a favor da venda da empresa para o capital privado. Alguém que vai sabotar de forma declarada e explícita a capacidade de recuperação da Petrobrás e promover o retorno do espírito que havia sido sepultado no passado. Para nosso desespero, estão por aí nos rondando os assombros da PETROBRAX.

* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.









PEC-241: Trapaça e crueldade

Por Patrus Ananias, no blog do Miro

Os interesses antipopulares e antinacionais, que estão na origem e nos fins do governo de Michel Temer, têm inspirado uma sucessão de notícias assombrosas à maioria do povo brasileiro e ao Brasil, mas quase sempre expostas em ações trapaceiras, como as de propaganda enganosa.

É o caso, em que insiste a facção governista, de propagar que a vigência da PEC 241 não reduzirá os gastos públicos em saúde e educação. Ilusionistas e porta-vozes do ilusionismo oficial dizem que os recursos para as duas áreas serão aumentados.

Ninguém se deixe enganar: é trapaça. É golpe - e eles querem consumá-lo depressa, com votações a partir da próxima semana.

A verdade: a aprovação da PEC 241 resultará na destruição das políticas de educação, saúde e assistência social que, nos governos Lula e Dilma, beneficiaram especialmente os pobres.

O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde estima que o SUS perderá R$ 654 bilhões em 20 anos, se a PEC vigorar, com consequências gravíssimas para a população: menos 500 milhões de procedimentos de atenção básica, menos 83,5 milhões de procedimentos de ambulatórios e menos 19,6 milhões de procedimentos em hospitais.

A mesma entidade mais a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social preveem, para os próximos nove anos, perdas acumuladas de R$ 345 bilhões nos três setores.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) afirma que “toda população será penalizada com a muito provável redução, em quantidade e qualidade, dos serviços públicos de saúde e educação”.

No Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que é uma instituição do governo, estudo dos pesquisadores Fabíola Sulpino Vieira e Rodrigo Pucci de Sá Benevides prevê que a PEC 241 “impactará negativamente o financiamento e a garantia do direito à saúde”. O SUS, afirmam, terá “menos recursos por pessoa para fazer frente à necessidade de ações e serviços de saúde”, o que prejudicará, principalmente, as populações pobres.

Na assistência social, os impactos provocados pela vigência da PEC 241 serão devastadores. No próprio IPEA, outro estudo alerta que a assistência aos pobres perderá nada menos do que R$ 868 bilhões em 20 anos, se a PEC for aprovada. Já em 2017 os recursos da assistência social serão reduzidos em R$ 6 bilhões, segundo o estudo assinado por Andrea Barreto de Paiva, Ana Cleusa Serra Mesquita, Luciana Jaccoud e Luana Passos.

Ao analisar as implicações do novo regime fiscal para a política de assistência social, as pesquisadoras estimam que a perda de recursos “comprometerá os avanços já conquistados no combate à pobreza e à desigualdade”. Preveem também que “o Bolsa Família, o BPC e o Sistema Único de Assistência Social serão prejudicados” e que, a partir de 2026, o congelamento de gastos proposto pela 241 fará que todos os recursos do Ministério do Desenvolvimento Social sejam insuficientes até para pagar o BPC.

O mesmo estudo (Nota Técnica nº 27), conclui que o Ministério do Desenvolvimento Social terá, muito provavelmente, que acabar com programas de assistência; pessoas pobres, assistidas pelos últimos governos, perderão a proteção; e serão fechadas as portas de acesso ao Bolsa Família e ao BPC, em prejuízo de milhões de pessoas e do Brasil.

O BPC está condenado. O governo estuda acabar com a vinculação do benefício ao salário mínimo, instituída pela Constituição para proteger brasileiras e brasileiros muito pobres - idosos com 65 anos ou mais e pessoas com deficiência incapacitadas para o trabalho. Hoje são mais de 4 milhões de beneficiários diretos e mais de 20 milhões de beneficiários indiretos.

A desvinculação será mais uma crueldade bárbara praticada pelo governo de Michel Temer contra os pobres. O BPC é a única renda de 47% das famílias dos beneficiários; e representa, em média, quase 80% do orçamento de todas as famílias de beneficiários.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Após encontro com a Shell, Temer dá prioridade à abertura do pré-sal

http://www.brasil247.com/pt/247/economia/257452/Ap%C3%B3s-encontro-com-a-Shell-Temer-d%C3%A1-prioridade-%C3%A0-abertura-do-pr%C3%A9-sal.htm

Vamos perder também a maior reserva de água pura do mundo?



                                                           *José Álvaro de Lima Cardoso.
        Há alguns dias Michel Temer e alguns ministros foram aos EUA “vender” o novo programa de infraestrutura do governo, tendo se encontrado com vários representantes de empresas norte-americanas. Conversaram com analistas de mercado, diretores de bancos e representantes de agências de classificação de risco. Entre vários acenos do governo brasileiro aos investidores, feitos antes da mencionada reunião, o novo embaixador do Brasil nos EUA, Sérgio Amaral, afirmou que o objetivo do encontro era “atrair investimentos e ver se há mudanças que podemos fazer em nosso sistema regulatório para trazer esses investimentos”. O embaixador vem ressaltando que o novo governo abandonou a política externa baseada, conforme sua definição, “por orientações ideológicas e partidárias”.
        Conforme tem sido destacado por alguns analistas internacionais, o golpe no Brasil faz parte de um projeto de recolonização continental dos Estados Unidos, que dependem cada vez mais dos recursos naturais existentes na América Latina, como minerais estratégicos, petróleo e toda a biodiversidade da Amazônia. Neste contexto, um dos interesses centrais dos EUA, e das grandes corporações mundiais de bebidas e alimentação (Nestlé, Danone, Coca Cola), são as colossais reservas de água existentes na região. Não deve ser por acaso que o governo dos Estados Unidos negocia, neste momento, com o governo Macri a instalação de bases militares na Argentina, uma em Ushuaia (na Terra do Fogo) e a outra localizada na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai). O grande interesse da instalação destas bases, ao que tudo indica, são os aquíferos localizados na Região, especialmente o Guarani. É conhecido que EUA e a Europa enfrentam grave problema da falta de água, pois a maioria dos rios dos EUA e do Velho Continente estão contaminados.
         A mídia já noticiou que o Aquífero Guarani, deverá constar na lista de bens públicos privatizáveis, juntamente com as reservas do pré-sal, empresas elétricas, etc. O Aquífero, maior reserva de água pura do mundo, é desconhecido da maioria da população e muito cobiçado pelos grandes grupos econômicos. O interesse das multinacionais sobre essa reserva de água possui bases muito objetivas. Resultado de uma formação rochosa com mais de 250 milhões de anos, o Aquífero tem mais de 1 milhão e 200 mil km2 e capacidade de abastecer o mundo por 300 anos. Dois terços da reserva estão em território brasileiro, no subsolo dos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
       Segundo o geólogo e professor Luiz Fernando Scheibe, da UFSC, acima do aquífero Guarani tem um outro, o Serra Geral, e ambos são fundamentais para o abastecimento do Sul do Brasil e também do Estado de São Paulo. Segundo o professor, estudioso do assunto, as grandes empresas em todo o mundo, vêm operando políticas para privatizar os recursos hídricos. Um dos métodos utilizados é a venda de água engarrafada. A Nestlé, por exemplo, maior corporação mundial de produtos alimentícios, responde por mais de 50% de toda a água engarrafada, comercializada no Brasil. A partir das evidências das grandes reservas de água na Região, ainda na primeira década dos anos 2000, segundo o professor Scheibe, empresas como Nestlé e Coca-Cola começaram a adquirir fontes de água localizadas nas áreas de recarga e afloramento do Aqüífero Guarani.
        O presidente da Nestlé defende, sem cerimônias, políticas de privatização das fontes de água. Para Peter Brabeck-Letmathe, a privatização do fornecimento da água seria a fórmula para que a sociedade tomasse consciência da importância desse bem. Detalhe importante: o defensor de tais ideias é o presidente da líder mundial na venda de água engarrafada, setor que representa 8% do faturamento da empresa. As declarações do executivo estão longe de serem casuais ou espontâneas, como se pode constatar pelos dados. O grupo presidido por ele, junto com mais três ou quatro empresas (Coca Cola, Pepsi Cola, Danone) controlam uma espécie de oligopólio no engarrafamento de água, dominando um setor cada vez mais estratégico no mundo. Segundo os estudiosos do assunto, muitas vezes a água engarrafada é coletada na rede pública pelas empresas, que se limitam a acrescentar um pacote de minerais, criando assim “água mineral”. Com essa operação o preço da garrafa sobe, muitas vezes, em até mil por cento, tornando-se um dos negócios mais lucrativos do mundo, num ambiente de inexistência ou debilidade na regulação social da atividade.
         Sob o pretexto de enxugar gastos estatais, o objetivo central das privatizações no Brasil, e em outros países do globo, é aliviar, para os grandes grupos econômicos, os efeitos da crise mundial, com a entrega de patrimônio público. Nessa esteira estão a entrega do pré-sal e o enfraquecimento da Petrobrás, privatização do que restou do sistema elétrico público, do Banco do Brasil. Enfim, entrega do que o setor público dispõe de mais rentável e eficiente, deixando é claro, a “carne de pescoço” para o Estado.
        A ganância das multinacionais sobre o Aquífero Guarani representa mais um degrau na escalada golpista. Se o golpe não for interrompido, descobriremos daqui a alguns anos, que o projeto de congelamento dos gastos públicos (contido na PEC 241) não resolveu o problema das contas públicas, mas já terá cumprido a sua função: distrair o movimento social e sindical, enquanto somas absurdas são transferidos ao sistema financeiro e são privatizadas empresas públicas e reservas estratégicas, incluindo o maior manancial subterrâneo de água pura do mundo.  
                                                                         *Economista.