domingo, 30 de novembro de 2014

Aécio, o Capriles brasileiro, tem de ser interpelado judicialmente

Jeferson Miola



“Na verdade, Roberto, eu não perdi a eleição para um partido político. Eu perdi a eleição para uma organização criminosa que se instalou no seio de algumas empresas brasileiras e patrocinada por esse grupo político que aí está”.
Programa Conexão Roberto D´Ávila, Globo News, 30/11/2014.


A obsessão histérica de certos integrantes do judiciário, da oposição e da mídia com o “risco bolivariano” [sic] atende ao objetivo de “venezuelizar” a maneira de fazer oposição ao governo. É um simulacro da direita para legitimar a torpeza do padrão político e de oposição selvagem ao governo Dilma.

Com grande cinismo, usam uma lente e uma linguagem delirante para atribuir ao governo Dilma supostas características “bolivarianas” que, em contrapartida, justificariam a adoção de comportamento idêntico ao da direita fascista da Venezuela.

Ritos ordinários fixados na Constituição Brasileira, como a nomeação de Ministros para o STF, são denunciados como provas do tal “risco bolivariano”. O que dizer, então, da proposta de participação da sociedade civil que está concebida na Constituição e Leis do país!?

A cultura política venezuelana não tem identidade com a do Brasil. O processo político venezuelano tem sua singularidade e uma dinâmica própria. Aquela é uma realidade complexa, onde tanto governo como oposição têm problemas sérios e cometem erros importantes.

Goste-se ou não do processo em andamento na Venezuela, é essencial se reconhecer que ele é legitimado por uma ordem constitucional fundada nos princípios da democracia representativa e participativa, inclusive com previsão para interromper mandatos através de referendos e plebiscitos. Apesar disso, a oposição conservadora venezuelana, inconformada com as sucessivas derrotas eleitorais, parte para a sabotagem das regras constitucionais, promove enfrentamentos, violência e caos para incendiar o país.

Henrique Capriles Radonski, governador do Estado de Miranda, é uma das principais expressões dessa direita, cuja delinquência política só é eclipsada pelo “cachorro louco” Leopoldo López, seu antigo parceiro de aventuras golpistas que optou por uma tática insurrecional para derrubar o governo do Presidente Nicolás Maduro.

No Wikipédia, Capriles está assim apresentado: “Apesar da origem judaica, é católico praticante, tendo até integrado a seção venezuelana da organização católica Tradição, Família e Propriedade na década de 1980. Começou sua carreira na política pelo partido de direita Copei. Em 2000, ao lado do conservador Leopoldo López, fundou o partido Primera Justicia. Ainda em 2000, Capriles aproximou-se do International Republican Institute (IRI), organização vinculada ao Partido Republicano dos Estados Unidos. Desde então, passou a ser conhecido como um dos principais opositores do governo venezuelano. Em 2002, participou ativamente do golpe de Estado contra o Presidente Hugo Chávez. No pleito presidencial de 7 de outubro de 2012, Capriles saiu derrotado por Hugo Chávez, por mais de 10% dos votos”.

Em 14 de abril de 2013, na eleição convocada devido à morte de Hugo Chávez, Nicolás Maduro foi eleito com 50,66% dos votos contra 49,07% de Capriles. Inconformado com a derrota, Capriles tentou, sem êxito, lançar uma campanha internacional contra a democracia venezuelana, e deu início à escalada de violência política, sabotagem econômica e desestabilização do governo que marca a sociedade venezuelana ainda nos dias de hoje.

No Brasil, a inconformidade da direita com a derrota eleitoral foi idêntica. O PSDB inventou um pedido de auditoria no TSE para lançar suspeição sobre o resultado eleitoral.

Lamentavelmente, na sua ação política, a direita brasileira adota os mesmos critérios da direita fascista e antidemocrática venezuelana. Com a reeleição da Dilma, o PSDB e partidos satélites [DEM, SDD, PPS], certos setores do Judiciário, o capital financeiro e a mídia oposicionista passaram à truculência sem limites.

Assumem, dessa forma, as consequências de uma radicalização que poderá dominar a sociedade, porque a maioria democrática do país certamente não silenciará ante as ameaças golpistas.

Aécio, como seus gestos e discursos demonstram, vestiu o figurino de Capriles da sociedade brasileira, e inaugurou um perigoso padrão de disputa. Esse padrão tem encorajado manifestações tresloucadas de impeachment, assim como movimentos que afrontam a Constituição e as Leis ao apregoar golpe militar – acompanhados com o surpreendente silêncio do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Ou Aécio perdeu o juízo ou então se presume intocável e impune com as declarações que faz. Afirmar que perdeu a eleição “para uma organização criminosa que se instalou no seio de algumas empresas brasileiras e patrocinada por esse grupo político que aí está”, é uma acusação da maior gravidade que merece ser apurada com o máximo rigor.

Se espera que o PT e o governo interpelem judicialmente Aécio, para que ele tenha a oportunidade de comprovar essa grave acusação.

Ao invés de se converter nessa sucursal bastarda da direita venezuelana, Aécio poderia se civilizar lendo o artigo “Nunca se roubou tão pouco”, do empresário e peessedebista Ricardo Semler na FSP.

Lendo este insuspeito autor, Aécio e a direita poderiam finalmente aprender que uma oposição digna e democrática no Brasil não só é necessária, como é possível.

A peça decisiva do quebra-cabeça brasileiro

Saul Leblon no site Carta Maior

postado em: 27/11/2014

O quebra-cabeça brasileiro inclui uma peça-chave cuja movimento no tabuleiro pode mudar o desfecho do jogo.

O nome dessa peça é repactuação política do desenvolvimento.

Seus atores são os movimentos sociais organizados, as centrais sindicais, as entidades empresariais --sobretudo as da indústria, e o governo.

Articulações em marcha, ainda restritas a sondagens entre centrais e autoridades econômicas, para evitar um ciclo de demissões no setor automobilístico, sinalizam uma avenida a percorrer.

Se é possível negociar metas, concessões, salvaguardas para barrar o desemprego, por que não o seria também, em um fórum ampliado, para reordenar  a velocidade, a destinação, as condicionalidades e garantias  de um novo ciclo de desenvolvimento?

Estamos falando de uma lógica alternativa a dos centuriões do mercado que se avocam o apanágio ‘técnico’ para agendar quem pagará a conta do ajuste necessário à retomada do crescimento.

Insista-se: macroeconomia não tem ideologia.

Responsabilidade fiscal, controle da inflação e câmbio competitivo não distinguem a coloração de um projeto histórico.

São obrigações de qualquer governante; interessam a toda a sociedade.

Mas desenvolvimento é outra coisa.

Desenvolvimento é transformação.

É romper estruturas anacrônicas e construir outras novas, ao mesmo tempo e com igual intensidade. Quase como atravessar um rio de dupla correnteza, uma puxando para cada lado.

Quem acha que pode haver ‘solução técnica’ para essa travessia, açoitada por ventos e tempestades em litígio, acredita em ‘mãos invisíveis’ a costurar a sociedade humana.

A mão dos mercados autorreguláveis, por exemplo, cujos porta-vozes alardeiam as virtudes do desenvolvimento a salvo de um protagonismo social que o conduza.
Mais que nunca o Brasil necessita de um protagonista social capaz de pavimentar o passo seguinte do seu desenvolvimento.

Não é apenas a mudança no calendário a registrar um novo governo Dilma.

É mais que isso.

Vive-se, grosso modo, um interregno entre dois ciclos.

Um, que parece ter se completado com a consolidação de políticas sociais e salariais, que remodelaram a dinâmica da cidadania e do consumo em largas fronteiras da América Latina.

Em graus distintos, esse estirão foi favorecido pelo afrouxamento do gargalo externo, marcado por uma década de forte alta nos  preços  das commodities.

Atenção porém: não há automatismos na história.

O Brasil já cresceu antes, mais até do que no período recente, sem distribuir renda; ao contrário, concentrando-a à base de arrocho salarial e repressão política.

A história latino-americana registra outros ciclos de valorização de produtos primários sem uma contrapartida social equivalente a atual.

O que se fez no Brasil e na AL nos últimos anos, portanto, foi uma ação política deliberada.

Subtraiu-se espaço da ‘mão invisível’ para  destinar um pedaço da riqueza corrente ao resgate mínimo da exclusão secular, aprofundada pela hegemonia livre mercadista dos anos 90.

O fôlego dessa indução enfrenta agora o ar rarefeito da estagnação planetária escavada pela desordem neoliberal.

Um descompasso entre aspirações histórias e fluxos de receitas está em curso.
O Brasil depende de investimentos pesados que liguem o impulso original do consumo a uma inadiável adequação da oferta e da logística à escala ampliada da demanda e das expectativas sociais.

É imperativo regenerar a musculatura de sua base industrial.

Não por qualquer fetiche ‘desenvolvimentista’; reside aí a principal usina de irradiação de produtividade de que a economia necessita para lastrear novos saltos em direitos, cidadania, empregos qualidade e soberania externa.

O desafio histórico consiste em erguer os pilares dessa transição num ambiente internacional que deixou de favorecê-lo.

Sem a participação ativa da sociedade nessa travessia, a lógica neoliberal ocupará o vácuo para empurrar sua ‘agenda técnica’ goela abaixo da nação.

Em que direção?

A do afável México, talvez.

Já tivemos paradigmas em melhor situação: cerca de 2/3 dos 2.500 municípios mexicanos estão dominados por gangues sanguinárias do circuito drogas/crimes.
O México foi o único país da América Latina, ao lado da pequena Honduras, que registrou aumento da pobreza e da miséria na década passada.

É verdade: o ‘ajuste técnico’ de sua economia conseguiu a elevar a produtividade mexicana num ritmo duas vezes superior à correção dos salários, a partir de 2005.

O país é hoje o segundo maior fornecedor de carros para os EUA (à frente do Japão, abaixo do Canadá).

É o maior exportador de TVs de tela plana do mundo, informa a agencia Bloomberg nesta 5ª feira (27/11).

A que preço?

Ao preço de alguns ‘colaterais’, diz um estudo do insuspeito Bank of América citado pela mesma Bloomberg.

A saber:

a) o salário mínimo mexicano perdeu 70% do poder de compra real nas últimas décadas (o do Brasil cresceu 70% acima da inflação desde 2003);

b) as exportações mexicanas cresceram uma média de 7% por ano desde 2001; mas as vendas no mercado interno aumentaram  apenas 2% em média no período ( contra 5%  da média brasileira);

c) O ganho médio do assalariado mexicano cresceu 0,6% em termos reais na década terminada em 2012 (no Brasil foi duas vezes maior, diz a OIT).


Esse, o farol do ajuste ‘técnico’ que muitos apregoam para a economia brasileira no segundo governo Dilma.

Se hesitar ou se acanhar, se renunciar, enfim, ao papel indutor do desenvolvimento, o movimento social brasileiro deixará aberto o espaço para ser conduzido por essa coleira, ao invés de conduzir o timão da sociedade.

Dilma é a fiadora inconteste das urnas. Mas o que as urnas disseram em 26 de outubro não pode silenciar.

A repactuação política do desenvolvimento não se confunde com a ingerência burocrática no dia a dia da gestão do Estado.

Sua agenda deriva de princípios que distinguem a construção de uma sociedade convergente, da receita conservadora através da qual a riqueza talvez cresça até mais depressa. Mas  em estruturas circulares de desigualdade e marginalização crescentes.

Três  diretrizes  são indissociáveis da luta por uma repactuação do desenvolvimento que preserve a construção de uma democracia social, ainda que tardia, no Brasil:

a) buscar o pleno emprego e rechaçar  qualquer ‘ajuste técnico’ que se proponha a ‘pavimentar’ um novo ciclo  com base em demissões e descarte de trabalhadores;

b) buscar políticas de renda (reforma tributária), de salários (ganho real) e de serviços públicos –educação de qualidade, mas também saúde e mobilidade-- que fixem metas e prazos para a redução da desigualdade brutal vigente no país; não se trata apenas de definir um piso à pobreza, mas de galgar novos degraus para longe dela;

c) maior democracia participativa para ampliar os canais de decisão econômica e de expressão política dos interesses majoritários da sociedade.

Qualquer repactuação histórica implica concessões e modulações de metas e prazos, desde que não violentem as  balizas do objetivo mais geral.

O objetivo estratégico do movimento social brasileiro  é construir uma resposta política para a crise, a contrapelo da receita ortodoxa.

A desordem financeira mundial não cederá tão cedo, nem tão facilmente.

A consciência dessa contingencia histórica é um dado fundamental para a ação política nos dias que correm.

Recuos e derrotas acumulados pela esquerda mundial desde os anos 70, sobretudo a colonização de seu arcabouço programático pelos valores e interditos neoliberais, alargaram os vertedouros para o espraiamento de uma dominância financeira,  cuja presença tornou-se ubíqua em todas as esferas da economia e do imaginário social.

O arcabouço institucional que cedeu a soberania das urnas ao suposto poder autorregulador dos mercados perdeu a capacidade de gerar antídotos às degenerações intrínsecas a essa renúncia.

A democracia terá que reinventar-se para que essa possibilidade se recoloque no horizonte da ação política do nosso tempo.

A luta pela repactuação do desenvolvimento brasileiro é um pequeno passo nessa direção.

Mas pode definir uma grande mudança de rumo na construção do Brasil.



Escolha da nova equipe econômica visou destravar investimentos

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania. Transcrito do blog Democracia & Política. 


"A escolha da presidente Dilma Rousseff para o principal cargo da equipe econômica, o de ministro da Fazenda, gerou aflição em muita gente. O Blog tem recebido mensagens via e-mail e comentários privados nesta página e nas redes sociais. Leitores perguntam se devem temer por seus empregos diante do que vem sendo pintado como a adoção pela presidente do programa econômico que ela dizia, durante a campanha eleitoral, que provocaria desemprego no país: o programa econômico de Aécio Neves.

Para começar a explicar, vale propor uma reflexão: por que a presidente faria tal maldade com o povo brasileiro? Estaria finalmente revelando uma perversidade latente que ocultou ao longo dos quase quatro anos de seu primeiro mandato ou é apenas covardia imotivada?

A revolta com a escolha do engenheiro naval Joaquim Levy para comandar a principal pasta econômica do governo federal levou muitos dos que votaram em Dilma há um mês a, agora, dizerem-se arrependidos da escolha. Um dos mais decepcionados chegou a sugerir que, diante da escolha deste ou daquele nome para o novo ministério da presidente, nada haveria a estranhar se ela colocasse o assustador deputado fluminense Jair Bolsonaro na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o que dá uma ideia do climão que se instalou entre os setores progressistas da opinião pública ante a escolha de Levy.

A materialização da escolha maldita no penúltimo dia útil da semana torna inoportunas maiores considerações sobre o que esta página vem julgando um exagero e um equívoco. Passemos, assim, às questões práticas.

A nova equipe econômica não fará algo que a anterior não faria, apesar de o agora ex-ministro da Fazenda Guido Mantega dificilmente poder ser considerado um bicho-papão como Levy. Diante disso, este Blog dará sua opinião sobre o que aconteceu na economia brasileira durante o primeiro mandato de Dilma e o que acha que deverá acontecer daqui para frente. E, ainda, irá explicar a razão da escolha de Levy e de outros ministros polêmicos do segundo mandato.

Entre 2008 e 2013, o mundo passou pela maior crise econômica da história recente da humanidade. Foi considerada mais grave do que a que quebrou a bolsa de valores americana em 1929. Sessenta milhões de empregos foram extintos em todo o planeta. Países como os Estados Unidos, o mais rico do mundo e o terceiro em qualidade de vida (segundo o IDH 2013), viram surgir favelas em seus territórios.

No Brasil, poderia ter sido feita uma política econômica que contivesse a inflação no centro da meta de 2014 (4,5%). Essa política, apesar de recessiva, segundo os economistas de linha liberal teria resultado em maior crescimento. Os investimentos do Estado em programas gigantescos de obras, a renúncia fiscal para incontáveis setores da economia, os aportes em bancos públicos para conter os juros ao consumidor e propiciar financiamento farto e crescente a esse consumidor, porém, geraram inflação mais alta.

As políticas anticíclicas (ou antirrecessivas) do governo Dilma fizeram a inflação bater no teto da meta, mas, em contrapartida, impediram o desemprego e o arrocho salarial. Com isso, o brasileiro, apesar de pagar mais caro a compra do mês no supermercado, teve dinheiro para fazê-la – e quanto mais baixa a classe social, menos os hábitos de consumo ora gastadores foram afetados pela crise devido aos salários virem subindo acima da inflação.

Houve, porém, um preço a pagar por essa proteção que Dilma deu ao emprego e ao salário: além da inflação um pouco mais alta (2 pontos percentuais a mais do que o centro da meta), houve certo desarranjo nas contas públicas. Por exemplo, o país reduziu drasticamente o superávit primário, economia que o governo faz para pagar suas dívidas.

O superávit primário, porém, é uma tara neoliberal. Sobretudo em um país que tem quase 400 bilhões de dólares de reservas cambiais e, portanto, mesmo sem economizar um centavo via superávit primário por certo tem como pagar suas dívidas. Porém, esse superávit demonstra a disposição do governo de não confrontar o investidor.

Por isso, apesar de tudo o que se falou de Levy ele deu uma declaração na edição do Jornal Nacional da data em que foi anunciado como novo ministro da Fazenda que contraria tudo o que disse a oposição durante a recente campanha eleitoral e que indica que o bicho-papão neoliberal, visto como uma espécie de genérico de Armínio Fraga, talvez venha a se mostrar muito menos malvado do que parece – ao menos por ter que se reportar a uma Dilma Rousseff.

Para ver um Levy menos carrasco do que o previsto, leia, abaixo, trecho de matéria do JN de quinta-feira 27 sobre a nova equipe econômica:

“(…)Os ministros indicados para a Fazenda e para o Planejamento anunciaram o compromisso de fazer um ajuste nas contas do governo nos próximos três anos. Descartaram a adoção de um pacote econômico e medidas drásticas para acertar as contas do país. Segundo Joaquim Levy, os ajustes serão graduais, porque o Brasil não vive uma crise (…)”

Epa! Como assim? Se Levy implementará o modelo de gestão que o ministro da Fazenda que Aécio Neves disse que nomearia, caso fosse eleito, prometeu adotar, então deveria ter, como Armínio Fraga, dito que o Brasil vive uma grave crise que requer justamente ao contrário, ou seja, “medidas drásticas para acertar as contas do país”.

Não foi o que ele disse. Ele e os outros membros da equipe econômica. Ah, ele está fazendo média com Dilma? Bem, se está fazendo média ou não, tanto faz. Sua declaração não é a que daria Fraga ou o possível ministro da Fazenda de Marina Silva, Eduardo Gianetti. Sem uma declaração catastrofista não se pode dizer que a nova política econômica será draconiana como a que prometiam o PSDB e o PSB durante a última campanha eleitoral.

Além disso – agora no campo dos fatos efetivos e não do que eles parecem ser –, a proposta da nova equipe econômica para o maldito superávit primário está longe de ser “draconiana”. Outro trecho do Jornal Nacional revela que o ajuste será mesmo gradual, de forma a não gerar desemprego e arrocho salarial:

Ele [Levy] anunciou que o governo pretende fazer, em 2015, um superávit primário (economia para pagar os juros da dívida pública) de 1,2% do PIB – que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país num determinado período. Esse número é menor do que a previsão feita pelo governo em agosto, de 2%, mas é maior que a economia esperada para 2014. Para 2016 e 2017, a meta é de um superávit primário 2% do PIB

Para quem não sabe, no tempo de FHC/Armínio Fraga (2002) o Brasil chegou a fazer superávit primário de 4,06% do PIB, o que fez o desemprego explodir para cerca de 12% no país. E, em 2003, primeiro ano do primeiro governo Lula, o superávit primário teve a maior meta da história, de 4,25%.

Detalhe: quem fez aquele superávit primário do primeiro ano de Lula foi Antonio Palocci, do PT.

Porém, como o mundo vai saindo da crise – sobretudo porque os EUA estão saindo, após mais de 5 anos de uma quase depressão econômica –, agora é hora de se preocupar com a higidez das contas públicas.

Tivemos recursos para bancar a preservação do povo brasileiro dos horrores da crise internacional. Foi como se tivéssemos uma gorda poupança da qual retiramos uma pequena parcela para atravessar um período difícil e, agora que a situação começa a melhorar, trataremos de repor o que usamos daquela reserva.

Por conta da boa situação de caixa do país, pode-se adotar, paulatinamente, uma fórmula que, mais do que as contas públicas, terá o condão de melhorar um componente da economia que, devido à política, contribuiu para manter o país estagnado durante o período em que o governo Dilma foi mais “heterodoxo”, por assim dizer: a taxa de investimento privado, que foi brecada por aquelas injunções políticas e pelo temor dos investidores que se estabeleceu.

Aliás, convenhamos, muito empresário segurou investimentos visando criar uma situação-limite para a política econômica, em uma espécie de chantagem política do capital contra o Estado.

Não adiantaria Mantega tocar a mesma política econômica dura que tocou Palocci durante o primeiro governo Lula porque antecessor de Levy perdeu a confiança do mercado ao cumprir a determinação de Dilma Rousseff de afrouxar o garrote das finanças públicas de modo a que o país não mergulhasse no desemprego e no arrocho salarial. Assim, Levy e outros ministros conservadores pretendem, agora que a direita midiática perdeu a eleição, fazer com que os empresários parem de pirraça e voltem a investir, o que é vital para o país.

É simples assim, leitor. Por conta disso, a opinião deste Blog é a de que você não precisa se preocupar com seu emprego. Mas é claro que aqui tampouco se recomenda que continue comprando o último modelo de carro ou de celular, viajando toda hora de férias com a família etc. É hora de poupar para ajudar o país a atravessar um par de anos menos duros do que foram os primeiros anos do primeiro governo Lula, mas, ainda assim, mais duros, do ponto de vista fiscal e monetário, do que entre 2006 e 2014.

PS: a nova equipe econômica também irá produzir um outro efeito benfazejo. Qual seja, o de reduzir o custo-benefício do golpe “paraguaio” que vem sendo articulado pela direita midiática praticamente à luz do dia."


FONTE: escrito por Eduardo Guimarães , no seu "Blog da Cidadania"   (http://www.blogdacidadania.com.br/2014/11/escolha-da-nova-equipe-economica-visou-destravar-investimentos/).

Marcha golpista: brigas e esvaziamento

Por Altamiro Borges, em seu blog

O patético Lobão talvez agora cumpra sua palavra e deixe o Brasil. Antes da eleição, ele jurou sair do país caso Dilma Rousseff fosse reeleita. Mas o bravateiro recuou na sua promessa e passou a organizar atos fascistóides pelo impeachment da presidenta. Neste sábado, 29, golpistas de vários hospícios prometiam lotar a Avenida Paulista com mais de 15 mil presentes. Lobão até subiu no caminhão de som para liderar a marcha, mas ela foi um fiasco. Segundo o próprio comando da Polícia Militar, tão elogiado pelos saudosos da ditadura, o ato reuniu menos de 600 pessoas – entre eles, muitas madames e “mauricinhos” branquelos. Frustrado, será que agora o decadente roqueiro deixará o país?

Além de esvaziado, o protesto ainda teve cenas explícitas de racha. Segundo relato da Folha tucana, “na terceira manifestação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff após a reeleição da petista, um grupo que pedia intervenção militar no Brasil teve que ser retirado pela polícia após atrito com o restante dos participantes do ato... A confusão começou quando o empresário Ricardo Roque, 44, usou um megafone para pedir a intervenção do Exército no Planalto. Com ele, um grupo de manifestantes levantava cartazes pedindo a volta dos militares – um deles, vendia camisetas e bonés com estampas camufladas por R$ 30 e R$ 15 cada, respectivamente”.

“Em cima de um carro de som, o cantor Lobão – que decidiu voltar às manifestações pelo impeachment após desistir do ato do último dia 15, por conta dos pedidos de intervenção militar – disse que esse tipo de pauta não era bem vinda ao protesto. ‘Essas pessoas aqui são tão alienígenas quanto o pessoal do MST’, afirmou. Com gritos, a maioria dos participantes do ato pediu a expulsão do grupo a favor da intervenção do Exército. A demanda foi atendida pela PM, que afastou os manifestantes”. Para cumprir a sua promessa, o roqueiro decadente pode alegar agora que está sendo perseguido pelos fascistas saudosos da ditadura – que ele tanto ajudou a tirar do armário!

Durante a marcha, os golpistas voltaram a exigir a recontagem do votos e o impeachment de Dilma Rousseff – estimulados pelos derrotados do PSDB. Desta vez, porém, os caciques tucanos evitaram participar do circo. O senador Aloysio Nunes, vice do cambaleante Aécio Neves, nem deu as caras – deve ter ido para uma de suas fazendas. Os fascistóides também gritaram as suas palavras de ódio contra o PT, Cuba, Venezuela e o risco do comunismo no Brasil. “Nós estamos vivendo uma ditadura”, afirmou Marcello Reis, fundador do movimento Revoltados Online, sempre escoltado pelos soldados da PM e com todo o direito de rosnar suas loucuras.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

BRICS, um banco do tamanho das necessidades do desenvolvimento

http://jornalggn.com.br/noticia/brics-um-banco-do-tamanho-das-necessidades-do-desenvolvimento-por-j-carlos-de-assis

Macroeconomia e estratégia

http://goo.gl/h2573d

Condições do Brasil no contexto da crise mundial




                                                              *José Álvaro de Lima Cardoso                                                          
      Em decorrência da renitência da crise na Europa (que vai pelo sexto ano seguido), e do risco sempre presente da mesma se agravar, vale a pena examinar as condições de o Brasil enfrentar uma piora do cenário econômico mundial. A relação dívida pública/PIB, por exemplo, que é indicador fundamental de saúde financeira de um país, encontra-se estabilizada na faixa dos 35% (era de quase 60% há pouco mais de uma década). Além disso, as reservas internacionais estão em torno dos US$ 380 bilhões, o maior volume da história do país. Ter uma inflação sob controle, que fica dentro da meta (ainda que no limite superior) pelo 11º ano seguido, também é fundamental. O Brasil dispõe também de estoques de petróleo e gás que estão avaliados em cerca de R$ 5 trilhões, assim como abundância de água e alternativas energéticas variadas como nenhum outro país do mundo.
     No entanto, a arma mais potente para o enfrentamento da crise é o crescimento contínuo da renda das famílias nos últimos dez anos e a constituição de um dos maiores mercados de massa do planeta. A massa salarial continua crescendo (apesar do baixo crescimento do PIB) e o país atingiu a menor taxa de desemprego verificada na história do país (segundo o IBGE, 4,7% em outubro, o menor percentual para o mês na série histórica).Temos também o BNDES, que tem sido colocado a serviço do desenvolvimento e da manutenção do crédito desde a eclosão da crise econômica internacional em 2008. Os desembolsos do Banco (que chegaram a R$ 190,4 bilhões em 2013) são fundamentais na sustentação da demanda agregada e na diminuição dos impactos da crise sobre o Brasil.
     Importante também é o processo de maturação dos investimentos feitos nos últimos anos, que deve significar a abertura de um novo ciclo de crescimento no país. Em 2015 serão inauguradas algumas grandes obras como: transposição do Rio São Francisco, Hidrelétricas de Belo Monte (a terceira maior do mundo, no Pará), de Jirau (Rondônia) e de Santo Antônio (Rondônia); expansão e construção de pelo menos 6 metrôs que estão em obras; inauguração de pontes, como a de Laguna (SC) e a segunda Ponte do Guaíba (RS); ampliação e modernização dos maiores aeroportos do país; novas plataformas de petróleo. Teremos ainda a inauguração da Refinaria Abreu e Lima, que será a mais moderna do país (primeira refinaria de petróleo inteiramente construída com tecnologia nacional). Além disso, a Petrobrás que nos últimos anos fez muitos investimentos para se preparar para o pré-sal, volta a se capitalizar a partir de 2016 e as extrações de Petróleo quadruplicam nos próximos três anos. Entre 2015 e 2017, serão investidos nada menos que R$ 300 bilhões nos projetos de infraestrutura. As Olímpiadas de 2016, por sua vez, um megaevento que tende a ser 6 vezes maior do que a Copa do Mundo devem trazer um fôlego a mais para a economia.
     Nada disso elimina os desafios que o país terá que enfrentar, que são imensos. O Brasil precisa, por exemplo, retomar o crescimento com urgência. A inédita geração de empregos no país e a redução da pobreza são conquistas que já foram metabolizadas pela sociedade brasileira. As gerações que ingressam agora no mercado de trabalho já vêm a baixa taxa de desemprego como constituindo parte da “paisagem econômica” do Brasil (desde o descobrimento) e não como uma conquista dura e recente, forma como os da minha geração enxergam.  
*Economista e supervisor técnico do DIEESE.

Jogar a criança junto?

http://goo.gl/mXjx1E

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Como sobreviver à guerra de informação.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/posts/view/como_sobreviver_a_guerra_da_informacao

OS CÃES DE ALFENAS

Mauro Santayama, em seu Blog.


 A Câmara Municipal de Alfenas, em Minas Gerais, aprovou lei que prevê o desconto de impostos municipais, como o IPTU, para pessoas que se dispuserem a adotar cães.

E por que não fazer o mesmo - de preferência - com quem adotar uma criança ou idoso em situação de abandono ? 

Muitos dirão que a culpa da miséria, no Brasil, é dos pobres, que fazem filhos demais. 

Se esquecendo, ou fingindo ignorar,  que  a nossa curva demográfica, já é, há anos, descendente,  e que a população brasileira tende a diminuir e envelhecer aceleradamente. 

Um quadro que tornará difícil, se nada for feito,  substituir nossa força de trabalho nos próximos anos, deixando o país sem recursos para fazer frente, no futuro, ao aumento das despesas da Previdência Social e do número de aposentados.

O que dá origem ao crescimento do número de bebês e crianças em situação de abandono, hoje, é a falta de informação, a gravidez precoce e as drogas e a violência, com grande número de pais jovens  presos ou assassinados.

Cada criança que se encontra em um abrigo ou orfanato e que ali cresce sem uma família, é parte do patrimônio humano brasileiro. Mas a maioria sai dessas instituições, ao completar 18 anos, sem preparo, orientação ou trabalho, e vai engordar a fila dos moradores de rua ou da marginalidade. 

Orientadas, treinadas, educadas, elas poderiam dar inestimável contribuição à nossa sociedade, caso houvesse estímulo  não para a adoção de cachorros, mas de pequenos brasileiros.

O que precisamos não é incentivar a adoção de cães, mas taxar rigorosamente a sua propriedade, e monitorá-los por meio de “chips”, punindo com pesadas multas quem os abandone. 

Se considerarmos o número de crianças que não são adotadas por causa da sua idade ou da cor de sua pele, a lei de Alfenas soa como um escárnio. 

Ou um insulto.

Um escárnio a todos os seres humanos, e  especialmente às crianças que se encontram ameaçadas pela fome, sede e doenças - como o ebola - em vários países do mundo.

Um insulto ao bom-senso, à lógica, à inteligência, quando se lembra que - com menos do que se gasta apenas de ração com um cachorro - é possível, por meio de instituições confiáveis, como os Médicos Sem Fronteiras, assegurar água potável e comida, por 30 dias, para uma criança,   como os milhares de órfãos refugiados de guerras estéreis e injustas como as da Síria e da Líbia.     

Com todos os eventuais defeitos que possamos ter, como indivíduos, os cães que nos desculpem, mas a prioridade maior de qualquer homem, mulher ou criança, deveria ser  com sua própria espécie - com a prática da solidariedade - na promoção da dignidade humana.

Se isso nos fosse ensinado nas escolas, e incentivado em nossa atitude e comportamento - inclusive com a isenção de impostos e outros benefícios - haveria menos estupidez, violência e egoísmo. E o mundo seria, certamente, outro.

INVESTIDOR ESTRANGEIRO NÃO DÁ "BOLA" PARA A "CRISE" E SEGUE APOSTANDO FIRME NO BRASIL

Mauro Santayama, em seu blog


Enquanto, aqui dentro, refém da síndrome da “crise” e do “fim do Brasil”, muita gente está com medo de fazer negócios ou adiando investimentos, os estrangeiros, menos afeitos à imprensa local e aos comentários nos portais da internet, continuam apostando firme na segunda economia das Américas e  sétima maior do mundo.

A Comissão Econômica para a América Latina, informa que, até setembro, o IED - Investimento Estrangeiro Direto, caiu em cerca de 28%, em média, no continente, com destaque negativo para o México (- 18%), tido como o “queridinho” dos mercados. Enquanto isso, ainda segundo a CEPAL, o Brasil foi o único país em que cresceu o Investimento Estrangeiro Direto - acima de 8% - que deverá se manter em um patamar superior aos 60 bilhões de dólares até dezembro, sem queda expressiva com relação aos últimos anos.


Segundo informa o “Valor Econômico”, as estatísticas do Banco Central mostram que os investidores nacionais e estrangeiros reagiram de forma bem distinta quanto a  um segundo mandato para  Dilma Roussef.


Se o investidor local, no período eleitoral e pós eleitoral, tirou dinheiro do país, os estrangeiros -  certamente motivados pelo fato de o Brasil ter voltado a ter superávit primário no mês passado, ainda ter reservas acima de 375 bilhões de dólares, com uma dívida líquida pública de apenas 33% do PIB, e por recomendações de compra de ações como as da Petrobras, feita pelo Deutsche Bank, há alguns dias - apresentaram forte aporte em IED e na compra de títulos públicos e ações, com ingresso conjunto, no país, de mais de 11 bilhões de dólares em outubro.

Desigualdade é a nossa marca

http://www.brasildefato.com.br/node/30631

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Pobreza crônica caiu para 1,1% da população

http://jornalggn.com.br/noticia/pobreza-cronica-caiu-para-11-da-populacao-brasileira-diz-tereza-campello

A cômoda desigualdade naturalizada





Clemente Ganz Lúcio[1]


“Passa mal a terra, de lestos males presa
Onde se acumula a riqueza, e declinam os homens.”
Oliver Goldsmith, The Deserted Village (1770)
Citado por Tony Judt, “Um Tratado sobre os Nossos Actuais Descontentamentos”



Para além do medo e insegurança que pairam sobre a vida moderna, cresce a sensação de que há algo que segue mal. O que soma, diminui e o que é mais, nos faz menor! Cresce a desumanização no processo civilizatório. O trabalho urgente de reflexão complexa perde espaço para instantaneidades vaporizadas de um clic.

No pós-guerra (meados dos anos 40) acelerou-se o processo, que no ocidente ocorria desde meados do século XIX, de redução das desigualdades.

Graça ao imposto progressivo, subsídios estatais para os pobres, fornecimento de serviços sociais e garantias contra infortúnios mais severos, as democracias modernas libertavam-se dos extremos da riqueza e pobreza.”[2]

As sociedades foram incorporando à sua cultura econômica, social e política a intolerância à desigualdade, para a qual desenvolveu, como antídoto à insuficiência privada, os amplos sistemas de seguridade, proteção e promoção social. Acreditou-se que era possível, progressivamente, avançar nesse caminho de redução das desigualdades, sem recuos, pois a democracia sustentaria o percurso e os resultados alcançados. Ledo engano!

Desde os anos 70 o movimento de redução da desigualdade se inverteu em diferentes países. Como registra Judt[3], a título de exemplo, em 1968 o diretor-geral da GM recebia como remuneração e benefícios o equivalente a 66 vezes o salário médio do peão da fábrica. Em 2005 estima-se que essa equivalência saltou para 900 vezes! Que produtividade!

Estudo recente divulgado pela Oxfam[4] revela que atualmente a desigualdade segue crescendo. A comparação da evolução da riqueza nos países que compõem o G20[5] indica que no último ano a riqueza desses países aumentou em 17 bilhões de dólares, 1/3 apropriada por 1% dos mais ricos, o equivalente a 6,2 bilhões de dólares. Outro exemplo: nos EUA, no início da década de 80, 1% mais ricos se apropriavam de 8% da renda, em 2012 essa participação subiu para 19%. A Oxfam estimou que a evasão fiscal nos países em desenvolvimento promovida pelas grandes empresas é da ordem de 100 bilhões de dólares por ano, recursos suficientes para escolarizar todas as crianças do mundo quatro vezes!

A desigualdade é um fenômeno complexo de disparidades de renda e riqueza, de poder, de oportunidade, de condições, observada entre homens e mulheres (gênero), entre negros e não-negros (ou com outro recorte racial ou populacional), entre países; entre continentes, entre regiões dentro dos países, entre os que vivem no centro e na periferia das cidades, entre o rural e o urbano, contra os deficientes, contra os povos indígenas. A lista segue e é longa. Como insiste Judty: “A desigualdade é corrosiva. Ela apodrece as sociedades a partir de dentro... O legado da criação da riqueza não regulada é realmente amargo[6].

Será verdade que processos de redução da desigualdade levam as sociedades a quererem reduzi-la ainda mais? O processo de concentração da riqueza torna-a invisível ou uma “condição divina e natural da vida”. A subjetividade coletiva do mal estar tem causa!

O desafio é descortinar as ilusões do crescimento, da prosperidade e da geração de bem estar material. Primeiro, porque o bem-estar material não é homogêneo (há enormes desigualdades de condições, capacidades e oportunidades); segundo porque bem-estar material não conduz, necessariamente, à qualidade de vida; terceiro, porque bem-estar material e qualidade de vida estão predominantemente em desacordo com o equilíbrio ambiental; quarto, porque o bem viver é um paradigma que requer outro equilíbrio entre bem-estar material, qualidade de vida e sustentabilidade ambiental.

Recolocar a centralidade da igualdade de oportunidades, condições e capacidades para todos, ampliar os limites da regulação econômica dos mercados, qualificar o debate público sobre as escolhas coletivas e construir unidade em torno dessas questões são algumas das nossas tarefas!




[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES - Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
[2]  JUDT, Tony, “Um Tratado sobre os Nossos Actuais Descontentamentos”, Lisboa, Portugal, Edições 70, 2010, p (26).
[3] Idem, (27).
[4] “Revertir la tendência: Por qué el G20 debe impulsar una reforma fiscal internacional más justa para luchar la creciente desigualdade”, in www.oxfam.org.
[5] Os países do G20 são: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia, Estados Unidos da América, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia. Esses 20 países concentram mais da metade da população mundial total que está distribuída em mais de 190 países.
[6] Judt, Ibdem, p (34).