O DÓLAR ASSASSINO
Por Paulo Nogueira Batista Jr.
Há uns 20 anos, esteve em cartaz um filme de terror de sucesso: “A bolha assassina”.
A referida bolha fazia um estrago medonho. A expressão ganhou vida
própria. Quando estourou a bolha financeira nos EUA em 2007, alguns
falaram em “bolha financeira assassina”.
Com igual razão, poderíamos falar em “câmbio assassino”.
Em muitos países, o desalinhamento e a volatilidade da taxa de câmbio
causam imensos transtornos. O Brasil é um exemplo notável. Estamos há
muitos anos convivendo com uma moeda supervalorizada. Nos anos recentes,
o movimento de apreciação foi impulsionado pelo boom das commodities e a
superabundância de capitais internacionais.
As estimativas de câmbio efetivo real (em relação a uma cesta de moedas)
mostram com clareza a força da moeda brasileira. Tomando-se, por
exemplo, dezembro de 2003 como mês de referência, a valorização do real é
superior a 30% (estimativa da FUNCEX, usando IPC como deflatores). No período 2009-2012, o auge da apreciação cambial, a valorização em relação a fins de 2003 era de 40% ou mais.
Uma
enormidade. Nenhuma economia escapa impune a uma valorização
persistente dessa ordem de magnitude. O governo brasileiro até que
tentou conter a valorização da moeda. Adotou controles sobre a entrada
de capitais. E entrou no mercado comprando parte da oferta abundante de
moeda estrangeira, acumulando reservas internacionais.
Essas
medidas ajudaram a moderar a apreciação cambial e, além disso,
fortaleceram muito a nossa segurança externa. Mas não foram suficientes
para conter o movimento. Reservas mais altas têm efeito paradoxal: fortalecem
a posição do país, tornando-o mais seguro como destino. Só que isso
reforça a entrada de capitais, revigorando a pressão pela valorização.
A
variação do câmbio sempre demora algum tempo para produzir todos os
seus efeitos. Só agora estamos vendo o tamanho da conta que acumulamos. A
moeda forte abalou de maneira duradoura a competitividade internacional
da economia, em particular do setor industrial. As exportações
tornaram-se mais caras. Ficou mais difícil competir com importações
dentro do mercado brasileiro.
A
perda de competitividade internacional solapou a capacidade de
crescimento da economia brasileira. Essa é uma das razões, nem sempre
lembrada, do crescimento medíocre dos últimos anos. Ao mesmo tempo, as
contas externas vêm piorando continuamente. Este ano, estamos com um
déficit na balança comercial. O déficit em conta corrente acumulado no
ano já equivale a 3,6% do PIB.
Há
atenuantes, notadamente os níveis elevados de reservas e de
investimentos diretos. Não estamos à beira de nenhuma crise de
pagamentos. Só não me venha algum economista dizer que o déficit em
conta corrente é a contribuição da “poupança externa” ao desenvolvimento
brasileiro. Aí já é demais."
FONTE: postado por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço"
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