sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quem A?


Quem eclipsará os EUA?

Por Simon Johnson
De acordo com Voltaire, o Império Romano caiu "porque todas as coisas caem". É difícil argumentar contra isso como declaração geral sobre declínio: nada dura para sempre. Mas também não é muito útil. Ao considerar, por exemplo, o predomínio americano no mundo atual, seria bom saber quando a ascendência diminuirá - e se os EUA podem fazer alguma coisa para adiar o inevitável.
À época, comentaristas abandonaram todas as esperanças em relação à sobrevivência do Império Romano por centenas de anos, antes de ele finalmente entrar em colapso. Podem os EUA encontrar seu caminho para um adiamento similar?
Em termos de proporcionar uma estrutura essencial para a discussão desse problema, o novo livro de Arvind Subramanian, "Eclipse: Living in the Shadow of China's Economic Dominance" (Eclipse: vivendo à sombra da dominação econômica da China) é uma grande contribuição. (Transparência total: Subramanian e eu somos colegas no Instituto Peterson de Economia Internacional, e temos trabalhado juntos em outras questões.)
Alguns anos atrás, algumas pessoas consideravam que o Japão tinha ultrapassado os EUA. A Europa também estava, supostamente, competindo pelo predomínio econômico mundial. Hoje, quaisquer dessas afirmações parecem absurdas.
Individualmente, Subramanian compila um índice de predomínio econômico que deverá tornar-se um foco de conversa em qualquer lugar onde as pessoas querem analisar mudanças na liderança econômica mundial. Não é preciso conhecer nada de economia para ficar fascinado por esse livro - ele trata pura e simplesmente de poder.
Os fatos básicos são incontestáveis. O Reino Unido foi a potência econômica dominante no mundo desde a irrupção da industrialização, no início do século XIX. Mas perdeu sua predominância e foi gradualmente eclipsado pelos EUA, que pelo menos desde 1945 é o líder incontestado entre as economias de mercado.
Os EUA ultrapassaram o Reino Unido em termos de produção industrial logo no fim do século XIX, mas isso não foi suficiente para fazer pender a balança. O predomínio econômico mudou somente quando o Reino Unido passou a incorrer em grandes déficits em conta corrente durante a primeira e a segunda guerras mundiais - o país teve que tomar pesados empréstimos para financiar seus esforços bélicos e as importações foram significativamente maiores que as exportações. Grande parte das reservas mundiais de ouro acabaram nas mãos dos EUA.
Isso ajudou a enfraquecer o papel da libra britânica internacionalmente e catapultou o dólar americano para o primeiro plano - especialmente depois da conferência de Bretton Woods, em 1944, quando foi acordado que os países passariam a manter suas reservas tanto em dólares como em ouro.
Mais recentemente, porém, foi a vez dos americanos de registrar sistematicamente grandes déficits em conta corrente, comprando mais do resto do mundo do que ganham com a venda de bens e serviços no exterior. Nessa dimensão, os EUA parecem destinados a repetir o erro dos britânicos.
Ao mesmo tempo, a renda per capita dos países de mercados emergentes cresceu - assim como seu papel internacional. A China, em especial, tem seguido uma estratégia, no decorrer dos últimos dez anos, que implica incorrer em grandes superávits em conta corrente e acumular reservas cambiais, hoje reportadas em mais de US$ 3 trilhões. Com efeito, o argumento mais provocante de Subramanian é de que a China já superou os Estados Unidos em termos de predomínio econômico - mas nós ainda não despertamos para essa nova realidade.
A história é fascinante e bem contada, mas ainda há muito sobre o que vale a pena discutir. Por exemplo, os britânicos declinaram porque os americanos não puderam ser detidos ou devido a problemas no Império Britânico e no Reino Unido?
Alguns anos atrás, algumas pessoas consideravam que o Japão tinha ultrapassado os EUA. A Europa também estava, supostamente, competindo pelo predomínio econômico mundial. Hoje, quaisquer dessas afirmações parecem absurdas. Em ambos os casos, o sistema de crédito escapou de controle, com excesso de empréstimos para o setor privado no Japão dos anos 1980 e com o excessivo endividamento público durante a década de 2000 na zona do euro.
Analogamente, ainda não está claro se o caminho de desenvolvimento chinês permanecerá tranquilo. Os investimentos fixos, na China, estão perto de 50% do PIB - o que parece ser um recorde mundial. O crédito disponibilizado às empresas estatais e às famílias continua a crescer rapidamente. Não será isso uma versão da causa precisa do descarrilhamento do crescimento japonês?
Sobre a questão central da capacidade de emitir uma "moeda de reserva" que investidores e governos querem manter em carteira, Subramanian tem razão: a China satisfaz muitos dos requisitos. Mas ainda carece de alguns elementos chave, entre eles, plenos direitos de propriedade. Se poder tirar seu dinheiro de um país quando os tempos ficam difíceis é uma preocupação, então a China não é um lugar atraente para manter suas reservas.
Problemas externos por vezes fazem Estados ruir. Mais frequentemente, porém, os grandes problemas são internos - o regime não consegue assegurar crescimento, sua legitimidade declina e as pessoas começam a buscar as saídas (ou pelo menos tirar seu dinheiro do país).
Se os EUA forem eclipsados em curto prazo, será mais provável que isso ocorra devido à sua perda de coesão social e seu cenário político disfuncional. A China pode muito bem entrar em cena para preencher esse vácuo, mas isso é bem diferente de ter condições de desalojar os EUA. (Tradução Sérgio Blum)
Simon Johnson, ex-economista chefe do FMI, é cofundador do blog de economia, BaselineScenario.com , professor da Sloan, no MIT, membro sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional e coautor, com James Kwak, de 13 Bankers (13 banqueiros).

A Europa e o mercado no mundo de poliana


A Europa e o mercado no mundo de poliana

O presidente da comissão européia, José Manuel Barroso. AFP Photo/Patrick Hertzog
O início desta última semana de setembro foi estranho. Depois de uma forte baixa na semana anterior, após o Fed adotar a “Operação Twist” para tentar estimular o investimento, as principais bolsas do mundo estiveram novamente em alta, atribuída ao otimismo dos investidores em relação a uma solução da crise europeia. As ações dos bancos franceses mais ameaçados subiram 13% a 17% na terça-feira 27 de setembro, quase 33% em três dias.
Enquanto isso, dirigentes das economias do mundo punham as barbas de molho à espera de uma moratória da Grécia já tida como inevitável. Os riscos-país da Itália e Espanha são agora superiores ao Brasil. Os riscos dos bancos dos EUA, Alemanha e Reino Unido são comparáveis ao da dívida soberana do Brasil e o dos franceses o ultrapassa (para não falar dos italianos e espanhóis).
A recessão, segundo vários analistas, já é realidade nos EUA e na Zona do Euro e deve durar pelo menos até o primeiro trimestre de 2012. No Brasil, segundo o jornal Valor Econômico, a presidenta Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda Guido Mantega voltaram de reuniões com autoridades e empresários nos Estados Unidos convictos de que a crise mundial é pior do que esperavam e a Grécia “está por poucos dias”. Analistas apostaram que o Copom reduzirá a Selic em 0,75% a 1% na reunião de 19 de outubro. O banco central de Israel, liderado pelo ortodoxo Stanley Fischer, cortou seu juro básico de 3,25% para 3% no dia 26, apesar de a inflação no país estar acima da meta.
Nos termos do acordo acertado em 21 de julho, a Grécia receberia um segundo resgate de 109 bilhões de euros (além dos 110 bilhões de 2010) e os credores da Grécia trocariam cerca de 135 bilhões em títulos com vencimento até 2020 por outros, garantidos pela União Europeia, com vencimentos em décadas futuras e sofreriam uma perda de 21% em valor presente. Mas isso agora parece insuficiente. Com a piora do desempenho econômico da Grécia, suas necessidades de financiamento aumentaram.
A chanceler Angela Merkel com o primeiro ministro da Grécia, George Papandreou. A partir de agora, é a Alemanha quem dá a direção. Foto: AFP Photo John Macdougall
Ao mesmo tempo, sete dos 17 integrantes da Zona do Euro, liderados pela Alemanha, passaram a exigir que o setor privado (principalmente bancos franceses) arque com uma parcela maior da perda. Trata-se de uma queda de braço entre alemães e franceses sobre como salvar os credores.
O suposto novo pacote europeu, no qual as bolsas estariam apostando, consiste em autorizar a Grécia a um “calote” de 50% do valor da dívida, que assim cairia de 150% para 75% do PIB. O país permaneceria na Zona do Euro e continuaria a receber ajuda. Além disso, haveria uma recapitalização em massa dos bancos da região (o FMI estima que precisam de 200 bilhões de euros, analistas privados falam em 390 bilhões) e o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira seria ampliado de 440 bilhões de euros para 2 trilhões a 3 trilhões, valor compatível com o das dívidas soberanas na berlinda (4,5 trilhões de euros na soma dos PIIGS, sem contar Bélgica e França).
Tal programa pode bastar para equacionar o problema dos bancos no médio prazo, pois o valor do Fundo garantiria as dívidas soberanas europeias até o fim de 2014, pelo menos. Mas não resolve o problema da Grécia (para não falar de Portugal e outros países em dificuldade que alegarão, com razão, que precisam do mesmo desconto), pois com o crescimento econômico travado pela perda de competitividade e medidas de austeridade, a dívida voltará a crescer. O beco seria esticado, mas continuaria sem saída.
O pacote serviria apenas para ganhar mais tempo e, o que é mais importante sob a ótica de curto prazo do mercado financeiro, tem poucas chances no atual quadro político europeu. Mesmo sendo pensado para contornar tanto quanto possível a necessidade de aprovação parlamentar, pois deixa aos governos nacionais a responsabilidade por apenas 20% do drástico aumento do Fundo Europeu e o restante aos tecnocratas do Banco Central Europeu. A Europa apela cada vez mais a subterfúgios para evitar o debate público e democrático de seus problemas e isso a faz perder apoio popular, num círculo vicioso que pode conduzir à desintegração ou a um autoritarismo disfarçado.
E mesmo o subterfúgio não é tão simples. O presidente do Bundesbank, banco central da Alemanha, criticou a proposta dizendo que alavancar o Fundo pelo BCE equivale a financiar o orçamento do Estado pela emissão de moeda, algo que é proibido pelo tratado da UE. A Standard & Poor’s advertiu que isso pode levar ao corte da nota AAA de que o Fundo Europeu hoje desfruta e terá consequências negativas também para o crédito da França e Alemanha. Para acalmar a enfurecida coalizão governista alemã, que tem sofrido sucessivas derrotas eleitorais para a centro-esquerda devido ao voto de protesto contra sua política europeia, o ministro da Fazenda alemão Wolfgang Schäuble negou oficialmente a existência do plano e se disse contrário à ampliação do Fundo.
Jovem queima papeis de notas fiscais em protestos organizados na Grécia. AFP Photo/Louisa Gouliamaki
Foi contestada até mesmo a atuação do BCE ao comprar títulos de dívida para conter a disparada do risco-país da Itália e Espanha, que se mostrou relativamente bem-sucedida nas últimas semanas. O jurista alemão Marcus Kerber quer processar no Tribunal Europeu o presidente do banco, o francês Jean-Claude Trichet, por violar o artigo 123 do Tratado de Lisboa sobre o funcionamento da União Europeia, que proíbe ao BCE e aos bancos centrais nacionais a compra direta de dívida pública, para garantir sua independência.
No dia 28, o português Durão Barroso, atual presidente da Comissão Europeia, foi ao Parlamento Europeu garantir que a Grécia continuará na Zona do Euro e defender a criação de eurobônus e de um imposto sobre transações financeiras (análogo à CPMF brasileira) que arrecadaria 55 bilhões por ano. Ao mesmo tempo, porém, queixou-se da necessidade de aprovar todas as medidas por unanimidade. Negociá-las entre 27 governos leva um tempo enorme – e fazê-las aprovar por todos os parlamentos é ainda mais difícil. A autorização ao Fundo Europeu para comprar títulos de dívidas soberanas, decidida em 21 de julho, ainda dependia da ratificação do parlamento da Eslováquia – que se recusava a por um só centavo nele –, depois de a Comissão Europeia muito ter custado para persuadir os deputados da Finlândia. Cada um desses dois países tem apenas 1% da população da União.
As novas medidas com que sonha Barroso sofrem oposição ainda mais substancial: o Reino Unido não quer ouvir falar de imposto financeiro. Países mais prósperos, como a Alemanha, são contra os eurobônus, que ao unificar a dívida europeia nivelariam o juro e o risco europeu pela média. E o tempo corre. O governo grego pode pagar suas contas só até meados de outubro, mas a Alemanha adiará a decisão sobre os 8 bilhões da sexta parcela do acordo de 2010 até o último momento – e a resposta pode ser “nein”.
Protestos em Atenas contra medidas impopulares do governo grego para acalmar credores. AFP Photo / Louisa Gouliamaki
Se os políticos alemães estão de mau humor, o povo grego, do lado mais fraco da corda, tem muito mais razões para estar farto. Os funcionários públicos que ainda têm emprego – inclusive professores, policiais e fiscais da receita – perderam 20% ou mais dos vencimentos, o rendimento familiar médio caiu 50% e o desemprego cresceu de 8% para 16%, com um salário-desemprego de meros 454 euros mensais. O número de suicídios mensais dobrou desde o início da crise. Aumentaram os moradores de rua e os dependentes de drogas, pelo desemprego, corte nas pensões e aposentadorias e expulsão de instituições psiquiátricas que não podem mais sustentar seus pacientes. Pobres e idosos remexem latas de lixo e restos de feira para sobreviver.
“Não é mais seguro para nós sair à rua”, disse um político do partido governista grego (socialista) ao jornal alemão Frankfurter Rundschau. Quando aparecem em público, são alvo de assédio, ovos e pedras. No dia 26, estudantes invadiram os estúdios da TV estatal para protestar contra os cortes de gastos na educação. Uma greve dos transportes voltou a parar Atenas no dia 28 e greves de servidores foram marcadas para outubro.
O primeiro-ministro Giorgios Papandreou foi a Berlim no dia 27 e dizer aos empresários alemães que seu país faz “esforços sobre-humanos” para cortar o déficit, mas se os gregos receberem apenas punição e desprezo dos europeus, a crise “não será uma oportunidade, mas uma causa perdida”. Pior que as privações é a percepção – muito realista – de que não há perspectiva de recuperação. A Grécia pode ser empurrada a uma solução “argentina” – um calote unilateral com impacto muito maior que o de uma moratória organizada, mesmo de 50% do valor.
Naquele dia, o Parlamento grego aprovou, com o voto de 154 dos 300 deputados, um imposto de emergência sobre imóveis, em média de mil euros anuais por família e deveria render dois bilhões de euros anuais. Mas manifestantes fizeram fogueiras com as notificações, entregues junto com a conta de luz, e uma pesquisa de opinião diz que 23% das famílias recusarão pagá-la. O próprio vice-primeiro-ministro, Theodoros Pangalos, que possui várias propriedades por herança, diz não ter os 17.500 euros que deve e terá de vender uma delas. E se não achar comprador? “Então Venizelos (ministro da Fazenda) terá de me prender”. É o dilema de todo um país. Como não se pode colocá-lo todo na cadeia – até porque isso apenas aumentaria os gastos de um Estado já sobrecarregado – tudo indica que o país acabará por se ejetar da Zona do Euro, por mais que haja Polianas dispostas a apostar em contrário.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Alta do dólar faz dívida saltar US$ 91,8 bilhões


Se, hipoteticamente, o governo e as empresas decidissem zerar ontem a dívida externa brasileira acumulada até julho, com a cotação do dólar comercial em R$ 1,8450, gastariam cerca de R$ 91,8 bilhões a mais do que se a mesma decisão fosse tomada no dia 26 de julho deste ano, quando o dólar atingiu R$ 1,5360 no balcão, equivalente ao menor valor desde a adoção do regime de câmbio flutuante. Esse avanço da dívida é resultado da valorização de 20,12% do dólar no período.
Segundo dados do Banco Central referentes ao setor externo no mês de julho, a dívida externa brasileira total era de US$ 297,092 bilhões, o que correspondia, ontem, a R$ 548,135 bilhões. No dia 26 de julho, a dívida equivalia a R$ 456,334 bilhões. Desse montante em dólares, US$ 49,462 bilhões estão na rubrica de curto prazo, ou seja, com vencimento em até 12 meses. Portanto, apenas a dívida de curto prazo teve um incremento, em reais, de R$ 15,284 bilhões, resultado da diferença entre os R$ 75,974 bilhões que valia em 26 de julho, e os R$ 91,258 bilhões de ontem.
A dívida de longo prazo, com vencimento superior a 12 meses, fechou julho em US$ 247,630 bilhões. Assim, o gasto para o pagamento integral do montante seria de R$ 456,878 bilhões hoje, ante R$ 380,360 bilhões em 26 de julho. Esses números resultam em um acréscimo de R$ 76,518 bilhões no período.
Vale destacar que no dia 26 de julho, o mês de referência da dívida externa usada para os cálculos ainda não havia sido encerrado, mas já estava muito próximo do fim. Ressalta-se ainda que o montante total da dívida externa, segundo o próprio Banco Central, exclui o estoque do principal relativo a empréstimos intercompanhias. Se essa rubrica for somada à dívida externa total, o montante, em julho, seria de US$ 405,705 bilhões.
Divisão
A maior parte da dívida externa, segundo os dados do Banco Central, é do setor privado. Enquanto governo geral (US$ 60,216 bilhões) e autoridade monetária (US$ 4,616 bilhões) respondiam por US$ 64,832 bilhões da dívida de US$ 297,092 bilhões, bancos (US$ 137,388 bilhões) e outros setores (US$ 94,921 bilhões) deviam, juntos, US$ 232,309 bilhões. Diante desses números, enquanto a dívida externa pública em reais saltou cerca de R$ 20 bilhões, considerando a variação cambial entre o dia 26 e julho e ontem, o saldo devedor do setor privado teve avanço de aproximadamente R$ 71,769 bilhões.
Porém, enquanto governo e autoridade monetária não possuíam dívidas de curto prazo, os bancos tinham US$ 44,486 bilhões com vencimento em até 12 meses, com outros US$ 92,852 bilhões no longo prazo. Isso significa que, em reais, o saldo devedor de curto prazo dos bancos saltou R$ 13,746 bilhões. Os débitos de longo prazo cresceram, em reais, R$ 28,691 bilhões.
A dívida externa de curto prazo de outros setores (US$ 4,976 bilhões) era, em julho, relativamente pequena ante o montante total (US$ 94,921 bilhões). Assim, a diferença em reais do valor de curto prazo, entre 26 de julho e ontem, seria de R$ 1,538 bilhão. Já para a dívida de longo prazo de outros setores, que era de US$ 89,945 bilhões no fim de julho, a diferença do custo para quitá-la, nesse período, saltou R$ 27,793 bilhões.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Combate à miséria inclui mais 1,2 mi no Bolsa Família

http://bcm2008.envemkt.net/registra_clique.php?id=H|23445743|140018|124512&url=http%3A%2F%2Fwww.cartamaior.com.br%2Ftemplates%2FmateriaMostrar.cfm%3Fmateria_id%3D18508%26boletim_id%3D1008%26componente_id%3D16200

Lobistas de fábricas monitoraram medidas



Jornal Valor Econômico
Todo o processo de elaboração das medidas para elevar a tributação dos carros importados, anunciada pelo governo na semana passada, foi cuidadosamente acompanhado pelos lobistas de quatro fabricantes: Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen. Nenhuma dessas empresas precisa fazer qualquer alteração na sua atividade, porque o novo modelo, criado por meio de decreto, se ajusta perfeitamente à estrutura que as quatro já têm na América Latina. O efeito protetor da decisão governamental garante a montadoras, que hoje dominam 54% do mercado brasileiro, fôlego e tempo adicional de preparo para enfrentar a inevitável chegada de novos concorrentes.
A repentina mudança de regras expõe que, na falta de políticas industriais de longo prazo para setores fortes, como a indústria automotiva, o poder público se agarra a medidas paliativas. O governo de Dilma Rousseff recorreu a uma fórmula muito usada pelos antecessores: mudou a regra do jogo em meio à pressão, que se intensificou com notícias de que os estoques de carros novos haviam aumentado e os operários começavam a tirar longos períodos de folga.
Nos últimos meses, representantes de Fiat, Ford, GM e Volks se alinharam em torno da mesma causa e negociaram com o governo de forma harmônica. Há duas semanas, segundo contam fontes familiarizadas com o assunto, a direção da Anfavea, entidade que representa essa indústria, pediu a presença, na mesa de negociações, dos executivos com mais experiência nas relações com o governo nessas quatro empresas.
Com a iminência do anúncio das novas medidas, integrantes da equipe de lobistas chegaram a cancelar compromissos no exterior. Era a consagração de meses de trabalho para convencer o governo a encontrar uma fórmula para premiar o império industrial que essas empresas ergueram no Mercosul nas últimas quatro décadas.
Nenhum detalhe da estrutura já montada na América Latina escapou na elaboração do decreto. A nova regulamentação elevou em 30 pontos percentuais o IPI dos carros com menos de 65% de peças nacionais, mas abriu exceção para os carros e peças que vêm do Mercosul e México. Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat têm fábricas na Argentina e México. Como o Brasil tem acordos de intercâmbio comercial com Mercosul e México, os veículos produzidos nessas regiões já estavam livres do Imposto de Importação de 35%.
O interesse das quatro maiores acabou ajudando as empresas do setor com menos história de relacionamento com o governo. As francesas Renault, Peugeot e Citroën fabricam no Brasil e na Argentina. Trata-se de uma estrutura criada na expectativa que o Mercosul funcionasse como bloco. A ideia de dividir a produção se baseou numa estratégia de complementaridade de linhas.
A japonesa Nissan, que compartilha a fábrica brasileira com a Renault, será uma das mais beneficiadas pela isenção de imposto dos carros vindos do México. A fábrica mexicana da Nissan abastece o mercado do Brasil, incluindo o primeiro compacto da marca, o March, prestes a ser lançado aqui.
Em relação à nacionalização, vale lembrar que há anos a maior parte dos carros fabricados no Brasil leva alta quantidade de peças produzidas no país, o que é conveniente num setor que trabalha no chamado "just in time" - modelo de manufatura sem estoques.
As montadoras com fábricas no Brasil não serão afetadas sequer na importação de veículos fora do Mercosul e México, porque o cálculo do conteúdo regional levará em conta receita bruta total da empresa e não custo por veículo. As quatro veteranas trazem automóveis da América do Norte e Europa para poder atuar no mercado de alto luxo.
A necessidade de dedicar parte substancial da receita em pesquisa e desenvolvimento, outro requisito fixado pelo decreto, também não dará nenhum trabalho às empresas com mais tempo de Brasil. O setor nunca encontrou dificuldades para dedicar-se à arte da criação de automóveis num país com farta matéria-prima, extensão territorial suficiente para produzir em escala e mão de obra preparada.

sábado, 10 de setembro de 2011

MINAS DO OURO





Frei Betto



No início dos anos 80, engravidei da pulsão de  escrever um romance sobre a história de Minas Gerais. É assim: o tema de uma  obra de ficção nos agarra na esquina da vida. É como paixão à primeira vista.  Ou a “eureka” dos gregos. Súbito, brota a ideia, e ela impregna o sentimento e  gruda nas dobras da subjetividade. Ali germina até que se consiga dar vazão à  pulsão.
Meu projeto inicial era escrever um  romance ambientado na mina de Morro Velho, em Nova Lima. Ali acampei quando  escoteiro. Dali ouvi histórias mirabolantes de desabamentos, inundações,  mortes, e muita pobreza em meio à riqueza gerada pela mais profunda mina de  ouro do mundo.
A cozinheira de minha família, Ana, era de Raposos e,  seus parentes, quase todos empregados da Morro Velho. Dela escutei incríveis  relatos do que ocorria naqueles subterrâneos em que se extraíam ouro das  galerias e saúde dos trabalhadores.
Graças à colaboração de Christina Fonseca e Maione R.  Batista, entrevistei ex-empregados da mina e, em especial, Dazinho, líder  sindical de Morro Velho que se elegeu deputado estadual e, mais tarde, teve o  mandato cassado pela ditadura, que o levou à prisão.
Tive acesso a livros raros sobre a história da mina, a  manuscritos antigos, a mapas e até papéis de contabilidade, e retornei a ela  um par de vezes.
Uma coisa leva à outra. De Morro Velho minha pesquisa  se ampliou para a história das Minas e das Gerais. Devorei, calculo, cerca de  120 livros, entre os quais o Códice Matoso, Autos da devassa, os  volumes das coleções Mineiriana e Brasiliana, textos de Diogo de Vasconcelos,  Lúcio dos Santos, Iglesias, Boschi, Neusa Fernandes, Laura de Mello e Souza,  Myriam A. Ribeiro de Oliveira, Júnia Ferreira Furtado  etc.
Em 1997 iniciei a redação de Minas do  Ouro. Havia que transformar os dados coletados em texto literário.  Escrever é como cozinhar: reúnem-se os ingredientes e, em seguida, faz-se a  mistura (aqui, o talento do escritor) e deixe fermentar até que a massa chegue  ao ponto (aqui, o estilo, o “sotaque” narrativo). Admito que os Sermões  do padre Antônio Vieira me inspiraram na busca da linguagem adequada a cada  período dos cinco séculos que o romance abrange.
Foram 13 anos de trabalho, sempre de olho nas  novidades editadas sobre a história de Minas, como os textos de Luciano  Figueiredo e a História de Minas Gerais – As Minas Setecentistas,  organizado por Maria Efigênia Lage de Resende e Luiz Carlos  Villalta.
Não é fácil elaborar um romance  histórico. Meu primeiro foi Um homem chamado Jesus (Rocco), em que  descrevo a vida do homem de Nazaré. Ali enfrentei o desafio de tratar de um  personagem cuja trajetória o leitor conhece de antemão.
Qualquer desatenção e a narrativa vira ensaio amador  com pitadas de ficção. Os fatos históricos de Minas são tão empolgantes  (bandeiras, guerra dos emboadas, Triunfo eucarístico, conjuração etc), que no  percurso se é tentado a deixar a realidade dos fatos falar mais alto que os  voos da imaginação.
Como não sou historiador, tratei de centrar a  narrativa na saga da família Arienim. Os fatos históricos de Minas ficaram  como pano de fundo. Os leitores dirão se acertei na receita e se ficou  saborosa. Fora os cabotinos, nenhum autor é juiz da própria  obra.
Minas do Ouro é uma narrativa de  anti-heróis. Romances históricos – gênero surgido na Inglaterra no século 18 –  costumam exaltar protagonistas, incensar poderosos, ocultar fraquezas e  desacertos de figuras célebres.
Em Minas do Ouro procurei demitizar personagens  históricos, situá-los com os pés no chão e não nos pedestais dos heróis da  pátria, e realçar a inusitada trajetória da família Arienim em busca de um  tesouro que produziria a alquimia de suas vidas.
Resta acrescentar que meu encanto pela história da  terra em que nasci se aprofundou graças à influência de meu pai, Antônio  Carlos Vieira Christo, de cuja biblioteca herdei boa parte da bibliografia  concernente ao romance, e de Tarquínio Barbosa de Oliveira, historiador, em  cuja Fazenda do Manso, em Ouro Preto, passei inesquecíveis  temporadas.


Frei Betto é escritor, autor de Minas do Ouro,  que a editora Rocco faz chegar esta semana às livrarias. http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

É tolice achar que o BC baixou os juros por pressão

http://www.google.com.br/url?sa=t&source=newssearch&cd=1&ved=0CCUQqQIwAA&url=http%3A%2F%2Fwww.jb.com.br%2Feconomia%2Fnoticias%2F2011%2F09%2F01%2Fe-tolice-achar-que-bc-baixou-juros-por-pressao-diz-economista%2F&ei=o25hTsnZJ5O4tge29Z38Dw&usg=AFQjCNGdMYrTXI4QKgZc-bnyCbb4r2CSig&sig2=tuo3bcvGjiRcbfTWpKS2aw

Brasil vira o jogo


A decisão do Copom de reduzir (em 0,50 ponto) para 12% a taxa básica de juros surpreendeu. É um marco na política monetária.
Seus vetores:
1) Há uma janela de oportunidade para o Brasil.
O mundo rico pratica hoje taxas de juro negativas ou próximas de zero. Está endividado como nunca e tem pela frente anos de crescimento muito baixo.
Mesmo com uma inflação anual roçando em 6,5%, o Brasil ainda paga os maiores juros do mundo (5,5% ao ano, no mínimo, descontando a inflação). Portanto, não faltará capital estrangeiro ao Brasil. Produtivo, atrás de lucros e crescimento; ou especulativo, atrás de juros.
2) Antes do corte, o governo elevou de R$ 50 bilhões para R$ 60 bilhões a economia adicional prometida neste ano para pagar juros da dívida interna.
Dilma mudou da água para o vinho. Antes de virar presidente, considerou "rudimentar" plano da equipe de Lula de zerar o déficit público do Brasil em alguns anos. Agora, suas últimas declarações vão neste caminho;
3) Há uma constatação geral no mercado, diante de um mundo atolado em dívidas, de que serão premiados por investidores (e capital) países que forem responsáveis do ponto de vista fiscal (mantendo equilíbrio entre receita e gastos).
O Brasil, com uma das menores taxas de poupança do mundo, parece agora tentar se posicionar para receber esse dinheiro de fora para mudar de patamar.
Além do inferido acima, a nota da reunião do Copom diz também que os riscos de inflação são cada vez menores diante do desaquecimento no mundo rico. É uma aposta, mas factível. Os países desenvolvidos devem comprar menos, diminuindo pressões sobre preços.
Abaixo, a íntegra do comunicado. Uma redação menos rococó viria a calhar:
"O Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 12,00% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela manutenção da taxa Selic em 12,50% a.a. Reavaliando o cenário internacional, o Copom considera que houve substancial deterioração, consubstanciada, por exemplo, em reduções generalizadas e de grande magnitude nas projeções de crescimento para os principais blocos econômicos. O Comitê entende que aumentaram as chances de que restrições às quais hoje estão expostas diversas economias maduras se prolonguem por um período de tempo maior do que o antecipado. Nota ainda que, nessas economias, parece limitado o espaço para utilização de política monetária e prevalece um cenário de restrição fiscal. Dessa forma, o Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante.
"Para o Copom, a transmissão dos desenvolvimentos externos para a economia brasileira pode se materializar por intermédio de diversos canais, entre outros, redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empresários. O Comitê entende que a complexidade que cerca o ambiente internacional contribuirá para intensificar e acelerar o processo em curso de moderação da atividade doméstica, que já se manifesta, por exemplo, no recuo das projeções para o crescimento da economia brasileira. Dessa forma, no horizonte relevante, o balanço de riscos para a inflação se torna mais favorável. A propósito, também aponta nessa direção a revisão do cenário para a política fiscal.
"Nesse contexto, o Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012.
"O Comitê irá monitorar atentamente a evolução do ambiente macroeconômico e os desdobramentos do cenário internacional para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária."
Fernando Canzian
Fernando Canzian é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, 

Estratégia para enfrentar a crise



A crise trouxe a oportunidade de tomar medidas para a reativação da economia, que vem caindo pelo fato de ter preponderado o combate da inflação pela forma ineficaz e prejudicial da elevação da Selic. Ao que tudo indica o governo parece convencido que já passou da hora de estimular o mercado interno e, para isso, irá fazer o caminho inverso reduzindo a Selic e controlando o câmbio. Uma coisa é certa e não existe meio termo: ou o governo derruba as taxas de juros ou elas irão continuar envenenando progressivamente o tecido econômico e social, mantendo o País atrelado ao atraso. O artigo é de Amir Khair.

Dia 29 último o governo federal anunciou sua estratégia para enfrentar a crise internacional. Elevou o esforço fiscal em R$ 10 bilhões passando o superávit primário (receitas menos despesas, exclusive juros) de R$ 81,8 bilhões para R$ 91,8 bilhões.

Esses R$ 10 bilhões constituem parte do excesso de arrecadação previsto anteriormente. A decisão do governo foi de usar essa parte do excesso para abater a dívida do governo federal e não usar para outras despesas. Não é o que os analistas ortodoxos querem. A ladainha deles é que haja redução das despesas do governo para reduzir a pressão da demanda, o que permitiria ao Banco Central (BC) reduzir as taxas de juros.

Sob o ponto de vista macroeconômico uma elevação da receita pública tem o mesmo efeito que uma redução do mesmo montante na despesa.

Ao elevar o superávit primário o governo comprou a tese do mercado financeiro de que a Selic só vai cair se houver melhor desempenho fiscal. É o contrário: a Selic caindo é o que dá maior contribuição para a redução das despesas públicas.

A estratégia fiscal do governo é, no entanto, de médio prazo, ou seja, até 2014. Quer que as despesas de custeio cresçam menos que o PIB, indexação das cadernetas de poupança a um percentual da Selic e reduzir a participação da dívida pública atrelada à Selic.

A sinalização do governo de aperto fiscal pode ser a estratégia do possível tentando contornar o enfrentamento dos interesses do mercado financeiro de manter a Selic elevada para aumentar os seus lucros em cima da dívida do governo federal. Não creio que isso funcione, ou seja, o mercado financeiro reagirá sempre à redução da Selic e a forma de fazer isso ficou demonstrada após essa última reunião do Copom.

É importante o governo ter e anunciar seu plano fiscal que cubra o prazo que vá até o final do mandato em 2014. Da mesma forma é importante que no plano constem compromissos de manter as despesas de custeio abaixo do crescimento do PIB para elevar os investimentos, mas isso é insuficiente. A estratégia governamental falha ao não incluir nesse plano o impacto das políticas monetária e cambial sobre as finanças públicas.

Influem com peso nos resultados fiscais a Selic da política monetária e as reservas internacionais na política cambial. A Selic completamente fora da realidade internacional e maior aberração macroeconômica do País, contamina as taxas de juros dos demais títulos do governo pré-fixados ou atrelados a índices de preço. Ao subir a Selic sobem as outras taxas de juros dos títulos públicos, pois o aplicador passa a exigir isso.

Impacto cambial
O impacto fiscal da política cambial se dá através do nível das reservas internacionais. O BC vem elevando essas reservas em dólares e as aplica em títulos do Tesouro americano que não rendem quase nada e paga ao mercado juros atrelados à Selic. Esse diferencial de taxas de juros vezes o nível das reservas deve atingir neste ano cerca de R$ 70 bilhões!

Não há a necessidade de manter tão elevada essas reservas. No auge da crise de 2008 estavam em US$ 204 bilhões e no final de julho atingiram US$ 347 bilhões, crescendo 70%! Outro problema é que as reservas elevadas servem de atração aos especuladores internacionais, pois representam maior garantia de solvência externa aos aplicadores.

Impacto monetário
O impacto fiscal da política monetária é dado através das despesas com juros. Nos últimos 16 anos representou 7,38% do PIB, quando a média internacional é de 1,8% do PIB. Isso ocorreu devido à Selic ser a taxa de juros mais alta do mundo durante mais de uma dezena de anos. Nos últimos doze meses terminados em julho atingiu R$ 224,8 bilhões, ou 5,73% do PIB. Como o governo pretende alcançar um superávit primário de 3,3% do PIB, irá ocorrer um déficit fiscal de 2,43% do PIB (5,73 menos 3,3).

Nesses primeiros sete meses do ano em comparação com o mesmo período do ano passado as despesas não financeiras do governo federal (funcionalismo, previdência social, área social, investimentos e demais despesas com a máquina pública) cresceram em termos nominais (sem corrigir a inflação), 11,0%, o mesmo para o funcionalismo e 10,8% para a previdência social e, pasmem 48,3% (!) para os juros, passando de R$ 71,3 bilhões para R$ 105,8 bilhões ou crescimento de R$ 34,5 bilhões (ver quadro acima).

Esse quadro apresenta para os primeiros sete meses de 2010 e 2011, a evolução da Receita Líquida (receita menos as transferências a estados e municípios), das despesas, juros, resultado primário e resultado fiscal (resultado primário menos os juros). A coluna “diferença” é o valor de 2011 menos o de 2010 e o percentual (%) é o quanto evoluiu no período. Assim, a Receita Líquida passou de R$ 389,9 bilhões em 2010 para R$ 471,3 bilhões em 2011 com crescimento de R$ 81,3 bilhões ou 20,9%. O Resultado Primário cresceu 161,3% e o déficit fiscal foi reduzida em 14,1% (última linha e coluna).

Se o BC não abaixar a Selic será mantida essa tendência e o acréscimo de juros poderá atingir neste ano R$ 60 bilhões! Todo o esforço de cortar R$ 50 bilhões do orçamento feito no início do ano, mais essa elevação de R$ 10 bilhões no superávit primário é anulada pelo BC e as despesas com juros do setor público poderão alcançar 6,3% do PIB.

Redução da Selic e reação
Como o BC, face à crise internacional, reduziu a Selic nessa última reunião do Copom em 0,5 ponto percentual, o mercado financeiro ficou frustrado e começou a por em xeque essa decisão, taxando-a de política e de obediência ao Planalto. Na verdade o que ele quer é que o governo continue obediente aos interesses financistas.

Apesar de o governo ter se comprometido com mais austeridade nas suas despesas, o mercado financeiro, com amplo espaço na mídia, puxou a faca contra o governo atingindo a presidente. Resta ver se ela vai enfrentar essa turma da bufunfa, que mama nas tetas do governo há décadas.

A melhor resposta é, ao invés de se defender, partir ao ataque, em medidas de alto impacto favorável ao País, elevando os depósitos compulsórios dos bancos no BC e a tributação sobre o lucro deles como um dos componentes para permitir recursos para regulamentar a Emenda Constitucional nº 29, que garante mais recursos para a área da saúde.

O outro “presente” é estabelecer limites às escorchantes taxas de juros cobradas nos seus empréstimos. Se der marcha a ré, o governo desiste do comando da economia, que é de sua exclusive responsabilidade. Portanto, vale mais ação do que palavras.

Essa decisão do BC de baixar a Selic pode estar relacionada a uma política econômica integrada sob a responsabilidade da presidente da República. Assim, o esforço fiscal do governo pode ser o compromisso assumido para o BC iniciar um processo de redução gradual da Selic até levá-la a um patamar mais baixo.

Caso siga o que fazem os bancos centrais dos países emergentes a Selic seria próxima do nível da inflação, ou seja, de 6%, neste ano.

A Selic, excluída a inflação prevista para os próximos doze meses, está em 6,3% ao ano, mais do dobro do segundo colocado (Hungria, com 2,8%). A taxa média de juros internacional envolvendo uma amostra representativa de 40 países está negativa em 0,8% ao ano.

Ainda é cedo para prever o que acontecerá no governo face à forte reação do mercado financeiro e, consequentemente, dos próximos passos na redução da Selic.

A crise trouxe a oportunidade de tomar medidas para a reativação da economia, que vem caindo pelo fato de ter preponderado o combate da inflação pela forma ineficaz e prejudicial da elevação da Selic. Ao que tudo indica o governo parece convencido que já passou da hora de estimular o mercado interno e, para isso, irá fazer o caminho inverso reduzindo a Selic e controlando o câmbio.

Uma coisa é certa e não existe meio termo: ou o governo derruba as taxas de juros ou elas irão continuar envenenando progressivamente o tecido econômico e social, mantendo o País atrelado ao atraso. É hora de enfrentamento.