segunda-feira, 7 de maio de 2018

Argentina afunda. Cadê as antas da mídia?

Por Altamiro Borges, em seu blog

O jornal espanhol El País informa neste sábado (5) que a economia da Argentina está afundando. O temor da burguesia é com uma nova explosão de descontentamento popular no país vizinho. Já a mídia brasileira, que festejou a derrota do candidato de Cristina Kirchner nas eleições presidenciais de 2015 e sempre bajulou o ricaço Mauricio Macri, evita dar maior destaque para o assunto. Diante do fiasco, o site de ultradireita Antagonista, editado por algumas antas do jornalismo nativo, agora tenta se distanciar do desastre, apresentando o presidente neoliberal como “socialdemocrata”. Risível! Patético!

Segundo relato do El País, “o governo argentino se empenha em transmitir tranquilidade, mas os antecedentes de uma das economias mais convulsionadas do mundo ocidental provocaram nervosismo dentro e fora do país. O dólar disparou e o governo decidiu usar artilharia pesada para lutar contra essa escalada. Pela terceira vez na mesma semana, o Banco Central aumentou as taxas de juros, que já eram as mais altas da região, elevando-as em poucos dias de 27% para 40%, um recorde absoluto no mandato de Mauricio Macri. Mas não parou por aí. O ministro da Economia, Nicolás Dujovne, anunciou um corte de gastos significativo, de 3,2 bilhões de dólares (11,3 bilhões de reais), principalmente em obras públicas”.

Ainda de acordo com o jornal espanhol, as novas medidas podem produzir uma explosão social no país e ter fortes impactos na região. “A elevação dos juros para 40% e o corte de gastos significam um freio para uma economia que tinha voltado a crescer e começava a sair da longa crise. Um crescimento mais baixo também deve trazer implicações para o Brasil. O país vizinho deve reduzir as importações de produtos brasileiros, principalmente de automóveis. Hoje, a indústria automobilística responde por quase metade da pauta de exportação aos argentinos. A Argentina é o terceiro destino do comércio exterior brasileiro, segundo a Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB)”.

Mauricio Macri, a exemplo do seu colega Michel Temer, é um capacho da cloaca empresarial nativa e do imperialismo ianque. Graças ao apoio do Grupo El Clarín – similar ao Grupo Globo no Brasil –, que praticou um “jornalismo de guerra” contra Cristina Kirchner, o ricaço corrupto foi eleito presidente com a promessa de retomar “instantaneamente” a economia. A manipulação midiática, como sempre, iludiu a egoísta “classe mérdia”. Agora, porém, aparecem os resultados. A Argentina está derretendo, com o desmonte do Estado e a regressão nos direitos sociais. Os abutres financeiros são os únicos vitoriosos na gestão de Mauricio Macri e ainda exigem mais concessões. As antas do jornalismo argentino e brasileiro – com todo o respeito aos bichinhos – estão em pânico.

Temer trouxe a nova segregação social


Por Marcio Pochmann, na Rede Brasil Atual:
do blog do Miro

Com o governo Temer, a volta do receituário neoliberal – somente possível sem o respeito à vontade popular – trouxe consigo uma nova forma de manifestação da segregação social no Brasil. Isso porque no ano de 2017, por exemplo, a pobreza enquanto medida de distanciamento de um padrão digno de vida, terminou por crescer mais acentuadamente nos segmentos que até pouco tempo pareciam estar protegidos, como brancos, homens, mais escolarizados e adultos.

Até então, os estratos sociais mais vulneráveis concentravam-se na população não branca, crianças e mulheres, e brasileiros de menor escolaridade. Mesmo com a estabilidade monetária alcançada no Plano Real no governo Itamar Franco (1992-1994), o comportamento da pobreza não refluiu, uma vez que no governo de FHC (1995-2002), por exemplo, a taxa de pobreza se manteve estável, representando 33,2% da população, em 1995, e 33,2%, em 2002.

Somente com a interrupção do receituário neoliberal a partir de 2003 que a taxa de pobreza passou a decair sistemática e continuamente. No governo Lula (2003-2010), a taxa de pobreza caiu 50,3%, uma vez que foi reduzida de 33,2% do conjunto da população, em 2002, para 16,5%, em 2010.

No governo Dilma (2011-2016), a taxa de pobreza seguiu a trajetória de queda em 39,4% acumuladamente entre os anos de 2010 (16,5% da população) e de 2015 (10% da população). Mesmo com esse significativo sentido de queda na taxa de pobreza, a população mais vulnerável seguiu, ainda, focada, nos brasileiros não brancos, mulheres e crianças, bem como as pessoas de menor escolaridade.

Com o governo Temer, todavia, o crescimento da pobreza terminou expondo à vulnerabilidade da segregação social, justamente os estratos de brasileiros brancos, homens, adultos e com maior escolaridade. Entre os anos de 2016 e 2017, por exemplo, a pobreza subiu 5% no conjunto dos brasileiros (adicional de 3 milhões de pessoas).

Mas para a população branca, por exemplo, a pobreza aumentou 6,8%,enquanto para a não branca cresceu 4,3%. Em função disso, a população branca na condição de pobreza subiu 58,1% mais rápida do que para a não branca pobre.

No caso do segmento masculino, a pobreza aumentou 5,4% em 2017, ao passo que para as mulheres pobres houve o crescimento de 4,6%. Ou seja, a pobreza entre os homens subiu 17,4% mais acelerada do que na pobreza feminina.

Também para a população com até 21 anos de idade, a pobreza aumentou 3,2% no ano passado. Mas para a população de 22 a 50 anos de idade cresceu 5,7% e para o segmento etário de mais de 50 anos, o crescimento na quantidade de pobres foi de 8,8%.

Quando tomada como referência a escolaridade no conjunto da população considerada pobre, percebe-se a elevação mais acelerada entre aqueles com mais anos de ensino. No ano de 2017, o segmento com Ensino Fundamental registrou aumento na quantidade de pobres em 2,9%, enquanto para os pobres com Ensino Médio, o crescimento da pobreza foi de 10,6%.

Para os pobres com Ensino Superior, a elevação foi de 25%. Dessa forma, constata-se que para cada aumento de 1 ponto percentual na quantidade de pobres com Ensino Fundamental, a pobreza dos brasileiros com Ensino Superior subiu 8,6 vezes mais.

Da mesma forma, nota-se que para cada elevação de um ponto percentual no número de pobres com Ensino Fundamental, a pobreza entre os brasileiros com o Ensino Médio aumentou 3,7 vezes mais. Se considerar ainda o aumento na quantidade de pobres em um ponto percentual para os brasileiros com Ensino Médio, conclui-se que a pobreza para o segmento de Ensino Superior aumentou 2,6 vezes mais.

Apesar da crise, ricos ficam mais ricos

Por Juliana Gonçalves, no jornal Brasil de Fato:

A parcela 1% mais rica da população mundial concentra hoje 50,1% da riqueza das famílias de todo o mundo, de acordo com relatório do Credit Suisse de 2017. A tendência é que o percentual continue a aumentar, segundo o estudo a Biblioteca da Câmara dos Comuns britânica, encomendado pelo deputado trabalhista Liam Byrne.

Se as tendências observadas desde a crise financeira de 2008 continuarem, observa o relatório, o chamado 1% terá em suas mãos 64% da riqueza global daqui a apenas 12 anos.

Estudo da Oxfam, divulgado em janeiro deste ano, utilizando também dados do Credit Suisse, apontou que cerca de 7 milhões de pessoas que compõem o grupo dos 1% mais ricos do mundo ficaram com 82% de toda riqueza global gerada em 2017.

Rafael Georges da Cruz, coordenador de campanhas da Oxfam Brasil, comenta a concentração de renda entre os mais ricos. "As últimas pesquisas da Oxfam tem revelado que as desigualdades de patrimônio no mundo tem crescido, a concentração do patrimônio no topo, no 1% mais rico, nos bilionários tem crescido", afirma.

Ele explica que as desigualdades diminuíram entre os trabalhadores, muito por conta de programas sociais como o Bolsa Família, que ocasionaram a retirada de pessoas da extrema pobreza, mas a hiperconcentração de renda segue intacta. "De certa forma é um círculo vicioso do qual a gente só vai sair com políticas redistributivas muito fortes, por exemplo, políticas tributárias internacionais, fim dos paraísos fiscais e esses tipos de políticas", explica.

Quem segue concentrando
A mudança na tributação aparece como alternativa no combate às desigualdades, pela pesquisa Oxfam Brasil/Datafolha lançada em dezembro do ano passado, onde a maior parte dos brasileiros se declara favorável ao aumento de impostos no país desde que seja aplicado apenas aos “muito ricos”, para financiar melhorias nas áreas de educação, saúde e moradia, segundo dados da pesquisa.

Além disso, 72% apoiam a redução da carga indireta de impostos (aqueles cobrados sobre o consumo) e aumento da carga direta (sobre renda) para as pessoas de altíssima renda.

Jorge Paulo Lemann (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermirio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim) são as seis pessoas mais ricas do Brasil. Eles concentram, juntos, a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, a metade da população brasileira composta por 207,7 milhões de pessoas.

Se gastassem um milhão de reais por dia, juntos, esses seis milionários levariam 36 anos para esgotar o equivalente ao seu patrimônio. Foi o que revelou outro estudo sobre desigualdade social realizado pela Oxfam.

A fórmula de austeridade total e radicalização de algumas propostas como a PEC do Teto dos Gastos e mudanças nas leis trabalhista trazidas pelo governo de Michel Temer, segundo Georges, causa retração econômica, mas não impacta os muito ricos.

Quem perde
A coordenadora de pesquisas e tecnologia do Dieese, o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, Patrícia Pelatieri, aponta sobre quem recai o peso das desigualdades. "Quem paga o preço dessa concentração de renda vergonhosa que o Brasil vive, resultado dessas escolhas políticas e econômicas feitas são os trabalhadores, mais especificamente as mulheres, os negros e os jovens", sentencia.

A pesquisadora relembra que em 2017 os bancos bateram recordes de lucratividade, alcançando os R$ 6 trilhões, ao mesmo tempo que mais de 1,5 milhão de brasileiros foram atirados na extrema pobreza.

Segundo os dados da PNAD, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, há 15 milhões de brasileiros vivendo na pobreza extrema com até R$ 136 mensais.

Pela Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), do Dieese, no primeiro trimestre de 2018 o valor da cesta básica subiu em 18 das 20 capitais pesquisadas. "Em abril o salário mínimo necessário seria de R$ 3706,44 ou seja quase 4 vezes superior ao salário mínimo brasileiro", conta.

O fim do foro, Barroso e a antipolítica

Por Gilberto Maringoni, na revista Fórum:

O fim do foro especial – equivocadamente chamado foro privilegiado -, ao contrário de ser uma medida moralizante é uma vitória da demonização da política.

A iniciativa do ministro Luís Roberto Barroso – indicado pelo PT por seu vezo ongueiro – é fruto de um golpe, no qual o STF substitui o quórum qualificado do Congresso na aprovação de emendas à Constituição. Além disso, mostra como é o maravilhoso mundo judicializado: está mantida a prerrogativa para juízes e desembargadores e incide apenas sobre deputados e senadores. A medida é atabalhoada e gerará inúmeras confusões e incertezas legais.

O foro é uma defesa necessária para parlamentares que enfrentam o poder econômico e estão sujeitos a terem suas ações tolhidas por qualquer obscuro magistrado de primeira instância. Tende a bloquear ações mais aguerridas de deputados e senadores combativos.

O alvo central é a ação política, numa clara vitória do partido da justiça.

Contou – não à toa – com entusiasmado apoio dos meios de comunicação, ex-paneleiros e néscios de variados matizes.

Zé Dirceu fala

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