terça-feira, 31 de março de 2015

Maria Lúcia Fattorelli: a brasileira que audita a economia grega para o Syriza

André Cristi             no Carta Maior
  
Uma das pontes entre o Brasil e as novas experiências políticas da esquerda socialista europeia chama-se Maria Lúcia Fattorelli. Auditora da Receita Federal desde 1982, a coordenadora do movimento Auditoria Cidadã da Dívida foi convidada por Zoe Konstantopoulou, deputada do Syriza que ocupa a presidência do Parlamento Grego, a compor o Comitê pela Auditoria da Dívida Grega.

Maria Lúcia já participou de processo semelhante no Equador, quando o presidente Rafael Correa decidiu pela anulação de 70% da dívida que emperrava o investimento público. “Pela primeira vez na história inverteu-se a equação: os gastos sociais superaram os gastos com a dívida”, lembra em entrevista à Carta Maior

O sistema
De acordo com Fattorelli, o significado maior de auditar uma dívida pública é desmascarar o que ela chama de “sistema da dívida”. “É um negócio altamente rentável e que beneficia um pequeno segmento social localizado nos mercados financeiros”, descreve.

Funciona assim: sem transparência e com enormes privilégios (legais, financeiros, políticos) aos bancos e agências de risco, o Estado pega dinheiro emprestado de instituições financeiras públicas ou privadas. O valor emprestado cresce brutalmente em função de juros elevadíssimos. E a dívida vai se tornando meramente contábil - isto é, jogo de juros sobre juros. Segundo Fattorelli, “o endividamento público se converte numa maneira de desvio de recursos públicos em larga escala”.

Segundo o Tesouro Nacional, em 2013 o governo federal gastou R$ 718 bilhões com juros e amortizações da dívida interna e externa, o que representou 40,3% do orçamento federal (o valor gasto em educação, por exemplo, é de 3,4%, em transporte 1%).

Mas não é a corrupção que afasta nosso dinheiro dos lugares em que ele deveria ser investido?

Pois bem. O mensalão, considerado à época o maior caso de corrupção do país, comprovou R$140 milhões desviados. No ano de 2005, a dívida pública consumia mais de dez mensalões por dia.

O caso grego

A manipulação da taxa de risco levou o governo grego a aceitar acordos muito prejudiciais com o FMI e a União Europeia. Endividada e fragilizada, a outrora obediente Grécia se viu invadida por instituições financeiras internacionais, grandes corporações e, por consequência, pela agenda neoliberal: desmantelamento dos direitos sociais e privatização das empresas públicas mais lucrativas.

“Esse mecanismo de pressão da Troika (comitê de bancos, FMI e Banco Central Europeu) contra os países – que por sua vez têm que negociar de maneira isolada – demonstra uma grande assimetria entre as partes, um claro indício de ilegitimidade”, denuncia Fattorelli. E lembra que o FMI é uma agência especializada da ONU, como a OIT e a FAO. Deveria, portanto, atuar segundo os objetivos da Carta da ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos - e não segundo os interesses do mercado financeiro.

Ainda segundo Fattorelli, o caso grego constitui um forte exemplo do dano provocado pelo Sistema da Dívida às mulheres. “No início da crise”, relembra, “o desemprego em massa de mulheres foi utilizado para expandir ainda mais os cortes de gastos exigidos pelo programa de austeridade fiscal imposto pela Troika: serviços de creches, assistência social e até certos serviços de saúde deixaram de ser prestados pelo Estado”. A justificativa? Ora, se as mulheres estavam em casa, elas assumiriam tais serviços.

O exemplo equatoriano
O Equador, com auxílio de Maria Lúcia, provou a eficiência da ferramenta de auditoria. Em 2007 o presidente Rafael Correa criou uma comissão para realizar auditoria da dívida interna e externa equatoriana, nomeando diversos membros nacionais e 6 internacionais. Maria Lúcia representou o Brasil. O resultado, segundo ela, foi impressionante: “permitiu a anulação de 70% da dívida externa em títulos. Os recursos liberados têm sido investidos principalmente em saúde e educação”.

A auditoria equatoriana consistiu em tornar transparentes os números da dívida; verificar quais foram os mecanismos e operações que geraram dívidas desde a sua origem; quem se beneficiou dos recursos; em que esses foram aplicados; verificar se foram cumpridas as normas legais e administrativas existentes; quais os impactos sociais, ambientais etc. Após o exame, e diante das evidentes ilegalidades, ilegitimidades e mesmo fraudes comprovadas, só restou a Rafael Correa “dar o calote” numa dívida irreal.

O mais repisado argumento contra a auditoria da dívida é bastante simples: partindo do pressuposto que a auditoria é um calote ao sistema financeiro, o mesmo sistema financeiro fecharia o acesso ao crédito dos países caloteiros. Conforme argumenta Fattorelli, o Equador mostra o oposto: o risco-país caiu e o acesso ao crédito passou a custar menos.

A partir do gráfico abaixo, também cabe observar que a partir de 2011 os gastos com a dívida voltam a crescer, o que mostra que o país não ficou isolado e continuou acessando crédito. Prova irrefutável de que é possível parar de entregar vastos recursos públicos aos rentistas sem convulsão social - resta esperar que outros governos ouçam Maria Lúcia Fattorelli de forma tão generosa quanto ouvem os chicago boys.





BRAÇO DA CIA (EUA) PROMOVE O CAOS NO BRASIL

Transcrito do Democracia & Política




"Depois de levar uma prensa de setores da extrema direita, empresário que lidera o 'Vemprarua' reavalia sua posição sobre o impeachment e aponta como pretexto os acordos de leniência de envolvidos na operação Lava Jato. [...]


Do "Brasil 247" 

Líder do movimento ‘Vemprarua’, o empresário Rogério Chequer adotou um discurso mais incisivo pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Chamado de 'Talão de Chequer' por lideranças da extrema direita, ele aponta agora como pretexto ao ‘Fora Dilma’ a suposta movimentação do governo em favor de acordos de leniência de envolvidos na operação Lava Jato. “Não podemos ficar calados diante disso. O que parecia um plano iniciado no Executivo, interferido no Judiciário, invadindo a AGU, passado pelo TCU e aterrissado na Controladoria-Geral (CGU) começa a se deflagrar”, disse.

Em entrevista ao [jornal autodeclarado tucano] ‘O Estado de S. Paulo’, ele nega que essa mudança tenha a ver com pressões da direita: “Não é radicalização, de modo algum. Não estamos fechando o foco, continuamos com todas as outras demandas – por ética na política, por cidadania, por um basta à corrupção e à má gestão dos recursos públicos”, concluiu." 



PSDB E 'VEMPRARUA' ABRAÇAM O TERRORISMO ECONÔMICO [MANIPULADOS PELA CIA/EUA]

"Ao usar os acordos de leniência que vêm sendo negociados entre as empresas envolvidas na Lava Jato e a União como pretexto para pedir o impeachment da presidente Dilma Roussef, o movimento 'vemprarua', braço tucano de mobilização nas redes sociais, assume a linha defendida pelo ex-governador Alberto Goldman: quanto pior, melhor.


O objetivo é quebrar as empreiteiras, provocar desemprego em massa e, assim, com a deterioração econômica, criar as condições para um golpe. A estratégia foi explicitada na segunda-feira por Rogério Chequer, empresário que até recentemente vivia nos Estados Unidos e tem ligações com a "Stratfor", empresa americana de inteligência chamada de "CIA privada". Sobre os acordos de leniência, é evidente que qualquer governo minimamente responsável, em qualquer país sério, tentaria preservar empresas que empregam centenas de milhares de pessoas.

Do "Brasil 247"


O movimento 'vemprarua', instrumento de mobilização do PSDB nas redes sociais, assumiu sua nova linha de discurso. Nos protestos marcados para 12 de abril, irá pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em razão dos acordos de leniência que estão sendo negociados entre as empresas envolvidas na Lava Jato e a União.

“Não podemos ficar calados diante disso. O que parecia um plano iniciado no Executivo, interferindo no Judiciário, invadindo a AGU, passando pelo TCU e aterrissando na Controladoria-Geral (CGU) começa a se deflagrar”, diz Rogério Chequer, líder do 'vemprarua', que se diz apartidário, mas é tucano da cabeça aos pés (saiba mais aqui).

Ao atacar os acordos de leniência, tanto o PSDB como o 'vemprarua', que são duas faces de uma mesma moeda, assumem a linha de ação defendida explicitamente pelo ex-governador paulista Alberto Goldman: a do quanto pior, melhor.

Em artigo publicado na "Folha", Goldman escreveu que a deterioração econômica é uma das condições necessárias para se obter um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Nos últimos seis meses, o setor da construção já demitiu cerca de 250 mil pessoas no Brasil. Estaleiros, como o Rio Grande, no Sul do País, e o Enseada, na Bahia, estão praticamente fechando as portas. Caso os acordos de leniência sejam inviabilizados, como defendem o 'vemprarua' e o PSDB, o saldo de demissões poderá superar a cifra de 1 milhão de trabalhadores, provocando o colapso da infraestrutura no País.

É justamente por isso que a ação liderada pelos ministros Valdir Simão, da Controladoria-Geral da União, e Luis Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União vem sendo tão bombardeada pela oposição, que, ainda que não assuma, deseja o caos econômico e o desemprego em massa. Apenas vozes isoladas, como o deputado José Carlos Aleluia (DEM/BA), tiveram o bom senso de lembrar que a engenharia é um patrimônio brasileiro e não deve ser destruído por razões políticas.

Aleluia sabe, afinal, que qualquer governo responsável, em qualquer país sério, agiria para preservar empresas que têm conhecimento acumulado e empregam centenas de milhares de pessoas.

Um exemplo claro disso é o que ocorreu, por exemplo, com as empresas Siemens e Alstom, acusadas de pagar propinas gigantescas ao redor do mundo, inclusive no Brasil (não é mesmo, 'vemprarua'?) e se compromoteram a adotar práticas anticorrupção.

O compromisso de Chequer, no entanto, não é com o Brasil. Até recentemente, ele vivia nos Estados Unidos e, aparentemente, era uma das fontes de informação da empresa americana de inteligência Stratfor, um braço privado da CIA.

Entrevista com Stedile na TV Folha

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/2015/03/1610289-dilma-vai-na-direcao-errada-diz-stedile-lider-do-mst.shtml

segunda-feira, 30 de março de 2015

"Vem pra Rua" e o efeito Marina


Por Fernando Brito, no blog Tijolaço: no blog do Miro

Lembram das “tuitadas” do Pastor Silas Malafaia que fizeram Marina Silva sair correndo para mudar seu programa e dar o dito pelo não dito?

Pois o astrólogo Olavo de Carvalho é o novo Malafaia esotérico, agora em relação ao líder do movimento “Vem pra Rua”, o senhor Rogério Chequer, um ex-operador de mercado financeiro nos Estados Unidos que voltou ao Brasil (aqui, aqui e aqui) depois de anos fazendo fortuna nos Estados Unidos. Supõe-se, é claro, que tenham sido as saudades e não problemas financeiros que determinaram a volta de Chequer ao Brasil.

Esta semana, no twitter, Carvalho chamou Chequer às falas.

Ameaçou chamá-lo de “Chequer SemFunds” e de “Talão de Chequers”.

Foi o que bastou para Chequer correr a dar explicações em particular.

E procurar o “Estadão” para abjurar publicamente de sua – delicada definição de Olavo de Carvalho – “paumolice tucana”.

Vai descendo do muro “impiximoso”.

Note-se-lhe a firmeza de convicções e de caráter.

E a “curiosidade” inacreditável do jornalista, que abre espaço quase que para uma “nota oficial” de Chequer, sem perguntar-lhe coisa alguma sobre os conflitos públicos com os outros grupos de direita ou sobre o “de onde vem você” que, a esta altura, todos deveriam estar se perguntando sobre o súbito personagem.

Olavo, o Cardeal, já havia recebido Chequer no confessionário e ouvido sua penitência, após a chantagem política explícita.

Agora, no Estadão, leva-o à praça pública para seu ato de contrição como preço para conceder-lhe o “perdão”e esquecer a história do “Sem Funds”

Malafaia foi mais piedoso com Marina.

Discurso de Lula no evento em defesa da Petrobras na ABI

https://youtu.be/mR0c7ps9e0Q

E agora, Sérgio Moro?

Paulo Moreira Leite, sem seu blog.


Segundo pesquisa, PSDB recebeu 42% das doações das grandes empreiteiras da Lava Jato aos partidos

A descoberta de que o conjunto das empreiteiras investigadas na Lava Jato responde por 40% das doações eleitorais aos principais partidos políticos do país – PT, PMDB, PSDB – entre 2007 e 2013 é uma dessas novidades imensas a espera de providências a altura.

Permite uma nova visão sobre as denúncias envolvendo a Petrobrás, confirma uma distorção absurda nas investigações e exige uma reorientação no trabalho da Justiça e do Ministério Público.
É o caso de perguntar: e agora, Sérgio Moro? O que vamos fazer, Teori Zavaski?

Explico.

Conforme o Estado de S. Paulo, entre 2007 e 2013 as 21 maiores empresas da Lava Jato repassaram R$ 571 milhões a petistas, tucanos, pemedebistas. Desse total, 77% saíram dos cofres das cinco maiores, que estão no centro das investigações: Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Grupo Odebrecht e OAS.

Segundo o levantamento, o Partido dos Trabalhadores ficou com a maior parte, o que não é surpresa. As doações ocorreram depois da reeleição de Lula. Cobrem aquele período do calendário político no qual Dilma Housseff conquistou o primeiro mandato e Fernando Haddad venceu as eleições municipais de São Paulo. Mas o PSDB não ficou muito atrás. Embolsou 42% do total. Repetindo para não haver dúvidas: conforme análise do Estado Dados, de cada 100 reais enviados aos partidos, 42 chegaram aos cofres tucanos.

Gozado, não?

Agora dê uma olhada na relação de beneficiários denunciados na Lava Jato e pergunte pelos tucanos. O personagem mais ilustre, senador Sérgio Guerra, já morreu. É acusado de ter embolsado dinheiro para inviabilizar uma CPI. Infelizmente, não está aqui para defender-se – o que permite imaginar até onde pode chegar a largura de suas costas.

O outro implicado é o senador Antônio Anastasia, aliado número 1 de Aécio Neves, forte candidato a um carimbo de “falta de provas” amigo nas próximas etapas do percurso.

Como chegaremos aos 42%? Alguém vai investigar, vai explicar? Ninguém sabe. Nem uma pista.

Onde estão as delações premiadas, as prisões preventivas?

Apoiado na delação premiada de Paulo Roberto Costa, que chegou à diretoria da Petrobras com proteção do lendário Severino Cavalcanti, do PP pernambucano, a investigação concentrou-se no condomínio Dilma-Lula e legendas aliadas. Esbarrou no PSDB, de vez em quando, quase sem querer, por acaso. E só.

A descoberta da fatia de 42% do PSDB na Lava Jato pode ser mais útil do que se imagina.

Deixando de lado, por um momento, a demagogia moralista que tenta convencer o país que todo político é ladrão cabe reconhecer um aspecto real e relevante.

Estamos falando de um sistema no qual todos os partidos se envolvem na busca de recursos financeiros para tocar as campanhas. Todos. São as mesmas empresas, com os mesmos clientes, com os mesmos doadores que se ligam às mesmas fontes.

Isso quer dizer o seguinte: ou todos são tratados da mesma forma, conforme regra elementar da Justiça, ou teremos, na Lava Jato de 2015, o mesmo tratamento preferencial dispensado aos tucanos do mensalão PSDB-MG. Não dá para dizer que um recebe “propina” e o outro ” verba de campanha,” certo?

Acho errado por princípio criminalizar as campanhas financeiras dos partidos políticos. Por mais graves que sejam suas distorções – e nós sabemos que podem ser imensas – elas envolvem recursos indispensáveis ao funcionamento do regime democrático. Mesmo a Nova República, que substituiu o regime militar, nasceu com auxílio de um caixa clandestino formado pelos maiores empresários e banqueiros do país, na época. Não conheço ninguém que, mesmo informado dessa situação, sentisse nostalgia da suposta — sim, suposta e apenas suposta — moralidade do regime dos generais.

Se queremos uma democracia emancipada do poder econômico, precisamos de novas regras – como financiamento público, como proibição de contribuições de empresas – para isso. E temos de ter regras transitórias para caminhar nessa direção, que não joguem fora a criança junto com a água do banho, certo?

Mas não é isso o que tem ocorrido. Pelo contrário. A tradição é criminalizar os indesejáveis, submetidos a penas rigorosas, e poupar amigos e aliados, através de uma prática conhecida.

Comparece-se a AP 470 com o mensalão PSDB-MG.Julgados pelo mesmo crime que conduziu importantes dirigentes do Partido dos Trabalhadores a prisão, os acusados da versão tucana sequer foram julgados – até hoje. Muitos já tiveram a pena prescrita. Não faltam acusados que dormem o sono dos justos com a certeza de que jamais correrão o risco de qualquer condenação. Os acusados tucanos que forem condenados – se é que isso vai acontecer um dia — terão direito a um julgamento com segundo grau de jurisdição, que foi negado aos principais réus do PT. A última notícia do caso é que a juíza que presidiu o julgamento em primeira instancia aposentou-se antes de terminar o serviço e ninguém foi nomeado para seu lugar. Se esse filme parece velho, lembre das denúncias que envolvem as obras do metrô paulista.

Muito instrutivo, não?

Só haverá atentado terrorista aqui se Brasil se deixar envolver pelos EUA

Mauro Santayama, em seu blog

ISIS-US
O BRASIL E O TERROR
por Mauro Santayana, em seu blog
(Hoje em Dia) – Volta-se a discutir, na mídia e no governo, a necessidade de se prevenir “ameaças terroristas” no Brasil e a intenção de se criar uma “lei antiterrorista”, que permita a órgãos de inteligência monitorar internautas, para saber se eles estão em contato com organizações internacionais.
Quando se diz “terrorismo”, é preciso saber quem está falando.
Para um israelense – nem todos, graças a Deus – um palestino do Hamas, que lança um foguete caseiro por cima da fronteira, é terrorista.
Para uma mãe palestina que acabou de perder os três filhos em um bombardeio na faixa de Gaza, terrorista é o piloto israelense que comandava o helicóptero ou o avião que os matou.
Da mesma forma que, no Afeganistão, terrorista pode ser um membro do Taleban, ou um soldado da OTAN, ou dos EUA, dependendo do lado que se estiver.
O problema é quando se tenta impor o “terrorista” alheio a toda uma nação.
O Estado Islâmico é uma organização terrorista, que decapita inocentes?
É. Mas ele não teria surgido, se os EUA e a OTAN não tivessem armado seus primeiros integrantes, para combater regimes que consideravam seus inimigos, como o de Saddam, de Kaddafi, e de Bashar Al Assad.
Cabe, logo, aos EUA e à OTAN, e aos regimes títeres que instalaram no Oriente Médio para apoiar seus interesses, combater o Estado Islâmico, e não ao Brasil.
O pretexto, agora, como antes, na época da Copa do Mundo, é evitar que haja atentados terroristas nas Olimpíadas.
Ora, só haverá atentados desse tipo no Brasil, a partir do momento em que nos deixarmos envolver pelos EUA, e passarmos a agir como um país subalterno aos seus interesses, nos metendo aonde não fomos chamados.
Esse é o caso de países como a Itália, a França, a Espanha, que passaram a sofrer atentados terroristas depois de enviar soldados ou aviões para o Afeganistão e a Líbia para apoiar tropas norte-americanas.
E a forma mais fácil de fazer isso – de criar inimigos onde não os possuímos e de “caçar chifre em cabeça de cavalo” – é justamente adotando uma Lei Antiterrorismo.
Uma coisa é condenar, moralmente, o que está ocorrendo no Oriente Médio, sem deixar de estudar as causas e origens de certos grupos “terroristas”, que se encontram mais em Washington do que para lá de Bagdá.
Outra coisa é que alguém queira, nos órgãos de segurança do governo, ser mais realista do que o rei, e nos empurrar para tomar partido em uma guerra que não é nossa, entre a Europa e os Estados Unidos e populações situadas em países que o “ocidente” quer continuar dominando política e economicamente.
A política externa – e qualquer medida que venha a modifica-la – é assunto de Estado, não de polícia nem de arapongas. O Brasil já tem, historicamente, um lado: o da defesa de seus interesses, que não são nem os dos EUA, nem os da OTAN, em conformidade com a doutrina de não intervenção em assuntos externos, que está estabelecida na Constituição Federal.

domingo, 29 de março de 2015

Extrema direita cresce, envenena debate político e coloca em xeque avanços democráticos e dos direitos humanos

Antonio Lassance  no site Carta Maior


Depois do dia 15 de março, há uma nova manifestação de direita convocada para o dia 12 de abril.

Há quem argumente que tais protestos devem ser encarados como normais, pois o golpismo e o extremismo são minoritários.A maioria dos que foram às ruas no dia 15 está apenas farta de "tudo isso".


Parece uma constatação bastante óbvia e inquestionável, principalmente se acompanhada de um inaceitável desconhecimento histórico de como funcionam o golpismo, a direita e seu extremismo.

Tudo parece normal quando se esquece o que aconteceu no Brasil em 1937, 1954 e 1964, quando o golpismo de uma minoria tomou o poder. Apenas em 1954 o golpismo foi derrotado, ainda assim às custas do suicídio de Vargas.


Fossem os golpistas maioria, eles não precisariam de golpismo algum. Ganhariam eleições. É próprio do golpismo e inerente à sua definição que ele signifique que governantes eleitos ou mesmo um regime político constituído por uma maioria seja pisado como a um verme por uma minoria ensandecida.

É próprio do golpismo tomar o poder enquanto minoria e usar a força justamente por faltar-lhe o mínimo consenso.

É próprio do extremismo, por sua vez, que ele ganhe terreno não por ter se tornado majoritário, mas por não contar com quem imponha resistência à altura a esses grupos de agressores.

Fossem os golpes majoritários, eles não precisariam, em sua maioria, que militares apontassem suas baionetas para massacrar adversários.

Tivessem sido os nazistas majoritários, eles não teriam se valido do incêndio do palácio do Reischtag, o parlamento alemão, em 1933, para a sua ascensão definitiva ao controle do Estado.

Se o golpismo precisasse mesmo ser majoritário e o extremismo benquisto, a Espanha não teria amargado décadas de franquismo.

No Chile, a insatisfação contra Allende teria aguardado a eleição seguinte para se manifestar. Augusto Pinochet sequer seria aceito por qualquer partido decente, nem ganharia mais que um punhado de votos.

O presidente João Goulart era muito popular em 1964, muito mais que a presidenta Dilma é no atual momento. De cada 10 brasileiros, apenas 2 reprovavam o governo Jango.

Quem acha o golpismo pequeno e o extremismo minúsculo se esquece de que eles jamais precisaram de maioria para prevalecer. Sempre se valeram não de grande adesão, mas apenas de uma grande insatisfação e de uma imensa anomia.

Insatisfação e anomia; revolta e decepção; a intolerância de uns e a indiferença de muitos - bastam tais ingredientes para que a direita e mesmo seus extremistas ameacem tomar conta da situação.

O rumo de manifestações políticas de massa é sempre dado não pela média dos que dela participam, mas pelas iniciativas dos que as convocam e conduzem.

O que se viu no dia 15 de março e se verá reeditado no dia 12 de abril são manifestações de insatisfeitos liderados por grupos de direita e alguns de extrema direita.

Golpismo e extremismo prosperam quando as pessoas passam a acreditar que sua participação vale pouco; que seu voto vale nada; que seus líderes são fracos ou os abandonaram.

O poder de grupos direitistas, alguns de caráter extremista - reacionários em suas concepções, agressivos em seus discursos, violentos no confronto com adversários - cresce à medida em que aumenta a insatisfação não apenas com os governos, mas com a política, com as instituições de uma democracia ainda pouco participativa e com novos direitos que trouxeram para a sala de estar da cidadania aqueles que sempre foram tratados a pontapés.

Não à toa, o ódio dos extremistas orienta-se a abominar direitos que tornam regra proteger e incluir setores excluídos. Setores que sempre foram tratados como marginais.

O extremismo é apenas a forma mais obtusa de transformar meticulosamente a frustração em revolta contra partidos, contra instituições democráticas e contra grupos e pessoas que pensam diferente, de modo a criminalizá-las e a buscar exterminá-las política ou mesmo fisicamente.

Faz parte da lógica do extremismo disseminar um sentimento - este sim, muito popular - de que as instituições estão podres, de que os partidos são %u20Btodos organizações falidas e que eleições não passam de enganação.

Quando um raciocínio dessa espécie a muitos também parece uma constatação bastante óbvia, é sinal de que palavras como democracia e direitos humanos estão em baixa e que seu oposto, o extremismo, mesmo minoritário em termos de adesão explícita, está em alta e com poder de iniciativa.

A História é farta de exemplos de como coisas vistas por muitos como normais reproduzem fenômenos políticos da pior espécie. Fenômenos que, de início, afiguram-se tão estúpidos que muitos consideram que não se deveria dar a eles qualquer relevância.

O grande problema é que, quando eles se tornam riscos óbvios e incontestáveis, aí já pode ser tarde demais.

Um país que conhece minimamente sua própria História não deveria jamais admitir que manifestações comandadas por grupos explicitamente golpistas e extremistas sejam consideradas normais, democráticas e inofensivas.

O desrespeito ao voto, ao devido processo legal e aos direitos humanos não é algo normal, não é nada democrático e está longe de ser inofensivo. Merece o mais ferrenho combate com as armas da crítica, antes que essa seja ameaçada pela crítica das armas.


(*) Antonio Lassance é cientista político.

A Marcha dos Pega Ladrão e a correria dos otários


Raul Longo no Portal Desacato







pega ladraoPor Raul Longo.
Um companheiro escreveu considerando ser pela falta de um projeto de nação que as elites colonialistas usufruem das ruas para exigir retrocesso. Discordei:
O Brasil já integrava o Mapa Mundial da Fome muito antes do Mapa Mundial da Fome ser criado. Se após 11 anos de vigência de um sistema de governo fomos retirados do Mapa Mundial da Fome pelos próprios criadores desse mapa, a FAO – Food and Agriculture Organization da ONU, é porque temos projeto de construção de uma nação.
Um país historicamente reconhecido pela comunidade das nações como um dos maiores desníveis sociais e de concentração de renda que em 12 anos consegue resgatar da miséria mais de 5 milhões, evidencia obedecer a um projeto de construção de nação.
Um país que historicamente manteve inúmeros segmentos sociais em total abandono, como ocorreu até 1986 quando os amontoados em leprosários foram entregues às suas famílias como dependentes, ao resgatar a dignidade dos portadores de hanseníase em 2006, oferecendo-lhes autonomia econômica através de aposentadoria como indenização ao asilo compulsório por uma doença de tratamento descoberto no século XIX e da qual detemos o maior número de casos em todo o mundo; sem dúvida é porque dispõe de projeto de construção de nação para todos seus habitantes.
Um país onde em apenas dois mandatos de um governante se põe em atividade mais universidades e escolas técnicas do que ao longo de toda sua história, evidentemente está seguindo um planejamento de construção de uma nação.
Um país mundialmente considerado como dos de maior corruptibilidade e impunidade em crimes de desvios de valores e bens públicos, onde o número de ações para fiscalização e combate a estes crimes salta de uma gestão de 8 anos com 48 operações de sua Polícia Federal para cerca 3 mil operações realizadas em 12 anos com 24.881 apreensões dos quais 2.351 eram servidores públicos (políticos inclusive) e 119 policiais federais — contra nenhum servidor público ou policial mandado para a cadeia no sistema de governo anterior — indubitavelmente demonstra ter implantado um projeto de construção de uma nação.
Não posso concordar com que precisemos de um projeto de nação. Projeto de nação temos e se confirma pela reação daqueles aos quais não interessa nação alguma e sim um país de economia dependente e instável que possam desprezar por luxuosos apartamentos em Paris ou Miami, ao sabor de iguarias exóticas, puros e inodoros pós pós-colombianos, belas prostitutas de qualquer parte e tudo o mais que proporcionem os paraísos fiscais prometidos aos homens de bens. Ou Benz de germânicas Mercedes.
Não se quer uma nação, mas um país realmente globalizado onde cada um esteja no seu lugar: a minoria como se na América do Norte; a classe média numa Turquia onde possam se mentir europeus. E todos o mais distante possível da maioria olvidada em qualquer parte da África a que se reduzem exíguas edículas e senzalas mantidas pelos mais mínimos salários.
Esse é o projeto que os move às ruas, não o de uma nação que em tempo algum imaginaram a possibilidade de existir, pois o Brasil é um enorme país para se corromper, não para se viver. Muito menos para se conviver com índios que de nada servem e negros que há 5 séculos apenas se prestam ao trabalho e ao estupro.
Contra o projeto de nação se motiva a maior mobilização de otários pelos maiores corruptos de nossa história. Nunca tantos foram às ruas para exigir a queda de um governo, mas será possível acreditar que seja por ausência de algum projeto de nação? É fácil conferir o que realmente os motiva com as respostas a algumas perguntas simples:
Esses que se manifestam contra os governos Lula e Dilma também se manifestaram quando apesar de nosso potencial produtivo a maioria da população era de famintos?
Protestaram contra a exclusão social brasileira, mundialmente apontada como criminosa? Protestaram nas tantas vezes em que os índices de concentração de renda no Brasil eram anunciados pelos observadores internacionais como vergonha mundial?
Protestaram contra a falta de oportunidades e perspectivas para os milhões de crianças e jovens sem acesso às escolas, colégios e universidades?
E agora? Estão protestando em favor daqueles que ainda passam fome no Brasil? Dos que ainda integram grupos socialmente excluídos?
No Brasil a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a redução do flagelo da forme foram reconhecidos pela Organização das Nações Unidas, mas ainda há muitos brasileiros a serem resgatados da miséria. É por eles ou para eles que carregam faixas com os dizeres: “Help! We wait military intervention now”?
Embora se tenha criado tantas universidades, escolas e creches, há ainda muito a se fazer para que os milhares de estudantes ingressos no sistema de ensino nos últimos anos possam usufruir de um nível de ensino comparável ao dos países mais desenvolvidos. É para isso que prometem nova manifestação em 12 de Abril?
Dizem que vão protestar contra a inflação. Mas se desde 2003 até 2014 a inflação nunca superou as metas previstas, sempre mantida abaixo de 1 dígito, também se manifestaram quando atingiu 20% em 2002?
Dizem que vão protestar pelos prejuízos da Petrobrás que só este ano já recebeu 2 prêmios internacionais e tem outro com data de entrega prevista para os próximos meses, além de já ter iniciado sensível recuperação financeira com o aumento da produção do Pré Sal e do preço do barril de petróleo no mercado internacional. E com a queda da produção de xisto nos Estados Unidos também se faz notável a retomada dos lucros da Refinaria de Pasadena.
Protestaram quando FHC pagou U$ 50 milhões (cerca de 1.500 bilhões de reais ao valor do dólar na época) pela mudança do nome da empresa para Petrobrax? Manifestaram-se quando foi privatizada a segunda maior empresa nacional, a Vale do Rio Doce?
Protestam por FHC ter elevado Paulo Roberto Costa à diretoria da Petrobras, no início de seu primeiro mandato em 1985? Protestam porque a partir daí Roberto Costa montou a quadrilha da corrupção e o esquema que só pôde ser descoberto através das investigações iniciadas em 2008 pela denúncia de um industrial de componentes eletrônicos que percebeu estarem usando sua empresa para lavagem de dinheiro?
Será contra esses corruptos que se manifestam ou porque os corruptos estão indo para a cadeia? Protestam contra a corrupção ou porque a corrupção está sendo investigada e punida?
Protestam pela ausência ou pela existência de um projeto de nação?
Se não se investigasse a Petrobras jamais se chegaria a Paulo Roberto Costa nem a Alberto Youssef que se manteve impune apesar de em 2002 ter admitido administrar as contas bancárias por onde se evadiram U$ 30 bilhões (90 bilhões de reais) na privatização do Banco do Estado do Paraná para o Banco Itaú.
Esses que foram para as ruas no dia 15 de Março e irão em 12 de Abril se manifestaram quando sob a presidência do senador Antero Paes de Barros do PSDB a CPI do BANESTADO não deu em nada? Indignaram-se com a omissão daquela CPI que investigava Evasão de Divisas na ordem de R$ 150 bilhões? Revoltaram-se com a impunidade daqueles investigados, inclusive a do Alberto Youssef?
Se não foram e não vão às ruas por isso, esse protesto de 12 de Abril é a mesma farsa. Como em 15 de Março outra vez será uma correria de otários atrás do que o próprio punguista aponta gritando “Pega ladrão!” E correm deixando pra trás a carteira sob o sorriso da Globo ou do administrador do portal “Vem pra Rua” que não pode pisar nos Estados Unidos para não ser preso por estelionato.
Exatamente o que fizeram Agripino Maia e Ronaldo Caiado: gritaram “Pega Ladrão!” no dia 15 de Março e na semana seguinte foram indiciados como réus em processo de corrupção. Outro foi o primo do Beto Richa e tantos outros que põe os otários para correr enquanto conferem o recheio das carteiras surrupiadas.
Projeto de nação sem dúvida existe. Só o que faltava era um projeto para eliminar os que berram “Pega ladrão!” para escamotear a própria ladroagem. E este projeto anunciado pela Presidenta mais uma vez foi enviado ao Congresso.
Para que o Brasil se consolide como nação decente e digna, só falta a aprovação do Congresso. Quem irá às ruas para exigir que dessa vez aprovem o projeto que confirme a corrupção como crime hediondo?
Em nome da segurança nacional irão às rua para pedir por intervenção militar que feche o Congresso e envie pra cadeia os notórios e denunciados corruptos que o presidem, transferindo à Presidenta amplos poderes para consolidar uma nação?
Em 15 de Março todos os corruptos do Brasil estiveram nas ruas acompanhados por mulheres histéricas e decadentes a se desnudaram em via pública para regozijo da horda. Estiveram ali entre colonizados a sustentar faixas com dizeres em inglês. No meio de grosseirões a gritar palavrões ameaçadores aos cidadãos de qualquer sexo ou idade. Junto a imbecis ostentando símbolos nazifascistas. No meio de linchadores e de toda a escória, seguidos por otários a atender ao grito de “Pega ladrão!”
Presencialmente ou na motivação desses otários estiveram todos os correntistas do HSBC da Suíça para onde destinaram a maior evasão de divisas já praticada na história do país. E também estarão no próximo 12 de Abril gritando “Pega Ladrão” para a correria dos otários que não percebem que os mesmos que gritam e apontam acusando a esmo, são exatamente os que os roubam e repassam o furto ao seus comparsas estrangeiros especuladores e banqueiros fraudulentos, receptadores internacionais do saque do que é público em muitos países e diversos povos que se querem respeitados como nação.
Ali estiveram e estarão no próximo 12 de Abril a família Marinho entre outras “celebridades” da TV Globo; o João Saad da TV Band; os colunistas da Veja; o Otávio Frias da Folha de São Paulo; até mesmo Carlos Roberto Massa, o Ratinho do SBT, e demais ratos de outras ratoeiras para otários que nelas caem ao grito de “Pega ladrão!”
E há também os nem tão famosos como o estelionatário que pela internet convida a todos: “Vem pra rua!” a troco de alguma participação no arrecadado pelos punguistas. Um desqualificado estelionatário, um lanceiro comissionado para despistar a atenção dos grandes esquemas como o do HSBC, da dilapidação da Petrobras, das subterrâneas negociatas dos Metrôs, da lista de Furnas, etc., etc., etc…
Em 12 de Abril, na histeria e no ódio dos otários correndo pra cima e pra baixo atrás do grito de “Pega Ladrão!” estarão os mesmos ladrões da água do banho dos paulistas, das negociatas e rombos da SABESP e os do narcotráfico em aeroportos familiares de Minas Gerais a deixarem rastro de cadáveres insepultos de assassinatos impunes.
No próximo 12 de Abril, mais uma vez as ruas do Brasil serão ocupadas por teleguiados eletronicamente controlados pela grande quadrilha afinada no manjado golpe do “Pega Ladrão!” E essa correria vai continuar até que os otários quebrem a cara nos postes que não conseguem enxergar à frente do nariz.
Quebrar-se-ão muitos desses narizes empinados e insuflados pelos que vêm à luz do sol no remover de pedra a pedra dos muros que escondem a corrupção de uma país ainda sem lei, mas com um decisivo projeto para a consolidação de uma nação.
Será em exigência à aprovação desse projeto de lei contra a corrupção que irão as ruas no dia 12 de Abril? Ou apenas para externar barbáries, ódios e incivilidades?
Aos otários restarão os postes e já surge outro com nome de Operação Zelotes, identificando no Banco Safra mais alguns da quadrilha que grita “Pega Ladrão!” para a correria atrás da estupidez ao nada, ao retrocesso da história.

Dez principais feitos tecnológicos do pré-sal

http://ow.ly/KL03Q

sábado, 28 de março de 2015

O direito ao ódio parece superar todos os outros

Por: Ladislau Dowbor, Carta Maior

401(K) 2012 / Flickr
O homo sapiens todos conhecemos. Inclusive a maior parte da teoria econômica e das teorias das transformações sociais se baseia numa compreensão otimista de que o homem absorve conhecimentos, confronta-os com os seus objetivos racionalmente entendidos, e procede de acordo. Quando erra, analisa os erros e corrige a sua visão para não repeti-los.
Naturalmente, é agradável pensarmos que somos, conforme aprendi na escola, animais racionais, racionalidade que nos separaria confortavelmente dos animais. As minhas dúvidas aumentam proporcionalmente à minha idade, o que significa que são elevadas. Pensar que somos mais do que somos é uma atitude muito difundida. A bíblia já abre com o tom adequado: Deus nos criou à sua imagem e semelhança, o que implica por virtude dos espelhos que somos semelhantes nada mais nada menos que a Ele. O tamanho desta pretensão, e o fato de passar tão desapercebida e natural, já mostra a que ponto a nossa racionalidade pode ser adaptada ao que é agradável, mas não necessariamente ao que é verdadeiro.
Pensar na dimensão irracional da nossa inteligência, ou nas raízes interessadas e ideologicamente deformadas do que nos parece racionalmente verdadeiro, é muito interessante. Fazemos uma construção racional em cima de fundamentos profundamente enterrados na confusão de paixões, medos, ódios e sentimentos contraditórios. Quanto maior o preconceito – no sentido literal, raiz emocional que assume a postura antes do entendimento – maior parece ser a busca do sentimento de superioridade moral.
Devemos lembrar como foram denunciados e massacrados ou ridicularizados os que lutaram pelo fim da escravidão, pelo fim da discriminação racial, pelos direitos de organização dos trabalhadores, pelo voto universal, pelos direitos das mulheres? A imensa batalha que foi chegar ao intelecto dos dominantes que um povo colonizar outro não dá certo? Hoje é a mesma luta pela redução das desigualdades, pelo fim da destruição do planeta, pela democratização de uma sociedade asfixiada por interesses econômicos. Aqui precisamos de muito bom senso e generosidade. Ou seja, emoções e indignações sim, mas apoiadas na inteligência do que acontece no mundo e visando o interesse maior de todos, e não no interesse particular de defesa dos privilégios.
Aqui realmente é preciso de muita ignorância, ou seja, desconhecimento (voluntário ou não), para não se dar conta dos desafios reais. O aquecimento global é uma ameaça real, mas a direita tende a negar, como se o termômetro e os gazes de efeito de estufa fossem de esquerda. O desmatamento generalizado do planeta está levando a perdas de solo fértil em grande escala, quando iremos precisar de mais área de plantio. A vida nos mares está sendo esgotada pela sobrepesca e em 40 anos, segundo o WWF, perdemos 52% da vida vertebrada no planeta. É um desastre planetário espantoso, mas não aparece na mídia comercial. Os dados sobre a inviabilização ambiental do planeta são hoje amplamente comprovados. Há controvérsias, nos dizem. Mas é questão de opinião ou de conhecimento dos dados?
No plano social é mais impressionante ainda: até o Fórum Econômico em Davos escuta e divulga as pesquisas da Oxfam, do Banco Mundial e das Nações Unidas, dos inúmeros institutos de pesquisa estatística em todos os países sobre a desigualdade crescente da renda. Pior, temos agora os dados da desigualdade do patrimônio acumulado das famílias – 85 famílias são donas de mais riqueza acumulada do que 3,5 bilhões de pessoas na base da pirâmide social – gerando tensões insustentáveis. Mas em Wall Street enchem a boca e declaram “greed is good”. Sobre esta desigualdade de patrimônio uma das principais fontes é o Crédit Suisse, que tem boas razões para entender tudo de fortunas familiares. Nem os dados da própria direita parecem convencer a direita, se não confirmam os seus preconceitos.
Vamos tampar os olhos e fazer de conta que acreditamos que é possível manter a paz política e social num planeta onde 1,3 bilhões não têm acesso à luz elétrica, 2 bilhões não têm acesso a fontes decentes de água, e 850 milhões passam fome? Tem sentido acreditar no bom pobre¸ que se resigna e aceita, quando hoje até no último degrau da pobreza há uma consciência do direito a ter uma escola decente para o filho, saúde básica para a família? Aqui já não são apenas os olhos e os ouvidos que estão tapados, e sim a própria inteligência. O homo ignorans raciocina com o fígado.
E porque toda esta riqueza acumulada no topo não serve para as reconversões tecnológicas que nos permitam salvar o planeta, e para financiar as políticas sociais e inclusão produtiva capaz de reduzir as desigualdades? Basicamente porque está situada em paraísos fiscais, aplicada em sistemas de especulação financeira, sequer orientada para investimentos produtivos tradicionais. Os 737 grupos que controlam 80% das atividades corporativas do planeta são essencialmente grupos financeiros. Fonte? O Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica. São recursos que não só se aplicam em especulação financeira em vez de financiar investimentos produtivos, como migram para paraísos fiscais onde não pagam impostos. O Economista estima que sejam 20 trilhões de dólares, um pouco menos de um terço do PIB mundial.
O Brasil tem cerca de 520 bilhões de dólares em paraísos fiscais, da ordem de 25% do PIB. O HSBC que o diga. Mas no Brasil a grande vitória é a eliminação da CPMF que cobrava ridículos 0,38% sobre movimentações financeiras. No Brasil pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos grandes intermediários financeiros, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo. Em particular quando comete o pecado de melhorar a condição dos pobres. Ainda bem que temos a corrupção para canalizar a atenção e os ódios. O uso produtivo dos recursos não seria mais inteligente?
Não há nenhuma confusão sobre as dimensões propositivas: se estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria que pouco produz e muito especula, trata-se de tributar a riqueza improdutiva para financiar as políticas tecnológicas, ambientais e sociais indispensáveis aos equilíbrios do planeta. Com Ignacy Sachs e Carlos Lopes apontamos rumos básicos no documento Crises e Oportunidades em Tempos de Mudança, não são ideias que faltam: falta muita gente que tampa o sol com a peneira dos seus interesses se dar conta dos desafios reais que enfrentamos. Aliás, o norte é bem simples: toda política que reduz as desigualdades, protege o meio ambiente, e tributa capitais improdutivos contribui não para salvar um governo, mas para nos salvar a todos. E um país do tamanho do Brasil tem como trunfo fundamental, nesta época de turbulências planetárias, a possibilidade de ampliar a base econômica interna através da inclusão produtiva.
Confesso que ando preocupado. Parece que quanto maior a bobagem declarada, maior o sentimento de superioridade moral. E o ódio, esta eterna ferramenta dos preconceituosos, é um sentimento agradável quando se consegue encobrir o interesse com um véu de ética. Nesta nossa guerra permanente entre o frágil homo sapiens e o poderoso e arrogante homo ignorans, a olhar pelo mundo afora, e pelos gritos histéricos de extremistas por toda parte – sempre em nome de elevados sentimentos morais e com  amplas justificações racionais – o direito ao ódio parece superar todos os outros. Pobre Deus, nosso semelhante.

O que está em jogo no debate na Petrobras

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_UVWfbgLD0c

Fome deixa de ser problema estrutural no Brasil

https://youtu.be/8OSDveDvT4c

QUANDO UM TUCANO GRAÚDO SERÁ PRESO?

Transcrito do blog Democracia & Política




Quando um tucano graúdo será preso?

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

"Montaigne conta, num de seus ensaios, que dois candidatos a um posto na Grécia Antiga debatiam publicamente.

Um deles fez um discurso longo, minucioso. Quando a palavra foi para o outro este, laconicamente, afirmou: “Vou fazer as coisas que ele disse.

Ganhou.

As pessoas queriam menos palavras e mais movimento, mais ação.

É mais ou menos este meu sentimento diante da Lei da Corrupção apresentada, dias atrás, pelo governo.

Eu diria: o foco agora deveriam ser as ações, muito mais que as palavras.

Só vou acreditar nessa lei quando um tucano graúdo for preso, por exemplo.

Na Lava Jato, o único líder do PSDB realmente em situação complicada é um cadáver.

Há poderosas evidências de que o ex-presidente do partido, Sérgio Guerra, levou 10 milhões de reais para bloquear uma CPI da Petrobras, alguns anos atrás.

Se o presidente de um partido é seu símbolo máximo, eis aí um retrato pouco edificante do PSDB.

A posição do atual presidente tucano na Lava Jato, Aécio Neves, também não é exatamente confortável.

Para encurtar: fosse do PT, Aécio fatalmente rumaria para a Papuda ou algum destino semelhante. Ou, pelo menos, estaria na Lista de Janot.

Youssef, o doleiro delator, disse, conforme mostra um vídeo publicado na semana passada, que Aécio dividia uma diretoria com o PP na estatal Furnas.

Por dividir, você deve entender o seguinte: metade do dinheiro desviado mensalmente ia para Aécio, e a outra metade para o PP, cujos deputados batem panelas e fazem inflamados discursos contra a corrupção.

Esse Mensalão, disse Youssef, equivalia a 120 mil dólares. "Quem operava para Aécio", pergunta um interrogador. Youssef fala na irmã de Aécio.

Todos sabem o papel vital de Andrea, como ela se chama, na vida de Aécio. No seu governo, era ela que administrava as verbas de publicidade oficiais.

Quem criticava Aécio ficava à míngua. E claro que, para os Neves, não havia uma afronta à ética em colocar recursos públicos nos produtos de mídia da família.

Com tudo isso, Aécio se livrou da lista.

E mesmo tendo no passivo infâmias como o aeroporto de Cláudio ele não fica vermelho ao posar como Catão e fazer virulentos discursos contra a corrupção, sempre com generosa cobertura da mídia amiga.

A melhor frase sobre o Brasil destes tempos foi pronunciada por um deputado do PSDB metido em alguma encrenca.

Com uma franqueza tonitruante, ele disse que, "já que não é do PT, sabe que não será preso".

Alguém pode contestá-lo?

Então repito: só vou acreditar na lei anticorrupção quando terminar a imunidade dos tucanos – e um deles, vivo de preferência, der entrada numa cadeia.

Me segurei para não acrescentar o seguinte: e também quando um caso de sonegação como o da "Globo" for exemplarmente punido, como se faz em sociedades avançadas. (Por muito menos que o golpe da Globo, o presidente do Bayern de Munique está preso.)

Mas não, aí já seria demais.

Sou sonhador, mas nem tanto."

FONTE: escrito por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo . Transcrito no "Blog do Miro" (http://altamiroborges.blogspot.com.br/2015/03/quando-um-tucano-graudo-sera-preso.html).

A difícil tarefa de explicar o óbvio...

Robson Leite(*) no site Carta Maior

postado em: 12/03/2015
O meu querido companheiro e amigo Juarez Guimarães, professor da UFMG, conta uma interessante e pedagógica história que ajuda muito na leitura e compreensão do atual momento em que vivemos no país: “imagine uma casa muito antiga – do inicio do século passado – que nunca sofreu qualquer tipo de limpeza, reforma ou dedetização. Ao ser vendida, o novo dono decide fazer uma faxina geral e uma dedetização em todos os cômodos dessa casa. Com essa ação, surgem centenas de ratos, baratas, aranhas e cupins para tudo que é lado, passando a sensação de que a casa está mais suja e infestada de insetos e bichos do que antes. Claro que se trata de uma falsa impressão, pois na verdade o que se está fazendo é uma limpeza de verdade, como nunca fora feita nos quase 200 anos de existência daquela casa”. Essa história retrata bem o que acontece hoje em nosso país. Porém, infelizmente, boa parte da nossa sociedade, influenciada por um setor da mídia que deseja desgastar o governo de qualquer maneira, acredita que o país esteja mais corrupto, quando na verdade o que se está fazendo é um combate efetivo à corrupção como nunca se viu em nossa história.

Vamos analisar, por exemplo, o recente caso de corrupção cometido por alguns servidores da Petrobras. Esse caso foi descoberto por mais uma operação da Polícia Federal que, assim como nos últimos 12 anos, atuou de maneira independente e autônoma. É evidente que essa condição é mais do que uma obrigação em um estado democrático de direito, uma vez que o combate efetivo à corrupção se dá nesses princípios, mas o problema é que em um passado não muito distante, mais precisamente no governo FHC, não era assim; basta lembrar os diversos casos de corrupção daquele período em que a Polícia Federal não agia, já que os delegados responsáveis pela investigação, quando desagradavam os “interesses do governo”, eram “transferidos compulsoriamente” para outros estados.

A mudança de postura da Polícia Federal, que acabou se tornando uma marca dos dois últimos governos no que tange o combate à corrupção, refletem-se nos números: foram mais de mil operações contra os chamados “crimes do colarinho branco” apurados pela Polícia Federal só no Governo Lula (somando os governos Lula e Dilma foram 2.226 operações!) contra apenas 48 operações na era FHC. Detalhe importante: nenhuma dessas investigações da era Tucana foi contra o governo, já que todas as denúncias daquela época (e eram muitas) foram arquivadas pelo Procurador Geral da República – que chegou a ganhar o apelido de “Engavetador Geral da República”. Triste página da nossa história que só colaborou com o aumento da impunidade.

Também cabe destacar, dentro desse contexto, que todos os casos de corrupção até agora descobertos pela Polícia Federal tem origem no financiamento empresarial das campanhas políticas. O que soa estranho é que raramente encontramos editoriais dos grandes jornais pautando a proibição do financiamento privado de campanhas ou sugerindo uma Reforma Política que enfrente esse assunto. A própria proposta da Coalização Democrática, elaborada pela OAB e que traz significativos avanços na legislação eleitoral, não encontra espaço nesse debate dentro dos grandes jornais. Será que o mesmo grande capital privado que financia campanhas, amarrando compromissos políticos, também não financia os grandes jornais e redes de TV e rádio de forma a impedir ou deturpar o debate sobre o financiamento público de campanhas e até de outros temas? Neste caso, é exemplar a história sobre a lista com milhares de milionários brasileiros que têm contas na Suíça e que não recebeu nenhuma atenção por parte da dita grande imprensa brasileira.

Há outro elemento na questão do combate à corrupção que não pode ficar de fora dessa análise e que é muito bem exemplificado em uma situação bastante curiosa que aconteceu recentemente comigo. Ao pegar um taxi no centro da cidade há alguns dias, o motorista reclamou sistematicamente da “corrupção generalizada do atual governo”. Era contundente e duro dizendo que “todos os limites éticos foram superados”. O curioso foi que ele fazia esses comentários ao mesmo tempo em que trafegava pelo acostamento, fechava os demais veículos mudando de faixa e chegou ao cúmulo de, no final da viagem, perguntar “se eu queria recibo e qual o valor que ele deveria preencher no mesmo”. Evidentemente que eu respondi para ele colocar o valor exato do taxímetro, pois eu, assim como ele, não tolerava nenhum tipo de desvio ético. Esse exemplo que eu trago é para mostrar também que a corrupção, agora descoberta e pela primeira vez combatida efetivamente pelos dois últimos governos, não é restrita aos agentes públicos. Ela está inserida na sociedade.

Precisamos ser intolerantes com a corrupção como um todo! Jogar fora os equivocados princípios do terrível dito popular que diz: “farinha pouca, meu pirão primeiro”; precisamos refletir sobre o nosso papel como cidadãos, que vai desde a educação dos nossos filhos, passando pela relação que estabelecemos com os nossos vizinhos e chegando, inclusive, à nossa postura profissional em nossos empregos. Devemos fazer como dizia Gandhi: “ser a mudança que queremos no mundo”, e isso vale tanto para as coisas mais simples do cotidiano como as maiores e mais complexas na organização de uma sociedade.


(*) Robson Leite é funcionário concursado da Petrobras, tendo sido deputado estadual pelo PT do Rio de 2011 a janeiro de 2014 e autor da Emenda a Constituição do Estado do Rio de Janeiro que garante o ficha-limpa para todos os cargos de livre-nomeação e para todos os conselheiros do TCE-RJ.




quinta-feira, 26 de março de 2015

Instituto de Economia da Unicamp homenageia a Mestra Maria da Conceição Tavares.

http://www3.eco.unicamp.br/em-destaque/92-destaques/298-ie-homenageia-profa-maria-da-conceicao-tavares-por-sua-luta-incansavel-pelo-desenvolvimento-economico-e-social-no-brasil

Tentativa de golpe contra a Venezuela

  Ignacio Ramonet no Carta Maior

postado em: 25/03/2015
Ave simpática da fauna amazônica, o tucano é bem conhecido por seu espetacular bico de cor vistosa. Mas também é o nome de um agressivo “pássaro de aço” fabricado pela construtora brasileira Embraer, cuja denominação militar é EMB 312, e cujos dois modelos mais vendidos são: o T-27, em sua versão de treinamento, e o AT-27, armado para ataques em terra. É uma das aeronaves de treinamento mais vendidas no mundo. A aviação militar da Venezuela, por exemplo, possui cerca de trinta Tucanos.
 
 
E precisamente um desses tucanos militares, artilhado para atacar, deveria bombardear o Palácio de Miraflores, em Caracas, no último dia 12 de fevereiro. E matar o presidente Nicolás Maduro. Tinha como missão, da mesma forma, atacar o Ministério da Defesa e destruir o edifício que abriga os estúdios do canal de televisão internacional Telesur, a fim de semear o caos e a confusão.
 
Segundo revelou o próprio presidente Maduro, a tentativa de golpe foi desarticulada graças à habilidade dos organismos de inteligência bolivarianos. Eles permitiram a prisão de um grupo de oficiais da aviação e de civis uniformizados. “Trata-se – declarou o mandatário venezuelano – de uma tentativa de utilizar um grupo de oficiais da aviação para provocar um ataque e um atentado golpista à democracia e à estabilidade da nossa pátria; é o último suspiro do chamado 'golpe azul' de um ano atrás, em fevereiro-março de 2014”.
 
Nicolás Maduro contou que um dos oficiais envolvidos estava “comprometido” desde o ano passado com grupos de ultradireita venezuelana que procuravam gerar novamente distúrbios violentos no país. O presidente revelou que, depois de uma série de investigações, as autoridades militares exigiram que esse oficial fosse banido das forças armadas. “Mas há algumas semanas – explicou o mandatário –, vários opositores o contactaram de novo, pagaram-lhe uma soma importante em dólares e confiaram a ele várias missões. Ao mesmo tempo, a embaixada do Estados Unidos lhe concedia um visto com data de 3 de fevereiro e lhe garantia que, 'se isso falhar, já sabe, tem um visto para entrar nos Estados Unidos por qualquer uma de nossas fronteiras'”.
 
A partir daquele momento – continuou relatando Nicolás Maduro –, esse oficial contatou mais quatro companheiros para executar as missões “planejadas de Washington”. Uma delas consistia em gravar em vídeo declarações do general de aviação Oswaldo Hernández Sánchez na prisão. Ele foi detido por tentar dar um golpe de Estado em 2014.
 
“A ordem era gravar um vídeo desse general, a quem apelidam de El Oso [O Osso, em tradução literal], e em 12 de fevereiro, nos atos de comemoração, pegar um avião Tucano e atacar o Palácio de Miraflores e outros 'objetivos estratégicos', como o Ministério da Defesa, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e a sede da Telesur. A ordem de iniciar a ação se dispararia no momento em que um jornal de oposição publicasse o que eles chamavam de 'programa de governo de transição'”.
 
Por sua vez, Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, e Jorge Rodríguez, prefeito do município Libertador, contribuíram em Caracas, no último dia 13 de fevereiro, com mais detalhes da tentativa golpista. Ambos os dirigentes chavistas confirmaram que os oficiais detidos haviam admitido que a publicação de um “manifesto” na imprensa era uma das senhas para lançar a tentativa, cujo código era Operação Jericó.
 
Ambos revelaram que, segundo declarações dos presos, os golpistas tinham a intenção de “liquidar” desde o primeiro instante, além do presidente Nicolás Maduro, aos próprios Diosdado Cabello e Jorge Rodríguez, e a duas personalidades bolivarianas: Tibisay Lucena, presidenta do CNE, e Tareck e Aissami, o ex-ministro do Interior e atual governador do estado de Aragua.
 
Por outro lado, identificaram, além do general Oswaldo Hernández, El Oso, outros supostos cabeças da conspiração. A saber: o capitão Héctor José Noguera Figueroa, o coronel José José Suárez Rómulo, o primeiro tenente Ricardo Antich Zapata (supostamente encarregado dos contatos com a embaixada dos Estados Unidos) e o primeiro tenente Luis Hernándo Lugo Calderón. Também mostraram parte do arsenal apreendido, em particular armas de alto calibre, como fusis semiautomáticos AR-15, metralhadoras e granadas. Da mesma forma, revelaram que descobriram mapas da cidade de Carcas com vários “alvos estratégicos” marcados: o Palácio de Miraflores, os ministérios da Defesa, do Interior e de Justiça e Paz; o Conselho Nacional Eleitoral, a Direção de Contrainteligência Militar e o canal Telesur.
 
Cabello e Rodríguez designaram como “autores intelectuais” da tentativa golpista e do projeto de magnicídio duas personalidades da oposição: Antonio Ledezma, prefeito de Caracas (preso no último dia 19 de fevereiro), e Julio Borges, deputado da oposição. Também afirmaram ter provas da participação de pessoas da embaixada norte-americana: “Uma funcionária da embaixada chamava as esposas dos generais venezuelanos e lhes dizia que o nome de seu marido estava na lista de pessoas sancionadas pelo Congresso dos Estados Unidos. E que o visto de toda a sua família para ingressar em território americano havia sido invalidado. Tentando criar confusão nas famílias dos oficiais”, explicou Jorge Rodríguez.
 
O presidente Maduro disse, por sua vez, ter em seu poder o “plano de governo” redigido pelos golpistas, no qual se eliminam os poderes públicos e se ameaça os cubanos das missões de serviço social (saúde, educação, esporte). “Também falam – disse maduro – em privatizar a PDVSA (Petróleos de Venezuela Sociedad Anónima), em dissolver todos os poderes públicos, suspender as garantias democráticas, liberalizar o sistema de câmbio e presentear a oligarquia com dólares mais uma vez”. O presidente acrescentou que, nesse “plano de governo”, os golpistas “lançam uma ameaça contra o que chamam de “coletivos” – que nós sabemos que é o povo venezuelano –, anunciando que, quando chegarem ao poder, atuarão contra eles com toda a força militar. E os cubanos das missões na Venezuela teriam 24 horas para se apresentar nos escritórios do novo governo de fato ou 'enfrentarão as consequências (…)'”.
 
Apesar de todos esses detalhes e provas trazidos pelas máximas autoridades venezuelanas, os meios de comunicação internacionais (inclusive na América Latina) deram pouco crédito a esse anúncio de intenção de golpe de Estado. Essa “incredulidade” faz parte – há 15 anos – da estratégia dos grandes meios de comunicação dominantes em guerra contra a revolução bolivariana, para desacreditar as autoridades bolivarianas. Indiferente a essa atitude hostil, o presidente Nicolás Maduro continuou explicando, com perseverança pedagógica e com todo o tipo de provas, como, desde o falecimento de Hugo Chávez (há exatamente dois anos), e desde sua eleição (14 de abril de 2014), um “golpe lento” está em marcha para tentar derrotá-lo.
 
Desta vez, o golpe seria executado em quatro fases. A primeira começou no começo de janeiro de 2015, quando o presidente Maduro realizava uma longa viagem ao exterior (China, Irã, Catar, Arabia Saudita, Argélia e Rússia). Essa fase foi realizada com o apoio de setores do empresariado, que impulsionaram campanhas de retenção de alimentos básicos e produtos de primeira necessidade, com a finalidade de criar escassez e mal estar, preparando as condições para que os cidadãos saíssem às ruas para protestar e saquear supermercados. O que não aconteceu.
 
Na segunda fase, os grandes meios de comunicação internacionais intensificaram a difusão de reportagens, notícias e artigos que davam uma imagem distorcida da realidade venezuelana. Fazendo crer que, no país do “socialismo do século XXI”, estava-se produzindo uma autêntica “crise humanitária”. O presidente Maduro denunciou, na ocasião, o detestável papel desempenhado nessa fase da Operação Jericó por vários jornais espanhóis (El País, ABC).
 
A terceira etapa deveria ser protagonizada por um “traidor” que, na televisão e nos grandes meios de comunicação, faria um chamamento solene à rebelião. Ainda que o presidente não tenha deixado claro quem seria esse “traidor”, alertou os cidadãos: “Não quero alarmar ninguém, mas sou obrigado a dizer a verdade (…) Estão procurando um traidor e peço ao povo que esteja alerta”.
 
A quarta fase do golpe é a que se desvelou em 12 de fevereiro, com a participação de um grupo de oficiais direitistas da aviação militar, financiados pelo estrangeiro. Então, seria anunciado o “programa de governo de transição”. E se enterraria a revolução de Chávez.
 
Mas inclusive em quatro fases, o golpe fracassou. E a revolução bolivariana continua viva.
 
 
 
Tradução de Daniella Cambaúva




quarta-feira, 25 de março de 2015

Quando o governo faz a diferença

Saul Leblon no Carta Maior

 
A expressão ‘vontade política’ ficou conhecida no passado como um cacoete petista. Uma espécie de ‘melhoral de voluntarismo’ para todos os males do país.

Há limites, claro.

Os homens constroem a sua história, mas se negligenciarem as circunstâncias serão atropelados por elas.

Diante de uma transição de ciclo econômico da gravidade da atual não basta vontade.

Se não houver força organizada e propostas críveis à equação das forças e interesses em litígio, o risco de morrer na pista é grande.

Exageros à parte, a verdade porém é que sem iniciativa política tampouco se sobrevive.

A própria organização que ela catalisaria é abortada na forma de prostração e perda de autoconfiança.

Pode ser fatal.

Um governo, uma nação inteira, torna-se assim refém das mandíbulas dos mercados, cuja supremacia e capacidade de coerção só podem ser afrontadas pela ação da cidadania armada de discernimento crítico e liderança desassombrada.

Não é uma tertúlia acadêmica.

A ausência dessa determinação configura-se hoje como um problema tão ou mais grave do que todos os desafios econômicos enfrentados pelo Brasil.

Cada crise tem a sua especificidade, mas há um exemplo clássico de desassombro político, armado de forte ativismo estatal – a contrapelo de todas as advertências do bom senso dominante -- que contribuiu decisivamente para evitar a caminhada de uma nação rumo ao abismo.

Ao emitir um sinal firme de rumo e autoridade devolveu a autoconfiança à sociedade, organizou seus trabalhadores e trouxe de volta o impulso ao investimento.

Tudo isso no bojo de uma crise global de gravidade idêntica à atual, ou pior

Foi num mês de março como agora, nos EUA, há oitenta e dois anos.

Franklin Roosevelt, o presidente americano frequentemente evocado quando se trata de buscar um paradigma à altura dos desafios históricos de uma nação, tomara posse no dia 3 de março de 1933.

Era uma sexta-feira .

No domingo, dia 5, emitiria uma nota convocando o Congresso dos EUA para sessão extraordinária que deveria ocorrer na quinta-feira, dia 9.

Trabalharia exaustivamente no fim de semana.

A uma da madrugada, já na segunda-feira, dia 6, o presidente democrata socorreu-se de uma lei da Primeira Guerra Mundial que confere poderes adicionais ao chefe de Estado norte-americano tanto na esfera monetária quanto cambial.

Decretou um feriado bancário de quatro dias, assegurando-se de que não haveria corrida às agências até a sessão legislativa.

As precauções eram justificáveis.

A insegurança, a especulação e o desemprego faiscavam por todo o país. O medo do futuro sentava-se à mesa de milhões de lares mesmo sem ter sido convidado.

O emprego, a casa, a comida e o dinheiro estavam na linha de tiro do dinheiro ensandecido.

Independente de quantas voltas a chave pudesse girar na fechadura, nada, nem ninguém, podia sentir-se em posição confortável naquele momento.

Não havia um centímetro de chão sólido no imaginário da sociedade.

Bolsas, bancos, fundos, grande conglomerados, políticos e justiça compunham diante da sociedade a caricatura de um enorme ladravaz.

Uma bocarra disposta a devorar até a última lasca da economia em benefício próprio. A ameaça do futuro resmungava sua língua pestilenta em cada esquina.

A estrutura bancária dos EUA era uma montanha desordenada de reputações em ruína.

Notícias de demissões faziam fila de espera nas manchetes de jornais.

Havia a percepção crescente de que as autoridades estavam à reboque dos acontecimentos, engasgavam com as notícias no café da manhã; rezavam à noite em silêncio pelo dia seguinte.

Números azedos rugiam para a economia diuturnamente sem que se erguesse uma voz capaz de comandá-los.

O monólogo dos tempos difíceis ia impondo sua ordem unida na frente da produção, do emprego e da política.

A percepção de que as rédeas escapavam às mãos que deveriam controlá-las fornecia a ração diária de ceticismo e pânico que engrossava a cintura do colapso econômico.

O relógio da crise adiantava seu despertar a cada dia.

O salve-se quem puder amplificado pela mídia  fornecia combustível à imolação coletiva.

Na semana em que Roosevelt assumiu a presidência dos EUA, o país tinha proporcionalmente o maior contingente de desempregados do mundo.

Mais de 14 milhões, número que somado às respectivas famílias equivalia a uma população maior que a da Inglaterra então.

A perda de confiança no futuro funcionava como uma empresa demolidora; milhões de marretas anônimas trabalhavam dia e noite para desmontar o que restava do alicerce social e econômico.

É nesse ponto que o timming das ações do governo – de qualquer governo – e, sobretudo, a natureza de sua comunicação à sociedade, faz enorme diferença.

Cada gesto, cada decisão, cada anúncio adquire uma dimensão estratégica; a forma como as providências são comunicadas, ademais de sua contundência, sobre a qual não pode pairar dúvida ou se revelam inócuas, ganha importância de variável histórica.

Uma crise tem um tempo certo para ser derrotada, ou derrotará o governo -- a produção e o emprego - que vacilar diante dela.

Nisso, sobretudo nisso, Roosevelt revelou-se o estadista cuja habilidade ainda tem lições a oferecer a seus pares nos dias que correm.

A primeira lição: a rapidez em ocupar a frente do processo; contemporizar é capitular.

E explicar, explicar, explicar. Explicar cada passo dado e sinalizar o seguinte.

Construir o caminho com a sociedade, em vez de comunicar metas etéreas e avulsas.

Em apenas uma semana de mandato ele tomou algumas decisões que não exorcizaram todos os demônios, mas foram afrontá-los em seu próprio campo.

Olhando esse momento histórico a partir de um mirante crítico, não se pode dizer que foram medidas acanhadas.

Hoje ainda elas sugerem tudo menos tibieza e hesitação diante do grande vendaval que se forma quando o pânico e o dinheiro se encontram numa mesma esquina.

Quantos dos atuais chefes de Estado teriam a coragem de anunciar hoje o que Roosevelt proclamou naqueles idos de março de 1933?

Os tempos são outros, é verdade.

A globalização tornou tudo mais difícil, justificam aqueles que ocultam sua hesitação nas dificuldades do presente para ofuscar o componente de coragem dos personagens do passado.

Mas o fato é que ao fazer seu segundo discurso à Nação, em 12 de março --note-se, o segundo grande discurso referencial em nove dias de mandato--  Roosevelt  trazia alguns troféus do primeiro round de uma luta que se estenderia até 1944, quando os EUA declararam guerra ao Eixo.

Só então, de fato, seu potencial produtivo pode, finalmente, ser acionado a plena carga para desvencilhar-se da recessão, graças às encomendas bélicas.

Muitos relativizam o alcance das medidas tomadas nos anos que antecederam esse momento.

Mas poucos lembram de se perguntar o que teria acontecido com o presidente democrata, reeleito quatro vezes (de 1933 a 1945), se a sua autoridade tivesse fraquejada nas primeiras horas, da primeira semana, nos primeiros cem dias do seu primeiro mandato?

É sobre isso que o governo brasileiro deveria refletir hoje em vez de se render a um dominó protelatório em que os desafios são terceirizados a um Bonaparte na expectativa de que ele dome o cavalo xucro da crise e depois o devolva encilhado e manso ao controle da sociedade.

Ontem, como hoje, o capital quer se livrar das amarras da história, livrar-se dos encargos trabalhistas, das greves, dos Morales, Lulas, Dilmas, Cristinas e de suas concessões sociais.

Se a globalização ampliou as condições para a utopia capitalista, o dragão afrontado por Roosevelt em 1933 exalava as mesmas obsessões. E, como hoje, talvez pior, o democrata também não dispunha de nenhuma ancora internacional na qual se amparar para enfrentar os mercados, seus exércitos e bombas de extermínio.

Seu valioso contrapeso era intuição política para atuar no vácuo da crise sem se deixar engolir por ela, mesmo quando hesitava.

Foi assim que fez um Congresso hostil discutir e aprovar, em um único dia, uma Lei de Emergência Bancária em rito fulminante, na quinta-feira, dia 9, seis dias depois da posse.

Estamos falando de Roosevelt, não de Lênin.

A Emergência Bancária facultava a ingerência estatal sobre todo o sistema financeiro público e privado dos EUA.

Repita-se, Roosevelt não pretendia liderar uma revolução bolchevique. Queria reformar a economia para que pudesse outra vez fazer prosperar o emprego e a produção, eliminar a fome e a miséria no seio das famílias.

Em 1933, Roosevelt sabia intuitivamente o que hoje é um consenso teórico, mas não político.

Para salvar o capitalismo de si mesmo, é preciso subordinar o crédito aos desígnios da produção, do emprego e do consumo.

Só a indução firme do Estado é capaz de fazê-lo em tempo hábil, antes que a epidemia recessiva se alastre e derreta o metabolismo econômico.

A Lei de Emergência dava ao Estado norte-americano essa faculdade e Roosevelt a exerceria com rapidez e apetite de um estadista.

Enquanto seus potenciais seguidores patinam na hesitação, há 82 anos, no longínquo março de 1933, Franklin Roosevelt pode apresentar-se à Nação, apenas dez dias depois da posse, como um Presidente vencedor.

Ele havia enfrentado o foco da doença in loco, submetera o sistema bancário e vencera o primeiro round.

A incerteza fora duramente atingida.

No domingo, dia 12 de março –insista-se, apenas nove dias depois da posse--  estreou seu programa “Conversa junto à Lareira”.

Passaria a usar o alcance avassalador da radiofonia então para conversar diretamente com a sociedade.

Um bolivariano après la lettre.

O Presidente tinha o que dizer e milhões queriam ouvi-lo.

Sua palavra estava sintonizada com o espírito das ruas e viria reforçar a espiral da auto-confiança em diferentes setores e segmentos.

As filas no guichê dos bancos já não eram mais para sacar depósitos. Agora elas reuniam cidadãos trazendo de volta suas economias. O Estado devolvera a garantia aos pequenos e a segurança aos investidores.

Roosevelt foi além, na tarefa de devolver otimismo a uma sociedade acuada e sem futuro.

Não se limitou a medidas rotineiras, nem confiou o imaginário da sociedade aos “canais convencionais’ da mídia aterrorizante.

Cada vez que falava à Nação, a voz do democrata dizia coisas inteligíveis à angústia do pai de família que acordara empregado e fora dormir com medo da demissão.

Suas mensagens e políticas pavimentavam o longo prazo sem negligenciar a emergência.

Traziam respostas para o presente e assim injetavam solidez à marcha do futuro.

Multiplicar providências imediatas para sacudir a sociedade entorpecida pela incerteza e a descrença, esse foi o seu objetivo ao criar a Administração para o Progresso do Trabalho.

Com ela encarou o desafio de enxugar a inundação de desemprego que afogava as famílias, as cidades e o interior do país.

A mensagem era simples e convincente: os EUA foram divididos em zonas salariais; para cada uma delas fixou-se um seguro-desemprego; o governo passou a contratar até três milhões de trabalhadores por ano, em troca desse pagamento.

A nova força-tarefa semearia canteiros de obra pelo país; estradas, ruas, escolas, canalizações, hospitais, parques infantis, pontes, caminhos vicinais foram recuperados, expandidos e construídos.

A Administração para o Progresso do Trabalho ganhou um braço cultural.

Em um mês –sim, 30 dias-- inauguraria 100 mil salas de alfabetização com um milhão de adultos inscritos na luta contra o analfabetismo.

Artistas e escritores desempregados foram contratados.

Sua mobilização desencadearia uma revolução cultural ampliando as franjas de apoio progressista ao governo, taxado de comunista pela direita raivosa e a mídia cínica.

O Presidente também convocou a juventude. Milhares de jovens foram incorporados a serviços florestais dando vida a planos de replantio de matas, preservação e proteção de bosques.

O democrata austero continuou falando ao futuro e à angústia do presente.

Na Conversa ao Pé da Lareira de outubro de 1933, Roosevelt deu um aviso ensurdecedor aos ouvidos da crise.

Um aviso do Estado aos mercados selvagens.

Qualquer família norte-americana, disse, ameaçada de perder a casa em que mora, a terra, ou seus pertences por conta da crise, deve telegrafar imediatamente para a Administração de Crédito Rural ou à Companhia de Empréstimo aos Proprietários de Residência.

‘Ela receberá o auxílio de que necessita’.

Para além das discussões técnicas sobre a viabilidade ou não de um novo New Deal, sobretudo na periferia do capitalismo, há uma lição de extrema atualidade a extrair dessa prontidão exibida pelo governo democrata de Franklin Roosevelt.

Ele tinha a exata noção de que, diante da lógica de uma crise, o Estado não pode se entregar à  busca de indulgência. Antes de sensatez, a rendição nessas circunstancias agrava a  escala dos problemas e contrata mais incerteza.

Fiel ao paradigma do desassombro, associado ao realismo, em vez incorporar o turbilhão da desintegração social, Roosevelt foi além.

Convocou os trabalhadores a se organizarem em sindicatos, concedendo incentivos e promulgando decretos que legalizariam a maciça sindicalização dos assalariados norte-americanos.

Ademais de afrontar a lógica dos mercados ensandecidos, portanto, o legendário presidente norte-americano fomentou uma organização correspondente da sociedade.

Intuitivamente, apesar de domar os mercados com a rédea curta da ação estatal, ele sabia que nenhum país sai de fato de uma crise histórica sem um protagonista social que o conduza.

Foi excomungado pela direita, acusado de comunista pela mídia conservadora.

Seria reeleito mais três vezes pelos norte-americanos.

Há o que aprender ainda com Franklin Roosevelt.