terça-feira, 29 de setembro de 2015

Dinheiro do pré-sal começa a entrar em 2016

http://ggnnoticias.com.br/noticia/dinheiro-do-pre-sal-comeca-a-entrar-em-2016

O BRASIL DEVE, MAS ESTÁ LONGE DE ESTAR QUEBRADO - A DÍVIDA PÚBLICA E A MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA.

Mauro Santayama, em seu blog



  O Governo tem seus defeitos - entre eles uma tremenda incompetência  na divulgação da situação real do país - mas também tem suas virtudes.

A maior parte da imprensa está trombeteando, aos quatro ventos, o fato de que a dívida pública subiu 3,68% em agosto, para 2.68 trilhões. Por que não dar a informação  completa, e dizer que o Brasil deve essa quantia, mas tem quase um trilhão e meio de reais, 1.48 trilhões, a câmbio de hoje, em reservas internacionais em caixa?

Reservas internacionais de 370 bilhões de dólares, cujo valor, em moeda nacional aumenta - já que o negócio é divulgar grandes números - em contraposição ao que se deve em reais, a cada vez que o dólar sobe? 

Em um país normal seria também interessante lembrar - em benefício do leitor e da verdade - que a dívida líquida pública - que é o que o país verdadeiramente deve, descontando-se o que tem guardado - caiu em quase 50% nos últimos 13 anos, depois do fim do governo FHC, de mais de 60%, em dezembro de 2002, para aproximadamente 34% do PIB agora.
Para efeito comparativo, nos países desenvolvidos, essa dívida é quase três vezes maior, de mais de 80% em média. 

Quase da mesma forma que a dívida pública bruta, a única a que se dá destaque, que em países como o Japão, a Itália, os Estados Unidos, a França ou Inglaterra, duplica, ou é de quase o dobro da nossa.  

Essa é a realidade dos fatos que, hipócrita e descaradamente, não são levados em consideração, por sabotagem e outros interesses de ordem econômica e geopolítica,  por agências envolvidas com escândalos e multadas, em bilhões de dólares, por irregularidades, que, sem críticas ou questionamento,  são endeusadas e incensadas, interesseiramente,  pela mídia conservadora nacional,  como a Standard&Poors, por exemplo.


Shell desiste de poços no Ártico, rival do pré-sal. Não é ecologia, é falta de petróleo

Sensor publica matéria de Fernando Brito no blog Tijolaço

artico

Para os  que não se dão conta da importância estratégica do pré-sal brasileiro, uma notícia para fazer pensar.

A gigante Shell anunciou o abandono de seu programa exploratório no Ártico, depois de ter investido US$ 7 bilhões na perfuração de poços.

Embora a tentativa de explorar petróleo nos mares gelados da região tenha causado muitas dores de cabeça à companhia pelos protestos de ambientalistas,  não foi esta a razão da decisão.

O motivo foi que o petróleo e o gás natural eram em quantidade muito pequena e, portanto, antieconômica a sua exploração.

Em um comunicado divulgado hoje, Marvin Odum, diretor da Upstream Americas da Shell, disse, segundo o jornal inglês The Guardian: “A Shell continua a ver importante potencial de exploração na bacia, e  é provável que a área seja, em última análise, de importância estratégica para o Alasca e os EUA. No entanto, os resultados foram claramente decepcionantes na exploração esta parte da bacia. ”

Esta parte da bacia refere-se aos mares de Chukchi e  Beaufort, onde a empresa fazia perfurações, marcado ali no mapa.

Imagine o leitor se um diretor da Petrobras viesse anunciar que se gastou US$ 7 bilhões (R$ 28 bilhões) num programa de exploração “decepcionante” no pré-sal?

Porque as duas áreas – um pouco menos o Ártico – quase se equivaliam como perspectiva de reservas petrolíferas: lá esperava-se até 30 bilhões de barris, segundo o The Washington Post; aqui, em torno de 35 a 40 bilhões de barris.

Os anglo-holandeses, competentíssimos, branquinhos, sabidões, honestíssimos (só quem não leu um livrinho de História acha isso, porque não sou dos corsários da Rainha) furaram mal.

Os brasileirinhos, moreninhos, “funcionários públicos”, acomodados, incompetentes (e, para muitos, ladrões, embora estes ratos metidos ali fossem uns poucos) não fracassaram e já chegaram, em oito anos, à marca de um milhão de barris por dia. E a uma taxa de sucesso de quase 100%: onde se fura, acha-se petróleo, sem falha.

É isso o que a canalha entreguista que entregar para as multinacionais: um tesouro igual ou maior que aquele que eles tão tiveram capacidade ou condições geológicas para explorar com sucesso.

É isso que querem fazer você crer que é competência, honradez, eficiência e investimento rentável.

Mas Deus é grande e fez a Shell dar com os burros n’água (geladíssima) no Ártico para que a gente dê valor ao que tem e não entregue o nosso petróleo, apesar da podre aliança entre vendilhões da pátria e otários-pato.

Mais petróleo no pré-sal. Área de Carcará indica ser novo megacampo (o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro)


Sensor publica matéria de  , no Tijolaço  · 29/09/2015



carcara

O anúncio, ontem à noite, das descobertas do terceiro poço perfurado na área denominada Carcará do bloco BM-8 da Bacia de Santos tem tudo para ser a confirmação de que se a área pode ser um novo mega campo de petróleo, semelhante ao de Lula, o maior já em exploração do pré-sal brasileiro, situado cerca de 50 km a leste.

Tanto o tipo de rocha, as características do petróleo (leve, 31 graus API), a pressão, profundidade e espessura da coluna de acumulação encontrados indicam que é  o mesmo reservatório encontrado nos dois primeiros poços, com espessura entre 320 e 470 metros (Libra tem pouco mais de 300 m, por exemplo) estão em linha do que o pessoal da área de petróleo já suspeitava desde 2012, como registrava uma nota da Agência Reuters em agosto daquele ano e confirmada poucos meses depois:

“A expressiva coluna de Carcará tem potencial para colocar o prospecto no mesmo patamar das maiores descobertas do Brasil, ao lado de campos como Lula e Guará (Nota do Tijolaço: Guará é hoje denominado Sapinhoá e onde estão os mais produtivos poços, na faixa de 40 mil barris/dia, cada), localizados na mesma região.

Evidente que não se pode ser preciso sem todos os estudos geológicos, mas isso indica expectativas na casa de alguns bilhões de barris. Mas a turma especialista da Petrobras, pelas características que se listou, tem uma boa capacidade de estimar o potencial.

E a posição do terceiro poço, assim como a do segundo, sugere que a formação possa estender-se mais para o Norte, em área ainda não licitada nos leilões de concessão. Carcará foi leiloado em 2000, na segunda rodada de leilões, por um valor, na época, de apenas R$ 51 milhões. Atualizado em dólares,  cerca R$ 140 milhões, hoje.

Tomando a produção de um campo como o de Lula e mesmo com o valor baixo do petróleo hoje, daria o equivalente ao faturamento bruto de dois a três dias de produção.

É a isso que os espertíssimos defensores do fim da partilha do petróleo querem voltar, sob o argumento de que a Petrobras não tem recursos para investir.

Para bom negócio, garantido como o petróleo – e não o “pode ser” que arrebentou a Shell no Ártico – sempre há dinheiro.

As dificuldades dos países emergentes


Clemente Ganz Lúcio[1]

A crise internacional de 2008 prolonga-se nos países desenvolvidos, especialmente na Europa e Japão, apesar de sinais de melhora no desempenho econômico dos EUA. Os países emergentes vêm buscando alçar seu desenvolvimento e, diante da crise, procuraram sustentar um bom desempenho econômico. Para tanto, lançaram medidas anticíclicas, e conseguiram manter a demanda por commodities agrícolas e minerais. Também preservaram certa capacidade exportadora de manufaturados e ampliaram os investimentos em infraestrutura. Nesse jogo, a China teve papel central e o Brasil foi um jogador importante, especialmente pela ampliação do mercado interno de consumo de massa.

Entretanto, desde 2014 os sinais das economias emergentes estão mudando, o que em parte pode comprometer a trajetória para alçá-los à condição de países desenvolvidos. O sinal de alerta soou mais alto quando a China tomou uma série de medidas para segurar o nível de atividade, tentando evitar uma queda abrupta de crescimento, com reflexos sobre os demais países. Como resultado, o volume  do comércio internacional será menor, Oe  estima-se que a expansão nos últimos 12 meses esteja na casa dos 1,5%, bem abaixo da média mundial anterior que era de 7% (IFF – Instituto de Finanças Internacionais).

Com menor crescimento, haverá menor demanda por commodities agrícolas e minerais, inclusive petróleo e manufaturas. Em julho, a demanda externa chinesa para o mundo teve queda de mais de 8%. Com isso, os preços desses produtos estão em queda, segundo o FMI, e ficarão em média 16% menores que o ano anterior, tendência reforçada pela valorização do dólar. Um volume menor de vendas, com preços mais baixos têm impacto direto na  economia dos países emergentes.

A recuperação da economia americana é mais um motivo que faz refluir a presença dos investidores externos nos países emergentes. A perda do grau de investimento amplia esse refluxo e torna as dívidas mais elevadas. Por exemplo, a dívida das empresas não financeiras dos países emergentes subiu de 60% para 80% do PIB, com a parte em dólar aumentando de 10% para 40%. O dólar mais caro, faz crescer as dividas das empresas em moeda nacional.

O Brasil, que tem uma economia integrada, é afetado. Entretanto, somos a 7a maior economia do planeta, com importantes ativos naturais, um grande mercado interno, vasto território e uma estrutura produtiva diversificada. Nossa tarefa é construir caminhos para superar os graves entraves, externos e internos, que comprometem nossa trajetória de crescimento e desenvolvimento.

As dificuldades externas devem orientar a política econômica para o fortalecimento da capacidade de o nosso mercado interno de consumo de massa continuar sendo um vetor determinante do crescimento do país. Para isso, é fundamental sustentar o emprego, os salários e as transferências de renda, bem como, realizar grande esforço para recuperar – e inclusive ampliar - os investimentos em infraestrutura econômica, social e produtiva. É necessário reindustrializar nossa economia, agregando valor e incrementando a produtividade, que, dessa forma, deve transbordar para todos os setores, e chegar ao crédito produtivo e ao consumo com taxas de juro decentes, entre outros. Esse movimento é coerente com o investimento para ampliar nossa capacidade de participar do comércio mundial de manufaturados e de produtos de maior valor agregado e de serviços especializados.

O Brasil, integrado à economia mundial, deve ser condutor de sua trajetória de desenvolvimento. Para isso, precisamos de uma política econômica coerente com o desenvolvimento produtivo, o que pode ser buscado através de um debate público que crie um campo de entendimento e compromissos entre os atores sociais e agentes econômicos.



[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Comandante do Exército aos golpistas: “não voltaremos ao poder”

Fernando Brito, no Tijolaço. Transcrito do Conversa Afiada Oficial.


Em entrevista dada ontem ao Correio Braziliense, o  Comandante do Exército, general  Eduardo Dias da Costa Villas Bôas fez o que se espera de um chefe militar moderno e inteligente. Sem grosserias ou oportunismo, defendeu o papel das Forças Armadas na vida nacional, alertou para os perigos de perder-se, com a crise, o avanço organizacional e tecnológico dos programas militares, manifestou disciplinadamente os problemas materiais de tropa e equipamento e, num recado político que não podia ser mais claro, disse que os compromissos da Força são com a estabilidade, a legalidade e a legitimidade em suas ações.

O arremate foi enfático: “Não há a menor hipótese de os militares virem a tomar o poder novamente.” Nada de conversas maquiadas, hipóteses genéricas, afirmações transversas: “Não, não e não. Nenhuma (possibilidade).

A entrevista aos repórteres  Ana Dubeux, Carlos Alexandre,Leonardo Cavalcanti e Nívea Ribeiro foi republicada , na íntegra,pelo site Defesanet e merece ser lida inteirinha. Não é conversa de “militar político”, mas é infinitamente superior porque é de militar com estratégia na cabeça e estratégia desenvolvimentista , com olho na unidade nacional.

“Da década de 1930 até a década de 1980, o Brasil foi o país do mundo que mais cresceu. Tínhamos uma ideologia de desenvolvimento e, mais importante, tínhamos um sentido de projeto. Nas décadas de 1970 e 1980, cometemos o erro de permitir que a linha de fratura da Guerra Fria passasse dentro da nossa sociedade. E, com isso, nos desestruturamos. Perdemos a coesão nacional. Perdemos o sentido de projeto, e o Brasil anda meio à deriva. Não sabe exatamente o que ser.”

Se possível, tratei em outros posts novos trechos, tratando das questões de reaparelhamento das Forças Armadas e dos perigos que corremos de desfazer todos os avanços obtidos desde que o estabelecimento da Estratégia Nacional de Defesa definiu papel e objetivo de nossas instituições militares. Que é importantíssimo para a afirmação do Brasil, para a questão da defesa de nossas riquezas, pelo suporte ao funcionamento das instituições de segurança civis e, sobretudo, porque não se consegue ser um grande país sem grandes forças de Defesa, sem as quais será, no máximo, um servo de luxo de outro.

Só os míopes e os rancorosos – e alguns, claro, mal-intencionados, que exploram ressentimentos  para manter preconceitos militares contra a esquerda, o que sempre foi a tática de nossos dominadores  – acham que a experiência de 1964 é a tradição do Exército e se recusa a ver nos militares mola e alavanca do desenvolvimento brasileiro.

Abaixo, o trecho que selecionei da entrevista do General Vilas-Bôas:


(Há) uma crise claramente econômica. Mas há uma crise política. Há risco de instabilidade? Há preocupação do Exército nesse sentido?
Há uma atenção do Exército. Eu me pergunto: o que o Exército vai fazer? O Exército vai cumprir o que a Constituição estabelece. Não cabe a nós sermos protagonistas neste processo. Hoje o Brasil tem instituições muito bem estruturadas, sólidas, funcionando perfeitamente, cumprindo suas tarefas, que dispensam a sociedade de ser tutelada. Não cabem atalhos no caminho.


O que acha dos manifestantes que defendem intervenção militar?
É curioso ver essas manifestações. Em São Paulo, em frente ao Quartel-General, tem um pessoal acampado permanentemente. Eles pedem “intervenção militar constitucional” (risos). Queria entender como se faz. Interpreto da seguinte forma: pela natureza da instituição, da profissão, pela perseguição de valores, tradições etc. A gente encarna uma referência de valores da qual a sociedade está carente. Não tenho dúvida. A sociedade esgarçou seus valores, essa coisa se perdeu.

Essa é a principal motivação de quererem a volta dos militares. Mas nós estamos preocupados em definirmos para nós a manutenção da estabilidade, mantendo equidistância de todos os atores. Somos uma instituição de Estado. Não podemos nos permitir um descuido e provocar alguma instabilidade. A segunda questão é a legalidade. Uma instituição de Estado tem de atuar absolutamente respaldada pelas normas em todos os níveis. Até para não termos problemas com meu pessoal subordinado.

Vai cumprir uma tarefa na rua, tem um enfrentamento, fere, mata alguém, enfim… não está respaldado. E aí, daqui a pouco, tem alguém meu submetido na Justiça a júri popular. Terceiro fator: legitimidade. Não podemos perder legitimidade. O Exército tem legitimidade por quê? Porque contribui para a estabilidade, porque só atua na legalidade. Pelos índices de confiabilidade que a sociedade nos atribui, as pesquisas mostram repetidamente, colocam as Forças Armadas em primeiro lugar. E, por fim, essa legitimidade vem também da coesão do Exército. Um bloco monolítico, sem risco de sofrer qualquer fratura vertical. Por isso as questões de disciplina, de hierarquia, de controle são tão importantes para nós. O Exército está disciplinado, está coeso, está cumprindo bem o seu papel.

O Exército está atento. Está preocupado?
Claro, porque a situação tem reflexos. Vejam o problema que nós temos no Orçamento.


Mas o eco das ruas se espelha em algum momento dentro da tropa?
Sim. No Exército Brasileiro, só tem brasileiros. Estamos vendo a sociedade. Isso nos aflige, afeta, angustia, provoca ansiedade, frustrações da mesma forma.


Existe alguma possibilidade de os militares voltarem ao poder em determinado momento?
Não, não, não. Nenhuma.


Por quê?
Porque o que nos baliza é o que está na Constituição. Não há a menor hipótese de os militares virem a tomar o poder novamente.

Deixa o homem trabalhar

Paulo Teixeira, no site Carta Maior

postado em: 28/09/2015
É preciso castigar Lula por seu atrevimento. De preferência com a morte. É o que pensam setores da sociedade imbuídos de ódio por um ex-presidente cujo único crime foi distribuir o poder da elite e promover uma revolução social sem precedentes no Brasil. Como Prometeu.

Prometeu foi um herói mitológico que ousou desobedecer a Zeus, o deus supremo do Olimpo, ao entregar o fogo aos humanos num momento em que somente os deuses tinham acesso a ele. Insubordinado, fez uma importante distribuição, não de renda, mas de conhecimento. Sentindo-se ameaçado, Zeus acusou o golpe. Temia que, dominando o fogo, a Humanidade pudesse se tornar tão poderosa quanto os deuses. Por isso era preciso punir Prometeu. Zeus condenou o herói atrevido a passar 30 mil anos acorrentado e imobilizado no monte Cáucaso. Todas as noites, uma águia vinha lhe bicar o fígado. Prometeu resistiu. A parte do fígado que lhe era abocanhada à noite regenerava na manhã seguinte. Até o dia em que Hércules lhe rompeu os grilhões. O fogo jamais foi confiscado dos homens.

É compreensível, embora inadmissível, que setores da sociedade irmanados com Zeus peçam a morte do ex-presidente. Uma comunidade no Facebook, intitulada Morte ao Lula, reunia 8.619 membros em 17 de setembro. Apesar de incitação à violência ser crime no Brasil, até agora naufragaram todas as denúncias e pedidos para que a comunidade seja retirada do ar. Ainda assim, Lula resiste. E, de acordo com os últimos exames médicos, está longe de sucumbir à ameaça.

O plano B é prender o Lula. A qualquer custo. Para isso, requentam-se denúncias de uma década atrás. Ou criam-se factóides. Crise? A culpa é do Lula. Corrupção? Só pode ter começado com Lula. A cada depoimento na Lava-Jato ouvem-se as mesmas perguntas. Quem comandava? Lula chefiava o esquema? Nada surge que o incrimine. Mesmo assim, estampam-se manchetes de jornais repletas de ilações. São as águias mordiscando Prometeu.

A polarização baseada em ódio e intolerância é tão grotesca que um delegado da Polícia Federal chegou a pedir que o ex-presidente seja intimado sem que pese contra ele qualquer prova ou indício. É evidente que se trata de perseguição. E uma perseguição em tudo perversa, porque não apenas constrange o perseguido como contribui para o clima de insegurança, gerando desconfiança do mercado internacional em relação à nossa economia e ampliando os efeitos da crise num momento em que a responsabilidade nos chama ao bom senso. Sobretudo, o delegado fere a ordem jurídica ao buscar os holofotes e pedir uma investigação com base em nada, adepto do golpe-ostentação.

A justificativa para tamanho empenho em tirar Lula de campo não é acabar com a corrupção ou moralizar a política, como dizem alguns oradores, mas dilapidar a figura de Lula e desconstruir os avanços conquistados em seu governo. A meta é afastar a ameaça de um terceiro mandato. Recentemente, malgrado todas as tentativas de incriminá-lo, abriu-se uma nova trincheira com o objetivo de estender-lhe o cartão vermelho. Uma PEC apresentada pela deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha de Roberto Jefferson, busca proibir a reeleição no Executivo para mandatos descontinuados. Ou seja: um prefeito, governador ou presidente poderá ser reeleito para um segundo mandato contínuo, mas não retornará ao cargo. O foco é Lula: cassar-lhe um direito antes mesmo de sabermos se ele tem interesse na disputa. Porque, para alguns, nada assusta mais do que a volta do Lula. Os deuses do Olimpo sabem que, depois do fogo, há outros privilégios a distribuir.

*Paulo Teixeira é deputado federal (PT-SP) e vice-líder do governo na Câmara dos Deputados



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Golpe, recessão e as possibilidades

Por Saul Leblon, no site Carta Maior: transcrito do Blog do Miro.

A negociação de um novo ministério em que o PMDB passa a deter fatias consideráveis do orçamento e do poder - imediatamente, não na arriscada perspectiva de um golpe - deixou o conservadorismo entre estupefato e irritadiço.

O ex-presidente Fenando Henrique Cardoso apressou-se em sentenciar seu douto entendimento sobre mais essa lâmina que cruza a noite de golpes, autogolpes e contragolpes em que se transformou a luta pelo poder no país.

‘Dilma se aliou ao demônio’, esbravejou, passando recibo.

Estamos falando do personagem cujo governo foi uma clássica coabitação com demos de carne e osso que há séculos espetam o tridente no lombo da população brasileira.

O muxoxo expressa mais que a ressentida perda da exclusividade.

Comodoros da esquadra golpista, em cujos porões se replica o balé de punhais, agora entre Aécio, Serra, Alckmin etc-- temem que a reacomodação ministerial abra uma janela de tempo e oxigênio no labirinto da crise econômica.

E ponha tudo a perder.

Opera-se na estreita pinguela que interliga o tudo ou nada em meio à densa noite de azeviche que desce sobre a história brasileira.

Encadear à aposta ministerial uma iniciativa capaz de reverter a assombração recessiva é a única chance do lado do governo, antes que o parafuso econômico vare do outro lado.

Colonizado pela circularidade do ajuste, o senso comum já reage à insuficiência dos cortes pedindo outros.

Uma espécie de suicídio induzido pela dedução do Estado a partir da contabilidade doméstica asfixia o debate das ‘possibilidades econômicas dos nossos netos’, para emprestar um título inspirado de Keynes, utilizado na chamada desta nota.

‘E, todavia, são coisas muito distintas’, ensina a paciência jesuítica do economista brasileiro Luiz Gonzaga Belluzzo.

Aos repórteres que o procuram cheios de ardor pela tesoura ortodoxa, ele adverte: ‘Se o Estado age como o desempregado, que corta tudo, a economia naufraga; a recessão se aprofunda’. E quase num desabafo diante da resistência do material a ser desasnado: ‘Sem crescimento é inviável. Sem crescer, no capitalismo, as coisas começam a ficam muito complicadas’.

As coisas estão ficando muito complicadas no Brasil, onde níveis de endividamento pessoal, privado e público, em moeda local e estrangeira, estão sendo desguarnecidos dos fluxos de receita que os mantém solváveis.

Como num efeito dominó, as distintas peças da economia vão caindo.

Quem pode deter o fluxo?

A intuição atilada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva soou o sinal amarelo: o país precisa urgentemente de uma agenda pós-ajuste.

Por onde começar?

O programa do golpe não hesita.

Ademais do arrocho inclemente, as ‘complicações’ decorrentes da purga recessiva recomendam concluir o trabalho iniciado pelo PSDB nos seus oito anos de poder.

A ex-diretora do programa de desestatização do BNDES então, Elena Landau, deu a largada em artigo de 17/09, publicado na Folha, cujo título é imperativo -- ‘É hora de privatizar’.

A tucana que saiu do BNDES para o banco Oportunity, onde –junto com o ex-marido, e ex-presidente do BB no governo FHC, Pérsio Arida-- foi assessorar clientes de Daniel Dantas a adquirir empresas públicas por ela privatizadas, dobra a aposta:

‘A crise abre oportunidade para nova rodada de privatizações... A lista de ativos federais, estaduais e municipais a serem vendidos pode e deve ser ampliada. Some-se ainda o plano de desinvestimento da Petrobrás e os valores duplicam’.

A abrangência do desenvolvimento e a sorte das gerações futuras estão com o destino ameaçado.

A peça-chave da segunda onda de alienação patrimonial é formada pelas maiores reservas de petróleo descobertas e inteiramente mapeadas no século XXI.

Pré-sal significa dinheiro na mão.

Em quantidades oceânicas.

Ainda que a cotação do barril se estabilize em US$ 55, a densidade energética imbatível e a rentabilidade líquida e certa das reservas brasileiras, fazem desse patrimônio um dos alvos mais cobiçados ativos da guerra econômica global.

Serra -‘ o maior entusiasta da venda da Vale’, já disse FHC - é o general de campo dessa cobiça incansável.

O assalto ganha vapores de pertinência quando se verifica que a dívida da Petrobras - mais de US$ 100 bi - atingiu uma dinâmica preocupante.

A estatal criada por Vargas em 1953, a contragosto do PSDB que se chamava UDN, arfa sob um torniquete de duas voltas.

Uma queda da ordem de 50% nas cotações do barril nos últimos 12 meses espreme sua receita; a desvalorização de mais de 50% do real, potencializa seu passivo.

Para arrematar, o corner financeiro é vitaminado pela paralisia da rede de fornecedores e empreiteiras, em consequência da Lava Jato.

A cadeia do petróleo foi redesenhada no Brasil nos últimos anos.

Para o desenvolvimento do país, a Petrobrás hoje é muito mais importante do ponto de vista estratégico do que quando foi criada por Vargas.

O petróleo deixou de ser apenas uma marca de abastecimento para ser uma usina industrializante, geradora de emprego, ciência e pesquisa, fundos para educação e a saúde, soberania e poder geopolítico.

Representa talvez o derradeiro e o mais valioso legado da luta pelo desenvolvimento ao futuro da nação e o de seus filhos.

Está tudo por um fio.

Ações irrefletidas de venda e desmembramento para fazer caixa podem seccionar cadeias de coerência estratégica e produtiva.

A pressão de centuriões das petroleiras multinacionais, a exemplo de Serra e assemelhados, avança para romper o lacre garantidor de toda a engrenagem.

Se o regime de partilha for derrubado, como querem, a supervisão obrigatória da Petrobrás na exploração das novas reservas, graças a uma participação cativa de pelo menos 30% nos consórcios, cairá por terra.

Não é uma fatalidade, embora o colunismo isento e patriótico faça enorme esforço para torna-lo assim.

O país dispõe de três trunfos para reagir: reservas internacionais da ordem de US$ 380 bi; um mercado de massa que já representa 51% da população (escala que o credenciaria sozinho a figurar no G20) e o pre-sal.

Não é pouco.

Na verdade, é muito.

Poucas nações no planeta menosprezariam essas potencialidades na resposta a uma transição de ciclo de desenvolvimento como a que se vive por essas bandas

A nação golpista, porém, cerra braços nas fileiras das exceções.

Mas a avenida existe.

Por exemplo.

As reservas brasileiras em dólar estão aplicadas predominantemente em títulos e papeis indexados à taxa de juro baixa do mercado internacional.

No primeiro trimestre deste ano o governo tomou empréstimos no mercado interno à taxa de juro média de 5%, para adquirir dólares dos exportadores.

Na aplicação desses dólares recebe juros de 0,16%.

A diferença entre o custo de comprar e o de carregar as reservas foi de R$ 48,358 bilhões nesses três meses. Ou seja, cerca de US$ 11 bi por trimestre; algo como US$ 44 bilhões/ano.

O desequilíbrio autoriza um exercício bastante preliminar de realocação de passivos e ativos que pode dar lastro financeiro ao resgate do futuro acuado hoje na crise da Petrobrás.

Passo um:

- se o governo brasileiro comprasse a metade da dívida externa da Petrobrás junto aos credores internacionais, com deságio, e gastasse nisso US$ 40 bi das reservas não abalaria seu air-bag de dólares, que cairiam para ainda expressivos US$ 340 bi.

Passo dois:

- abre-se assim um espaço para aliviar drasticamente o impasse de caixa da estatal, sem gerar prejuízo ao Estado.

Ao contrário.

A dívida que apenas trocou de mão seria alongada e indexada a barris/equivalentes de petróleo, com base na cotação média projetada para os próximos anos.

A Petrobrás recuperaria seu fôlego e a capacidade de reorganizar soberanamente a cadeia do pré-sal.

O carregamento das reservas brasileiras ficaria mais barato ao país.

Modelos semelhantes poderiam - deveriam - ser testados para sanear a cadeia das empreiteiras do PAC e do pré-sal trocando-se, no caso, a remuneração em barris por ações das respectivas companhias, com alívio para bancos credores e dividendos superiores à remuneração das reservas.

São especulações rudimentares, repita-se.

Exigem rigoroso trabalho de aprimoramento para a avaliação de sua consistência financeira.

O que fica claro é que há mecanismos de ajuste para além da lógica recessiva que faz apenas aprofundar gargalos existentes e criar outros novos.

Não é a ‘solução Elena Landau’ que aliviará o horizonte pesado das expectativas que ora asfixiam o investimento, o emprego, o consumo e a receita do governo.

A solução tucana tem sua consequência precificada na sulforosa receptividade que desfruta junto a círculos especulativos.

Irradia lógica sabida e sabichona.

Trata-se de empobrecer o Brasil para enriquecer fundos e capitais ansiosos por ‘comprar o país’ na bacia das almas de uma crise, em certa medida magnificada pelo autofalante conservador.

A alternativa consiste em ordenar a economia para servir aos interesses do mais importante credor de um país - seu povo. Impedir a rapina do patrimônio público é o requisito, no caso brasileiro, para evitar que se sonegue aquilo que Keynes enxergava auspiciosamente, em um texto de 1930, com ‘as possibilidade econômicas dos nossos netos’. A ver.

Afastem de nós esse cálice.

 Transcrito do Conversa Afiada, de PHA.


Comentários sobre o artigo “Afasta de ti esse cálice”, do Padim, publicado no Estadao dia 24 de set 15.
Os comentarios do Paulo Cesar Lima, assessor da Camara dos Deputados, para temas de petroleo, em resposta ao Cerra, estão em negrito.

Cerra (inicio do artigo):

Em 2010 foi aprovada Lei do Pré-Sal, ardorosamente defendida pela então ministra e candidata Dilma Roussef. A nova legislação obrigou a Petrobras a ser operadora única do pré-sal e bancar pelo menos 30% dos investimentos de cada um dos campos a serem licitados, sem exceção. Como a empresa foi asfixiada durante a era petista – sua dívida atinge hoje R$ 500 bilhões! – ela não terá tão cedo condições de desempenhar esse papel. O país seguiria perdendo investimentos, produção, receitas de bônus de assinatura, royalties e deixando de gerar empregos.

Paulo Cesar Lima: A empresa não foi asfixiada na era petista. Ao Volta o contrário, a empresa:

−     descobriu o Pré-Sal, o que mais que triplicará as reservas da Petrobras, a partir de altíssimos investimentos,;

−     perfurou, apenas no Pré-Sal, mais de 170 poços, sendo que 52 já em operação com uma produção de 1 milhão de barris equivalentes de petróleo por dia;

−     retormou os investimentos em refino;

−     recuperou suas instalações, que, por falta de engenharia e manutenção, geraram graves acidentes nos anos anteriores: rompimento de duto na Baía da Guanabara, vazamento em junta de expansão na Repar, afundamento da P-36 etc.

Para fazer tudo isso, o investimento aumentou de US$ 5 bilhões para U$ 40 bilhões por ano. Por isso sua dívida aumentou, mas seus ativos, incluindo os cerca de 60 bilhões de barris de óleo recuperável, têm um valor real dez vezes maior que sua dívida. O ativo contábil da Petrobras não representa seu ativo real. Como em tudo na vida, há o tempo do plantio e o tempo da colheita. O lucro operacional da Petrobras em 2014 foi de R$ 80 bilhões. E vai aumentar muito nos próximos anos com o aumento da produção no Pré-Sal.

De volta ao Padim:

Por isso mesmo apresentei logo no início de meu mandato no Senado um projeto de lei (PLS 131) para liberar a Petrobrás dessa obrigação que atrapalha sua recuperação e prejudica a retomada do crescimento do País. Se aprovado o PL, a produção do pré-sal poderá ser ampliada por investidores privados, dentro das regras vigentes. A Petrobrás manteria direito de preferência nos casos em que, eventualmente, manifestasse interesse. O PL substitui o ônus da obrigação pelo bônus da escolha.

Questões tão estratégicas quanto o acesso às reservas do Pré-Sal e sua produção não devem ser simples “bônus de escolha”. Essas questões não devem ocorrer por questões conjunturais ou de “mercado”. Em todos os países exportadores e com grandes reservas, como o Brasil, as reservas e a produção estão sob o controle de empresas estatais, como mostrado abaixo.
 


Ao Padim, de novo:

Por incrível que pareça, nossa proposta despertou reações ruidosas nas franjas jurássicas da esquerda. Apesar de desafinada, ela parece ter conquistado o maior poeta de nossa música, Chico Buarque. Quando ele foi jogar futebol com o pessoal do MST, recebeu informação do comissário Stedile, portador da espontaneidade dos apparatchik, sobre o projeto no Senado “que quer privatizar a Petrobras e com isso [nos fazer] perder os royalties para a saúde e a educação”. Ao que Chico teria proclamado: “o petróleo é nosso”! (ênfase minha - PHA)
Sim, “o petróleo é nosso” – a boa insígnia do passado aviltada como grito de guerra dessa mescla de partido e sindicatos que vem arruinando a empresa. Sim, o petróleo deve voltar a ser nosso e a Petrobras deve deixar de ser a Ptbrás.

O petróleo do Pré-Sal não deve ser da PTbrás, mas também não deve ser entregue às empresas privadas, como proposto. Ele deve ser do povo brasileiro. Essa deveria ser a proposta.

Ao Padim:

A seguir, quatro verdades sobre o PLS 131 que a esquerda patrimonialista tenta esconder.

O projeto não mexe no regime de partilha

O Brasil tem hoje três regimes de exploração do petróleo: a concessão, nas áreas licitadas no pós-sal e em terra antes de 2010; a partilha, para as áreas do pré-sal licitadas a partir de 2010 (o único campo já licitado foi o de Libra em 2013, que só deverá entrar em produção em 2020); e a cessão onerosa, que decorreu da capitalização da Petrobras pelo Tesouro em 2010, quando a empresa adquiriu o direito de explorar 5 bilhões de barris.

Pois bem, o PLS 131 não mexe em nada disso. Os três regimes serão mantidos e continuarão coexistindo.

O projeto deixa 100% do controle do pré-sal nas mãos do poder público brasileiro

Dizer que as empresas estrangeiras vão tomar o pré-sal é o tutu-marambá que os marmanjos jurássicos usam para criar sobressalto no coração das gentes. Mas no regime de partilha e no de concessões já é autorizada a participação dessas empresas. Tal diretriz corresponde exatamente ao fim do monopólio de exploração pela Petrobras, promovido em 1997, cujos benefícios ao país foram imensos. De 1997 a 2010, a produção da Petrobras cresceu 2,5 vezes, de 800 mil para 2 milhões de barris/dia!


A produção da Petrobras cresceu porque 92% da produção do Brasil é operada pela empresa. Tirar a operação da Petrobras vai diminuir sua participação na produção nacional. Essa será a consequência da aprovação do PLS 131.
 O Padim insiste, tenta :

Mais ainda, os adversários do projeto escondem que a Lei da Partilha dá ao chefe do Executivo a prerrogativa de conceder à Petrobrás – sem licitação e por decreto – a exploração de qualquer campo, se for do interesse nacional. Reafirmo: se for descoberto um novo Kuwait no pré-sal, sua exploração poderá ser concedida diretamente à Petrobras.

Equivoca-se novamente o Senador. As fases de exploração e produção são objeto de um único contrato. Não existe a possibilidade de se descobrir um grande campo e “ser concedida diretamente à Petrobras”. Se um novo Kuwait for descoberto, ele será operado por quem o descobriu. Na verdade, o PL 131 permite que um novo Kuwait no Brasil seja de empresas privadas.
 
Cerra volta a exibir a sua ignorancia sobre a materia:

Tampouco dizem que uma empresa estatal, a Pré-Sal Petróleo S/A, estará presente nos consórcios que venham a explorar os campos licitados. Ela controla os aspectos relevantes da produção. E, se isso for pouco, a ANP – Agência Nacional do Petróleo – continua com todos os seus vastos poderes.

Apesar da importante presença da Pré-Sal Petróleo S/A, a tecnologia é, de fato, dominada pelos operadores. A Petrobras é a empresa que opera com menores custos e com maior segurança em águas ultraprofundas como as do Pré-Sal. Transferir essa operação representará maiores custos e, consequentemente, menores receitas para o Fundo Social e para as áreas de educação e saúde.
 
Ainda o Padim, no Estadao:
O projeto permite o aumento da receita de royalties para a educação e a saúde.

O Ministro da Educação disse que nosso projeto reduziria o repasse de recursos para o setor! É uma filosofia barata auxiliando o poeta a ser indiferente aos fatos. Como na letra de Noel Rosa, já cantada por Chico, o ministro finge ser rico de royalties para ninguém dele zombar, mas não tem dinheiro nem para pagar as contas do Prouni. É mentira que a educação e a saúde perderiam dinheiro com a aprovação do PLS 131. Ao contrário, se este virar lei, ampliará os royalties e participações destinadas aos dois setores, pois vai aumentar a produção.

Aliás, sobre o tema royalties/educação, vale lembrar que, neste ano, o orçamento federal autorizado para a educação é de R$ 112,7 bilhões, dos quais apenas R$ 1,2 bilhão foram executados até o momento com recursos de royalties. Um desmentido ao oba-oba petista sobre suas proezas na área.

O baixo valor de apenas R$ 1,2 bilhão são decorrentes da má distribuição dos royalties, consequência de Ações Direta de Inconstitucionalidade, como a do Governador do PSDB de São Paulo, ADI 4920, que faz com que os royalties sejam mal distribuídos e mal aplicados.
 

Cerra, e a infatigavel defesa da Chevron:

Segundo a recente revisão do plano de negócios da Petrobrás para 2015-2019, feita pela nova diretoria nomeada pela presidente Dilma, a empresa deixará de produzir 1,4 milhão de barris/dia em relação à meta do plano anterior. Se o PLS 131 ensejar a recuperação dessa produção, vai gerar receitas para a educação da ordem de R$ 20 bilhões anuais.

Qualquer área que venha a ser licitada como proposto pelo PLS 131 somente vai gerar produção comercial a partir de 2025. No período 2015-2019, essa proposta não representará nenhum recurso adicional para a área de educação. Os esforços devem ser no sentido de a Petrobras ter uma atuação estratégica. A visão da atual Diretoria Executiva da Petrobrás é ridícula.

Cerra ainda:
O projeto não altera o potencial de receita do pré-sal.

Os intelectuais do MST afirmam o contrário, lembrando o “tudo que o malandro pronuncia e o otário silencia”, da Festa Imodesta de Caetano Veloso que Chico costumava cantar. Dizem que o custo da Petrobras no pré-sal é de US$ 9 por barril de óleo equivalente (boe), e que o custo de outras petroleiras seria muito maior. Nove dólares? Isso é falso. Pelos dados da ANP, o custo no campo de Lula está em US$ 15,7 por boe. No campo de Sapinhoá, o custo médio é de US$ 14,0 por boe.
É mostrado pouco conhecimento sobre conceitos da indústria do petróleo, pois é comparado custo de extração com custo total de produção. O custo de extração é, de fato, US$ 9,1 por barril. Os custos de US$ 15,7 por boe, em Lula, e US$ 14,0, em Sapinhoá, são os custos totais de produção, sem considerar a participação governamental. Assim, o que foi dito não faz o menor sentido.
 
Cerra enfrenta o que chama de “intectuais do MST”…:
Toda a política de exploração do pré-sal chegou a um impasse manicomial devido à disputa sobre quem iria usufruir dos seus benefícios, sem nunca decidir sobre como fazê-los acontecer. Essa síndrome se repetiu em todos os investimentos da era petista – infraestrutura, mobilidade urbana, energia, etc. Quem pagou o pato foi a economia; e quem sofre as consequências é a sociedade, hoje assombrada pelo desemprego, a queda de renda das famílias e o pessimismo quanto ao futuro do país.

Ao contrário, a descoberta do Pré-Sal e a atuação da Petrobras geram emprego e renda no Brasil. O que gerará emprego e renda no exterior serão os pedidos de descumprimento de cláusulas de conteúdo nacional por empresas privadas, caso seja aprovado o PLS 131.

A conclusão original, genuína, tão hodierna quanto os conceitos do Fernando Henrique sobre o neolibelismo:

Pior: continuam oferecendo essa receita para o Brasil. Que a sociedade afaste de si esse cálice.


Caso aprovado o PLS 131/2015, haverá menos recursos para saúde e educação, diz José Maria Rangel

https://youtu.be/egUDjxE0wCE

As dez maiores operadoras de petróleo do mundo também tiveram prejuízo, alerta Vitor Luís Carvalho

https://youtu.be/TrhtB8oumwE

Os mistérios da Operação Zelotes

Por André Pereira no Sul 21

“Daqui a 50 anos, os livros de História descreverão 2015 como um dos anos mais conturbados da história republicana brasileira, mas vamos torcer para não ter que esperar pela arqueologia histórica para desencavar alguns dos mistérios mais intrigantes da Operação Zelotes. Alguns, aliás, já começam a ser esquecidos, tais são o ritmo e a quantidade de fatos. Ei-los, para refrescar a memória”.
1. AFONSO MOTTA. O nome apareceu na imprensa e foi noticiado por veículos do próprio grupo RBS mas o título da matéria foi: “Investigação cita deputado “ Só que Motta não é suspeito de suposta falcatrua como parlamentar federal do PDT e sim como dirigente da RBS. Fazendeiro da fronteira oeste, ele foi vice-presidente do grupo afiliado da Rede Globo até 2009. Há, claro, a atitude corporativa conhecida mas ,acima de tudo, impõe-se a criminalização da política, dos políticos, do homem público, e não do executivo da iniciativa privada.
2. R$ 565 BILHÕES. Porque uma operação que envolve suspeição sobre a cifra estratosférica de mais de meio trilhão de reais sonegados não tem uma só centelha da repercussão explosiva de outros escândalos de desvios de dinheiro público? Simples: envolve grandes empresários e empresa da mídia. Ou seja, patrocinadores dos conglomerados de comunicação. Isto é, a elite da iniciativa privada.
3. AUGUSTO NARDES. Também é nome que surgiu entre os suspeitos do esquema de corrupção. Nardes é gaúcho, ex-deputado do PP e tem posição política partidária, portanto. Como Motta, ele tem foro especial já que é ministro do Tribunal de Contas da União e será investigado pelo Supremo Tribunal Federal. E é ele que está com o processo da contas da presidenta Dilma sobre sua mesa de relator.
4. SANTO ÂNGELO. Foi uma das cidades gaúchas visitadas pela Policia Federal mas, ao contrário de outras operações fartamente televisionados com suspeitos levando algemados por policiais encapuzados, esta padeceu de estranho silêncio visual midiático. Neste município, segundo escassos informes, teriam sido aprendidos computadores de um parente de Nardes de quem ele foi sócio. Até o deputado federal Paulo Pimenta, relator da subcomissão de Fiscalização da Câmara dos Deputados, estranhou a inclusão de Santo Ângelo do interior do RS ao lado de capitais como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro que são centros políticos e econômicos do país.
5. JORNALISTAS INVESTIGATIVOS. Eles se auto intitulam assim e têm até clube com sócios cativos bem remunerados e melhor empregados. Mas até agora nenhum se dignou a escarafunchar as entranhas do escândalo da Zelotes. Sobre os crime da sonegação, silencia-se e, assim, sonegam-se informação aos leitores. É este o papel de jornalistas investigativos verdadeiros? Ou só mexem em conformidade com o que pensam e determinam os patrões?
6. SONEGAÇÃO CRIMINOSA. Se fosse evitada tão criminosa sonegação talvez o país não precisasse fazer o ajuste fiscal, com medidas tão amargas como as que estão sendo apresentadas. Se os empresários fossem honestos e pagassem o que devem é bem possível que o Brasil já tivesse avançado ainda mais em políticas públicas para os mais pobres. Ao promoverem tamanha sonegação os ricos e poderosos prejudicam a maioria da nação e o próprio Brasil.
7. VALORES ALTOS. Entre as 74 empresas investigadas, estão o Grupo Gerdau, com R$ 1,2 bilhão de crédito, a RBS com R$ 672 milhões e a Marcopolo com R$ 260 milhões.
8. IRREGULARIDADES VARIADAS. A propina aos conselheiros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) para os empresários apagarem dívidas tributárias envolvia, também, venda de sentença, negociação para indicar conselheiros, redução de valores de multa e até mesmo singelo pedido de vista do processo que prolonga indeterminadamente o julgamento.

André Pereira é jornalista.

domingo, 27 de setembro de 2015

Leonardo Boff explica porque é importante todo brasileiro conhecer Cuba

https://www.youtube.com/watch?v=FucA0NkXDJY

A Corrupção e o Sistema da Dívida - 2015

https://youtu.be/rRQHG5kd-Q0

Este papa é um amigo de Cuba'

Darío Pignotti, enviado especial a Havana. Extraído do site Carta Maior

  
“Gostaria de dizer ao papa, pessoalmente, o quanto eu estou agradecido pelo que ele fez por mim e pelos meus quatro companheiros”. Ramón Labañino Salazar é um dos cinco heróis cubanos condenados por um tribunal de Miami e liberados em dezembro de 2014, depois de 16 anos de prisão.

Salazar estava acompanhado por sua esposa, Elizabeth Palmeiro, quando concedeu esta entrevista exclusiva a Carta Maior, em uma antiga casona da Rua 17, que desemboca no Malecón, onde Francisco e seu papamóvel passaram na noite de segunda-feira (21/9), em sua despedida de Havana.

Depois dos cinco dias de visita ao país caribenho, Francisco voou rumo a Washington, e dali até Nova York, onde pronunciou um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta sexta-feira (25/9), sendo aplaudido por um Raúl Castro que retornou aos Estados Unidos após de 56 anos de uma guerra fria recentemente concluída.


– O fato de que Raúl receba o papa em Havana e depois viaje aos Estados Unidos para escutá-lo indica que as relações passaram a ser bastante amigáveis.

– É verdade, porque este é um papa diferente. Eu diria até que é um papa progressista, que fala bem dos nossos povos, que critica fortemente o capitalismo e as guerras. Ele é uma pessoa que observa claramente a situação internacional. É um amigo de Cuba. Ou seja, as coisas que ele faz e diz são realmente admiráveis, ainda mais vindas de um papa. Isso é algo que nunca havia acontecido e faz com que nos sintamos mais próximos a ele. Há muitos comentários sobre a participação dele no processo que levou à nossa liberdade, e tomara que algum dia eu possa conversar com ele sobre isso, eu gostaria muito de uma oportunidade dessas. Claro que ele, que é uma pessoa de modéstia infinita, não quis reconhecer essa ajuda, mas qualquer que tenha sido sua intervenção já é o suficiente para eu querer agradecer. Ele tem a nossa gratidão e a nossa admiração.

– Nesta viagem marcada por diversos sinais, o que a reunião entre Francisco e Fidel simboliza?

– Acho que estamos vivendo um momento histórico singular, a concretização de uma profecia. Há mais de 40 anos, perguntaram a Fidel quando terminaria o bloqueio a Cuba, e Fidel respondeu que seria quando o papa fosse latino e um presidente dos Estados Unidos fosse um negro. Fidel, com essa visão profética, visualizou a circunstância que vivemos hoje em Cuba. Se trata de um momento histórico singular, de futuro, de amor e de otimismo, porque demostra que os tempos estão sempre a favor da Revolução. Fidel sempre esteve certo, porque ele não é só um líder para a Revolução Cubana, e sim para o mundo, e o papa também simboliza esses valores universais. Isto é, a unidade de dois homens que lutam em favor dos pobres. Este encontro demonstra que a Revolução está mais firme e mais solidária que nunca.

– É possível que aconteça um encontro entre Raúl Castro e Barack Obama em Nova York?

– Não é impossível, eu acho que é possível, e parece que vai acontecer, sou otimista. É minha opinião pessoal, não é uma informação. Mas se Raúl e Obama se encontram na ONU, se produziria um fato de muita força simbólica. Com isso, Obama terá maior dimensão de estadista, e para Raúl também será importante, porque demonstrará a firmeza da Revolução Cubana, e que Cuba ainda é a mesma. Claro que, para que essa reunião aconteça mesmo, vai depender de que possam se encontrar no mesmo lugar e na mesma hora, em Nova York.

– Você foi condenado a mais de uma prisão perpétua. Quando Obama foi eleito, em 2008, você já estava preso há quanto tempo?

– Sim, minha pena era de mais de uma perpétua, e não sou o único dos cinco com uma pena tão grande, que foi dada em Miami, após um julgamento que parecia um circo romano, sem respeitar a lei. Em 2008, quando Obama ganhou a presidência nós, estávamos presos há dez anos, e desde que ele assumiu, houve uma mudança nas condições da nossa prisão.

– Melhoraram com Obama?

– Melhoraram radicalmente, foi uma mudança importante com relação ao que sofremos nos tempos de George W. Bush, quando nos proibiram as visitas de familiares por dois anos e meio. A partir de 2009, quando Obama tomou o poder, percebemos uma mudança. Em primeiro lugar, dando mais vistos aos nossos familiares, para poderem nos visitar. A atenção médica melhorou, eu já tinha problemas nos joelhos na época de Bush e não me atendiam, e com Obama eles vieram analisar a minha situação, fizeram raios X e me deram um cuidado diferente. Obama foi um sinal de esperança. Na cadeia, nós percebemos os tempos estavam mudando. O governo de Bush foi a época na qual mais membros da extrema direita cubano-americana ocuparam cargos no governo. Por exemplo, o senhor Otto Reich ocupou um lugar no Departamento de Estado, e também o senhor John Negroponte, outro que esteve em postos importantes. Tenho certeza que toda essa camada anti-cubana teve influência no aumento do nosso sofrimento na prisão.

– Você confia nos compromissos assumidos por Obama?

– Nós não acreditamos que o mundo vai mudar completamente graças ao Obama. Sabemos que ele pertence ao establishment norte-americano, que defende o capitalismo. Achamos que sua posição sobre Cuba é pragmática, ele entende que o confronto com Cuba fracassou, que as guerras, as ameaças, o bloqueio, o incentivo à subversão interna na ilha, nada disso deu certo. Hoje, Cuba está mais acompanhada que nunca internacionalmente e os Estados Unidos estão mais isolados do que nunca, isso se vê no tratamento que muitos líderes mundiais dão a Cuba. Por exemplo na visita da presidenta argentina Cristina Kirchner a Cuba, durante esta viagem do papa. Mas nós não dependemos somente do que o Obama faça, nós temos nossas virtudes, depois desses 56 anos de Revolução, da aprendizagem a respeito de como lidar com o imperialismo norte-americano, não somos tontos, não baixamos a guarda, sabemos, que apesar desta aproximação, eles continuam buscando se intrometer em nossos assuntos, mas agora são menos belicistas que antes. O império sempre vai querer dominar Cuba.

– Você acha que virão batalhas de outro tipo?

– Podem vir batalhas fortes, mas que vão se desenvolver num terreno diferente. No terreno dos investimentos estrangeiros, da compra de mentes, além da subversão interna, porque eles vão poder financiar com mais recursos os pequenos grupos de supostos dissidentes. Vão falar de uma suposta democracia, vão querer criar um segundo partido político, ou terceiro, tudo para dividir o nosso país. Ao abrir a embaixada (em agosto) o secretário de Estado (John Kerry) disse que pretende trazer a democracia, e nós lhe respondemos que Cuba já é um país democrático. Nós devemos tentar demostrar a qualquer pessoa que nossa democracia é muito mais real que a democracia dos Estados Unidos. Em Cuba não se gastam milhões em campanhas de publicidade durante eleições marcadas por promessas vazias. Em Cuba não há corrupção dentro dos partidos. Em Cuba, o melhor cidadão de cada quadra vai se elevando pouco a pouco e chega naturalmente a um nível político superior. Essa é a nossa democracia – que tem problemas, claro, mas muito mais fáceis de solucionar. O principal é que as pessoas estão no centro de tudo em Cuba.


“Eu morro como vivi”


Ramón Labañino Salazar nasceu em 1963, quando a Revolução tinha apenas quatro anos. Em 1965, nasceu Gerardo Hernández, o oficial de inteligência que comandou o grupo de agentes enviado a Flórida nos Anos 90 para impedir os ataques terroristas frequentes contra a ilha, perpetrados por grupos ultradireitistas, com a tolerância e/ou a cumplicidade de Washington.

Embora Salazar evite responder a pergunta sobre se os Cinco encabeçarão a futura dirigência revolucionária, fontes consultadas em Havana os indicam como potenciais protagonistas desta fase de “atualização”, já que se tratam de quadros políticos bem formados e por terem protagonizado uma façanha épica nas masmorras estadunidenses.

Há alguns anos, se dizia que todo cubano era especialista em contar histórias sobre Fidel e em falar de beisebol, o esporte nacional. Na atualidade, os cubanos sabem quem são os Cinco e muitos falam deles com um respeito que eles ganharam através de suas ações.

Pouco tempo depois de retornar a Cuba, no ano passado, Salazar e seus companheiros assistiram a um recital de Silvio Rodríguez, o maior nome da Trova Cubana – quem, em outros tempos, compartilhou alguns concertos com Chico Buarque.

Rodríguez convidou os Cinco Heróis a subir no palco para cantar com ele a canção “El Necio”, cuja letra defende os valores da Revolução apesar dos momentos difíceis e da chantagem permanente do império.

“Eles vêm me convidar a me arrepender, mas eu morro como vivi” diz um dos versos dessa canção, que durante 16 anos foi “o hino da resistência, quando estávamos no fundo do poço”, segundo contou o ex-prisioneiro Gerardo Hernández.


– O que você chama de fundo do poço?

– Quando fomos presos, no dia 12 de setembro de 1998, não nos levaram à prisão, e sim a um escritório do FBI, em Miami. Ali tivemos uma entrevista com oficiais, na qual, obviamente tentaram nos fazer trair o nosso país, o nosso comandante e a Revolução. Nos fizeram propostas para que colaborássemos. Nesses 16 anos, o governo dos Estados Unidos esteve constantemente pressionando para que colaborássemos, mas isso nunca aconteceu, porque somos fiéis à nossa pátria. Quando viram que não iríamos trair o nosso país, nos mandaram finalmente para a prisão, mas não uma prisão normal. Nos colocaram num minúsculo calabouço, onde permanecíamos por 24 horas, um lugar deplorável, sujo, úmido, um espaço de 2 por 3 metros, revestido de cimento sólido. Inventamos passatempos para suportar a prisão, jogávamos com uns dados rústicos que o Gerardo fez a partir de pedaços de pão, fizemos um xadrez com pedaços de papel. Esse calabouço foi feito para pessoas que cometem crimes dentro da prisão, quem mata outro preso, ou cria uma briga, mas nós fomos para lá somente porque éramos cubanos, sem ter cometido nenhuma infração. Nossa relação com os demais reclusos foi amigável, sempre nos trataram bem, houve respeito. Nos perguntavam sobre a Revolução, alguns inclusive mostravam simpatia para com o nosso processo, tinha gente que manifestava seu apoio. Essa simpatia se dava mais entre os negros e os latinos. Na medida em que eles descobriam que éramos agentes do Fidel, da Revolução, isso fazia com que tivessem mais respeito conosco. A maioria dos presos eram negros pobres, muitos por narcotráfico, por venda de maconha, por tráfico de cocaína, heroína. Eu ainda mantenho contato com alguns deles, alguns me ligam da prisão mesmo.

– Você pensa mais no passado vivido no calabouço, ou no futuro?

– Eu penso bastante sobre os anos na prisão, mas me preocupo mais com o futuro do meu país.

– Que rumo você acha que Cuba está tomando?

– Creio que estamos no caminho correto, ao ter decidido buscar melhores relações com os Estados Unidos, deixando muito claro que, apesar desse processo, nós vamos continuar trabalhando para fortalecer o nosso socialismo. Não fazemos esta aproximação dar uma guinada ao capitalismo. Não vamos perder o que conquistamos, isso está bem claro. Obviamente as intenções dos norte-americanos não são ajudar o nosso socialismo, nada disso. Eles querem destruir o nosso socialismo. Gostaria de dizer algo importante: tem gente que pensa que os norte-americanos vão investir amanhã mesmo, quando eles quiserem, e isso não é assim. Eles virão somente através dos investimentos que sejam aprovados por Cuba, quando sejam considerados benéficos. O capitalismo não vai solucionar os nossos problemas. O capitalismo vai jogar por terra todos os avanços. Cuba viveu 62 anos de capitalismo, passou a ser uma neocolônia dos Estados Unidos em 1898, quando roubaram a independência que havíamos conseguido na luta contra a Espanha. Portanto, Cuba sabe o que é o capitalismo. Nós vivemos numa sociedade saudável, com valores solidários, sem narcotráfico, sem violência, diferente da que existe nos Estados Unidos. O estilo de vida dos norte-americanos não é o que queremos. Em Havana não há McDonald´s, mas não sei se haverá dentro de algum tempo. Isso nós veremos no futuro. Se você já conhece os sanduíches do McDonald´s precisa provar as fritangas cubanas, que são feitas de pura carne, são deliciosas. Eu comi no McDonald´s quando vivia nos Estados Unidos e garanto que prefiro a fritanga, e não digo de má vontade, porque você sabe que aqui somos muito orgulhosos da nossa pátria e da nossa comida.

– Carlos Fuentes (escritor mexicano) disse alguma vez que México reconquistará a Califórnia através das tortilhas.

– Isso é uma grande verdade… porque há muito simbolismo na comida. Sembre devemos considerar a nossa cultura, pois nós somos latinos. Lembre-se sempre que a Revolução Cubana nasceu do povo, não foi imposta de fora. Eu resumo da seguinte forma: o nosso socialismo é tipicamente cubano.

– Cuba adotará um modelo econômico similar ao vietnamita?

– Como economista, eu estudei bastante tempo o que o Vietnã fez, e não sei se vamos tomar tudo dessa experiência, mas certamente há coisas positivas. Mas também há coisas negativas. Temos que ser criativos e saber nos adaptar às nossas condições objetivas e subjetivas, respeitando a nossa idiossincrasia, porque nem sempre o adequado para a cultura asiática é adequado para a nossa gente. Por exemplo, temos que buscar investimentos estrangeiros que se fiquem no país por bastante tempo. Não podemos permitir que o grande capital se forme em nosso país, ou que as grandes corporações se estabeleçam, que se apoderem pouco a pouco do território cubano. Tampouco devemos permitir que surjam supermilionários e que existam grandes diferenças com o resto do povo.

– Como acontece na China.

– Eu não aponto nenhum país como exemplo, prefiro dizer o que queremos em Cuba. Por exemplo, nós deveríamos atrair capitais cubanos que estão fora do país, capitais cubanos que sejam bons e que não estejam envolvidos com o terrorismo contra o nosso país. A inteligência está em fazer as coisas para conseguir maior bem-estar para o nosso povo, que haja menos problemas para a população, mas buscar isso a partir do modelo econômico cubano, não do vietnamita, nem do russo, nem de nenhum outro lugar.

Tradução: Victor Farinelli

Dívida pública brasileira e compressão do orçamento: O que resta aos trabalhadores?

http://www.dieese.org.br/notatecnica/2015/notaTec148divida.pdf

Mais coragem na defesa da Petrobrás e do petróleo




                                                                                  *José Álvaro de Lima Cardoso

        Segundo matéria da revista Carta Capital (24.09.15) o professor Raphael Padula, da UFRJ, em palestra no seminário “Uma estratégia para o Brasil, um plano para a Petrobrás”, dentre várias análises importantes, lembrou que “a geopolítica estratégica dos Estados Unidos é ameaça à soberania do Brasil sobre o pré-sal”. Segundo o professor, entre os 10 maiores importadores de petróleo, apenas China e Índia podem ser considerados fora do controle estratégico dos EUA. O que garante o apoio dos países aliados às políticas estadunidenses tanto no referente ao petróleo, quanto nas políticas econômicas mais gerais em defesa, por exemplo, dos postulados neoliberais (para aplicação nos países periféricos, claro). Para o professor, a estratégia dos EUA é a de impedir o surgimento de potências regionais no setor, especialmente em áreas de abundância de recursos naturais, como é o caso do Brasil, especialmente a partir das descobertas do pré-sal.
        A mudança na política externa brasileira adotada a partir de 2003 (política externa mais ativa e altiva) incomoda muito os EUA. O modelo proposto para a região é o de países com Forças Armadas limitadas, incapazes de defender suas riquezas naturais, especialmente o petróleo. Na sua palestra, o professor lembrou que, a partir do anúncio do pré-sal pelo Brasil, em 2006, os EUA reativaram a 4ª Frota Naval, voltada para o Atlântico sul e rejeitou a resolução da ONU que garantia o direito brasileiro nas 200 milhas continentais.
        A proposta dos entreguistas, como se sabe, é tirar a Petrobrás do caminho e possibilitar às multinacionais do petróleo a apropriação dos bilionários recursos existentes no pré-sal, que podem chegar a 300 bilhões de barris de petróleo. Tirar a exclusividade de exploração da área pela Petrobrás, por exemplo, que está no PLC 131 de Serra, é de interesse das petroleiras porque, dentre outras razões, é impossível controlar a “torneira” da extração do petróleo, a 300 km da costa. Segundo os engenheiros da Petrobrás, apenas com o “golpe da torneira”, o Brasil iria perder um sexto do valor do recurso previsto pela regulação atual. No meio do oceano, não tem como instalar um “hidrômetro” de petróleo que resista à fraude. A produção seria declarada com um valor inferior ao que foi realmente extraído, o que levaria à redução da arrecadação de royalties. A fraude geraria também um montante inferior de lucro, o que significaria uma menor contribuição para o Fundo Social.
        Esse é o cenário de fundo da questão do petróleo no mundo, que move, por exemplo, as tentativas de tornar a Petrobrás apenas mais uma empresa que disputaria as áreas do pré-sal, através de leilões. Por isso é estarrecedora a fraqueza e ambiguidade do governo e seus aliados, na defesa da Petrobrás e do pré-sal. Não fossem a mobilização dos petroleiros e a ação de alguns valorosos parlamentares nacionalistas, o projeto entreguista de Serra teria prosperado no Senado Federal. Outras ameaças no parlamento permanecem, incluindo a proposta de privatizar a Petrobrás - neste caso pronunciada com todas as letras e sem subterfúgios - e têm que ser combatidas com muita determinação e coragem.

*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.