Depoimento: José Álvaro de Lima Cardoso (supervisor
técnico do Escritório Regional do DIEESE em Santa Catarina)
Ao longo de 25 anos de estreita
convivência (física, inclusive, pois a sede do Sindicato é vizinha “de parede” do
DIEESE), tornei-me testemunha ocular do trabalho desenvolvido pela direção do Sindicato
dos Trabalhadores em Edifícios de Florianópolis. É trabalho árduo, feito com uma
categoria sofrida, explorada e que tem condição de trabalho bastante precária. Com o passar dos anos, através da convivência
e das lutas enfrentadas lado a lado, tornei-me um admirador dos líderes do
Sindicato e de suas muitas qualidades. Simplicidade, disposição para o trabalho
duro, bom humor - habilidades desenvolvidas pelas dificuldades trazidas pela
vida – são algumas das características do pessoal da direção da entidade. Na
realidade, é claro, essas são qualidades da própria categoria, de onde surgem
seus líderes e dirigentes sindicais. Pessoas de história densa e sofrida, que vêm
do interior do estado, ou mesmo de estados vizinhos, para vencer: ter um
emprego, uma casa, constituir uma família; conquistar, na garra, vida digna.
Chama atenção como o Sindicato consegue
conciliar um forte trabalho de base, (fazendo visitas permanentes aos
trabalhadores em seu postos de trabalho), com uma adequada visão dos grandes
temas de interesse nacional. A ação do Sindicato está longe de ser meramente
corporativa. Apesar de contar com apenas dois diretores liberados, essa direção
está sempre presente nos eventos da sua central (a CUT), nas atividades
promovidas pela FECESC, nos debates sobre temas diversos organizados pelo
DIEESE. Em função dessa ativa participação nas atividades coletivas, a direção
tem clareza das grandes lutas e dos grandes temas dos trabalhadores brasileiros.
Os dirigentes do Sindicato, mesmo os não liberados, têm opinião formada sobre
salários, salário mínimo, emprego, renda, questão de gênero, racial, enfim, dos
grandes temas relacionados aos trabalhadores.
As limitações de escolaridade dos
trabalhadores da base, não atrapalham a comunicação entre estes e os dirigentes
sindicais. Os sindicalistas desenvolveram com o tempo uma compreensão das
possibilidades e limitações de sua base, o que possibilita encaminhar as
discussões com fina pedagogia e entendimento das especificidades da categoria. Esse
tipo de habilidade não é fácil de se desenvolver, ela só amadurece com esforço,
perseverança e convivência permanente com os trabalhadores, através das
conversas e troca de ideias. O Jornal do Sindicato, por exemplo, ao invés de
ser enviado pelos Correios, é entregue pelos dirigentes, de mão em mão,
oportunidade ímpar para troca de ideias, de informações, críticas e/ou
sugestões. É um trabalho difícil, que não é pra qualquer um, e é feito com
esmero e dedicação.
Tivemos uma amostra decisiva das
qualidades do Sindicato por ocasião da luta pela implantação dos pisos
estaduais em Santa Catarina, vitoriosa em 2009. O
movimento sindical catarinense empreendeu uma batalha de (no mínimo) três anos
para implantar os pisos estaduais, a partir de meados de 2006. A unidade e a
perseverança do movimento sindical catarinense foram imprescindíveis em toda a
caminhada até setembro de 2009 quando a Lei 459/09 foi aprovada. Vigentes a
partir de janeiro de 2010, os pisos significaram ganhos reais expressivos para
os pisos das categorias, naquele ano, especialmente os mais baixos. A direção
do Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios, percebendo que era uma luta
fundamental para os trabalhadores em geral, e para a categoria que representa,
assumiu a campanha e foi decisiva em todos momentos da mesma, nas reuniões, na
negociação, na divulgação e na coleta de assinaturas pela emenda popular,
empreendida em 2009.
Os trabalhadores
que o Sindicato dos Edifícios representam, é o que existe de melhor entre nós,
brasileiros. Gente que luta, que produz, que ama o Brasil e que extrai o
sustento do suor honesto do seu rosto. Neste momento perigoso do Brasil, em que
a economia sofre um processo de desnacionalização e em que os “reis do
camarote” são prestigiados por uma parte expressiva da mídia, mais do que nunca
é fundamental valorizar o que temos de melhor no país.
25/11/3013.
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