quinta-feira, 30 de junho de 2011

Commodities já representam 71% das exportações do país

 
 Marta Watanabe | De São Paulo
 
 
 
   As commodities representaram 71% do valor total exportado pelo Brasil no acumulado de janeiro a maio deste ano. No mesmo período do ano passado a participação das commodities foi de 67%. As vendas ao  exterior desse tipo de produto avançaram em ritmo mais acelerado do  que as de manufaturados. Nos primeiros cinco meses do ano, a exportação de commodities cresceu 39,1% em relação a igual período de 2010, enquanto os embarques de manufaturados subiram 15,1%.O cálculo é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e não considera somente as commodities classificadas pelo Ministério do  Desenvolvimento (Mdic) entre os básicos. Ela leva em consideração também as commodities classificadas como semimanufaturados e também as que, em razão de incorporarem alguma industrialização, estão enquadrados nas estatísticas oficiais como manufaturados. Entre as commodities industrializadas estão açúcar refinado, combustíveis, café solúvel, alumínio em barras, entre outros. "Isso significa que temos 71% de nossas exportações baseadas em commodities. Ou seja, em produtos cujos preços não controlamos", diz José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele lembra que o avanço dos produtos primários na pauta de exportação brasileira se intensificou desde 2009. Naquele ano, a fatia das commodities nas vendas ao exterior era de 65,6%. No ano passado todo, foi de 69%.
 
O aumento de participação do total das commodities foi influenciado, principalmente, pelo avanço dos produtos mais básicos, cujas exportações subiram 45,6% de janeiro a maio de 2011, na comparação com o mesmo período do ano passado. As commodities beneficiadas e as industrializadas, classificadas pelo Mdic entre os semimanufaturados e manufaturados tiveram, respectivamente, crescimento de 30,9% e 20,5%
ainda um ritmo mais acelerado que o dos produtos manufaturados de maior valor agregado, que tiveram aumento de 15,1%.
Enquanto os produtos primários avançam nos embarques brasileiros, diz Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), a balança comercial de manufaturados no Brasil vem acumulando déficitscada vez maiores.
 
De acordo com levantamento do Iedi, no primeiro trimestre do ano passado a indústria brasileira de manufaturados teve déficit de US$ 7,5 bilhões. O saldo negativo saltou para US$ 10 bilhões nos primeiros três meses de 2011. No acumulado do ano passado, o déficit chegou a US$ 35 bilhões. "Para este ano estimamos que esse valor ultrapasse os US$ 50 bilhões."
O que explica o avanço das commodities foi basicamente preço, diz Castro. No acumulado de janeiro a maio, o valor exportado em minério de ferro cresceu 107,3% em relação aos primeiros cinco meses do ano passado. No período, o volume exportado cresceu 4,49% enquanto o preço subiu 98,4%. A soja exportada aumentou 22,7% em valores. De novo, foi o preço quem comandou o crescimento, com alta de 30,7%, enquanto o volume embarcado caiu 6,2%.
Os preços dos produtos primários, lembra Souza, não seguem apenas o movimento de oferta e demanda. "Esses preços são pressionados também pelo mercado secundário, que pode buscar outros ativos mais rentáveis a qualquer momento", diz ele. Para castro, "há ainda uma grande liquidez no mundo, embora os preços das commodities nos últimos meses tenham mostrado que há uma certa saturação nesses mercados. Em termos de demanda, lembra Castro, a exportação brasileira de commodities está fortemente baseada no crescimento econômico da China.
Se houver desaceleração do crescimento chinês o impacto na demanda será global e isso contribuirá para reduzir mais rapidamente o valor das exportações brasileiras do que o das importações, diz Souza. A volatilidade de preços das commodities é muito alta e tem efeitos imediatos, explica o economista do Iedi.
Já os preços dos manufaturados, que representam 80% da importação brasileira, diz Castro, vão demorar a sentir o recuo. "Os manufaturados têm contratos fechados por prazos mais longos e há maior fidelidade ao fornecedor."
 
Castro lembra ainda que alguns mercados importantes de manufaturados brasileiros, como os países da América do Sul, têm economia atualmente impulsionada por um motor semelhante ao brasileiro: a exportação de commodities. "Caindo a capacidade de exportação desses países, haverá também menor demanda para importação, o que afeta as vendas brasileiras de manufaturados ao exterior."
O resultado para o Brasil pode ser uma redução de superávit ou geração de déficitcom os efeitos resultantes nas contas fiscais e eventualmente na inflação.
Castro acredita, porém, que o atual cenário deve ser mantido pelo menos até o fim de 2011. Importantes produtos na pauta brasileira de commodities, como a soja, por exemplo, diz, já foram vendidas. "Os contratos foram fechados, com preços já definidos. O grão só não foi entregue", diz. O minério de ferro, outro item primário importante, já está com o preço para o terceiro trimestre definido. "O quarto trimestre ainda está em aberto, mas deve manter patamar de preço semelhante ao atual, a menos que haja alguma mudança repentina no mercado externo."

quarta-feira, 29 de junho de 2011

PAC 2009: empresas comerciais empregam 8,8 milhões de pessoas

Em 2009, as 1,47 milhão de empresas comerciais em funcionamento no país ocupavam cerca de 8,8 milhões de pessoas e geraram R$ 1,6 trilhão de receita operacional líquida (receitas brutas menos as deduções de impostos e contribuições, vendas canceladas, abatimentos e descontos incondicionais). Ao longo do ano, foram pagos R$ 95,1 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações. Essas e outras informações fazem parte da Pesquisa Anual de Comércio (PAC) 2009, que descreve as características estruturais do comércio em três grandes divisões (comércio varejista, comércio por atacado e comércio de veículos automotores, peças e motocicletas) nos níveis Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. A publicação completa da pesquisa está disponível na página www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/comercioeservico/pac/2009/.

Economia subterrânea representa 18,3% do PIB nacional


O Globo - 29/06/2011

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Pesquisa de Etco e FGV calcula que a produção informal de bens e serviços no país foi de R$663 bi em 2010
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Mariana Durão
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A economia subterrânea, que engloba a produção de bens e serviços não reportados ao governo, movimentou R$663,4 bilhões em 2010. O montante corresponde a 18,3% do PIB, aponta o Índice de Economia Subterrânea divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) e calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) com base na demanda por moeda e dados do IBGE sobre o mercado de trabalho. O percentual se manteve próximo ao apurado em 2009 e 2008 (18,5% e 18,7%), o que revela que a economia informal continua praticamente no mesmo patamar há três anos. O indicador vinha caindo com mais força até 2008.

De 2003 a 2008 o tamanho da economia subterrânea em proporção ao PIB caíra de 21% para 18,3%. O pesquisador da FGV Fernando de Holanda Barbosa Filho diz que isso pode significar que já houve formalização de parcela importante da economia e que, daqui em diante, o processo será mais lento. Segundo ele, a expectativa para 2011 é de queda gradativa.

- A economia subterrânea está crescendo um pouco menos que a economia formal. Mas a única forma de haver uma queda abrupta seria por mudanças institucionais em fatores que estimulam essa economia, como a forte carga tributária e os altos custos trabalhistas no país - diz Barbosa Filho.

O economista cita ainda a elevada corrupção no país e a queda na participação de itens manufaturados nas exportações como fatores que impedem uma maior redução do tamanho da economia subterrânea. Por outro lado, a economia aquecida impulsiona a formalização, exigida para acesso ao crédito por empresas e pessoas físicas.

Volume movimentado ainda é muito significativo

Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da CNC, diz que o aumento da informatização e uso do dinheiro plástico (cartões) também têm dificultado a expansão da informalidade. Para Freitas, a melhora da renda é outro ponto favorável, pois leva ao consumo de serviços mais sofisticados.

O fato, destaca o Etco, é que o volume absoluto movimentado pela economia subterrânea ainda é muito alto. O total apurado em 2010 superou a previsão divulgada em novembro passado pela instituição, de R$656 bilhões. Também é maior que os R$632,9 bilhões de 2009.

- A economia subterrânea não cresceu tanto quanto o PIB, mas não diminuiu. Se o país mantiver ritmo satisfatório e aperfeiçoar a legislação tributária e trabalhista, o que é uma incógnita, ainda faltará muito para chegarmos a níveis de países da Europa e EUA - diz o presidente executivo do Etco, embaixador Roberto Abdenur.

Por que o carro é mais barato na Argentina e no Chile?

Veja no link

http://omundoemmovimento.blog.uol.com.br/arch2011-06-01_2011-06-30.html#2011_06-27_18_42_25-142809534-0

sexta-feira, 24 de junho de 2011

É o Barça que faz Messi melhor


Clóvis Rossi | Para o Valor, de São Paulo
24/06/2011
    

Reuters
A celebração da vitória na Liga dos Campeões da Europa, no dia 28: Guardiola entendeu que dar total liberdade ao jogador argentino e fazer a equipe atuar em função dele era a melhor tática
É relativamente simples explicar o que parece um mistério, o fato de Lionel Messi não conseguir ser, com a seleção argentina, o melhor jogador do mundo que vem sendo com a camisa do Barcelona, há dois anos consecutivos.
A explicação está em La Masía, o centro de formação de jogadores do Barça, uma usina de craques.
La Masía modela seus jogadores não com uma tática nem mesmo com uma estratégia, mas com uma cultura de jogar o futebol até aqui inimitável. O princípio básico é elementar: ficar com a posse de bola o maior tempo possível. Por definição, quem está com a bola não pode sofrer gol e é proprietário do único instrumento capaz de produzi-los, a bola, naturalmente.
É claro que ter a bola apenas não basta. É igualmente essencial tratá-la com sumo carinho, arte em que os meninos de La Masía são educados literalmente desde criancinhas (o próprio Messi chegou ao Barça com apenas 13 para 14 anos).
É essa meninada, alguns já não tão meninos, e é essa cultura que cercam Messi e lhe oferecem as condições ideais para que seu talento natural apareça.
Toda a espinha dorsal do Barça é formada em La Masía, do goleiro Victor Valdés ao atacante Pedro Rodríguez, passando pelos zagueiros Carles Puyol e Gerard Piqué, pelo meio-campista Sérgio Busquets e chegando ao coração, pulmões e alma da equipe, Xavi Hernández e Andrés Iniesta.
Com esse, digamos, círculo íntimo, fica mais fácil brilhar. Já na seleção argentina dos anos Messi não há nem remotamente uma orquestra parecida. Basta uma comparação para entender a diferença: Javier Mascherano é titular do meio de campo da Argentina, mas, no Barça, é irremediável reserva. Só se tornou titular no fim da temporada 2010/11 como zagueiro e, assim mesmo, porque Puyol se machucou.
Não é apenas a ilustre companhia que facilita a vida de Messi no Barça, mas não na seleção argentina. Pesa também o fato de que o técnico Josep Guardiola - de resto outro produto de La Masía, primeiro como jogador e depois como treinador do Barcelona B - entendeu que dar total liberdade ao jogador argentino e fazer a equipe atuar em função dele era a melhor tática.
É impossível definir a posição de Messi no Barcelona de acordo com os códigos tradicionais no futebol. Nem é ponta-direita (ou esquerda) nem é centroavante nem é meia. É tudo isso ao mesmo tempo, além de não ter o pudor que muito craque tem de recuar para ajudar a defender.
A reverência a um jogador fora de série ficou ainda mais nítida na definição do prêmio de melhor jogador do mundo. Uma lei não escrita diz que o prêmio vai para um jogador campeão do mundo de seleções, em anos em que se disputa a Copa do Mundo. Em 2010, houve Copa, a Espanha levou e, por isso, os candidatos naturais ao troféu eram Andrés Inieste, autor do gol que deu o título aos espanhóis, e Xavi Hernández, o motor também da seleção.
Contrariando a prática usual, Messi levou o troféu, mas não houve muxoxos entre os companheiros derrotados do Barcelona. Todo o grupo sabe que Messi é, com ou sem o título oficial, o melhor do mundo, pelo menos quando se veste de "blau-grana" (azul e grená, as cores do Barça).
Não há essa reverência na seleção argentina. Nem mesmo de parte da torcida. O normal é que o torcedor tenha mais carinho por jogadores de seu clube, mesmo quando está na equipe nacional. O fanático do Boca Juniors ou o do River Plate - os dois clubes mais tradicionais do futebol argentino - valoriza mais quem veste ou já vestiu a camisa de seu clube.
Messi vestiu apenas a do Newell's Old Boys, da cidade de Rosário, e assim mesmo como infanto-juvenil (saiu para a Espanha com apenas 14 anos, lembre-se).
Se no Barça encontra companheiros, alguns desde criança, na seleção argentina encontra adversários. Seu companheiro habitual no ataque chama-se Gonzalo Higuaín, que, na Espanha, joga pelo Real Madrid, o mais feroz adversário do Barça. No Barça, Messi encontra vizinhos de uma cidade relativamente pequena. Já a seleção é uma coleção de gente vinda dos mais diferentes pontos, até da Argentina.
Formar uma equipe nessas circunstâncias é incomparavelmente mais difícil, o que significa que a seleção argentina não pode conseguir jogar ao nível do Barça. Posto de outra forma, não é apenas Messi que não joga na Argentina como o faz no Barça; é a Argentina que não joga, nunca, como o Barça o faz quase sempre.
A culpa, pois, se culpa há, não é do jogador, mas dos fatos da vida pura e simplesmente.
Clóvis Rossi é jornalista da "Folha de S. Paulo" e feliz torcedor do Barça

Antecedentes da catástrofe grega

Divulgado no site Carta Maior

Por trás das multidões desesperadas que afluem às ruas e cercam o parlamento tentando retomar o controle sobre o seu destino – incapacidade que está no cerne da tragédia grega clássica - existe uma história de conflitos sociais devastadores. Ela explica, em parte, como foi que se chegou ao atual desfecho expresso em uma dívida externa de 30 mil euros per capita, democraticamente atribuída a cada um dos 11,9 milhões de habitantes do país.

A Grécia não é apenas um bloco monolítico de oprimidos, acossados pelo poder financeiro mundial. A opressão financeira ganhou vertiginosa transparêndcia nos dias que correm. Mas por trás das multidões desesperadas que afluem às ruas e cercam o parlamento tentando retomar o controle sobre o seu destino – incapacidade que está no cerne da tragédia grega clássica - existe uma história de conflitos sociais devastadores. Ela explica, em parte, como foi que se chegou ao atual desfecho expresso em uma dívida externa de 30 mil euros per capita, democraticamente atribuída a cada um dos 11,9 milhões de habitantes do país.

Sob a sanguinária ditadura dos coronéis, que dominou a Grécia de 1967 a 1974, a elite local viveu um período de fastígio e evasão fiscal ímpar no planeta. Grosseiramente pode-se dizer que o endividamento externo que hoje passa de 115% do PIB serviu de biombo à complacente justiça fiscal dos quartéis.

Pesquisas indicam que sob o tacão dos coronéis menos de 100 mil abnegados pagavam imposto de renda na Grécia. Um Olimpo de transgressores. Conta-se que uma tentativa de afrontar a evasão com o rastreamento aéreo das piscinas encravadas nas mansões da plutocracia local foi driblada por uma corrida às capas de grama sintética, que confundiam as imagens dos satélites. Ao restaurar a democracia, a esquerda não teve a coragem de retirar as capas que recobriam privilégios e caixas milionários de investidores, empresas e bancos.

O endividamento externo persistiu como a solução de compromisso na busca da linha de menor resistência. Com o ingresso na UE, os controles ficaram mais rígidos. Como se sabe, pelo Tratado de Maastricht, um país membro não pode ter déficit fiscal superior a 3%. A saída encontrada pelos governantes para contornar a linha fiscal estreita foi pagar polpudas consultorias a grandes bancos norte-americanos e financeiras, como a indefectível Goldman Sachs, hábeis em montar operações de engenharia contábil para manter a irrigação do caixa público sem afrontar Maastricht, nem penalizar a elite local.

As capas de grama sintética cederam lugar então a um longo manto tecido pela criatividade deliquente da grande finança. Um dos artifícios chancelados pelo selo da Goldman Sachs foi penhorar receitas futuras do Estado grego, em troca de antecipações de recursos, naturalmente subtraídas taxas e descontos polpudos para a remuneração do intercurso entre consultores e bancos credores.

O saque ao futuro incluiu, por exemplo, anos e anos de taxas de embarque e desembarque em aeroportos, penhorados pelo Estado grego. Como o dinheiro antecipado foi gasto em outras áreas, é de se supor que o futuro do tráfego aéreo no país, desprovido de fundos para novos investimentos, terá sérios problemas pela frente. A irresponsabilidade ganha cores berrantes quando se sabe que o turismo representa mais de 14% do PIB grego.

O fato é que durante anos, o Estado se endividou sem registrar o rombo como déficit público, graças aos meninos espertos da Goldman Sachas. Quando estourou a crise mundial, a retração dos investidores pôs em xeque a ciranda grega e o déficit verdadeiro explodiu. Muito superior ao limite previsto pela UE, imaginou-se inicialmente que ele seria de 10,5%, tendo sido revisto agora para algo em torno de 12%, mas alguns acham que pode ir além. É nessa quadratura do círculo que os pacotes ortodoxos negociados pelo governo socialista de Papandreu pretendem transferir à população –na forma de cortes de serviços, salários, privatizações e, ah, sim, impostos— a tarefa de sanear décadas de ladroagem fiscal e covardia política. Assim fica mais fácil entender a fúria da multidão que cercou o Parlamento grego no centro de Atenas, na última terça-feira, quando 155 deputados eleitos pelo povo deram seu voto de confiança à forma como o ministro Papandreu busca resolver esse passivo histórico. 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

"Top Models" tem olhar carinhoso sobre mundo de modelos

Por: Alysson Oliveira, do Cineweb
Publicado em 16/06/2011, 17:04
Última atualização às 17:04



"Top Models" tem olhar carinhoso sobre mundo de modelos
Gisele Bündchen fala sobre sua experiência como modelo (Foto: Divulgação)
São Paulo - O documentário "Top Models - Um Conto de Fadas Brasileiro" é um retrato carinhoso do universo das modelos nacionais nos bastidores de desfiles e em sua ascensão no mundo da moda.
O filme é dirigido por Richard Luiz, um dos mais conhecidos documentaristas de desfiles de moda no país, que há mais de uma década trabalha com a São Paulo Fashion Week.
Veio da semana da moda, aliás, a ideia de fazer esse documentário, que traz nomes como Gisele Bündchen, Caroline Ribeiro, Shirley Mallman e Mariana Weickert. A narradora é uma jornalista - a voz é da atriz Alice Braga - que funciona como alter ego do diretor e também amarra o texto.
São histórias interessantes, mas, no fundo, todas muito parecidas. Meninas de classe média e de cidades do interior que foram descobertas ao acaso ou patrocinadas pelos pais para chegarem aonde estão. Todas contam sua trajetória e relembram das dificuldades de alcançar o sucesso. E agora respiram aliviadas.
"Top Models - Um Conto de Fadas Brasileiro" é um filme sobre modelos, para modelos e aspirantes à profissão. Conhecer a trajetória de bem-sucedidas pode ser uma inspiração para aquelas garotas que almejam esse posto. Durante sua primeira metade, o documentário acompanha a novata Luana Dachery - jovem que começava na carreira na época das filmagens e, até hoje, ainda não estourou.
As primeiras imagens do filme mostram um contraste: o começo do dia para Luana e para uma modelo de sucesso. As ações são até parecidas, mas os cenários e adereços bem diferentes. Ao final, enquanto a iniciante entra num ônibus, a veterana desfila pelas ruas num carro guiado por motorista.
Falta ao filme, porém, um olhar um pouco mais crítico sobre o tema. Problemas como a bulimia e as drogas são tocados de leve, e outras questões, como assédio, passam batidas.
Apenas Caroline Ribeiro comenta sobre badalações que não gosta de frequentar. E ela dispara um comentário bastante sensato sobre a inutilidade de ir a uma dessas festas, mesmo com a insistência de seu agente: afinal, ela explica, nesses locais as pessoas estão tão fora de si que é pouco provável que, no dia seguinte, quando forem analisá-la num teste, vão lembrar-se dela.
A boa notícia é que os lucros do filme serão revertidos para a unidade de Onco Hematologia Pediátrica Erik Loeff, em Salvador.
Veja o trailer do filme

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Segundo o IBGE, em maio, a taxa de desocupação foi de 6,4%


taxa de desocupação foi estimada em 6,4%, a menor para o mês de maio desde o início da série (março de 2002) e igual ao resultado apurado em abril. Em comparação a maio de 2010 (7,5%), recuou 1,1 ponto percentual. A população desocupada (1,5 milhão de pessoas) não apresentou variação em relação ao mês anterior. Frente a maio do ano passado, apresentou queda de 13,7% (menos 242 mil pessoas a procura de trabalho). A população ocupada (22,4 milhões) apresentou estabilidade em comparação com abril. No confronto com maio de 2010, ocorreu elevação de 2,5% nessa estimativa, representando um adicional de 552 mil ocupados. O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado (10,8 milhões) não apresentou variação significativa frente a abril. Na comparação anual, houve uma elevação de 6,7%, representando um adicional de 676 mil postos de trabalho com carteira assinada.
rendimento médio real habitual dos ocupados (R$ 1.566,70, o valor mais alto para o mês de maio desde 2002) apresentou alta de 1,1% na comparação mensal e de 4,0% frente a maio do ano passado. Amassa de rendimento real habitual (R$ 35,5 bilhões) ficou 1,6% acima da registrada em abril e cresceu 6,6% em relação a maio do ano passadomassa de rendimento real efetivo dos ocupados(R$ 35,3 bilhões) estimada em abril de 2011 subiu 1,5% no mês e 6,9% no ano.
A Pesquisa Mensal de Emprego é realizada nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. A publicação completa da pesquisa pode ser acessada na página www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/.

Faz sentido controlar a inflação elevando a Selic?

Fernando Ferrari Filho e Andre de Melo Modenesi

21/06/2011

Nos últimos anos, os mercados de commodities têm sido influenciados pelo processo de globalização financeira, entendida como financeirização da riqueza. Nesses mercados, tem-se observado uma dinâmica especulativa na formação de seus preços. Esse comportamento especulativo dos preços das commodities, especialmente agrícolas e energéticas, explica boa parte das pressões inflacionárias globais, em 2007 e 2008. Essas pressões voltaram à tona no segundo semestre de 2010 e têm sido um dos principais responsáveis pela inflação mundial.
Como resposta a esse tipo peculiar de inflação - que vem pelo lado dos custos e, não, da demanda -, as autoridades econômicas internacionais adotaram políticas de elevação dos juros. Em uma situação em que a recuperação da economia mundial está longe de consolidada, essas autoridades deveriam elevar os juros para conter os efeitos (secundários) sobre a inflação doméstica oriundos de choques exógenos protagonizados pela alta das commodities?
No Brasil, infelizmente, o Banco Central (BC) parece entender que sim. Em linha com o regime de metas de inflação, a Selic é tida como o instrumento mais indicado para debelar as pressões inflacionárias - independentemente de sua natureza.
Assim sendo, com o intuito de desaquecer a economia e, portanto, conter o avanço dos preços, iniciou-se novo ciclo de alta da Selic no ano passado (atualmente ela se encontra em 12,25%). Todavia, a despeito das recorrentes elevações da Selic, a inflação brasileira continua se acelerando. Por uma razão muito simples: a inflação brasileira, assim como a de outros países emergentes, não é predominantemente de demanda.
Seguiremos batendo recordes mundiais de juros, sem que a inflação se reduza de forma contundente
Vejamos, portanto, nosso argumento de que a atual inflação brasileira não decorre de um excesso de demanda. Nos últimos 12 meses, entre junho de 2010 e maio de 2011, o IPCA acumulou alta de 6,55%. A contribuição, aproximada, de cada grupo de produtos para o referido valor foi a seguinte: alimentos e bebidas, 2,0%; transportes, 1,1%; educação, 0,6%; despesas pessoais, 0,8%; vestuário, 0,5%; habitação, 0,8%; saúde e cuidados pessoais, 0,6%; artigos de residência, 0,1%; e comunicação, 0,1%. Os grupos alimentação e bebidas e transportes - influenciados pelo choque internacional das commodities - foram responsáveis por quase metade da inflação, nos últimos 12 meses.
Considerando-se que a inflação brasileira deriva, fundamentalmente, de choques de preços internacionais, contrair a política monetária não é a solução mais apropriada. Além disso, vale lembrar que, em condições normais, conter a inflação com origem no lado da oferta por meio de elevação da taxa básica de juros acaba gerando um sacrifício adicional.
Por quê? Porque, por um lado, atua-se meramente sobre os sintomas e não sobre as causas da inflação. Nesse caso a política monetária meramente conteria os efeitos secundários da inflação importada: ao retrair a atividade, coibiria o repasse dos preços externos para os preços domésticos. Por outro lado, porque, ao se restringir a política monetária amplia-se o impacto recessivo de uma elevação dos custos de produção.
Isso é verdade, mesmo na hipótese de que o mecanismo de transmissão da política monetária funcione perfeitamente. A questão é que, no caso brasileiro, esse mecanismo não tem funcionado adequadamente. Nesse sentido, pode-se explicar a persistente coexistência de taxas reais de juros anomalamente altas (somos recordistas nesse critério) com níveis relativamente elevados de inflação. Em outras palavras, o IPCA tem-se mostrado pouco sensível ao nível de atividade econômica. Portanto, o BC não tem sido capaz de trazer o IPCA para a meta de inflação (4,5% ao ano), apesar das altas taxas.
A existência de problemas no mecanismo de transmissão amplia ainda mais o sacrifício imposto pela política monetária à sociedade brasileira. Nesse particular, não é demais ressaltar que o custo de uma redução da inflação por meio da elevação da Selic tem sido muito alto, pois (1) a economia cresce pouco (temos a pior taxa média de crescimento dentre os países emergentes), (2) o real é umas das moedas que mais se valoriza e (3) as contas públicas são contaminadas, transformando o superávit primário em déficit nominal.
O alto sacrifício imposto pela política monetária à sociedade brasileira torna urgente a busca de mecanismos alternativos de combate a inflação. Ou seja, critica-se a concepção de que a Selic deva ser o único instrumento de combate a inflação. Nesse caso não há "receita de bolo": pressões inflacionárias com causas distintas devem ser combatidas com diferentes instrumentos. O BC ensaiou uma mudança nesse sentido com o uso das medidas de controle de crédito (acanhadamente denominadas de macroprudenciais) tomadas no final do ano passado.
Entretanto, parece que ele abandonou tal caminho, o que lamentamos, e voltou a elevar a Selic, o que consideramos inapropriado. Infelizmente, indo nessa direção, vamos continuar batendo recordes mundiais em termos de taxas de juros (reais), sem que a inflação se reduza de forma mais contundente.
Fernando Ferrari Filho é professor titular da UFRGS
Andre De Melo Modenesi é professor adjunto do IE/ UFRJ. Ambos são pesquisadores do CNPq.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Desafios da atual política econômica para uma Agenda de Desenvolvimento e Distribuição de Renda

O presente artigo Desafios da atual política econômica para uma Agendade Desenvolvimento e Distribuição de Renda -- foi escrito pelo diretortécnico do DIEESE, Clemente Ganz Lúcio, e pelo técnico Sérgio Mendonça,para publicação na edição brasileira do jornal Le Monde Diplomatique de maio deste ano.

O texto analisa os problemas que o país tem que enfrentar para garantir que o Brasil continue a crescer de forma a garantir uma sociedade mais justa e destaca, como desafios, a questão dos juros altos, da apreciação da moeda, da erradicação da pobreza, a qualidade da educação e da saúde, a eliminação do déficit habitacional e a construção da infraestrutura econômica.


Leia a íntegra do texto aqui

sábado, 18 de junho de 2011

Carta IEDI: O novo boom do endividamento externo brasileiro

Pouca atenção tem sido dada à trajetória da dívida externa brasileira no período pós-crise, mas seu crescimento é digno de registro. O tema é muito relevante porque a dívida em moeda estrangeira é um destacado componente da fragilidade financeira potencial da economia e das empresas brasileiras diante de um eventual "choque externo", como o Brasil vivenciou tantas vezes nas duas últimas décadas.

A abrupta retração dos fluxos de capitais para os países emergentes desencadeada pela crise financeira global de setembro de 2008 teve vida curta. Já no início de 2009, esses fluxos retornaram num contexto de juros historicamente baixos e expansão da liquidez nos países avançados. Fatores internos também fomentaram os fluxos, como as maiores taxas de crescimento, os juros mais elevados e a queda do risco relativo dos ativos emitidos por esses países (reflexo da saída bem sucedida da crise). Nesse contexto, as operações de arbitragem de juros (também conhecidas como carry trade) ressurgiram com toda força.
Enquanto o contexto de abundância de liquidez internacional, fomentado pelas políticas monetárias frouxas nos países avançados, constitui o determinante em última instância dos pronunciados aumentos no pós-crise dos fluxos de capitais para os países emergentes, os fatores internos são importantes para explicar sua distribuição regional e nacional. No âmbito da América Latina, o Brasil desponta como o país que absorveu o maior volume de fluxos financeiros no período pós-crise global.

Vários fatores (de natureza conjuntural e estrutural) explicam essa posição de destaque da economia brasileira, dentre os quais: as perspectivas de lucro com aplicações em ações de empresas produtoras de commodities ou com atividades voltadas para o mercado interno; o maior diferencial de juros do mundo; a retomada dos investimentos a partir de 2009, que se deparou, mais uma vez, com a insuficiência de fontes internas de financiamento de longo prazo.
A importância relativa desses fatores mudou desde a emergência do novo boom de capitais privados para os países em desenvolvimento, o que se refletiu na composição dos fluxos financeiros destinados para o país. É possível identificar cinco fases distintas desse boom de capitais estrangeiros para o Brasil no período que se estende de março de 2009 a abril de 2011.
A primeira corresponde ao imediato pós-crise e abrangeu o primeiro semestre de 2009. Foi caracterizada pela predominância do endividamento externo expresso na retomada dos "Outros investimentos estrangeiros", especialmente no retorno dos créditos comerciais voluntários. Na segunda fase (julho de 2009 a fevereiro de 2010), refletindo a rápida reação da economia brasileira à crise e, além disso, o diferencial de juros interno versus externo, voltam os investimentos de portfólio em ações e em renda fixa no país (que ampliam o passivo externo, mas não configuram endividamento externo). Na terceira, entre março e setembro de 2010, o endividamento externo registra um crescimento significativo, superando os investimentos de portfólio em ações e renda fixa no país. Nesse período, a ampliação ainda maior do diferencial de juros estimulou as operações de arbitragem e a retomada do investimento impulsionou a demanda por recursos externos de longo prazo pelas empresas, que foi suprida, sobretudo, por empréstimos bancários.
Em uma curta fase, entre outubro a dezembro de 2010 (correspondendo à quarta fase), os investimentos de portfólio predominaram novamente devido, principalmente, às aplicações em ações, impulsionadas pela capitalização da Petrobrás. Já as aplicações em renda fixa no país, após atingirem valor elevado em outubro (US$ 1,8 bilhões), recuaram significativamente nos dois meses subsequentes em função da elevação do IOF sobre essa modalidade de ingresso de capitais. Esse controle de capital, todavia, estimulou as empresas e, como os dados confirmam, sobretudo, os bancos, a emitirem títulos de renda fixa no exterior, modalidade de investimento de portfólio que não estava sujeita ao IOF e que ganha impulso a partir de novembro. Ou seja, os agentes privados driblaram a regulação vigente para continuar usufruindo os ganhos de arbitragem associados ao excepcional diferencial de juros.
O movimento de arbitragem regulatória se intensificou na quinta e atual fase (janeiro a abril de 2011), pois os agentes privados também reagiram às medidas macroprudenciais na área creditícia e cambial adotadas pelo BCB em dezembro de 2010 e janeiro de 2011. Nesse contexto, as instituições bancárias intensificaram a captação de recursos externos, com duas finalidades: obter funding externo para suas operações de crédito, sobre o qual não incide recolhimento compulsório (que foi majorado); realizar operações de arbitragem de juros mediante emissão de títulos e a contratação de empréstimos de curto prazo no exterior, diante da imposição de limites às posições vendidas em dólar. Simultaneamente, as empresas não-financeiras também ampliaram o endividamento externo, em resposta à alta do custo do crédito doméstico já que aumentou a taxa básica de juros e os spreads bancários tiveram elevação após as medidas macroprudenciais.
Após a imposição do IOF sobre esse endividamento, o movimento de "arbitragem regulatória" teve continuidade e passou a abranger modalidades de maior prazo de duração e crédito comercial (inclusive os ACCs, que aumentaram significativamente em abril). Diante da abundância de liquidez internacional e baixa aversão ao risco a nível global, as medidas não foram eficazes em desestimular o ingresso de capitais, mas tiveram o efeito colateral positivo de alongar o prazo da dívida externa. Deve ser sublinhado que esse movimento de "arbitragem regulatória" envolveu possivelmente até mesmo os fluxos de IDE, como evidencia o forte crescimento dos empréstimos intercompanhias, que se acelera a partir de outubro de 2010, quando são adotadas as primeiras medidas de regulação. A evolução quantitativa e o perfil do endividamento por tipo de tomador no período pós-crise podem ser mais bem apreendidos na nova metodologia de classificação dos dados de estoque de dívida externa, que passou a ser divulgada pelo Banco Central do Brasil a partir de abril de 2011.

Leia a íntegra do artigo em www.iedi.org.br 


sexta-feira, 17 de junho de 2011

A política de juros precisa mudar! Artigo de Amir Khair.

Os fatores internos já se diluíram e ocorreu moderação nos preços das commodities e a inflação começou a despencar, o que permitiria ao BC começar a baixar a Selic, mas não é isso o que está previsto nas últimas atas da reunião do Copom. Predomina o excessivo conservadorismo, que só enxerga perigos de elevação inflacionária no horizonte e, ante essa ameaça, só elevando a Selic, na visão atual do BC. O dano causado pela elevada taxa Selic é devastador em todos os sentidos. Não se livrar imediatamente disso é submeter a sociedade a sacrifícios que não poderão ser suportados por mais tempo. O artigo é de Amir Khair.
Data: 16/06/2011
O Brasil ainda não se livrou do veneno que impede ter uma economia saudável, crescendo de forma sustentada, com baixa inflação, contas internas e externas equilibradas e com forte distribuição de renda. O lamentável é que esse veneno é receitado por muitas análises como necessário para controlar o que é fundamental numa economia, a inflação.

O veneno é a maior taxa básica real de juros do mundo, a Selic, envenenando o paciente há vários anos. Logo após a elevação da Selic pelo Copom para 12,25% ao ano, dia 9 último, a Corretora Cruzeiro do Sul apresentou o ranking das taxas básicas de juros reais de uma amostra representativa das principais economias de 40 países (ver quadro acima).

Como sempre o Brasil liderava com 6,8% ao ano seguido pelo Chile com 1,5%, mais de quatro vezes superior. A média do conjunto dos 40 países foi de 0,9% negativa, para os países emergentes 0,5% negativa e para os países desenvolvidos 1,4% negativa. Para os emergentes, excluindo o Brasil, 0,8% negativa.

Isso precisa mudar imediatamente, e o governo pode fazer isso sem correr risco de causar inflação, pois a taxa de juros que comanda o consumo é a taxa do tomador do empréstimo e a decisão de usar o empréstimo depende da prestação caber no bolso do consumidor.

Finalmente segundo o Banco Central (BC) o efeito da alteração da Selic leva nove (!) meses para fazer efeito, afirmação que não tem nenhuma base teórica nem evidência empírica. Portanto, gratuita e sem sentido.

Mas caso o governo entenda que há uma pressão de demanda, que está tensionando a inflação, deveria é usar medidas que tornem as prestações dos empréstimos mais caras, e isso é possível através de medidas macroprudenciais, que permitem exigir do sistema financeiro elevação da relação capital/empréstimo para o consumo e, também reduzir o volume de empréstimos passível de ser usado pelo sistema financeiro, via elevação dos depósitos compulsórios dos bancos no BC.

Em 6 de dezembro ao invés de elevar a Selic, conforme queria o mercado financeiro, o governo optou por lançar as medidas macroprudenciais, afirmando que deveria aguardar tempo necessário para verificar seus efeitos sobre o mercado de crédito.

Não foi o que ocorreu, apesar do BC ter vindo a público mostrando os bons resultados alcançados, pois pressionado pelo mercado financeiro, abandonou essas medidas e em 19 de janeiro iniuciou o ciclo de elevação da Selic e não parou mais de elevá-la.

Assim, o governo capitulou perante o mercado financeiro, pois a inflação continuou em elevação como é normal no primeiro quadrimestre de cada ano. Para agravar a inflação, fatores independentes do BC e da Selic ocorreram: 1) a forte elevação dos alimentos e das commodities a nível internacional; 2) a sazonalidade característica do 1º quadrimestre; 3) elevação excessiva dos preços do álcool e gasolina devido à entresafra da cana de açúcar, agravada pela atratividade dos elevados preços do açucar no mercado internacional, que reduziu ainda mais a oferta de álcool aos consumidores.

Os fatores internos já se diluiram e ocorreu moderação nos preços das commodities e a inflação começou a despencar, o que permitiria ao BC começar a baixar a Selic, mas não é isso o que está previsto nas últimas atas da reunião do Copom. Predomina o excessivo conservadorismo, que só enxerga perigos de elevação inflacionária no horizonte e, ante essa ameaça, só elevando a Selic, na visão atual do BC.

O dano causado pela elevada taxa Selic é devastador em todos os sentidos. Não se livrar imediatamente disso é submeter a sociedade a sacrifícios que não poderão ser suportados por mais tempo.

É importante considerar o quadro externo para avaliar seu impacto no Brasil. Para sair da crise, os países desenvolvidos emitiram moeda para socorrer seus sistemas financeiros, entupidos de títulos pobres de magnitude desconhecida. Essas emissões serviram para transferir a dívida privada em pública, com os riscos de não poderem ser pagas total ou parcialmente.

A elevação das dívidas impactou os déficits fiscais desses países e teriam que ser pagas pelas suas populações via aperto fiscal. Resultado: foram cortados direitos e salários, e com isso cresceu o desemprego e o consumo despencou. Instaurou-se o conflito social, caíram governos e minou a confiança em portas de saída da crise, que perdura.

Os países emergentes que tiveram que passar por graves problemas fiscais e cambiais na década de 90 foram resolvendo seus problemas e conseguiram melhorar substancialmente seus fundamentos macroeconômicos com crescimentos expressivos e inflação controlada. Quando estourou a crise de 2008, não tinham títulos podres, conseguiram enfrentar a crise e fortalecendo sua posição no mercado global, sem grandes sacrifícios às suas populações.

O Brasil acompanhou em parte os emergentes. Com sistema bancário preservado, crescia 4,8% em média por ano desde 2004 até o início da crise em 2008, em face de 2,0% de 1981 a 2003. O que, no entanto, nos diferenciou em relação aos emergentes foi a manutenção da elevada Selic, com os danos que vem causando.

Controle de capitais – Há fortes indícios de que os países desenvolvidos, sem perspectivas de ampliar o consumo interno, continuarão a emitir moeda para aumentar seu poder competitivo nas exportações e, assim, gerar empregos.

Diante dessa avalanche de liquidez, à procura de ganhos com juros mundo afora, o Brasil é o preferido. Com a Selic nas nuvens, perde o sentido reclamar dos Estados Unidos pela emissão de dólares e da China por ajustar sua moeda à desvalorização do dólar! Nem adianta esperar que elevando o IOF para 6% irá deter a avalanche de dólares. Têm várias portas de escape usadas pelos especuladores internacionais. Prova disso são as mega entradas artificiais de investimento direto de estrangeiros (IED), que não são atingidos pelo IOF. Só a Selic a nível internacional pode deter a avalanche de dólares.

Os males da política suicida de atração dessa liquidez são muitos, e não cabem no espaço desse artigo. Eis alguns.

Distribuição de renda – Para os mais pobres, o governo dá o Bolsa Família, o Loas (para idosos e deficientes de baixa renda), vários programas de assistência social, e agora o Plano de Erradicação da Miséria (R$ 20 bilhões por ano). O custo total de todos esses programas não chega a 1,1% do PIB, mas com juros, que beneficia as camadas de renda média e alta, o custo atingiu R$ 214 bilhões (5,6% do PIB) nos últimos 12 meses até abril. É uma distribuição de renda às avessas.

Inflação – O BC dá um tiro no próprio pé ao elevar a Selic, pois com isso atrai mais ainda a liquidez externa, elevando a oferta de empréstimos para estimular o consumo. Depois reclama que a invasão de liquidez prejudica a inflação (???).

Contas internas – Pagamos juros 5,6% do PIB, contra uma média internacional de 1,8%. Joga-se fora 3,8% do PIB, que poderia ser usado para elevação da poupança/investimentos, redução da carga tributária, ampliação dos programas de renda e melhora na área social, entre várias outras ações em prol do desenvolvimento.

Reforma Tributária - Essa economia facilitaria a aprovação da desejada reforma tributária, pois o governo federal poderia dispor de mais recursos para compensar eventuais perdas com a transformação do ICMS estadual, que passaria a ser cobrado no destino, ou seja, onde o bem é usado ou consumido, ao invés de ser na origem como é hoje.

Contas externas – A supervalorização cambial, devido à Selic, criou rombo externo que cresce desde 2008 e deve ultrapassar nesse ano US$ 60 bilhões!

Custo das reservas – O diferencial entre juros internos e externos custou cerca de R$ 50 bilhões em 2010 para manter as reservas internacionais. Neste ano poderá atingir R$ 60 bilhões, pois a Selic e o volume de reservas serão maiores do que no ano passado.

Desestímulo ao investimento – Arriscar na produção de bens e serviços, quando a Selic dá bons ganhos sem risco, com liquidez imediata, só com muita coragem.

Desindustrialização – Com a supervalorização cambial, tudo lá fora ficou mais barato. O jornal Estado de São Paulo publicou dia 5 último matéria sob o título “Importação de produto acabado dispara”. Mostra a invasão de toda sorte de produtos com preços bem mais baixos substituindo produtos fabricados no País. Daí o boom das importações e do turismo externo. Para piorar a competitividade das empresas, temos o elevado custo Brasil (juros e carga tributária elevados, precariedade na infraestrutura e na logística e burocracia excessiva entre outros problemas). A cada dia que passa aumenta o grau de substituição dos nossos produtos pelos vindos de todas as partes do mundo, especialmente do leste asiático.

Precisa mudar! Só há uma saída: baixar a Selic ao nível internacional, e combater a inflação pela limitação do crédito ao consumo, via maiores exigências de capital e de depósito compulsório ao sistema financeiro. Chega de tanto dano ao País.

(*) Mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e consultor

Inovação no Brasil é coisa pra herói

http://economia.ig.com.br/empresas/finep+inovar+no+brasil+e+caro+arriscado+e+nao+remunera+bem/n1597032772727.html

A frágil recuperação americana

Luiz Gonzaga de Melo Belluzzo

07/06/2011
Os últimos dados sobre o desempenho econômico da economia americana lançam dúvidas a respeito do vigor e da solidez da recuperação da economia mais avançada do planeta. O economista Patrick Artus, redator do boletim econômico da consultoria Natikisis, lançou uma pergunta um tanto retórica: Estamos certos de que há realmente uma recuperação econômica?
Quase em uníssono, os economistas das consultorias e dos bancos antecipam uma retomada econômica nos Estados Unidos e na Europa, ainda que mais lenta nos próximos anos. Uma avaliação mais cuidadosa põe em dúvida tais prognósticos.
Sob o signo da incerteza, há que levantar questões nem sempre consideradas por analistas mais sanguíneos quando se trata da recuperação da economia dos Estados Unidos.
Como o leitor atilado desconfia, a 'Ciência Triste' figura no rol dos saberes precários. Precários os saberes, mas nem por isso menos imprescindíveis para a legitimação do status quo e de suas consequências para os povos submetidos às políticas recomendadas por sacerdotes ou consultores. Que digam os gregos submetidos às dores da crematística, a arte da ação ambiciosa deplorada por Aristóteles.
Nos Estados Unidos, desde 2010 até agora, a política fiscal expansionista sustenta o crescimento, enquanto a política monetária escorada no "quantitative easing" cuida de manter baixas as taxas de juro de longo prazo, aquela exibida pelos "treasuries" de dez anos. Apesar dos esforços do Federal Reserve e do Tesouro, a resposta do gasto privado tem sido pífia. O consumo das famílias e o investimento das empresas permanecem deprimidos e a redução do déficit externo não é suficiente para compensar a fragilidade dos supracitados componentes da demanda doméstica.
Em linguagem mais técnica, mas nem tanto: o multiplicador keynesiano está emperrado. As famílias não conseguem se desvencilhar de uma funesta combinação entre quatro encrencas: 1) o desemprego de 9,1%, o mais alto do período de pós recessão dos últimos trinta anos; 2) o elevado grau de endividamento; 3) a subida dos preços dos alimentos e dos combustíveis, o que corrói as remunerações estagnadas; e 4) a queda continuada dos valores das residências (ou, pior, a perda das moradias por inadimplemento).
Resumo das aflições que afetam a maioria das famílias americanas: rendimentos reais cadentes e estoque de riqueza idem. Diante disso, as empresas fogem do investimento. Afogadas em liquidez e com capacidade sobrante, as corporações não financeiras vislumbram o estreitamento das oportunidades de investimento.
Socorrido pelas ações tempestivas do Federal Reserve, os bancos e demais instituições financeiras agarram-se ao racionamento do crédito. As famílias não podem e as empresas não querem tomar novos empréstimos. As discussões sobre os limites do endividamento do governo e a perspectiva de suspensão do "quantitative easing" não ajudam a melhorar as expectativas do setor privado.
Os dados de maio dão conta da criação de 54 mil empregos, muito aquém dos 165 mil prognosticados pelos economistas ouvidos na pesquisa Bloomberg. Trata-se, é verdade, de cifras referentes a um mês apenas. Mas, não custa lembra: a absorção dos desempregados pela recessão e a criação de novos empregos para os que ingressam no mercado de trabalho supõe, nos próximos anos, a "invenção" de postos de trabalho num ritmo muito superior à média de 272 mil dos três meses anteriores (fevereiro, março e abril de 2011).
No livro "A Consciência de um Liberal", Paul Krugman fustiga os mandatos conservadores de Reagan, seguido das façanhas de Bush pai e filho. Foram 20 anos de celebração da desigualdade. Celebrada pela "economia da oferta", a desigualdade não se fez de rogada e invadiu a vida americana. Sem cerimônia, devastou a classe média, próspera e feliz nos anos 50 e 60 do século XX.
O ambiente social calou os dissidentes, produziu unanimidades tão daninhas quanto grotescas. Esse clima político aplastou as vozes discordantes, satanizou os sindicatos, reduzindo o seu poder de negociação. O número de sindicalizados minguou na mesma proporção em que cresceu a participação dos empregos em tempo parcial e a título precário. Para juntar ofensa à injúria, sobreveio a destruição dos postos de trabalho mais qualificados na indústria de transformação, sob o impacto da concorrência chinesa.
O líder do Partido Republicano, John Boehmer apresentou o diagnóstico conservador nas páginas do "Financial Times": "Nossa economia não esta criando empregos suficientes.. a responsabilidade por isso é do furor dos democratas em cobrar impostos, gastar, tomar empréstimos e regulamentar excessivamente (a economia)".
Declarações como essa permitiram ao articulista do "New York Times", Nicholas Kristof, lançar ataques virulentos contra os republicanos. Na edição de domingo, 5 de junho, Kristof admite que os republicanos têm razão quanto à necessidade de uma política fiscal de longo prazo capaz de reduzir o déficit (hoje em torno de 10% do PIB) e aplacar a evolução da dívida pública.
Dispara Kristof: "É claro que Sarah Palin ou John Boehmer não pretendem transformar Washington em Islamabad-sobre-o-Potomac. Mas a maioria dos republicanos quer 'matar por inanição a besta do governo', reduzir impostos, bloquear a regulamentação e cortar os serviços sociais - derrubar tudo, menos os gastos militares. Bem, esta é a marcha em direção ao Paquistão."
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e escreve mensalmente às terças-feiras.

Dívida externa avança em silêncio


José Paulo Kuper
Economia & negócios, 16/06.

Ainda é generalizada a ideia de que o volume de reservas internacionais é uma blindagem segura contra eventuais problemas nas contas externas. Mas essa ideia já foi mais generalizada – e isso faz sentido. A persistência de juros estratosféricos e sua contraparte cambial, a firme valorização do real, têm operado, aos poucos e por vários canais, para minar a antiga confiança.
A dívida externa está vivendo um boom. Em silêncio, meio despercebida, ela se aproxima dos US$ 300 bilhões. E vem crescendo mais rápido do que as reservas que, no momento, andam pela casa dos US$ 350 bilhões.
Nos últimos dois anos, até abril de 2011, a dívida externa cresceu mais de 40%. Detalhe: o incremento é praticamente todo devido ao setor privado – 95% do aumento são de responsabilidade de bancos e empresas privadas. No total da dívida externa, mais de três quartos são de responsabilidade privada.  Em 2009, a parcela privada na dívida externa era de pouco mais de dois terços do total.
Em entrevista ao colega João Villaverde, do jornal “Valor”, na semana passada, o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, hoje consultor do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi) e coordenador de um estudo em fase de conclusão sobre o tema, chamou a atenção para a aceleração da trajetória da dívida externa. Segundo ele, no ritmo atual ela pode ultrapassar o nível de reservas.
Não é preciso lembrar que, emoldurando esse quadro preocupante, estão as taxas de juros reais mais altas do mundo, coadjuvadas pela firme valorização do real.