quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Dilma refuta visão colonizada da Folha

Por Altamiro Borges

Sem citar a Folha de S.Paulo – “um jornal a serviço dos EUA” –, a presidenta Dilma Rousseff contestou nesta quarta-feira (6) a ideia ridícula de que o Brasil também faz espionagem ilegal e criminosa. “Não dá para comprar o que a Abin [Agência Brasileira de Inteligência] fez, até porque não violou a privacidade. Está previsto na legislação brasileira, não cometeram nenhuma ilegalidade. Se tivesse cometido, teriam sido afastados”, afirmou à agência de notícias Reuters.

Na segunda-feira (4), a Folha estampou uma manchete espalhafatosa – “Governo brasileiro vigiou diplomatas estrangeiros” – e tentou comparar a ação da Abin com a política criminosa dos EUA de monitorar telefonemas e e-mails de milhares de cidadãos no mundo. Uma matéria no portal UOL, que também pertence à famiglia Frias, chegou a afirmar que “todo mundo espiona, não há virgens”.

O Nobel da espionagem

As “reporcagens” do Grupo Folha parecem ter sido encomendadas pelo presidente Barack Obama, o prêmio Nobel da espionagem mundial. No exato momento em que o Brasil e a Alemanha se uniram para questionar na Organização das Nações Unidas (ONU) as práticas ilegais dos EUA, elas serviram para comparar duas iniciativas distintas – uma de invasão de privacidade e de ingerência imperialista; outra de defesa da soberania nacional.

Segundo a notícia da Reuters, a presidenta Dilma Rousseff fez questão de defender as atividades da Abin, que monitorou diplomatas russos, iranianos e iraquianos – durante o governo Lula –, agindo conforme a legislação brasileira. “Ela disse que essas operações não podem ser comparadas às realizadas pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), que espionou cidadãos, autoridades e empresas brasileiras”.

Aparato de violação da privacidade

"Acho que não pode comparar o que a Abin fez em 2003 e 2004, até porque tem um lado dessa ação que era contra inteligência, porque estavam achando que tinham interferências em negócios privados, negócios públicos no Brasil. Foi preventivo. Não levou a nenhuma consequência de espionar ninguém na sua privacidade... No outro caso, não é isso. No outro caso, é um aparato de violação da privacidade, dos direitos humanos e da soberania do país”.

Apesar da confusão criada pela Folha, que tentou jogar na defensiva o governo brasileiro, a presidenta voltou a criticar a política imperial dos EUA. “Dilma também afirmou que a falta de um pedido de desculpas do governo norte-americano foi um dos fatores que a levaram a adiar a visita de Estado que tinha marcada para o mês passado aos EUA. Ela revelou que seu governo propôs aos EUA um acordo para que fosse mantida a visita de Estado, que incluía um pedido de desculpas e o compromisso de que as atividades de espionagem parariam”.

"A questão é a seguinte: eu iria viajar. A discussão que derivou das denúncias nos levou a fazer a seguinte proposta aos EUA: só tem um jeito de a gente resolver esse problema. Eles teriam de se desculpar pelo que aconteceu e dizer que não aconteceria mais. Não foi possível chegar a esse termo”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff.

Manipulações do noticiário

Também no Senado a “reporcagem” da Folha foi contestada. “Quero repelir qualquer tentativa de comparar as ações da Abin com o que foi realizado pelo governo dos EUA. Nenhuma das ações da Abin desrespeitou a legislação brasileira ou as convenções internacionais”, afirmou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) em discurso nesta terça-feira. Ela criticou explicitamente a matéria do jornal e lembrou que “os EUA tentam colocar outros países na mesma rinha”.

 A senadora ainda acrescentou que a CPI da Espionagem, que ela preside, tem acompanhado os desdobramentos do caso e constatou que há uma tentativa de manipulação do governo estadunidense nas notícias de vários jornais pelo mundo como uma estratégia para evitar o isolamento.

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