*José Álvaro
de Lima Cardoso
Passados cerca de seis anos do início da
crise financeira de 2007/2008 a
perspectiva econômica global ainda é bastante complicada. Ninguém sabe quando a
crise termina. Ao mesmo tempo em que a Europa está fugindo da recessão, já se
fala na famosa ‘exuberância
irracional’ nos mercados acionários. Informações recentes dão conta que os 500
maiores fundos globais do planeta recuperaram o volume de recursos
anterior à crise de 2008, dispondo de US$ 68 trilhões para bancar
apostas nos mercados mundiais, em um planeta cujo Produto Interno Bruto (PIB)
é pouco superior a US$ 70 trilhões.
Uma das características da crise de 2008, como se sabe, foi a perigosa
separação entre o valor de mercado das ações e os fundamentos econômicos aos
quais elas deveriam se reportar. Em 2007/2008 a “exuberância” dos mercados
especulativos extrapolou todos os limites da racionalidade, e os papeis
descolaram completamente da base real da economia. Quando chegou a hora da
verdade e as bolsas entraram em queda livre, as perdas totalizaram cerca de US$
11 trilhões, equivalente a cerca de oito vezes o PIB brasileiro. A profundidade
da crise que iniciou em 2007/2008 e a desordem financeira decorrente não
diminuirão tão cedo e nem tão facilmente. A consciência de que a travessia será
longa é uma informação estratégica, inclusive, para a ações de política econômica
que o Brasil irá adotar nos próximos anos.
Parece evidente, por exemplo, que os países
ricos ou emergentes não vão conseguir crescer nas mesmas taxas observadas antes
da crise. Pelo menos no curto e médio prazos. Outro aspecto que complica um
pouco mais as saídas é o de que as causas da crise têm especificidades
importantes em cada país. No Brasil, certamente a baixa taxa de investimento é
um problema importante. Para a China ou Índia este diagnóstico já não serve. Na
Europa o diagnóstico é completamente outro. Nesse contexto, receitas prontas,
genéricas, como as que o FMI costuma receitar para os países, não resolvem o
problema.
A economia dos EUA, que é - e continuará
sendo por um bom tempo - fundamental para o quadro mundial, vem apresentando
alguma melhora, com uma recuperação da demanda privada e algumas tendências importantes
em alguns setores. A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de um
crescimento de 1,7% para este ano e 2,7% para 2014. As
dificuldades são muito grandes, tanto no front interno quanto no externo. O
acordo do governo Obama com o Congresso estadunidense, para evitar o travamento
do orçamento, tem significado cortes em gastos sociais e redução de
transferências de recursos para estados e cidades, que sofrem com a crise. As
dificuldades econômicas vem se refletindo nos comportamentos sociais. Recentemente
o economista Paul Krugman, externava em artigo a sua preocupação de que, parte
da sociedade estadunidense, ligada ao partido republicano, trava uma guerra
contra os pobres; na linha “se você é pobre é porque, de alguma maneira, você é
um incompetente e um vagabundo”. Mais
grave: por trás deste preconceito contra os pobres, segundo Krugman, existe o
preconceito racial, são coisas interligadas.
O baixo crescimento previsto do
Brasil neste ano (2,5%) não é caso isolado. A maioria dos mercados emergentes,
que vinham patrocinando o crescimento nos últimos anos, vai crescer pouco em
2013: Rússia (2,5%), México (2,9%), África do Sul (2%). Mesmo a previsão de
crescimento da China, 7,8%, é um ponto fora da curva, mas distante dos
habituais dois dígitos de crescimento. Nesse contexto, o Brasil tem que cuidar com
muita atenção das suas relações externas, ao mesmo tempo tratar com muito cuidado
da continuidade da expansão do seu mercado interno.
*Economista e
supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário