segunda-feira, 30 de julho de 2018

Lula é um bicho cósmico


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Como a elite brasileira nos imbeciliza

https://www.facebook.com/MPHistoria/videos/1307400249393842/?t=444

CONTA PRÓPRIA, NOS RISCOS E NA DESPROTEÇÃO




Longe do empreendedorismo de sucesso, trabalhador é mais prejudicado que os demais.
Trabalho autônomo cresce na crise, mas em pior condição ainda.


*Clemente Ganz Lúcio.


Trabalhar sem proteção social durante a vida laboral e não se aposentar na velhice é a condição de vida predominante para mais de 23 milhões de brasileiros e brasileiras que trabalham como autônomos ou conta própria. Sem participação previdenciária contributiva, ficam excluídos do acesso à seguridade e previdência social. Isso significa que não terão assistência e renda caso adoeçam ou ocorra algum infortúnio que os impeça de trabalhar e, diante do afastamento definitivo, ficarão sem proteção previdenciária.
Nos dois últimos anos, o desemprego, que já atinge mais de 13 milhões de trabalhadores e tem longa duração, levou muitas pessoas a buscarem o trabalho autônomo ou por conta própria para poder se sustentar.
No boletim “Emprego em pauta”, nº 8, de julho de 2018, o DIEESE analisou as condições desses trabalhadores e constatou que quase ¼ do total dos “conta própria” - ou seja, 5,3 milhões de pessoas - têm menos de dois anos de atividade nessa ocupação. Desses, somente 23% contribuem para a previdência social, o que significa que 77% estão excluídos da proteção social, trabalham sem segurança diante do afastamento, não têm direito a auxílio-acidente, nem à licença-maternidade e, menos ainda, à aposentadoria.
A condição daqueles que estão há mais de dois anos trabalhando como conta própria não é muito diferente: cerca de 61% trabalham sem contribuição à previdência social e estão sem proteção alguma. A desproteção é a condição do trabalhador por conta própria!

Os rendimentos são baixos e desiguais: a renda média dos que estão há mais de dois anos no trabalho por conta própria é de R$ 1.685,00 e a dos que estão há menos de dois anos nessa condição é ainda 33% menor, correspondendo a R$ 1.133,00. As desigualdades em função de gênero e raça ampliam ainda mais a disparidade nos rendimentos: um homem não negro, que trabalha como autônomo há mais de dois anos, tem, em média, rendimento de R$ 2.380,00; já uma mulher negra com menos de dois anos de trabalho autônomo recebe em média R$ 809,00, isto é, recebe cerca de 1/3 da renda dele.
A recente mudança trabalhista enaltece e fortalece esse tipo de situação ocupacional, estimulando os trabalhadores a viver por conta própria a nova modernidade do mundo do trabalho! Oferta-lhes os riscos e os infortúnios da vida laboral, sem proteção e sem vínculos de solidariedade e segurança que o sistema de seguridade social gera para quem dele participa. Se todos contribuem, pode-se financiar, com o comprometimento dos participantes e a um baixo custo relativo, os riscos (acidente, doença, morte) que todos corremos e fazem parte da vida, bem como o apoio à maternidade, além da aposentadoria dos que trabalharam por longos períodos. Esses sistemas de cooperação são construções sociais complexas, resultado de investimentos econômicos, políticos e culturais de longa duração, que requerem um Estado social comprometido com a proteção e a cultura da solidariedade.
A modernidade, no entanto, caminha no sentido contrário, valorizando a renda atual contra a poupança para proteção ou renda futura e desmontando o sistema de solidariedade e de seguridade social. Isso é uma bomba relógio armada contra as futuras gerações. A crise econômica, o desemprego, os baixos salários e o alto custo de vida pressionam dramaticamente os trabalhadores a defenderem a sobrevivência no curto prazo.
As políticas neoliberais cultivam o descompromisso do Estado com o bem-estar da sociedade, desqualificando a cultura previdenciária e incentivando o trabalho por conta própria, excluindo trabalhadores de uma participação contributiva e que possa protegê-los. O Estado lava as mãos das próprias responsabilidades e, com isso, avança no ajuste fiscal, que reduz despesas futuras e elimina o direito de acesso à proteção. O Estado neoliberal é hipócrita, pois finge oferecer igualdade de oportunidades formais, que são destruídas objetivamente pelas desigualdades de condições – baixa remuneração, desinformação e falta de assistência, entre inúmeras outras dificuldades.

            Não nos iludamos: o trabalho autônomo e por conta própria é uma característica estrutural do mercado de trabalho brasileiro e tende a crescer no país e no mundo. A reforma trabalhista oferece ferramentas para viabilizar esse crescimento.
O sindicalismo está desafiado a viabilizar a mobilização e a organização desses trabalhadores. Para isso, deverá se reestruturar para passar a representá-los na batalha pela constituição de instrumentos de proteção laboral e social, regulação das relações com os contratantes, adoção de procedimentos para defesa do trabalho que realizam e do ferramental que possuem e usam para realizá-lo (moto, carro, barco, caminhão), além da garantia de mecanismos de amparo em situações de vulnerabilidade. Também será necessário conceber formas solidárias de proteção social e do trabalho, além de formular modelos de contribuição para financiá-las. São inúmeros os desafios para que essa parcela expressiva dos trabalhadores, que hoje vive desprotegida de representação sindical, conquiste direitos fundamentais.

*Sociólogo e Diretor Técnico DIEESE

CONTA PRÓPRIA, NOS RISCOS E NA DESPROTEÇÃO



Longe do empreendedorismo de sucesso, trabalhador é mais prejudicado que os demais.
Trabalho autônomo cresce na crise, mas em pior condição ainda.


*Clemente Ganz Lúcio.


Trabalhar sem proteção social durante a vida laboral e não se aposentar na velhice é a condição de vida predominante para mais de 23 milhões de brasileiros e brasileiras que trabalham como autônomos ou conta própria. Sem participação previdenciária contributiva, ficam excluídos do acesso à seguridade e previdência social. Isso significa que não terão assistência e renda caso adoeçam ou ocorra algum infortúnio que os impeça de trabalhar e, diante do afastamento definitivo, ficarão sem proteção previdenciária.
Nos dois últimos anos, o desemprego, que já atinge mais de 13 milhões de trabalhadores e tem longa duração, levou muitas pessoas a buscarem o trabalho autônomo ou por conta própria para poder se sustentar.
No boletim “Emprego em pauta”, nº 8, de julho de 2018, o DIEESE analisou as condições desses trabalhadores e constatou que quase ¼ do total dos “conta própria” - ou seja, 5,3 milhões de pessoas - têm menos de dois anos de atividade nessa ocupação. Desses, somente 23% contribuem para a previdência social, o que significa que 77% estão excluídos da proteção social, trabalham sem segurança diante do afastamento, não têm direito a auxílio-acidente, nem à licença-maternidade e, menos ainda, à aposentadoria.
A condição daqueles que estão há mais de dois anos trabalhando como conta própria não é muito diferente: cerca de 61% trabalham sem contribuição à previdência social e estão sem proteção alguma. A desproteção é a condição do trabalhador por conta própria!

Os rendimentos são baixos e desiguais: a renda média dos que estão há mais de dois anos no trabalho por conta própria é de R$ 1.685,00 e a dos que estão há menos de dois anos nessa condição é ainda 33% menor, correspondendo a R$ 1.133,00. As desigualdades em função de gênero e raça ampliam ainda mais a disparidade nos rendimentos: um homem não negro, que trabalha como autônomo há mais de dois anos, tem, em média, rendimento de R$ 2.380,00; já uma mulher negra com menos de dois anos de trabalho autônomo recebe em média R$ 809,00, isto é, recebe cerca de 1/3 da renda dele.
A recente mudança trabalhista enaltece e fortalece esse tipo de situação ocupacional, estimulando os trabalhadores a viver por conta própria a nova modernidade do mundo do trabalho! Oferta-lhes os riscos e os infortúnios da vida laboral, sem proteção e sem vínculos de solidariedade e segurança que o sistema de seguridade social gera para quem dele participa. Se todos contribuem, pode-se financiar, com o comprometimento dos participantes e a um baixo custo relativo, os riscos (acidente, doença, morte) que todos corremos e fazem parte da vida, bem como o apoio à maternidade, além da aposentadoria dos que trabalharam por longos períodos. Esses sistemas de cooperação são construções sociais complexas, resultado de investimentos econômicos, políticos e culturais de longa duração, que requerem um Estado social comprometido com a proteção e a cultura da solidariedade.
A modernidade, no entanto, caminha no sentido contrário, valorizando a renda atual contra a poupança para proteção ou renda futura e desmontando o sistema de solidariedade e de seguridade social. Isso é uma bomba relógio armada contra as futuras gerações. A crise econômica, o desemprego, os baixos salários e o alto custo de vida pressionam dramaticamente os trabalhadores a defenderem a sobrevivência no curto prazo.
As políticas neoliberais cultivam o descompromisso do Estado com o bem-estar da sociedade, desqualificando a cultura previdenciária e incentivando o trabalho por conta própria, excluindo trabalhadores de uma participação contributiva e que possa protegê-los. O Estado lava as mãos das próprias responsabilidades e, com isso, avança no ajuste fiscal, que reduz despesas futuras e elimina o direito de acesso à proteção. O Estado neoliberal é hipócrita, pois finge oferecer igualdade de oportunidades formais, que são destruídas objetivamente pelas desigualdades de condições – baixa remuneração, desinformação e falta de assistência, entre inúmeras outras dificuldades.

            Não nos iludamos: o trabalho autônomo e por conta própria é uma característica estrutural do mercado de trabalho brasileiro e tende a crescer no país e no mundo. A reforma trabalhista oferece ferramentas para viabilizar esse crescimento.
O sindicalismo está desafiado a viabilizar a mobilização e a organização desses trabalhadores. Para isso, deverá se reestruturar para passar a representá-los na batalha pela constituição de instrumentos de proteção laboral e social, regulação das relações com os contratantes, adoção de procedimentos para defesa do trabalho que realizam e do ferramental que possuem e usam para realizá-lo (moto, carro, barco, caminhão), além da garantia de mecanismos de amparo em situações de vulnerabilidade. Também será necessário conceber formas solidárias de proteção social e do trabalho, além de formular modelos de contribuição para financiá-las. São inúmeros os desafios para que essa parcela expressiva dos trabalhadores, que hoje vive desprotegida de representação sindical, conquiste direitos fundamentais.

*Sociólogo e Diretor Técnico DIEESE

A desindustrialização dos EUA

Por Reginaldo Corrêa de Moraes, no site da Fundação Maurício Grabois:


Se em vez de temer aliens, comunistas e árabes, a classe média americana estivesse atenta ao capitalismo de rapina entranhado em suas pequenas e agradáveis cidades, com a ajuda do Partido Democrata, não estaria sendo governada por um alien autofágico que invade suas entranhas para implodir. Os EUA viraram um perigoso filme B de pouca bilheteria.

Máquinas paradas, almas vencidas
Altas horas. Insônia, TV. Filme de segunda classe. Exemplo 1. Pequena cidade do interior, nos Estados Unidos. Duas ou três fábricas, mercearias, bancos locais, ranchos no entorno. Gente feliz que bebe cerveja e faz churrasco no jardim, no final de semana. Perto dali, uma área semideserta, base militar discreta. Experimentos atômicos que de repente escapam ao controle. Infectam aranhas, elas crescem adoidadas e começam a comer humanos nos ranchos, acercando-se à cidade. Aparecem os mocinhos. Uma cientista rebelde e um tenente apaixonado lutam para combater os bichos e encontrar antídoto para impedir sua proliferação. Orgasmo final: eles vencem e a cidade retoma sua vida pacata – depois de alguns desaparecimentos, é claro. Ufa! Vamos dormir.

Exemplo 2. Um cenário parecido. De repente, umas estranhas plantas aparecem no contorno da cidade. Na verdade, não são plantas, são alienígenas disfarçados. Curiosamente, são vermelhos. A indústria do cine americano adora enrubescer os monstros. Os aliens começam a engolir humanos, tomando seu corpo. Os novos cidadãos, os possuídos, trafegam agora nos mesmos lugares, Mas são outras pessoas. São alienígenas infiltrados. Aparecem os heróis. Uma bióloga excêntrica e desiludida. Um repórter bêbado do jornal local. Um jovem xerife desconfiado e observador. Depois de vários engolidos e abduzidos, os heróis triunfam. Ufa! Vamos dormir.

Convenientemente assombrados pelo mal irreal e facilmente contornável, podemos nos acalmar e sonhar, desviando nossa atenção das ameaças nada fantasiosas e nada contornáveis do dia. Talvez tenhamos sonhos menos suaves, incomodados, quem sabe, pelos efeitos digestivos de pipoca, cerveja e sorvete, em ciclos repetidos e alternados. Não pelos monstros reais, que aguardam o amanhecer.

Se os males do mundo assim fossem, as pequenas cidades norte-americanas estariam hoje acomodadas nos braços de Hilary ou Kennedys – ou outros mocinhos. Só que não.

São essas mesmas cidades – com 50 ou 60 mil habitantes, algumas um pouco maiores – que agora se defrontam com outras ameaças, aranhas ou plantas carnívoras de novo tipo. São os gênios financeiros das corporações, fechando velhas unidades produtivas, de automóveis ou geladeiras, transferindo-as primeiro para o norte do México ou para Osasco e Pirituba, depois para o sul da China. Deixando no antigo sítio um vazio que não apenas se instala nos prédios, mas nas almas das pessoas. Os prédios ficam vazios. As pessoas, não. Elas buscam um outro enchimento. E encontram. Em outro tipo de aranha ou planta carnívora, aquele bicho que lhes promete o retorno do perdido: America First, Again. O brucutu de topete laranja.

Surpresa entre os mocinhos, que rangem os dentes para o recém-chegado, beneficiário do vazio e da reação furiosa. Mas tardam a perceber que esta resposta rancorosa é apenas o contraponto do vazio que haviam provocado eles próprios, os mocinhos. Eles se recusam a admitir a autoria do mal, porque o repetiriam se preciso fosse. Os globalistas do progresso.

É essa a estória que um observador mesmo distraído pode ler em dezenas e dezenas de reportagens sobre as cidades fantasmas dos Estados Unidos. Detroit, por suposto, é uma estrela maior. Mas dezenas e dezenas compõem a constelação – Janesville, Flint, Youngstown... um inteiro alfabeto, com direito a várias repetições. Os Estados do Meio Oeste são atingidos em cheio – eram o coração da indústria na metade do século XX. Mas o declínio pós-industrial é mais amplo e diversificado. E faz surgir uma literatura em expansão – a trajetória triste e sem perspectiva da chamada white working class, heroína e beneficiária da era dourada da manufatura norte-americana. Não apenas Wisconsin, Michigan, Ohio, Filadélfia. Mas também o Kentucky e Louisiana. Ou toda a “América rural”, vítima de um esvaziamento material mas, também, de um rural brain drain de amplas e profundas consequências. O vazio é preenchido por desalento e vício, ressentimento e raiva crescentes.

É antiga, na análise política, a tentativa de explicar crenças e comportamentos políticos “extremados” e aparentemente contrafactuais, fantasiosos, com a figura psicológica (e psiquiátrica) da paranoia. Os riscos dessa analogia são muitos, mas os recursos heurísticos são inegáveis.

A estratégia paranoica – dos paranoicos e dos que se interessam em engendrá-los – é relativamente simples. Trata-se, primeiro, de gerar narrativas que, ao final das contas, “explicam o caos”, dão sentido às tragédias reduzindo o sentimento de auto-incriminação transferindo as culpas para bodes expiatórios convenientes e convenientemente aumentados em sua força e ameaça. A estratégia define um inimigo, modos de enfrentá-lo, apresenta a possibilidade de uma salvação.

Digamos que a paranoia de vez em quando acerta no alvo. Duas vezes por dia, um relógio quebrado dá a hora certa. Passei muitos anos com a paranoia de que era seguido e monitorado. O diabo é que em boa parte desse tempo isso era verdade... Os paranoicos das pequenas cidades devastadas dos Estados Unidos acreditam em tudo que a ultra-direita diz sobre Hillary ou Obama. Mas... os correios de Hillary, registrando suas conversas com Wall Street, estão longe de “desconfirmar” todas as “calúnias”. E no que podem acreditar aqueles que perderam suas casas hipotecadas, na crise de 2009? Quando o socorro de Obama salvou os bancos e aumentou os prêmios de seus executivos? Ou quando Obama despejou milhões de dólares dos contribuintes para salvar a GM, em um plano de resgate que incluía... a transferência para o exterior dos empregos de quatro de suas grandes fábricas?

Deixando em suspenso o juízo sobre o fundo de verdade das paranoias, o que se deve entender, antes de tudo, é o impacto dessa coisa nas almas dos brutos. Uma vez, em livro memorável, Karl Polanyi comentou:

".. uma calamidade social é basicamente um fenômeno cultural e não um fenômeno econômico que pode ser medido por cifras de rendimentos ou estatísticas populacionais.(...) a Revolução Industrial [foi] um terremoto econômico que em menos de meio século transformou grandes massas de habitantes do campo inglês de gente estabelecida em migrantes ineptos. Todavia, se desmoronamentos destrutivos como esses são excepcionais na história das classes, eles são uma ocorrência comum na esfera dos contatos culturais entre povos de raças diferentes. Intrinsecamente, as condições são as mesmas. A diferença está principalmente no fato de que uma classe social é parte de uma sociedade que habita a mesma área geográfica, enquanto o contato cultural ocorre geralmente entre sociedades estabelecidas em diferentes regiões geográficas. Em ambos os casos o contato pode ter um efeito devastador sobre a parte mais fraca. A causa da degradação não é portanto a exploração econômica, como se presume muitas vezes, mas a desintegração do ambiente cultural da vítima. O processo econômico pode naturalmente fornecer o veículo da destruição, e quase invariavelmente a inferioridade econômica fará o mais fraco se render, mas a causa imediata da sua ruína não é essa razão econômica – ela está no ferimento letal infligido às instituições nas quais a sua existência social está inserida. O resultado é a perda do auto-respeito e dos padrões, seja a unidade, um povo ou uma classe, quer o processo resulte do assim chamado "conflito cultural" ou de uma mudança na posição de uma classe dentro dos limites de uma sociedade" (A grande transformação – as origens de nossa época)

No artigo seguinte, vamos comentar uma parte, bem pequena e aleatoriamente selecionada, de uma literatura que exibe esse tsunami. Ele abalou a white working class americana. Como dizia o samba, foi um rio que passou na sua vida e seu coração se deixou levar.

A romaria dos automóveis
Detroit começou seu longo declínio durante a década de 1950, precisamente quando a cidade - e os Estados Unidos - estavam no auge. Enquanto Detroit liderava a nação em renda mediana e em casa própria, a automação e a concorrência estrangeira obrigavam empresas como a Packard a fechar suas portas. Essa fábrica fechou em 1956 e foi deixada apodrecendo, derrubando o East Side, que derrubou a cidade. Inexplicavelmente, sua carcaça ainda permanece e queima incessantemente - proporcionando um cenário decadente para esse “ensaio de moda”.

O que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos. A frase é conhecida e controversa. Teria sido pronunciada por um grande executivo da GM, quando guindado a posições de Estado. Alguns dizem que não foi dita – pelo menos não desse modo. O certo, porém, é que a sentença seguiu o que Fernando Pessoa atribuía aos mitos: escorreu para a realidade e a fecundou. Durante décadas, aquilo que ocorria com a GM marcava o país e sinalizava seus passos. Esse movimento “para cima” tem seu equivalente na baixa. É o que ocorre com as polêmicas sobre declínio da manufatura e seus efeitos deletérios.

O tema da desindustrialização dos Estados Unidos gerou enorme literatura – dos mais variados campos, explorando também variados aspectos, dos mais profundos (e polêmicos) fatores causais até os mais dramáticos efeitos. Em junho de 1980, a Business Week já publicava número especial chamado Reindustrialização da América. Um estudo de fôlego, pioneiro e talvez o mais citado, foi escrito por Bennett Harrison e Barry Bluestone em 1982 – The Deindustrialization of America: Plant Closings, Community Abandonment, and the Dismantling of Basic Industry. O subtítulo resume o encadeamento dos fatos. Ainda restaria por perceber e por analisar o enorme conjunto de efeitos paralelos no terreno psicossocial e ideológico, bem como nos comportamentos e alinhamentos políticos. Algo que, como dissemos, ecoaria na enorme literatura sobre os desmanches do american dream.

Alguns nomes e siglas simbolizam tal mudança. Imagens também. Na lendária cidade do aço, Pittsburgh, as torres da antiga siderúrgica sobreviveram ao desmanche das forjas – hoje fazem a decoração do pátio de estacionamento de um grande centro comercial. À noite, são iluminadas como árvores de natal. 

As transformações no mundo corporativo trocam os nomes dos personagens relevantes. No imediato pós-guerra, a GM era o maior empregador nos Estados Unidos. Hoje é o Wal-Mart. A General Electric, de gigante manufatura, transformou-se em mesa de operações financeiras. Uma empresa símbolo da inovação americana – Apple – pode ser muita coisa, menos “americana”, uma vez que abriu mão da cidadania original. Hoje é uma empresa com passaporte das Bahamas.

E isso diz muito em muitos sentidos. Mas em um deles dói mais. A mudança brutal em inteiras comunidades. As máquinas desativadas resultam em almas vencidas.

A transformação tem impactos também muito visíveis no desmonte do peculiar welfare state norte-americano, peculiar porque esse welfare é bem pouco state, é basicamente privado. Graças à propagação do famoso Acordo de Detroit, do começo dos anos 1950, as empresas norte-americanas se transformaram no canal de realização do chamado sonho americano: um emprego relativamente estável, com salário periodicamente reajustado, promoções na carreira, plano de saúde, previdência complementar. Já houve tempo em que o velho operário da linha da GM, aposentado e acomodado, via seu filho, com a mesma perspectiva, o mesmo futuro. Só que não, mais uma vez – tudo é incerto nesse quadro outrora estável.

Escolhemos alguns retratos desse drama, numa literatura tão fértil. Dois livros que giram, precisamente, em torno da lendária e emblemática General Motors.

O primeiro deles é de Jeffrey S. Rothstein - When Good Jobs Go Bad: Globalization, De-unionization, and Declining Job Quality in the North American Auto Industry (Rutgers University Press, 2016).

Lembra ele que, ainda no começo dos anos 2000, os utilitários da GM (os SUV) eram montados em três plantas. Duas delas no território americano – Janesville (Wisconsin) e Arlington (Texas). A terceira ficava no norte do México (Silao). Outras plantas da GM se dedicavam a outros modelos.

A fábrica de Silao foi aberta em 1994, em um “campo verde”. Uma fábrica criada a partir do zero e com desenho alegadamente mais moderno, numa área antes sem indústria. Silao era uma cidade de 60 mil habitantes, transformada pelo governo provincial em um centro de exportação. Cerca de 90% dos carros eram postos em trens e mandados para os Estados Unidos.

A fábrica de Janesville era de 1919. Inicialmente montava os tratores Samson, também da GM. A planta foi várias vezes reformada – e fechada em 2008, quando caiu o mercado para os utilitários SUV. Tinha uns 3.500 horistas. Janesville era uma cidade do mesmo tamanho de Silao e grande parte de seu oxigênio vinha da GM.

A migração para o México marcou toda a indústria automotiva. Na primeira metade dos anos 1980, as três maiores montadoras americanas (GM, Ford, Chrysler) abriram fábricas no Norte daquele país, que quase se transformou em uma 51ª estrela na bandeira ianque, mesmo antes do famoso acordo de integração (NAFTA, 1992).

Do final da Guerra até o fim dos 1960, a venda de automóveis cresceu rapidamente nos Estados Unidos – de dois milhões para nove milhões de carros por ano. Em parte, por conta da abertura das estradas federais – uma rede impressionante, como indiquei em outro artigo

Outro fator relevante foi a suburbanização acelerada do país, graças à facilidade de crédito imobiliário (as famosas hipotecas...).

No final dos anos 1960, apenas uns 15% dos autos eram importados (Volkswagens, sobretudo). O resto: GM (45%), Ford (25%), Chrysler (15%). Entre 1972 e 1980, a importação de carros cresceu desses 15% para 27%. E os japoneses já respondiam por 20% do total de vendas de autos no país. Invasão amarela, não vermelha.

As montadoras estrangeiras expandiram suas plantas principalmente nos Estados do Sul, aqueles que tinham baixa sindicalização e muitos benefícios atraentes – Toyota, Honda, Nissam, BMW, Mercedes, Volkswagen, Hyundai, Kia. Em 2008, já eram treze marcas.

O deslocamento geográfico (do Meio-Oeste para o Sul) e o crescimento das estrangeiras (também no Sul) resultaram em um novo mapa e em uma tragédia associada.

A indústria automotiva empregava quase 670 mil horistas em Detroit, ainda em 1978. Em 2003, esse número caiu para 275 mil. E cairia outros cem mil nos cinco anos seguintes. Muitos viam com olhos cândidos a mudança – uma nova forma de produção, mais moderna flexível, inteligente e ‘humana”. Bom, e por que então ela buscava e cultivava as áreas “livres de sindicatos”?

As três fábricas da GM, diz Rothstein, eram “organizadas a partir de rotinas e coreografias cuidadosamente padronizadas”. A badalada “produção enxuta” não era bem o que se cantava. Rigorosamente, a comparação mostrava que, de fato, o taylorismo apenas se fantasiava e migrava para outras regiões, para plantas e máquinas mais modernas. Relações de trabalho, nem tanto.

Os “ciganos da GM” vagavam pelas cidades. Em todas elas, uma regra seguia constante, independente do discurso da ‘reestruturação flexível”: o trabalhador deve estar “em movimento” 55 segundos em cada minuto. Sim, isso mesmo. É como nadar durante oito horas – com descansos de respiro de cinco minutos a cada hora.

O segundo ato do drama é escrito por Amy Goldstein - Janesville: An American Story (Simon & Schuster, 2017). O livro também descreve a migração das plantas da GM, mas acentua seus efeitos sociais, que talvez possam ser sugeridos por este parágrafo:

“Para compreender a tristeza, raiva e desconfiança que está modelando a política dos Estados Unidos, olhemos para Janesville, Wisconsin. Quando foi fechada a mais antiga linha de montagem da GM do país, as velhas certezas morreram com ela”.

Essa é a abertura de um artigo de Goldstein para um jornal inglês

No livro, ela conta como isso ocorreu. Soa quase como uma fábula. Pelo fato de parecer irreal e pelo fato de ser “instrutiva”.

Janesville pode ser lembrada, talvez, como a cidade onde nasceu uma famosa caneta-tinteiro – outra lembrança do passado. A Parker Pen Company botou Janesville no mapa do mundo. A GM instalou-se ali e inaugurou uma viagem por esse mapa, criando aquilo que já foi chamado de “GM gipsies” – os ciganos da GM, os trabalhadores que viviam “acampando” onde a empresa montava suas plantas.

Em 1986, por exemplo, uma das linhas de montagem foi transferida para Fort Wayne, Indiana. Os trabalhadores deviam escolher: migrar ou dançar. Uns 1.500 migraram. Hoje existe um grupo no Facebook – o Janesville Wisconsin GM Transfers. Uma postagem de março 2017 mostra o surreal da cena:

“Hoje em Fort Wayne, falei com alguém de Arlington que ouviu de alguém de Lordstown que ouviu de alguém de Wentzville que está ligado com alguém de Lansgind que ouviu a respeito de um vidente de Detroit que contatou Elvis. E Elvis disse que ouviu de uma fonte confiável lá de cima que no dia em que o inferno congelar, a GM vai reabrir a fábrica de Janesville. Provavelmente apenas um boato”.

Sim, boato, pois em 2015 a fábrica de Janesville fechara completamente. Em 2016, de certo modo, a região virava uma espécie de vitrine do que ocorria em muitos outros centros industriais (ou ex-industriais) do país. Por isso a “tristeza, raiva e desconfiança que estão modelando a política norte-americana”

Goldstein reitera que Janesville tem, nas eleições de 2016, aspectos da polarização que marcou essa disputa. Inesperadamente, o Estado de Wisconsin pendeu para o Partido Republicado pela primeira vez em 32 anos.

De fato, em várias regiões do Estado, o que ocorreu foi uma vertiginosa queda da participação eleitoral – e do lado dos democratas. Hilary teve dez pontos percentuais a menos do que Obama, quatro anos antes. E Obama já havia caído, comparado com a primeira eleição. Muitos “vira-casacas” e, sobretudo, muita abstenção de antigos eleitores democratas. Contribuiu para esse movimento aquilo que aconteceu com a GM e o modo como os políticos do partido democrata responderam à coisa. 

A GM que mudou para Arlington e, depois, para o norte do México, não mudou tanto suas linhas e seus métodos de trabalho. Mas mudou o quanto paga de impostos e taxas. E se livrou dos sindicatos. Ora, como prêmio de bom comportamento, Obama lhe deu milhões e milhões. O plano de “resgate”? Importar mais, ao invés de produzir nos Estados Unidos, com trabalhadores americanos. Como é que o Partido Democrata espera que isso seja entendido pelos seus eleitores de base sindical? Ou pelo comércio que sobrevive em torno das fábricas? Razão para que muita gente deixe simplesmente de votar. E para que, de repente, mas nem tanto, a mensagem demagógica de um republicano esquisito soe como algo esperançoso para alguns desses órfãos.

Repetindo: as casas e galpões industriais podem ficar vazios, as almas, não.

* Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes é professor aposentado, colaborador na pós-graduação em Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. É também coordenador de Difusão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre Estados Unidos (INCT-Ineu). Seus livros mais recentes são: “O Peso do Estado na Pátria do Mercado – Estados Unidos como país em desenvolvimento” (2014) e “Educação Superior nos Estados Unidos – História e Estrutura” (2015), ambos pela Editora da Unesp.

* Artigo publicado originalmente no Jornal da Unicamp.

Guerra híbrida agora é para eleger Alckmin

Por Igor Grabois, no blog Viomundo:


O mundo passa por uma nova revolução tecnológica.

Crescentemente, serviços são realizados online, a produção se torna mais flexível em sua cadeia de suprimentos e de apoio, as comunicações em tempo real são a norma.

Novas formas de produzir e obter informações habitam o nosso cotidiano.

Esse processo, comumente chamado de indústria 4.0, impacta as relações internacionais e a política.

E traz novas formas de atuação diplomática e militar.

O conceito de guerra híbrida foi formulado em 2010 por estrategistas estadunidenses.

Nesse conceito os combates convencionais, envolvendo tanques, aviões, mísseis, são apenas uma faceta da guerra, cada vez menos frequente.

Ganha importância a guerra da informação, em um desdobramento muito mais complexo do velho mote das operações psicológicas.

As novas tecnologias da informação, baseadas na internet, permitiram um novo raio de ação na disputa de corações e mentes entre os povos dos países que a estratégia dos EUA chama de “potências hostis”.

A guerra híbrida é, em essência, uma guerra cibernética, não apenas para a destruição de sistemas e infraestruturas digitais.

Mas com uma ampla gama de ações táticas nas mídias digitais: espalhando boatos, estimulando bolhas de opinião, alimentando culturas de ódio e criando um ambiente hostil para a ação política de governos e partidos tidos como inimigos.

Seu objetivo é a ruptura do tecido social, da coesão nacional e da vontade de resistir.

As chamadas primaveras árabes e a atual situação da Ucrânia são exemplos dessa nova forma de guerra.

O Brasil é alvo de uma estratégia de guerra híbrida.

Envolveu a cooptação de membros do judiciário, a criação de grupos de extrema-direita financiados por ONG’s ligadas à comunidade de informações e aos altos círculos financeiros dos EUA, a utilização da mídia tradicional e das mídias digitais em larga escala, como o Facebook e o Whatsapp.

Esses ataques cibernéticos remontam ao ano de 2012, em uma espécie de evento-teste, como boatos como o fim do Bolsa-Família.

Se intensificaram em 2013, tiveram um recrudescimento nas eleições de 2014 e atingiram seu ápice em 2016, nas semanas que precederam o impeachment.

Esses movimentos foram captados pelos serviços de inteligência da Turquia e da Rússia, pelo que se tem notícia.

O resultado é conhecido. A iniciativa dos BRICS implodiu, quando os países-membros preparavam um sistema financeiro alternativo ao FMI e ao Banco Mundial.

As iniciativas da UNASUL e do CELAC também foram paralisadas.

O Brasil perdeu toda, simplesmente toda, influência na África e na América do Sul.

Os aliados do Brasil estão sendo perseguidos e presos em seus países.

O país tem as suas principais empresas ameaçadas de desnacionalização.

Nossas riquezas naturais, em especial o petróleo do pré-sal, alvo de saque de capitais especulativos.

O país foi expulso dos setores do comércio internacional em que se destacava, como proteína animal e serviços de engenharia.

A indústria é destruída de maneira deliberada. Ao povo, miséria e desemprego.

O Japão e Alemanha tiveram um tratamento bem melhor durante a ocupação após a segunda guerra.

O Brasil foi derrotado sem que se disparasse um único tiro.

Essa obra não seria possível sem a colaboração de uma parcela das classes dominantes brasileiras, que se consideram parte de uma elite internacional, sem nenhum tipo de compromisso nacional.

E contou com uma estratégia política e de comunicação muito bem planejada e financiada.

A guerra híbrida ainda não chegou à sua conclusão.

A operação cibernética continua em ação, não apenas por parte dos círculos anglo-americanos.

O atual objetivo é evitar que o povo eleja um governo popular e nacionalista. Há ações de interferência nas eleições de 2018.

Deve-se lembrar que mais de 70% do tráfego da internet brasileira passa fisicamente por território estadunidense.

A informação, cada dia mais, chega aos brasileiros mediada pelos gigantes Google / YouTube e Facebook / WhatsApp.

O debate da sucessão presidencial se iniciou tão logo Dilma foi derrubada. Desde então diversas candidaturas forma lançadas e retiradas.

A cada protótipo de candidato apresentado, dados foram registrados, comportamentos e reações foram observados a partir da interação nas redes.

Os dados processados são utilizados para embasar estratégias políticas e de comunicação das candidaturas do campo conservador.

Querendo ou não, contribuíram para isso a quase candidatura de Luciano Huck e a aventura de Bolsonaro.

Esse esforço irá desaguar no candidato escolhido pelo capital financeiro e seus aliados internacionais: Geraldo Alckmin.

Frente a esse aparato, as forças de esquerda se encontram despreparadas.

Quantos ativistas, bem-intencionados, não colaboraram para a popularidade digital de Bolsonaro?

A barbaridade de suas declarações era dirigida justamente a esse público que, cedendo ao apelo irresistível da crítica e compartilhamento, gerou enorme alcance de suas mensagens de forma gratuita.

O arsenal de cascas de banana digitais é extenso: pesquisas falsas, tretas entre forças de esquerda alimentadas por páginas e perfis de direita, movimentos de bloqueio de opiniões divergentes consolidando núcleos duros, mitos do tipo “pobre de direita” etc.

Assim se cria um isolamento digital que se configura em um isolamento real.

Isso porquê a atuação nas redes não é estanque da esfera offline, a vida vivida.

É parte da dinâmica social do atual estágio do desenvolvimento capitalista.

Essa assertiva vale tanto para o campo da esquerda quanto para as forças da reação.

A interação social pela internet reflete o que há de mais avançado na formação social capitalista e, cada vez mais, condiciona as demais mídias.

Não é mais possível fazer política de modo eficaz sem dominar a linguagem e mecânica das redes.

A tarefa dos brasileiros é recuperar o nosso país. Essa tarefa é de largo fôlego.

Passa pela vitória das forças populares as eleições de 2018 e pela reconstrução do tecido social brasileiro esgarçado pelo regime golpista.

Envolve a elaboração de programas capazes de mobilizar a população, pela articulação política e por medidas operacionais que levem em conta as novas arenas de luta.

Liberada do cárcere, Ahed Tamimi luta contra outra prisão: a ocupação da Palestina por Israel


http://desacato.info/liberada-do-carcere-ahed-tamimi-luta-contra-outra-prisao-a-ocupacao-da-palestina-por-israel/

sexta-feira, 27 de julho de 2018

“Estão aplicando manual da desestabilização na Nicarágua”, diz embaixadora


http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/estao-aplicando-manual-da-desestabilizacao-na-nicaragua-diz-embaixadora/25072018/

Redução de gastos sociais mata

Por Cesar Locatelli, no site Jornalistas Livres:


Após o golpe, nenhuma família sem-terra foi assentada, mais de 110 pessoas foram assassinadas no campo, as compras pelo MEC da produção de assentados foram paralisadas, a posse da terra está mais concentrada hoje do que há 20 anos.

Essas afirmações, feitas por João Paulo, coordenador do MST, na mesa de abertura da Semana de Formação em Direitos Humanos e Economia Popular, organizada pela Ação Educativa (programação), nos levam a perguntar o que fazer para estancar e reverter o retrocesso civilizatório a que estamos submetidos.

O que fazer?
Após o golpe, a pobreza extrema aumentou, a mortalidade infantil subiu, há cada vez mais pessoas cozinhando com lenha por conta da queda na renda e dos aumentos do gás de cozinha. Essas afirmações foram feitas por Esther Dweck, professora do Instituto de Economia da UFRJ, no mesmo evento da Ação Educativa.

Ela ressaltou que os gastos sociais não eram os problemas dos governos Lula e Dilma, embora a mídia tradicional tentasse nos convencer do contrário. Os gastos sociais ajudavam nos orçamentos das pessoas mais pobres, elas consumiam e ajudavam a girar a economia. A austeridade, vendida como necessária para fazer a economia se recuperar, apenas a conduz mais para o fundo do poço, ao mesmo tempo em que provoca o aumento da desigualdade. O que fazer diante dessa política econômica que gera sofrimento e retarda a retomada do crescimento, perguntamos novamente?

O que fazer?
O livro Economia para Poucos, que tem Esther como uma das organizadoras e que vai ser lançado na Flip 2018, sustenta que: “A austeridade compromete o futuro das próximas gerações, aumenta a desigualdade social e destitui direitos dos cidadãos. Atuando de forma seletiva e sexista, transborda seus efeitos negativos para a saúde dos indivíduos e colabora para a degradação do meio ambiente. Em um país ainda tão desigual como o Brasil, tal opção política compromete o papel redistributivo da política fiscal”. O que fazer pela saúde dos brasileiros e de nossa natureza?

O que fazer?
A conclusão sobre os efeitos de políticas de austeridade está estampada no título do estudo dos pesquisadores das Universidades de Oxford e de Stanford, após analisaram os efeitos dessas políticas em diversas nações: “As políticas econômicas de austeridade vêm sendo questionadas em vários lugares do mundo como políticas que geram acirramentos de desigualdades, aumento da violência, concentração de renda, privatização da coisa pública, perda de direitos sociais, abordados pelo estudo ‘A Economia Desumana: a austeridade mata’ (2014)”.

Essa afirmação está na introdução do Relatório sobre o Impacto da Política econômica de Austeridade nos Direitos Humanos, publicado pela Plataforma Dhesca Brasil. Veja no vídeo como o relatório foi elaborado.

“Segundo o relator especial da ONU para extrema pobreza e direitos humanos, Philip Alston, o teto de gastos [adotado pelo governo Temer, liderado por PSDB e MDB] é uma medida “radical” e sem “compaixão”, que vai atar as mãos dos futuros governantes e terá impactos severos sobre os brasileiros mais vulneráveis, além de constituir uma violação de obrigações internacionais do Brasil, colocando em risco gerações futuras.”

O que fazer para deter esses efeitos perversos dessa política que leva ao individualismo, ao “cada um por si”?

Uma coalizão, uma enorme e crescente coalizão
A partir do questionamento “Crise econômica e austeridade: precisa ser assim?” foi erguida a Coalizão Anti-austeridade e pela Revogação da Emenda Constitucional 95. Essa articulação ampla de mais de 80 entidades, redes e movimentos sociais comprometidos com a defesa e a promoção dos direitos humanos no país gerou a campanha Direitos Valem Mais, Não aos Cortes Sociais: por uma economia a favor da vida e contra todas as desigualdades. Veja o vídeo da campnha.

O desafio da campanha é afirmar em todos nós que “sim, nós podemos falar de economia”. A campanha, que já promoveu centenas de rodas de conversa pelo país, é um convite à ação, um convite à contraposição ao fundamentalismo econômico que impede o debate e que repete um pensamento único (austeridade) na condução da política econômica das nações. A campanha é “um esforço intersetorial para apresentar alternativas numa perspectiva socioambiental com objetivo de incidir no processo eleitoral”, assegura Denise Carreira, coordenadora adjunta da Ação Educativa.

Mil rodas de conversa pelo país. Organize uma.

Notas
1- A Comissão Pastoral da Terra registra e publica, desde 1985, os conflitos no campo. A matéria “Assassinatos no campo batem novo recorde e atingem maior número desde 2003” está em https://cptnacional.org.br/publicacoes/noticias/cpt/4319-assassinatos-no-campo-batem-novo-recorde-e-atingem-maior-numero-desde-2003

2- Matéria da Folha de S. Paulo de 16/07/2018 sobre o primeiro aumento da mortalidade infantil no Brasil desde 1990: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/07/com-zika-e-crise-no-pais-mortalidade-infantil-sobe-pela-1a-vez-em-26-anos.shtml

3- Matéria do El País de 22/05/2018 sobre estudo da Fiocruz que revela que congelamento de gastos poderá ter impacto direto na mortalidade de crianças: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/21/politica/1526920172_470746.html

4- “O futuro não ia ser assim”, matéria do El País, 22/06/2018, que afirma que a pobreza extrema voltou a crescer no Brasil: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/22/politica/1526941832_202640.html

5- O livro Economia Para Poucos: impactos sociais da austeridade e alternativas para o Brasil tem a organização de Pedro Rossi, Esther Dweck e Ana Luíza Matos de Oliveira. O livro foi publicado pela Editora Autonomia Literária (http://autonomialiteraria.com.br/loja/sem-categoria/economia-para-poucos-impactos-sociais-da-austeridade-e-alternativas-para-o-brasil/) e será lançado durante a FLIP 2018, em Paraty.

6- O Relatório sobre o Impacto da Politica Econômica de Austeridade nos Direitos Humanos, desenvolvido pela Plataforma DHESCA, investigou “os impactos da política econômica de austeridade adotada pelo governo brasileiro, a partir de 2014, na violação dos direitos humanos econômicos, sociais, culturais e ambientais da população e no acirramento das desigualdades no país, em especial, às desigualdades de gênero, raça, campo/cidade, geracionais e entre regiões”. O Relatório está em: http://austeridade.plataformadh.org.br/.

7- A campanha Direitos Valem Mais, Não aos Cortes Sociais, promovida pela Coalizão Anti-austeridade e pela Revogação da Emenda Constitucional 95, tem por objetivo promover o debate público e somar forças em prol da revogação da Emenda Constitucional 95 e pelo fim da política econômica de austeridade: http://direitosvalemmais.org.br/

8- Roteiro para rodas de conversa traz algumas dicas e ideias para você realizar rodas de conversa e debates sobre a situação econômica do país, como ela tem afetado a sua vida, de sua família, de sua comunidade: http://direitosvalemmais.org.br/files/2018/05/roteiro_rodasdeconversa_v6.pdf

Lula prepara a luta mais heróica de sua vida

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:, 27.07.18


É bom levar a sério a afirmação que Lula já fez chegar aos jornais, segundo a qual pretende exercer seus direitos de candidato a presidente até o fim - e participar da eleição, caso seja possível vencer obstáculos jurídicos que previsivelmente surgirão pelo caminho.

Para quem imaginava que ele estaria prestes a conformar-se com a ideia de que tem zero chances de colocar seu retrato na urna de 7 de outubro, e no momento apenas faria cenas de teatro na cela de Curitiba antes de providenciar a indicação de um substituto, ele tem enviado sinais de uma orientação mais clara, que pode produzir uma campanha eleitoral muito mais animada e combativa do que se costumava prever até aqui.

A decisão de não baixar a guarda se alimenta de dois fatores. Um é político e reside na constatação, óbvia, de que o nome Lula desfruta de indiscutível apoio popular, confirmado a cada rodada nas pesquisas eleitoral. Num país com uma maioria de presidenciáveis cujo nome o eleitorado ignora ou quase nunca respeita, Lula ocupa um lugar único como memória e como esperança de uma parcela cada vez maior de cidadãos. Quando falam do risco de uma eleição esvaziada como nunca, os pesquisadores só se esquecem que estão falando da ausência de Lula como elemento principal de desânimo e desmobilização. Em vez de perder votos depois da prisão, como se imaginava, ele não para de receber apoio de novas parcelas do eleitorado.

Outro aspecto é jurídico. Com auxilio do advogado Luiz Fernando Pereira, especialista em direito eleitoral, cresce em torno de Lula a visão de que não lhe cabe facilitar o trabalho dos adversários políticos que, depois de uma condenação sem provas, agora querem retirá-lo da campanha de qualquer maneira -- e ainda esperam que contribua para isso. 
"Se a legislação eleitoral for respeitada, Lula irá disputar o primeiro turno e terá direito até a aparecer no horário eleitoral," disse o advogado ao longo de um encontro com jornalistas e blogueiros, hoje. O argumento de Luiz Fernando Pereira apoia-se no retrospecto de 146 candidatos a prefeito que, em 2016, enfrentaram uma situação análoga a de Lula em 2018. Condenados em processo criminal, disputaram a eleição protegidos por uma liminar, na esperança de que poderia ser confirmada que poderia ser rejeitada por tribunais superiores após a apuração. No fim das contas, "sete em cada 10 conseguiram confirmar suas candidaturas e hoje permanecem em seus cargos", afirma Pereira.

Não há dúvida de que, diante da parcialidade exibida contra Lula em todas as fases da Lava Jato, a natureza particularmente política de um julgamento envolvendo uma sucessão presidencial estratégica para os destinos da 8a economia do mundo permite encarar a possibilidade de um final feliz para Lula -- e para a maioria dos eleitores brasileiros, como informam as pesquisas -- como o ceticismo devido aos contos de fada. Basta recordar a quantidade de recursos e liminares rejeitadas nas fases intermediárias do processo para calcular o que aguarda Lula nos momentos finais e decisivos. "Para tirar o Lula da campanha, será preciso sujar as mãos", diz o advogado.

Nenhuma destas dificuldades, contudo, permite ignorar o ponto principal.

A decisão de seguir em frente representa não só a reafirmação de sua inocência, a denuncia de uma injustiça histórica. Também equivale a uma demonstração de respeito absoluto pela soberania de um povo que não para de gritar por sua liberdade e sua volta ao governo. Quarenta anos depois de paralisar o ABC - e depois o país inteiro - nas greves de trabalhadores, e deixar o Planalto coberto de glórias como ninguém antes de dele, Lula caminha para travar, decide aos 72 anos, aquela que pode ser a luta mais heroica de sua vida.

Assassinato da estudante brasileira na Nicarágua revela timing da guerra híbrida

https://jornalggn.com.br/blog/wilson-ferreira/assassinato-da-estudante-brasileira-na-nicaragua-revela-timing-da-guerra-hibrida-por-wilson-ferreira

TEIXEIRA: MORO, VOCÊ É UM JUIZ DE DIREITO, DIREITA, OU EXTREMA-DIREITA?

https://www.brasil247.com/pt/247/sp247/363120/Teixeira-Moro-voc%C3%AA-%C3%A9-um-juiz-de-direito-direita-ou-extrema-direita.htm

APÓS SUICÍDIO DE REITOR, UFSC ENFRENTA PERSEGUIÇÃO


https://www.brasil247.com/pt/247/sc247/363178/Ap%C3%B3s-suic%C3%ADdio-de-reitor-UFSC-enfrenta-persegui%C3%A7%C3%A3o.htm

Chico, Fagner, Moro e as afinidades eletivas

Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:


“Chico [Buarque] foi meu grande parceiro. Faz tempo que a política nos separou, mas não influenciou no carinho que tenho por ele”, contou Fagner ao Glamurama.

“Perdi um amigo que amo muito. Infelizmente, porque a política deveria ser uma coisa à parte”.

Na verdade, nunca foi uma coisa à parte para um ou outro.

Se Chico permaneceu coerente em suas posições à esquerda, Fagner migrou no sentido contrário.

Isso, em si, não deveria ser motivo para acabar com uma relação. Fagner poderia ter se tornado um conservador inteligente.

Preferiu virar um Lobão da MPB, ídolo de uma turma que considera Chico um comunista safado que vive em Paris tomando champanhe etc etc — aquela discurseira débil mental clássica.

Virou também papagaio de pirata de Sergio Moro.

A aproximação entre os dois começou em 2015, quando Raimundo Fagner fez uma canção em homenagem a Moro, esse “grande brasileiro que ele está se revelando, a sua competência e a sua coragem”.

Os dois haviam sido apresentados num prêmio.

Um verso enigmático fala que “quem tem tudo na mão não corre atrás”.

Esse pesadelo é repetido infinitas vezes como um refrão inacabado.

Num vídeo caseiro, o menestrel agradece: “Parabéns por você existir nesse país difícil de aturar, mas você existe. Falou, parceirão, grande abraço”.

Fagner e Moro experimentaram momentos inesquecíveis desde então.

Entre eles, um encontro numa churrascaria de Curitiba (Joaquim de Carvalho escreveu sobre esse encontro no DCM).

Na ocasião, no meio dos convivas, Fagner dedicou-lhe a insuportável “Guerreiro Menino”, do chato Gonzaguinha, imortalizada na voz cheia daquelas gorgolejadas do cearense.

“Guerreiros são pessoas/ São fortes, são frágeis/ Guerreiros são meninos/ No fundo do peito”.

E então aquele refrão: “Não dá pra ser feliz/ Não dá pra ser feliz…” Moro ouve com um ar circunspecto, chopinho na mão.

Fagner também esteve no Paraná numa excursão da qual faziam parte intelectuais como Suzana Vieira, Lucinha Lins, Victor Fasano, Luana Piovani e um sujeito que participou da Casa dos Artistas.

A militância vem de longa data.

Já apoiou Lula (em 1989), Tasso Jereissati, Marina (em 2010). Em 2014, foi de Aécio Neves. “Não defendo partidos e não fico em cima do muro”, disse ele.

Antes ficasse.

Declarou que conhecia a “trajetória” de Aécio. Hoje Aécio não recebe mais suas mensagens de WhatsApp.

Fagner despontou em 1978 com o LP “Eu Canto”, que tinha uma bonita versão de “Jura Secreta” e outra de “As Rosas Não Falam”.

(O primeiro disco contava com a belíssima “Mucuripe”, que Fagner considera sua obra prima, parceria com Belchior.)

Estourou com “Noturno”, de 1980, tema da novela “Coração Alado” e emplacou na sequencia a detestável “Borbulhas de Amor”, que ganhou nas redes uma releitura denominada “Borbulhas de Amoro”.

“A nova geração precisa estudar a história do movimento artístico e entender o que as figuras que estiveram envolvidas naquela época pensam hoje”, disse.

Em seu caso, e no de tantos outros, as novas gerações ganhariam muito mais conhecendo suas canções obra através das músicas e não da sabujice com os salvadores da pátria de plantão.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

O Brasil escoa pelo ralo: os casos Embraer e Braskem, por André Araújo


O preço pago pelo MDB ao PSDB para que os tucanos apoiassem o impeachment da Presidente Dilma foi a entrega de toda a área econômica do novo Governo ao PSDB. O PSDB tem uma visão de Brasil como Pais colonial inteiramente submetido ao guarda chuva imperial dos EUA, todo o núcleo dos economistas neoliberais que cercam o PSDB é constituído de agregados ao sistema financeiro americano, formados nos EUA e com mente colonizada até o ultimo grau.
Esse grupo “au grand complet” vê o Brasil como um Porto Rico em tamanho maior, sonham com maior atrelamento ao comando americano como uma dependência subordinada. A esse núcleo duro de economistas neoliberais se enlaçam hoje a grande mídia e o Partido da Justiça, ai incluindo juízes e procuradores alinhados ao modelo jurídico representado pelo Departamento de Justiça, absorvendo e importando para o Brasil suas doutrinas, práticas e ativismos que se transformam no Brasil em missões a cumprir.
 
É nesse contexto que o Estado brasileiro está se desfazendo de instrumentos valiosos de poder estratégico e sustentação de seu desenvolvimento, ferramentas todas elas criadas e DESENVOLVIDAS PELO ESTADO, como a Petrobras, a Embraer, a Braskem, a Eletrobrás, instrumentos que fizeram o Brasil ter o maior crescimento econômico do mundo entre 1950 e 1980.
O Brasil agora, sob a regência dos economistas neoliberais tucanos, se desfazem desses instrumentos porque na visão deles o Brasil tem que depender da Exxon, da Boeing, da Dow, não deve ter estatais de tipo algum, embora 92% das reservas de petróleo do mundo sejam de empresas estatais assim como são estatais 13 das 20 maiores petroleiras globais, sendo que as 4 primeiras são estatais, o padrão estatal como instrumento estratégico não saiu de moda.
O NÚCLEO COLONIZADO DE ECONOMISTAS NEOLIBERAIS
Esse grupo domina desde o Plano Real os mecanismos centrais de manejo da economia brasileira, a começar do Banco Central, mesmo durante os governos do PT. São pessoas da classe média alta, cujo perfil é ter estudado em universidades americanas, ter assimilado o “american way of life” em todos seus maneirismos, atitudes e modo de ver a vida e o mundo. Os filhos, quando estudam no Brasil, são em escolas bilíngues apenas como preparação para terminar a educação nos EUA e mais ainda, morar nos EUA é o sonho, as férias são sempre nos EUA onde muitos têm casa, férias no Brasil é visto como castigo.
A ideia de um Brasil com aspirações de potência no modelo BRIC é para eles uma aberração. O Brasil não deve ser nada, apenas uma plataforma de mercado lincada completamente com a economia americana, um modelo de Porto Rico ou Panamá, para eles o Brasil não tem capacidade de ser outra coisa, dessa visão decorre a politica econômica.
A noção de um grande País que já teve um Imperador Habsbugo, uma cultura complexa multiétnica e multirracial, maior País do Hemeisferio Sul, maior potência ecológica por sua floresta tropical, uma rica e exclusiva História, completamente diferente das repúblicas caudilhescas da América Espanhola, maior País de imigração italiana, árabe e japonesa entre todos, maior País católico, um sucesso cultural pela capacidade de mesclagem, sem paralelo no mundo, maior potência agropecuária e já superando os EUA, nada disso interessa ao núcleo colonizado que comanda a economia brasileira.
O CASO EMBRAER
O Jornal O GLOBO, em abjeta manchete em letras garrafais, edição de 6 de julho de 2018 “ACORDO COM A BOEING DÁ NOVO IMPULSO Á EMBRAER”, confirma sua vocação de porta voz desse grupo de economistas neoliberais, dos quais 80% são cariocas, na sua sina de acabar com qualquer vestígio de alguma coisa nacional que tenha a marca Brasil. A manchete é uma completa mistificação.
A EMBRAER não precisa de impulso da Boeing, tem uma carteira de encomendas de 18,5 bilhões de dólares, suficiente para ocupar suas fábricas por 6 anos. Que impulso a Boeing vai dar? Muito ao contrário, há 120 empresas aéreas no mundo padronizadas em aviões da AIRBUS e não comprarão aviões Boeing. Uma EMBRAER independente poderia vender a essas empresas. Agora, sendo uma divisão da Boeing, não mais.
Países que tem problemas comerciais e diplomáticos com os EUA (e hoje a fila está aumentando por causa das loucuras de Trump), não comprarão mais aviões da EMBRAER porque o produto não será brasileiro, mas sim americano, com os controles tecnológicos super restritivos que são padrão da política comercial americana e no futuro podem bloquear venda de peças e modernização de aeronaves. Não é previsão. Isso acontece na atualidade com muitos países.
Produto brasileiro não tem qualquer restrição no mundo, ao contrário, é sempre bem visto. Um produto de fabricante americano tem restrições em grande número de Países. Para quem não sabe, TODAS as subsidiárias de empresas americanas no mundo estão sujeitas às leis americanas.
Fábricas brasileiras de multinacionais americanas nos tempos do embargo à Cuba NÃO podiam vender um parafuso à Cuba. Todas essas unidades recebem formulários semestrais de relatórios do Departamento de Comércio para preencher com seus destinos de exportação, estejam essas fabricas no Brasil, no Japão ou na Alemanha. Cansei de assinar esse tipo de relatórios que são rigidamente obedecidos pelas multinacionais americanas.
O EPISÓDIO DRESSER INDUSTRIES
A EMBRAER vai perder vendas e não ganhar “impulso” como abjetamente diz o jornal sabujo O GLOBO. A Rússia sob sanções americanas, a China em guerra comercial com os EUA, o Irã em pé de guerra com os EUA, vão comprar produtos com o selo da Boeing? Claro que não.
Quanto ao controle da EMBRAER pela Boeing, o Brasil perde completamente a direção estratégica dessa empresa que tem Brasil no nome. Como divisão da Boeing todo o projeto tecnológico passa para controle americano, eles decidirão a nova família de jatos, a E-3, onde será fabricada, com que peças e componentes, com qual mão de obras e engenharia, todo processo industrial muda de comando e quem já vendeu empresa para multinacionais americanas sabe como eles são rápidos na conversão de uma empresa independente para uma simples divisão de um grande grupo.
A divisão de jatos comerciais, que é a que foi vendida à Boeing, é responsável por 90% do lucro total da Embraer. As divisões que NÃO foram vendidas são as mais fracas, a de defesa e a de jatos executivos que DEPENDIAM da divisão de jatos comerciais, o pulmão da EMBRAER, para seu fluxo de caixa. A EMBRAER é valiosa pela sua área de jatos comerciais.
No setor de jatos executivos a concorrência é acirrada, existem no mundo mais de 20 fabricantes, a área de defesa depende de governos, é difícil ganhar a concorrência, é complicado fabricar, é difícil receber, o que garantia o grupo EMBRAER era exatamente a divisão que vai para a Boeing.
Em 1982 a filial francesa da fabricante americana de compressores Dresser Industries recebeu uma encomenda da petroleira estatal da então União Soviética para fornecer os compressores para um novo gasoduto ligando os campos de gás da Sibéria à Europa Ocidental. A encomenda era importante para a Dresser (France). Noticiado o pedido russo, o Departamento de Comércio dos EUA, invocando o Export Administration Act de 1979, VETA o negócio por ser contra o interesse estratégico dos EUA. A empresa era americana, mas a fábrica era na França. O governo francês não teve duvida, NACIONALIZOU a fábrica francesa da Dresser e manteve a encomenda. O conflito de jurisdição ficou famoso.
Depois do acordo com a Boeing, a Embraer estará sujeita aos controles americanos de exportações administrados pelo Departamento de Comércio, que poderá vetar exportações para uma série de países sob sanções dos EUA, como Rússia e Irã.
Se a Embraer, agora legalmente sob controle de uma corporação americana, desobedecer o controle politico do governo dos EUA, os dirigentes da Boeing poderão ser presos e a Boeing multada em varias vezes o valor da encomenda, assim, nem se sonha em não cumprir a legislação. É uma absurda aplicação extraterritorial da lei americana, mas as subsidiárias estrangeiras de corporações americanas se consideram sujeitas à lei americana, esse é um conflito absurdo que o resto do mundo finge não ver, uma completa violação do conceito de soberania dos países em seu território.
Países como o Brasil aceitam sem pestanejar, como no caso da Petrobras estar sendo processada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos por alegados atos de corrupção praticados no Brasil, a EMBRAER foi processada e multada em US$180 milhões por alegados atos de corrupção praticados na República Dominicana, a lei americana com jurisdição universal rege atos praticados fora dos EUA por empresas não americanas.
O CASO BRASKEM
A petroquímica é uma extensão da indústria petrolífera, foi criada no Brasil basicamente no Governo Geisel como prolongamento (“downstream”) da atividade básica da Petrobras, extração e refino de petróleo. Depois de vários formatos, iniciados com o modelo chamado de “tripartite” (estatal + nacional privada + multinacional), foram criadas uma série de empresas petroquímicas que depois de várias etapas foram reunidas na BRASKEM. Um guarda chuva corporativo entre Petrobras e Odebrecht.
Agora, graças à LAVA JATO, esse grande sistema está sendo vendido a um grupo apátrida que se esconde atrás de um biombo holandês, a Lyonell Basell, empresa que faliu em 2011 e cujo espólio foi comprado pela holding ACCESS INDUSTRIES, de Nova York, por sua vez controlada pelo russo-americano-israelense-britânico Len Blavatnik, oligarca cuja fortuna de 21 bilhões de dólares foi formada nos obscuros processos de privatização dos bens da ex-União Soviética.
Blatvatnik, residente em Moscou, aparece como um dos principais acionistas da petroleira siberiana TNK, parte do imenso complexo petrolífero estatal da ex-URSS. A TNK foi vendida à British Petroleum-BP, em 2003, por 55 bilhões de dólares, ficando Blavatnik com 7 bilhões de dólares, base de sua fortuna. Len é até hoje acionista e está no board da UC Rusal, maior produtora mundial de alumínio.
A partir de seus ativos russos Blatvanik formou seu império, hoje com 200 companhias, entre as quais a Warner Music, pela qual pagou 3,3 bilhões de dólares, a grife de luxo Tory Burch, grande número de hotéis como o Faena de Buenos Aires, Grand Hotel du Cap Ferrat, na Riviera, um prédio histórico em Kensington Palace Gardens em Londres, pelo qual pagou 200 milhões de libras. Blavatnik tem sua própria produtora de filmes, com sucessos como “The Butler” e “Mr.Holmes”, do produtor Lee Daniels. Tentou comprar a MGM, mas sem sucesso.
A Lyondell Basell por sua vez é uma das três maiores petroquímicas no mundo, só nos EUA tem 22 complexos industriais. A sede americana é em Houston em duas super torres modernas de escritórios, tem também 9 fábricas na Europa e uma no Brasil, em Pindamonhangaba.
Também no Brasil, a Access Industries, através de uma subsidiária, controlava a firma de telecomunicações NEXTEL, que vendeu sua operação brasileira por US$ 70 milhões.
Len Blatavnik se esmera nos contatos políticos, na Inglaterra virou “Sir” por sua doação de 75 milhões de libras à Universidade de Oxford, outros milhões para a Royal Opera House, o Tate Gallery, onde construiu um prédio exclusivo com seu nome, a Universidade de Cambridge, onde patrocina um programa de bolsas.
Em Israel Len Blavatnik é um dos mais próximos amigos do Premier Benjamin Netanyau, na Rússia é muito próximo ao Presidente Vladimir Putin através de seu sócio Viktor Vekselberg, um dos melhores amigos de Putin.
Nos EUA, Len Blvatnik é um grande doador de fundos para campanhas dos dois partidos. Em 2011 doou para a campanha de Obama e também para o Republicano Mitt Romney; em 2015-16 doou novamente para os dois Partidos, para Hillary Clinton e Andrew Cuomo, eleito governador de Nova York, para os Republicanos dou 7,35 milhões de dólares e 1 milhão para a festa de posse de Donald Trump, mas também doou para as campanhas de senadores, especialmente de Marc Rubio, John Mc Cain e Lindsay Graham. O incrível é que também doou para um grupo anti-Trump dentro do Partido Republicano, mas seus lobistas americanos são todos ligados ao círculo político do Presidente Donald Trump. (Veja aqui)
Por sua rede de doações eleitorais, entrou no radar o Promotor Especial Robert Mueller e está sendo investigado como um dos dutos de doações russas para campanhas eleitorais americanas, dada a proximidade de Blavatnik com o líder russo Vladimir Putin através do circuito Vekselberg. As ligações politicas na Rússia são complexas e fechadas.
Em outubro devem estar concluídas as negociações para que a Lyonell Basell compre o controle da BRASKEM, que assim ficará em mãos limpas, como deseja a cruzada moralista brasileira, afinal as credenciais de compliance da ex-falida Lyondell Basell e do oligarca russo controlador final do negocio, são impecáveis especialmente no corredor Odessa-Londres-New York-Tel Aviv-Amsterdam.
Len Blavatnik, considerado na lista do Sunday Times como o homem mais rico do Reino Unido, é o líder da sofisticada comunidade de “oligarcas” russos residente em Londres, aqueles que de repente apareceram como “donos” das empresas estatais russas sem que se conhecesse como e quanto pagaram por elas.
Quanto a Braskem, trata-se de empresa contaminada pela “maior corrupção da história do mundo” segundo o professor Villa, visto que os sócios são Petrobras e Odebrecht. Sua venda deve-se à derrocada financeira da Odebrecht e a política de “privatização branca” da Petrobras, uma reação à lenda da “Petrobras quebrada” propagada para dar cobertura à liquidação de ativos da empresa sem licitação, tudo na conta da cruzada moralista.



Os 25 oligarcas russos residentes em Londres tem 4 dos dez maiores iates do mundo, times de futebol, jatos privados, Boeing 737, as mais caras mansões de Londres. Perto deles os corruptos brasileiros são trombadinhas de feira, com a venda Braskem para os oligarcas russos de Londres, a moralidade brasileira estará resgatada.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Guerra Comercial - Programa Brasil Primeiro


https://youtu.be/elKzVpQTX-E

A indisfarçável natureza macabra do governo atual


                                                        

                          *José Álvaro de Lima Cardoso
    O governo federal está cortando mais de R$ 10 bilhões dos programas Bolsa Família, aposentadoria por invalidez e auxílio-doença. A alegação é que o corte ocorreu em função de irregularidades na concessão dos benefícios. A decisão do governo golpista afeta 5,7 milhões de pessoas: 5,2 milhões do Bolsa Família e 478 mil dos auxílios-doença e aposentadoria por invalidez. O governo declarou que pretende ainda cortar mais R$ 20 bilhões de gastos sociais. O detalhe fundamental é que as medidas atingem a população extremamente pobre, que caminha literalmente no limiar da fome, apesar do Brasil ser um dos maiores produtores de alimentos no mundo.
     Outro detalhe nada desprezível é o de que, ao mesmo tempo em que economiza migalhas do orçamento (que são, no entanto, vitais para a sobrevivência dos pobres), o governo gastou mais de R$ 384 bilhões nos últimos 12 meses para pagar juros da dívida pública, valores que alimentam o apetite abutre de cerca de 10.000 famílias de super ricos. O orçamento do Bolsa Família, fundamental para quase 50 milhões de brasileiros, corresponde a cerca de 24 dias de pagamento da dívida pública, dívida essa cujo pagamento deveria ser imediatamente interrompido e que deveria ser auditada, como determinou a Constituição de 1988.  
      Para revelar a sua natureza antipopular e antinacional, o governo não precisaria em uma canetada provocar um prejuízo ao Brasil de R$ 1 trilhão em 25 anos, em favor das petroleiras, nem precisaria entregar a riqueza do pré-sal para as multinacionais do petróleo. Não precisaria tampouco destruir a CLT, uma conquista de 74 anos, que custou sangue, suor e lágrimas dos brasileiros. Não precisaria, da mesma forma, esvaziar o SUS, para construir um “novo sistema de saúde”, transferindo recursos do Sistema para financiar a Alta Complexidade nos planos privados de saúde.
     Tampouco precisaria fazer reuniões secretas com as multinacionais, para lhes dar acesso ao Aquífero Guarani, uma reserva que pode suprir a humanidade de água doce, durante 300 anos, uma riqueza de valor simplesmente incalculável.  Não seria necessário, também, provocar a maior recessão já registrada na história do Brasil, que destruiu a indústria e colocou o desemprego nas alturas. Nada disso seria preciso. Somente o desmonte das políticas sociais, e a condenação de milhões de brasileiros ao horror da fome, já seria suficiente para revelar toda a natureza macabra do golpe em andamento no Brasil.
                                                                                                                                     Economista.

domingo, 22 de julho de 2018

Livro Golpe de Estado e Imposição da Política de Guerra no Brasil: entrevista com o autor


https://sensoreconomicobrasil.blogspot.com/2018/06/livro-golpe-de-estado-e-imposicao-da.html

Entrevista especial com José Álvaro de Lima Cardoso na Revista IHU

http://www.ihu.unisinos.br/580732-de-queridinho-a-trouxinha-a-submissao-da-politica-economica-a-financeirizacao-entrevista-especial-com-jose-alvaro-de-lima-cardoso

Bolsonaro e o ovo da serpente

Por Lúcio Kowarick, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Bolsonaro é deputado federal por vários mandatos, com vasto apoio de algumas parcelas da população, inclusive de alguns expoentes da elite econômica. Não se trata de qualquer pessoa, mas de um pré-candidato à Presidência da República: sem a presença de Lula, os jornais apontam que Bolsonaro recebe apoio de 20% da população, o que lhe dá amplas possibilidades de chegar ao segundo turno nas próximas eleições.

O ilustre deputado, diante das notícias amplamente divulgadas pela imprensa acerca da tortura e dos assassinatos dos opositores da ditadura militar, afirmou tratar-se de algo que se assemelha a um “tapa no bumbum dos filhos”. Desfaçatez, cinismo, descaramento: eis alguns sinônimos que me parecem adequados para semelhante afirmação.

As informações disponibilizadas pela CIA e divulgadas em diversos jornais mostram com clareza que os presidentes militares Médici, Geisel e Figueiredo não só sabiam do que acontecia nos chamados “porões da ditadura”, como também deram aval às atrocidades cometidas, que nada mais eram do que execuções sumárias dos adversários do governo.

A abertura “lenta e gradual” proclamada pelo general Ernesto Geisel estava contaminada por arbítrio e violência de toda ordem, em desrespeito ao essencial no que concerne aos direitos humanos: tratava-se de uma política de Estado.

Não são poucos os jovens que desconhecem as atrocidades que marcaram o período ditatorial: mesmo alguns alunos de Ciências Sociais têm uma vaga noção do que ocorreu durante a ditadura, conforme eu e alguns colegas verificamos no decorrer da década de 2000. Quanto à USP, foi compulsoriamente aposentado o que havia de mais primoroso na universidade, inclusive, entre outros, o sociólogo, mestre de todos nós, Florestan Fernandes e o então professor titular da cadeira de Ciência Política, Fernando Henrique Cardoso. Nos primeiros anos da década de 1970 não era rara a prisão de alunos, alguns torturados e mortos, cuja expressão síntese é o assassinato de Alexandre Vannucchi, presidente do Diretório Central dos Estudantes.

Nesse sentido, vale apontar alguns dados que foi possível colher entre 1964 e 1979. Os referentes aos mortos, desparecidos e assassinados durante os interrogatórios são bastante conhecidos. Em relação às violências que desabaram sobre a sociedade civil, as informações são menos conhecidas e, desse modo, é importante assinalá-las: 500 mil pessoas condenadas, processadas, indiciadas ou presas; 4.877 cassados em seus direitos políticos; 10 mil exilados; 270 assuntos censurados; seiscentas peças teatrais proibidas; mil músicas que tiveram o mesmo destino; intervenção em 536 sindicatos, federações e confederações operárias, e assim por diante.1

Essa nova avalanche de informações torna necessário reabrir a polêmica questão da anistia. Não se trata de revanchismo, mas de um esforço para reconstituir a história na medida em que novos dados provenientes de fontes norte-americanas permitem uma revisão de qual foi realmente o papel desempenhado pela cúpula da ditadura militar. Contudo, não são apenas investigações levadas adiante por historiadores e cientistas sociais, e sim informações que, sobretudo, a Comissão da Verdade não pôde investigar e que atualmente permitem averiguar com mais detalhe o que foi a política de Estado em relação àqueles que se opuseram ao regime militar.

As declarações do deputado federal também representam um acinte a todos aqueles que foram perseguidos, torturados ou mortos e a suas respectivas famílias. Defensor da ditadura militar, Bolsonaro é também discípulo do major Brilhante Ustra, chefe da Obam, centro de interrogatórios, torturas e assassinatos.

O que está em jogo é a ascensão de um conservadorismo político e social de extrema direita, que veste um novo uniforme civil de cunho ditatorial. O ovo da serpente constitui uma metáfora de um filme de Ingmar Bergman que representa o lento envenenamento da sociedade pelo nazismo na Alemanha dos anos 1920. Creio que não é exagero dizer que abaixo do Equador está se gestando um réptil que destila um conteúdo fascista que pode envenenar parte considerável de nossa sociedade.

* Lúcio Kowarick é professor titular do Departamento de Ciência Política da USP. Publicou cinco livros – o último, Viver em risco, recebeu o Prêmio Jabuti de 2010 como melhor livro de Ciências Humanas – e recebeu o Prêmio Florestan Fernandes pelo conjunto da obra outorgado pela Associação Brasileira de Sociologia em 2013.

Bob Fernandes / Bolsonaro quis general de vice, PRP não quis...E como roubavam bilhões na ditadura

https://youtu.be/GvcV2AnrvIc

Os jovens bolsominions

Por Maurício Dias, na revista CartaCapital:

O deputado e ex-capitão do Exército Jair Bolsonarotornou-se, sem dúvida, a mais curiosa e perigosa atração de uma eleição na qual boa parte dos eleitores parece mesmo disposta a votar nele. Sem a presença de Lula, as chances deste tresloucado competidor crescem. A competição é importante. Talvez uma das mais inquietantes da República. Ela sucede a um golpe que, lentamente, leva o País para o fundo do poço. A queda é profunda e está longe do fim. 

Pode-se falar de uma disputa que, na reta final, é hoje, e poderá vir a ser amanhã, uma inédita reação suicida da sociedade. O Brasil tem cerca de 150 milhões de eleitores. Se a eleição fosse hoje, a metade não votaria. As pesquisas, até agora, apontam para uma grande rejeição na intenção de votos nulos e brancos. Eles se somam àqueles eleitores que não souberam e os que não responderam à pergunta: “Em quem vai votar?” E há ainda os cidadãos dispostos a não se aproximar das urnas. 


Protesto infantil. Para saciar o paladar de Bolsonaro, a elite jovem, neste caso, está disposta a dar um tiro no pé. Ou no coturno. Ao votar no ex-capitão, os jovens talvez se sintam descrentes da política. Talvez confiem na equivocada tentativa de vencer o faroeste. Ou, quem sabe, bastariam atrabiliaridades do juiz Sergio Moro?

Dados colhidos na mais recente pesquisa do Ibope mostram a predominância de Lula entre os eleitores mais jovens. Mas essa diferença já foi maior. Eleitores de idade entre 25 e 34 anos ainda perdem para os 23% que sustentam o voto em Lula. Bolsonaro, porém, aproxima-se com 14%. O critério da escolaridade, entretanto, mostra que, no nível superior de ensino, Bolsonaro tem 17% e Lula, 15% (tabela).

Os votos dos mais jovens nas regiões Sudeste e Sul já não são mais sustentados por Lula. O apoio a Bolsonaro é expressivamente maior pelo critério de renda. Entre aqueles que ganham mais de 5 salários mínimos e outros com ganho superior a 2 salários mínimos, Bolsonaro tornou-se, em princípio, insuperável. 

As duas eleições presidenciais, vencidas por Lula, além da vitória de Dilma Rousseff, foram conquistadas com a ampliação de um voto que foi além da linha fronteiriça e própria ao PT. Há agora, no entanto, um claro recuo. Jair Bolsonaro nunca escondeu, nem esconderá agora, que não tem limites para alcançar a cadeira presidencial. Vale tudo. Ele se explica: “Se o nosso foco é a cadeira presidencial, paciência. Só não vamos fazer pacto com o Diabo”.

Calma lá, capitão. O Diabo, caso existisse, não daria nenhuma importância à sua patente.