O governo venceu a batalha pelo programa Mais Médicos, diz o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em entrevista à "Carta Maior".
Por Najla Passos
"O
governo venceu a batalha ideológica contra a direita brasileira pelo
programa' Mais Médicos', aprovado esta semana pelo Congresso e, bem
antes disso, pela maioria da população. Agora, às vésperas de ele ser
sancionado, nem mesmo a ameaça dos dirigentes das entidades médicas de
trabalharem contra a reeleição da presidenta Dilma em 2014 preocupa o
ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Na sexta (18), Dia do
Médico, ele deu de ombros às polêmicas criadas pelos conselhos de
medicina e decidiu prestigiar os profissionais brasileiros que aderiram
ao programa. A unidade de saúde escolhida foi o Centro de Saúde Nº3, na
cidade-satélite de Samambaia (45 km do centro de Brasília), que recebeu
duas médicas brasileiras e, até o final do mês, contará com mais dois
estrangeiros.
Apesar do curto prazo para avaliação, os
resultados são estimulantes. O número de atendimentos, que antes eram
feitos por apenas um médico de família, dobrou.
A Secretaria de
Saúde do Distrito Federal já solicitou recursos ao Ministério da Saúde
para ampliar a unidade que, a partir do próximo mês, pela primeira vez
na história, cobrirá 100% da população local.
Animado, o
ministro diz que, após a presidenta Dilma sancionar a lei do "Mais
Médicos", o próprio Ministério da Saúde passará a conceder o registro
aos estrangeiros, o que colocará fim no boicote das entidades médicas e,
na avaliação dele, fará o diálogo com os opositores do programa fluir
melhor. "Qualquer polêmica se esvazia quando você chega aqui, na
unidade de saúde de Samambaia, e constata que, pela primeira vez, ela
terá 100% das suas vagas ocupadas por médicos. E que isso só ocorreu por
conta do programa Mais Médicos", afirma.
Confira a entrevista:
Carta Maior: O que foi determinante para o governo ganhar essa batalha ideológica pela aprovação do Programa Mais Médicos?
Alexandre Padilha:
O determinante foi mostrar para a população brasileira que o "Mais
Médicos", em primeiro lugar, dava oportunidade aos profissionais
brasileiros e que nós só trouxemos médicos estrangeiros para municípios e
unidades em que não temos médicos suficientes no Brasil para atender.
Acho que isso ficou claro para a população e, certamente, isso ficou
claro também para a maioria dos médicos brasileiros. Eu acho que agora,
com a aprovação do Congresso, com regra legal estabelecida, nós vamos
começar a execução plena do programa e o diálogo vai caminhar cada vez
mais.
CM: Por conta do programa, os dirigentes das
entidades médicas brasileiras ameaçam trabalhar contra a reeleição da
presidenta Dilma. O senhor acha que essa oposição poderá impactar as
eleições de 2014
AP:
Não estou preocupado com isso, mas em levar médicos para a maioria da
população brasileira. Não se pode misturar qualquer conotação partidária
a um programa destinado a resolver o problema de saúde de milhões de
brasileiros. Até porque o "Mais Médicos" foi solicitado por prefeitos de
todos os partidos, inclusive de partidos que são oposição à presidenta
Dilma. Há duas semanas, eu estava na cidade de Salvador, que é
administrada por um prefeito do DEM, o principal partido de oposição à
presidenta Dilma, e fui junto com o prefeito acompanhar uma unidade de
saúde criada há nove anos em Salvador e que nunca tinha conseguido
preencher todas as suas vagas para médicos e, agora, essas vagas estão
preenchidas.
Nós já enfrentamos todo tipo de polêmicas no "Mais
Médicos", e vamos continuar enfrentando, mas sempre com o propósito de
levar mais médicos para a população. Eu penso que qualquer polêmica se
esvazia quando você chega aqui, na unidade de saúde de Samambaia, e
constata que, pela primeira vez, ela terá 100% das suas vagas ocupadas
por médicos, e que isso só ocorreu por conta do programa Mais Médicos.
CM:
O senhor defende com muita veemência a importância da presença do
médico nas comunidades como caminho para melhorar a saúde pública. Isso
tem a ver com a sua experiência no atendimento em aldeias indígenas?
AP: Quando eu saí da
cidade de São Paulo, eu estava ligado à Universidade de São Paulo (USP) e
nós fomos montar um núcleo da USP no interior da região amazônica
brasileira, no interior do Pará, na transamazônica, nas comunidades
ribeirinhas do Tapajós. Eu conheço a importância da presença de um
médico em uma unidade de saúde, perto da população, da comunidade, em
qualquer situação.
Nós vimos isso aqui, em Samambaia, que só
tinha uma médica de saúde da família e agora recebeu duas médicas
brasileiras do "Mais Médicos". A chegada delas dobrou a capacidade de
atendimento médico em Samambaia, mas também estimulou o Estado a
aprimorar a infraestrutura. Nós já vamos alugar duas casas para ampliar o
atendimento, porque vão chegar mais dois médicos e nós precisamos de
espaço para a questão administrativa. Estamos fechando o mapa e vamos
ter, agora, 100% da população coberta aqui em Samambaia por conta do
programa "Mais Médicos".
CM: Quando o senhor esteve na Amazônia atendendo comunidades tradicionais que não falam o português, a língua foi uma barreira?
AP:
Não foi problema. E não só para mim, mas para os vários médicos que
foram comigo. Nós trabalhamos, por exemplo, com a comunidade Zoé, de
índios isolados que nunca saíram da sua aldeia e que não tem contato com
a língua portuguesa. E nós salvamos vidas. Nós evitamos o extermínio do
povo Zoé, que eram mais de 300 indígenas e haviam sido reduzidos para
menos de 200. A nossa entrada lá nos permitiu salvar vidas, recuperar a
cultura deles. Nós tínhamos, conosco, a presença permanente de
lideranças indígenas, de técnicos de saúde, para nos ajudar nesta
situação.
CM: No "Mais Médicos" os estrangeiros também terão apoio permanente?
AP:
O Brasil é muito diverso e mesmo o português é falado de formas muito
diferentes no nosso país. É por isso que esses médicos não ficam
sozinhos. Eles trabalham junto com os agentes comunitários de saúde e
técnicos de enfermagem que conhecem a língua local e podem ajudar a
melhor comunicação entre os profissionais e a população. O importante é o
médico querer conversar, querer se comunicar, querer entender, querer
examinar. Eu estava conversando com a doutora Fernanda, aqui, e ela
falou: ‘olha, eu atendo em média 20 pacientes por dia, porque eu gosto de examinar e de conversar com eles’. É disso que precisamos. Se tiver disposição, a comunicação fica muito fácil."
FONTE: entrevista à "Carta Maior" conduzida por Najla Passos
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