domingo, 13 de outubro de 2013

Para FMI, Brasil é exemplo contra incertezas financeiras

Da estatal britânica de notícias BBC
Retirado do blog Democracia & Política

Pablo Uchoa

"Com uma política de câmbio flutuante, mas com ligeiras intervenções no mercado, e disposição para elevar as taxas de juros de acordo com os movimentos de capitais, o Brasil está “com a casa em ordem” e “pronto para enfrentar os desafios” financeiros em uma economia marcada por “transições” avaliou na quarta-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mais que isso, sugere o Fundo em seu relatório sobre a estabilidade financeira global (GFSR, na sigla em inglês), divulgado durante sua reunião de outono em Washington, "o país é um exemplo de como os emergentes podem reagir à atual reversão de fluxos financeiros que inundaram essas economias desde o início da crise financeira".

Nesse sentido, o conselheiro do Departamento Monetário e de Mercados de Capital do Fundo, Matthew Jones, elogiou a disposição do Banco Central brasileiro em elevar as taxas de juros e realizar leilões de câmbio.

O que está acontecendo no Brasil é que a taxa de câmbio tem sido ajustada de acordo com esses fluxos, e (o governo) tomou medidas para ‘botar a casa em ordem’” no campo macroeconômico, disse Jones.

As políticas que as autoridades brasileiras adotam – primeiro, de elevar a taxa de juros para aumentar a credibilidade da sua política monetária, e segundo, as ações para melhorar a liquidez no mercado de câmbio – acho que ajudaram a responder algumas das preocupações que os investidores têm”, disse o especialista.

Achamos que as respostas do Brasil foram apropriadas e, se continuarem a sua política de reconstruir e reforçar os colchões de resistência, poderão resistir a qualquer desafio que os mercados colocarem.”

'Transições'

Na visão do FMI, o mundo “caminha para uma maior estabilidade global” – mas apenas se realizar corretamente cinco “transições” ocorrendo paralelamente, disse o conselheiro financeiro do Fundo, José Vignals.

As cinco transições na economia global, segundo o FMI

1. Normalização das condições monetárias dos EUA (fim da política de compra de títulos)
2. Zona do euro busca reverter dificuldades de crédito e nível de endividamento de corporações
3. Japão caminha para afrouxamento monetário mais "vigoroso"
4. Mercados emergentes se adaptam a condições de liquidez menos favoráveis
5. Elaboração de uma agenda de reforma regulatória para o sistema financeiro global

Primeiro, os EUA caminham para uma era de normalização nas suas condições monetárias – mais imediatamente, para a retirada gradual da política de afrouxamento quantitativo, o programa de compra de títulos por parte do Federal Reserve (FED), a autoridade monetária americana, adotado em reação à crise econômica dos últimos anos.

O mercado espera que mais cedo ou mais tarde o BC americano comece a reduzir o valor das compras, hoje em US$ 85 bilhões por mês.

O presidente Barack Obama deve indicar a pessoa encarregada de liderar essa transição, a vice-diretora do Fed Janet Yellen.

Se for confirmada pelo Senado, a primeira mulher a comandar o FED suscitará expectativas de dar continuidade ao processo iniciado por seu antecessor, tentando casar os dois objetivos da instituição: gerar estímulo econômico para criar empregos, mas ao mesmo tempo não descuidar da meta de inflação.

O diretor de Política Monetária e Mercado de Capitais do FMI, José Vignals, disse que esse processo será “complexo” e “sem precedentes”, e que o BC americano precisa manter uma comunicação “clara e oportuna” para evitar volatilidade.

Recentemente, comentários do atual presidente do FED, Ben Bernanke, indicando que o programa de compras de títulos pudesse começar a ser retirado já causaram saída de capital de vários países emergente, causando uma desvalorização das respectivas moedas.

Outras transições

O abandono sem sobressaltos das políticas expansionistas americanas facilitaria as outras transições que o FMI identificou na economia global.

Na zona do euro, as pressões sobre os títulos soberanos, os bancos e a moeda comum foram reduzidas por meio de ações políticas em nível nacional e regional, mas desafios ainda persistem nas dificuldades de crédito e nível de endividamento das corporações.

A economia japonesa, sob o primeiro-ministro Shinzo Abe, caminha para um regime econômico marcado por um afrouxamento monetário mais “vigoroso”, nota o FMI, acompanhado de reformas fiscais e estruturais.

Vignals disse que o Japão “precisa implementar este pacote por completo”, porque sem as reformas fiscais e estruturais planejadas, o plano pode intensificar os riscos à estabilidade financeira.

Enquanto isso, os mercados emergentes precisam se adequar a condições de liquidez menos favoráveis.

Nos últimos cinco anos, o fluxo para os títulos dos países emergentes aumentou em mais de US$ 1 trilhão de dólares, quase meio trilhão de dólares acima da sua tendência de longo prazo, disse o FMI.

Isto levou a uma forte redução dos prêmios pagos por países que mais viram entradas de recursos, como Indonésia, México e as Filipinas.

Para o FMI, a receita diante de uma reversão ou declínio de fluxos é deixar as moedas se depreciarem, com apenas algumas intervenções necessárias para evitar movimentos desordenados.

O anúncio do Brasil de um transparente, porém temporário, programa de intervenção na taxa de câmbio para reduzir a incerteza em relação à volatilidade da moeda é um passo nessa direção”, exemplificou o relatório.

Além disso, as economias emergentes podem se beneficiar de linhas de swap (troca de moedas) com os principais bancos centrais para eliminar a falta de liquidez nos mercados de câmbio”, recomendou o documento.

'Casa em ordem'

Por fim, recomendou o Fundo, os emergentes precisam reconstruir seus “colchões” de resistência à crise e cuidar de suas vulnerabilidades macroeconômicas – o que o FMI está chamando de “botar a casa em ordem”.

No Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia, por exemplo, “os déficits em conta corrente têm persistido, a inflação permanece em níveis elevados e a política monetária segue limitada frente à desaceleração do crescimento”.

José Vignals lembrou que “enquanto progredimos, ainda precisamos completar uma agenda de reforma regulatória, implementando consistentemente as novas regras em todos os países e incrementando a supervisão”. Essa é a quinta e última transição identificada pelo Fundo.

Ainda [o mundo] não chegamos lá. Ainda falta muito trabalho para alcançar um sistema financeiro global mais seguro.”

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