Por Xavier Monthéard.*
Do
nada, ele fez um exército; de um enfrentamento local, um símbolo da
resistência à iniquidade. Ele venceu os franceses da batalha de Diên Biên Phu, em 1954, e depois arrasou os norte-americanos, com a Ofensiva do Tet, em 1968. Um David que triunfou sobre diversos Golias: assim se inscreve o general Vo Nguyen Giap na história do Vietnã.
Giap nasceu em 25 de agosto de 1911, em Annan,
protetorado da Indochina francesa. Foi criado por sua família numa
atmosfera de orgulho pela dominação estrangeira. No colégio de Hue, a
leitura do Processo da Colonização Francesa, de Ho Chi Mihn,
transtorna-o. A ganância dos colonizadores, seu desprezo pela população
local e sua brutalidade provocam, em 1930, um vasto levante, duramente
reprimido. Instruído pela prisão, Giap terá, a partir de então, vida
dupla.
Forma-se em 1934, torna-se professor, casa-se. Ao mesmo tempo, ingressa no Partido Comunista, clandestino. As bases do Vietminh,
uma estrutura operária e camponsesa ligada à Internacional Comunista,
estão superadas. Na China, Giap recebe, em 1940, orientação de formar um
exército de libertação. Tem trinta anos, seu futuro transforma-se. A
partir de então, três décadas de combate – pela independência, em
setembro de 1945; contra o ocupação francesa da Indochina, até 1954;
contra os invasores norte-americanos, expulsos em 1975 – serão marcadas
por seu gênio militar.
De volta a Diên Biên Phu, em 1994, quarenta anos após vencer os franceses. Abnegação dos soldados e unidade profunda com camponeses eram conceitos-chave para Giap
Sem formação militar acadêmica, Giap refina o conceito de “guerra popular prolongada”:
um exército de camponeses firmemente apoiado na população. Suas tropas
souberam ser respeitadas nos vilarejos por sua abnegação, que
contrastava com a arrogância francesa e norte-americana. Em
contrapartida, os civis ajudavam os soldados e tornaram possíveis
proezas logísticas. Basta vislumbrar as dificuldades do cerco de Diên
Biên Phu: durante 55 dias, jangadas e bicicletas, que se esgueiravam
pelas trilhas da floresta, abasteceram de alimentos e munições um
exército sob chuva de bombas e napalm.
Para Giap, a guerra
revolucionária comportava três fases: a defesa estratégica, a guerrilha e
a contra-ofensiva. Ele foi insuperável nas duas primeiras, mas se
mostrava às vezes impaciente, nas operações de grande amplitude. Soube,
porém, transformar uma derrota tática, como a de Têt, numa vitória
política: a opinião pública norte-americana tremeu, quando descobriu a
onipresença dos “Vietcongs”.
Afrontado por uma lógica de
aniquilação, Giap desenvolveu uma estratégia que fez voar em pedaços o
que ele chamava de “mito da insuperável potência das tropas
norte-americanas”. Segundo um de seus biógrafos, Cecil B. Currey, Giap
foi “talvez o único gênio militar do século 20 e um dos maiores de todos
os tempos” – porque “desencadeou uma batalha contra seus inimigos a
partir de uma situação de grande fraqueza, começando quase sem tropas,
porém capaz de vencer sucessivamente os vestígios do império japonês, os
exércitos da França (à época segundo império colonial) e os Estados
Unidos, então uma das duas superpotências do mundo”
* Le Monde Diplomatique | Tradução: Antonio Martins
Fonte: O
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