18/02/2013
Em manifestação de encerramento, presidente
equatoriano defende continuidade da Revolução Cidadã e apresenta
candidatos da Alianza País para as eleições de domingo (17). "Este é o
encerramento multitudinário de uma campanha verdadeiramente nacional, de
unidade do país. Aqui está a resposta para a manipulação midiática, que
diz que a campanha foi apática", disse Correa.
Quito - Na noite da última quinta-feira (14),
dezenas de milhares de pessoas cobriram de verde a tradicional Rua
Michelena, no Sul de Quito, para manifestar o seu apoio à reeleição do
presidente Rafael Correa e aos candidatos do Alianza País, movimento que
reúne patriotas socialistas e comunistas que sustentam a "Revolução
Cidadã".
Felipe Bianchi e Leonardo Severo*
Data: 16/02/2013
"Este é o encerramento multitudinário de uma campanha verdadeiramente nacional, de unidade do país. Aqui está a resposta para a manipulação midiática, que diz que a campanha foi apática. Foi apática para seus candidatos, e sem interesse, para a sua partidocracia. Nunca vi a Michelena tão cheia, nunca vi tanta alegria, tanta esperança e tanto entusiasmo para avançar", declarou Correa.
O presidente reafirmou seu compromisso de garantir a soberania e o desenvolvimento nacional , ampliando os investimentos públicos e construindo uma "Pátria para sempre, para os filhos dos nossos filhos e netos". Da mesma maneira, o candidato enfatizou o compromisso com a "Pátria Grande" com que sonhou o libertador Simón Bolívar, investindo no fortalecimento da integração latino-americana.
O hino da Unidade Popular, da vitoriosa campanha de Salvador Allende no Chile, em 1970, e inúmeras canções revolucionárias, como "Para siempre Comandante", em homenagem a Che Guevara, embalaram a multidão.
Agradecendo o apoio da população que saiu às ruas em setembro de 2010 para derrotar a tentativa de golpe perpetrada por "poucos maus policiais que assassinavam o povo", apoiados "tanto pela mais radical direita quanto pela 'suposta' esquerda", o presidente disse que não há no país uma oposição democrática, "mas conspiradores", que "vamos sepultar nas urnas no próximo domingo (17)".
Diante do contundente fracasso dos golpistas, que "tomavam whisky em hotéis cinco estrelas para celebrar a morte do presidente, a oposição se somou rapidamente aos grandes meios de comunicação para defender a anistia aos assassinos", apontou Correa. "Esses meios mercantilistas", recordou, além de minimizarem a violência e a agressão à democracia e à ordem constitucional, fizeram um "tremendo escândalo" para converter o agredido em agressor.
Mais de três mil pessoas participaram da elaboração do programa de governo do Alianza País, que conta com 10 eixos e 35 propostas. Entre elas, a implantação de "políticas públicas no campo da comunicação para potencializar a liberdade de expressão, distanciada de conceitos e critérios mercantis. Fazer deste valor democrático e transformador uma ferramenta das novas gerações".
Em seu discurso Correa frisou o caráter amplamente representativo da escolha das candidaturas do movimento: "Antes, quem tinha dinheiro comprava a candidatura. Agora temos a lista de candidatos mais diversificada do país: pequenos agricultores, mulheres, indígenas, cooperativistas, ambientalistas, pequenos empresários e tantos outros". Como no Equador o voto é em lista, os partidos elegem os parlamentares conforme seu percentual de votos e na ordem em que foram inscritos.
Por isso, ressaltou Correa, a metade das candidaturas do Alianza é formada por mulheres, que alternam com os homens na lista, garantindo que "não sirvam, como antes, apenas para figuração". "Nossa revolução crê verdadeiramente nas mulheres e na estrita equidade de gênero. Acabou a discriminação, a mulher tem que ocupar o lugar que lhe corresponde na política, na economia e na sociedade. A Revolução Cidadã tem rosto de mulher". Além disso, o movimento acordou que os suplentes participarão "em pelo menos 25% das seções", privilegiando a ação coletiva sobre a individual.
Entre os vários candidatos que subiram ao palanque, chamados um a um para saudar os presentes, o presidente citou a jovem Gabriela Rivadeneira, de apenas 29 anos, e Marcelo Vilés, liderança dos trabalhadores elétricos que se opuseram ao neoliberalismo e impediram a privatização da eletricidade.
A questão ambiental também integra o programa do Alianza Pais, que tem entre suas candidatas a ex-ministra do Meio Ambiente Marcela Vallejo que, citou Correa, "diferente do ambientalismo infantil, coloca o ser humano no centro, com o imperativo de vencer a pobreza com a utilização adequada dos recursos naturais"
O presidente mencionou, ainda, os candidatos indígenas, "que nos enchem de esperança com seu amor e entrega pela Pátria, com suas mentes lúcidas e corações ardentes" e dos inúmeros lutadores sociais "que entregaram seus peitos às balas" contra os governos entreguistas.
A campanha que percorreu e mobilizou os habitantes da Serra, Costa, Amazônia, Galápagos e entre "nossos irmãos migrantes", declarou o presidente, "permitiu recorrer casas, ruas e praças pintadas pelo coração e a consciência de um povo empoderado". Para chegarmos até aqui, ressaltou, "houve resistências e batalhas históricas de um povo cansado de viver em um país sequestrado por presidentes títeres das oligarquias nacionais e estrangeiras". "O povo equatoriano se levantou e estamos aqui os representantes das bases, dos excluídos. Somos a geração que está recuperando a Pátria, devolvendo a dignidade e a esperança à nossa terra e ao nosso povo".
Rafael Correa reiterou durante vários momentos de seu discurso que "é proibido esquecer", lembrando que o país chegou a ter sete presidentes em dez anos, sempre seguindo o receituário de Washington. "Temos avançado tanto e os mesmos de sempre querem voltar ao passado de entreguismo, de servilismo, de terceirização, exploração do trabalhador e de migração forçada, que destruiu centenas de milhares de famílias", disse. Recordou a resistência contra os TLCs (Tratados de Livre Comércio), a retirada da base militar estadunidense em Manta, entre outras ações que a grande mídia e a elite tentam relegar ao esquecimento.
Ao mesmo tempo, o presidente citou o exemplo de "Bolívar, Alfaro, Che Guevara, Sandino e Zapata, símbolos de rebeldia e emancipação" e se comprometeu a reafirmar a cada dia os seus princípios, "trabalhando pelos anos que sejam necessários".
O ex-ministro coordenador de Setores Estratégicos e candidato a vice-presidente Jorge Glas comparou o Equador antes e depois da Revolução Cidadã, mostrando-se comprometido em alavancar o potencial de crescimento do país. "Antes de Correa, 80% do nosso petróleo ficava com as transnacionais e apenas 20% era nosso. Renegociamos os contratos e, além de sermos donos do petróleo, estamos em vias de inaugurar a maior refinaria do Pacífico", diz.
Apesar de comemorar as conquistas dos últimos seis anos, Glas reiterou a necessidade de o Equador se desenvolver ainda mais, mudando a matriz produtiva: "Por décadas os oligarcas nos falavam que o país 'tinha vocação para a agricultura'. Por anos, disseram que não podíamos nos desenvolver. Mas vamos por mais", bradou. "Temos que nos industrializar, refinar nosso petróleo, investir em petroquímica, telecomunicações, siderurgia, metalurgia". Esta mudança da matriz produtiva, advertiu, "é essencial para garantirmos nossa soberania".
Gabriela Rivadeneira e Virgilio Hernández, duas importantes lideranças do movimento Alianza Pais, também foram ovacionados pela multidao, reafirmando o apoio ao presidente e comprometimento com a Revolução Cidadã.
Candidata mais jovem à Assembleia - e que encabeça a lista de candidatos do Alianza Pais -, Rivadeneira lembrou a importância da juventude para consolidar o processo de transformações pelo qual o país tem passado: "Por muito tempo saímos às ruas para protestar contra os oligarcas, pintando muros contra os TLCs e indo às ruas. Por muito tempo gritamos contra a privatização e defendemos o que é do povo equatoriano. Agora, temos um papel ainda mais importante: o de lutarmos pela continuidade da Revolução Cidadã, que tem transformado em realidade o sonho de milhares de equatorianos".
De acordo com Rivadeneira, "necessitamos que nasçam milhões de Correas, milhões de Chávez e milhões de Ches", pois "para consolidar este processo precisamos cada vez mais nos entregarmos à sua construção".
Liderança do distrito sul de Quito, aonde acontecia o comício, Virgilio Hernández destacou a "conquista da dignidade" e denunciou a politica de entrega do patrimônio público às transnacionais e ao sistema financeiro implementada pelos diferentes governos neoliberais, que tem seu representante no banqueiro Guillermo Lasso, candidato da oposição. "A Revolução Cidadã fez da população de cada rincão do país uma população digna. Mais que isso, hoje todos temos autoestima e nos orgulhamos de sermos equatorianos".
No encerramento do ato, que ocorreu no dia do Amor e da Amizade, Correa e os candidatos da Alianza Pais entoaram, junto à multidão, a música "Nuestro Juramento", de Julio Jaramillo: "Eu te prometo, escreverei a história de nosso amor com toda a alma cheia de sentimento. A escreverei com sangue, com a tinta sangue do coração".
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