A
situação da indústria e o mercado interno no Brasil
*Mairon Edegar Brandes e José Álvaro Cardoso
Os indicadores de
produção e emprego industriais fecharam 2012 com resultados muito ruins.
Conforme mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a produção industrial regional manteve um comportamento oscilante ao longo de
todo o ano, crescendo em um determinado mês e recuando no mês seguinte. Ao
longo do ano, a produção industrial não conseguiu “engatar” um ritmo de
crescimento, seja em termos setoriais, seja em termos regionais (ver Carta IEDI
nº 554: Indústria de novembro de 2012: Produção Sem Ritmo e Emprego em Queda).
Esse comportamento oscilante decorre do fato de que, ao mesmo tempo em que a
indústria já recebe os efeitos dos fatores de estímulo à recuperação (redução
dos juros, desvalorização cambial, etc.), ela sofre determinações mais
profundas, de caráter estrutural, que levou ao segundo ano seguido de declínio
da produção industrial.
Conforme
diagnosticou o IEDI, no documento supra citado, os principais fatores
contrários a um desempenho favorável da indústria nos últimos anos seriam: “(i)
término do ciclo de duráveis; (ii) colapso dos investimentos da economia
brasileira; (iii) falta de competitividade da indústria nacional, com reflexos
internos (maior concorrência do produto importado no mercado interno
consumidor) e externos (queda das exportações de produtos industrializados); e
(iv) aumento dos custos sistêmicos e do custo do trabalho, dado um pequeno
avanço da produtividade” (p.2). Em 2012, até novembro, a produção industrial recuou
2,6%, resultado da queda do nível de produção em nove das catorze localidades
pesquisadas pelo IBGE. Cinco locais recuaram acima da média nacional (–2,6%):
Amazonas (–7,1%), Espírito Santo (–6,0%), Rio de Janeiro (–5,6%), São Paulo
(–4,1%) e Rio Grande do Sul (–3,9%). Dado o peso que esses estados têm na
produção nacional fica claro que o problema da indústria é muito sério.
Em Santa Catarina,
apesar da indústria em geral também atravessar dificuldades, o comportamento em
setores estratégicos da indústria de transformação (Têxtil; Borracha e
plásticos; Artigos do Vestuário; Papel, celulose e produtos de papel; Produtos
químicos.) apresenta comportamento diferente no período janeiro/novembro:
1) houve expansão da produção e da
produtividade da indústria catarinense no decorrer do ano de 2012, já que as
taxas de crescimento do número de pessoal ocupado não acompanham as taxas de
expansão da produção;
2) ocorreu crescimento
também do faturamento real (resultado de vendas) das empresas no ano. Apesar de
haver crescimento, com exceção da indústria de vestuário e têxtil, na massa
salarial real, a expansão desse indicador ficou aquém ao observado no
faturamento. Ou seja, o trabalhador produziu mais e recebeu menos em Santa
Catarina. Todas as indústrias analisadas neste breve artigo registraram aumento
na produção e no faturamento (vendas) com crescimento em menor proporção no
número de pessoal ocupado e na massa salarial real.
Como não existe
nação desenvolvida sem indústria, as dificuldades mencionadas têm que ser
enfrentadas com vigor e inteligência. É fundamental evitar fortes movimentos do
câmbio, especialmente na direção da valorização do real. As taxas de juros têm
que continuar baixando (sem descuidar da inflação) e confluir definitivamente
para parâmetros internacionais. O Brasil também tem que estabelecer barreiras
aos capitais não desejados. Além disso, o país tem que desenvolver um conjunto
de políticas voltadas para o objetivo de expansão do mercado interno, que é o
maior ativo que a economia de um país pode possuir. Por isso é fundamental
acelerar o processo de inclusão e de distribuição de renda.
*Economistas e técnicos do DIEESE da equipe de Santa
Catarina.
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