terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Análises sobre o próximo papa




Pega de surpresa, a imprensa europeia tenta entender por que Bento XVI adiantou seu adeus. Uma das possiblidades aventadas é o levante de movimentos católicos conservadores e rentáveis como Legionários, Opus Dei e Comunhão e Liberação, que agiram contra um papa que ameaçava ‘limpar a igreja’, ainda que moderadamente, daqueles que cometeram delitos financeiros ou eram advogados de pedófilos. A análise é de Martín Granovsky, do Página 12
Data: 12/02/2013
A versão italiana do ‘The Huffington Post’ informa sobre a bolsa de apostas. A agência Paddy Power põe a Itália na frente da África, com uma vantagem de 2,75 a 3,00. Em matéria de nomes, o nigeriano Francis Arinze está cabeça a cabeça com o ganês Peter Turkson e o canadense Marc Ouellet.

Dos italianos, o melhor ranqueado é o arcebispo de Milão Angelo Scola, seguido pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano. Já há também aposta sobre qual nome será escolhido pelo sucessor de Bento XVI: Pedro, Pio, João Paulo, Juan e Bento.

No ‘The Guardian’, o correspondente Sam Jones sugere cinco temas que deveriam entrar na agenda do próximo pontificado. Primeiro, métodos anticoncepcionais e aids. Diz que, por um lado, Bento XVI conseguiu se diferenciar de seus antecessores quando, três anos atrás, disse que o uso de preservativos era aceitável em ‘certos casos’. Como quando uma prostituta o usa para se proteger da aids.

Por outro lado, evitou tratar da relação entre preservativo e métodos anticoncepcionais e também como evitar gravidez em caso de relação sexual por puro prazer. Em 2009, durante viagem à África, Bento XVI havia dito que o preservativo era um ponto chave na luta do continente contra a aids.

O segundo ponto para uma futura agenda são os casos de abuso sexual dentro da Igreja, um que explodiu publicamente durante o atual pontificado e que ainda não foi resolvido. Ainda que tenha falado de vergonha e delitos inqualificáveis cometidos por sacerdotes pedófilos, muitos críticos avaliam que o Vaticano ainda falta com transparência sobre as investigações em curso, sustenta o jornalista do ‘The Guardian’.

O terceiro tema da agenda seria composto pela questão da homossexualidade e o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Em sua última mensagem de Natal, o papa disse que as atitudes modernas àquele respeito constituem um ataque contra a verdadeira estrutura da família, ou seja, pai, mãe e filhos.

O quarto tema é o aborto. O canadense Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos e que pode ser considerado o terceiro cargo em importância no Vaticano, após o papa e o secretário de Estado, disse em Quebec que interromper a gravidez é um delito moral inclusive em caso de estupro.

Sobre o quinto tema, que trata do papel das mulheres na Igreja, o papa disse em Roma, em 2007, que ‘Jesus elegeu 12 homens e pais da nova Israel’. E, em abril de 2012, advertiu os católicos partidários de ordenar mulheres ou contrários ao celibato.

O teólogo Juan José Tamayo escreveu no ‘El País’ que Bento XVI foi ‘um grande inquisidor’. “O papa não soube dar resposta aos mais de 1,2 bilhão de católicos que existem no planeta e que buscavam resposta a questões como a liberdade de expressão e acadêmica, e ainda limitou o pensamento crítico da Igreja”, apontou.

“O maior problema é a pedofilia. Uma questão que tem sido o maior escândalo na história do cristianismo e que explodiu em suas mãos. No princípio, impôs o silêncio quando era presidente da Congregação para a Doutrina da Fé. Depois, tomou medidas tímidas, tem aplicar o determinado pelo direto canônico e sem colaborar com tribunais civis”, concluiu Juan José Tamayo.

Também no ‘El País’, Miguel Mora escreveu uma coluna intitulada “Os movimentos ultracatólicos ganham a partida”. O argumento é que Bento XVI tentou fazer uma limpeza, mas foi débil ou estava pouco convencido dos problemas. Comentou sobre Ratzinger: “O ortodoxo cardeal alemão tem sido durante seu mandato um papa solitário, intelectual, fraco e arrependido pelos pecados e os delitos (...) rodeado por lobos ávidos por riqueza, poder e imunidade”.

E continuou: “A Cúria formada nos tempos de João Paulo II era uma reunião do pior de cada diocese, desde responsáveis por evasão fiscal a advogados de pedófilos, passando por contrarrevolucionários latino-americanos e fundamentalistas da pior espécie. Essa Cúria, digna de ‘O Poderoso Chefão III’, sempre viu com maus olhos a tentativa de Ratzinger de fazer uma limpeza a fundo, enquanto os movimentos mais fortes e rentáveis, como os Legionários, Opus Dei e Comunhão e Liberação trabalhavam contra qualquer vislumbre de regeneração”. Scola, o arcebispo de Milão, pertence justamente à Comunhão e Liberação.

Vittorio Zucconi, no seu blogue do diário italiano la Repubblica, perguntou se Bento XVI fez um gesto de humildade ou o contrário: um gesto de alguém que quer evitar a agonia de uma exposição pública. E Zucconi resgata um ponto. Sustenta que com sua renúncia o papa “criou um precedente na história moderna que nenhum de seus sucessores poderá ignorar, e ficará aberta a todos, e sempre, a possibilidade de ir embora por motivos pessoais, de saúde ou erros”. Segundo essa linha, “todos os homens são falíveis”. E, como o papa é um homem, “o papa é falível”.

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