Luis Nassif
Nos últimos anos, sob comando do economista Otávio de Barros, o
Bradesco constituiu a maior equipe de economia entre as empresas
privadas brasileiras. Meticuloso com indicadores, Otávio montou um
painel minucioso dos principais indicadores nacionais e
internacionais, e - o diferencial - passou a trabalhar a enorme
base de clientes do banco.
A partir dessa montanha de informações, o Departamento de
Economia chegou ao seguinte consenso:
O pibinho de 2012 se deveu a um conjunto inédito de fatores
negativos.
Os principais fatores (que não deverão se repetir) foram:
- Seca no Nordeste e do Sul, detonando o PIB agrícola.
-
Crise no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes), devido aos escândalos, paralisando os investimentos
em infraestrutura.
- A implantação abrupta de novos padrões
de motores, praticamente paralisando a venda de
caminhões.
- Endividamento do setor sucroalcooleiro,
paralisando a produção de álcool.
- Queda brutal na
produtividade da Bacia de Campos, que, de repente, passou a 70% da
capacidade anterior.
- Queda brusca das exportações para a
Argentina.
- Os apertos do Banco Central na Selic, em 2011,
somados às medidas macro prudenciais, que acabaram afetando
2012.
- Tais fatores teriam “roubado” de 0,8% a 1% do
PIB.
O segundo ponto é a metodologia adotada pelo IBGE
(aparentemente, em revisão). Segundo Otávio, os mesmos dados, se
colocados no sistema que roda o PIB da OCDE (o grupo de países
mais avançados), haveria no mínimo um ponto a mais no PIB e outro
nas taxas de investimento.
Novo “normal”
Em 2013 e, especialmente em 2014, se colherão os frutos do novo
padrão de política econômica implantado a partir de agosto de
2011.
O “novo normal”, na economia mundial, seria constituído dos
seguintes fatores:
- Crescimento moderado do crédito. Moderado porque mais
cuidadoso, ao contrário do porre de 2010 e 2011.
- Maior
intervenção do Estado.
- Menores taxas de retorno sobre o
capital.
- Crescimento baseado na produtividade e no
investimento, e não mais no consumo.
- No caso brasileiro,
a posição do governo Dilma, segundo Otávio, é a do território
conquistado em batalha, portanto irreversível. O “território” em
questão consiste na taxa Selic civilizada, nos aportes no BNDES
(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), câmbio
mais competitivo, redução dos impostos, do custo de energia e dos
encargos trabalhistas.
O Bradesco trabalha com uma previsão de crescimento de 3,5% do
PIB. Nas últimas semanas, os rumores de racionamento de energia
fizeram o mercado derrubar um pouco a projeção.
Cenário internacional
Contribui para essa previsão a situação internacional. Os
Estados Unidos já completaram as quatro etapas de entrada e saída
da crise; a Europa estaria no terceiro quartil. O presidente do
Banco Central Europeu, Mário Draghi, teria operado uma
impressionante reversão na ortodoxia, principalmente, do
Bundesbank alemão. E a economia alemã já estaria refletindo essa
situação.
Além disso, com a redução do risco sistêmico, a enorme injeção
de liquidez na economia internacional poderá, finalmente,
refletir-se na economia real.
Luis Nassif é jornalista
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