Altamiro Borges
A greve dos portuários na sexta (22), que mobilizou cerca de 30
mil operários em 36 portos de 12 Estados, fez com que o governo
recuasse na sua posição de acelerar a aplicação da Medida
Provisória 595, que cria um novo marco regulatório para o setor.
Após reunião em Brasília, os Sindicatos anunciaram o fim imediato
da paralisação. Em troca, o governo se comprometeu, finalmente, a
negociar alguns pontos polêmicos do MP. A mídia patronal, que
destilou ódio contra os grevistas, não deve ter gostado do
desfecho.
Segundo relato do jornal O Globo do dia 25, o governo
decidiu “suspender as multas aos sindicatos e garantiu que não
fará movimentos para acelerar o trâmite da MP no Congresso,
interromperá o processo licitatório concedendo áreas à iniciativa
privada e não editará decretos regulamentando a MP até 15 de
março, quando os dois lados esperam chegar a um acordo’. A gente
tem que ter humildade de dizer que precisa conversar e abrir o
leque da negociação’, afirmou o José Leônidas Cristino, da
Secretaria Especial de Portos”.
O governo alega que a Medida Provisória visa modernizar os
portos. Já os Sindicatos afirmam que o projeto acelera a
privatização deste setor estratégico, beneficia as multinacionais
e vai gerar desemprego. “Do jeito que está redigida, a MP
prejudica frontalmente os interesses dos trabalhadores e,
consequentemente, do povo brasileiro”, ataca Wilton Barreto,
presidente da Federação Nacional dos Estivadores. No outro
extremo, Gerdau, Cargill e outras corporações elogiaram a MP e
apresentaram propostas bilionárias de portos privados.
Neste conflito de interesses, a mídia privada não vacilou em
defender o lucro do capital e atacar a luta dos trabalhadores. Em
editorial, o Estadão criticou o “mau uso da força” – numa
crítica à Força Sindical, que liderou a resistência dos
portuários. Para o jornal da famiglia Mesquita, que historicamente
sempre satanizou as greves operárias, o governo não deve “se
render às ameaças da Força” e deve acelerar a MP, “que tem tido o
apoio da maioria das organizações empresariais” interessadas em
“reduzir os custos operacionais”.
No mesmo rumo, o editorial intitulado “Abertura dos portos”, a
Folha afirmou que a mobilização sindical visa "manter a
reserva de mercado para contratar mão de obra, o que anularia a
boa iniciativa liberalizante do Planalto”. O jornalão, que faz
oposição aberta ao governo, até elogiou “a louvável iniciativa da
presidente Dilma Rousseff de abrir, ainda que parcialmente, o
setor portuário ao capital privado e à concorrência”. Para a
famiglia Frias, outra inimiga histórica da luta trabalhista, a
resistência portuária é um “atraso”.
Aos jornalões conservadores se somou a senadora Kátia Abreu,
presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Segundo
o jornal Valor, ela comparou o “movimento grevista às
invasões do MST”. A ruralista defende a MP por motivos óbvios: a
chamada “modernização dos portos” serve aos interesses dos barões
do agronegócio, favorecendo as exportações. Quanto aos
trabalhadores – ou escravos? –, pouco importa! Nestas horas,
latifundiários, empresários e a midiazona se unem contra o
trabalho e têm pressa!
Altamiro Borges é jornalista, dirigente do
Partido Comunista do Brasil e presidente do Barão de
Itararé
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