Por Paulo F.
Da Deutsche Welle
A raiz da esquerda latino-americana está realmente na Venezuela? Devido à grave doença do presidente venezuelano e à subsequente crise institucional no país, já se discute a herança política do líder na região.
Hugo Chávez na Venezuela, Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Cristina Kirchner na Argentina – é longa a lista de políticos de esquerda que nos últimos 15 anos ganharam eleições na América Latina.
O primeiro deles, no entanto, foi Hugo Chávez, em 1998. Mas embora pertençam a um período comum, os diferentes modelos políticos de esquerda não têm as mesmas características, adverte o político cubano exilado Antonio Guedes. "O Brasil e o Peru, por exemplo, são regidos por partidos que seguem as regras democráticas de seus respectivos países, nos quais reina uma divisão saudável de poderes."
Esse não é o caso na Venezuela. "Chávez assumiu, paulatinamente, o controle sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário", disse Guedes, que também faz parte da União Liberal Cubana. Por esse motivo, Chávez seria uma ameaça à democracia.
A posição polêmica de Chávez na região reflete igualmente sua personalidade e sua política. Ele representa a divisão social da América Latina, afirma o jornalista alemão Christoph Twickel, que escreveu uma biografia sobre o líder venezuelano. Chávez é visto como um sinal de esperança pelos mais pobres e, por outro lado, como uma ameaça pelos mais ricos, afirmou.
Ao mesmo tempo, Twickel reconhece que, graças à sua "maneira pouco convencional de fazer política", Chávez seria um dos políticos mais controversos da América Latina.
Guedes: Esquerda na Venezuela não se compara a Brasil ou Peru
Populismo e polarização
O biógrafo de Chávez considera o ex-tenente-coronel uma figura central da virada à esquerda latino-americana. O historiador social colombiano Andrés Otálvaro vai ainda mais longe: "Chávez revitalizou o debate político e ideológico na América Latina". Assim, o socialismo voltou a ser uma alternativa ao modelo neoliberal vigente, disse o historiador.
O crítico de Chávez Antonio Guedes não nega a forte influência do político carismático. Para ele, o foco, no entanto, está além da política. "De longe, a maior parte de sua influência Chávez exerce por meio do dinheiro que vem da riqueza petrolífera da Venezuela. Além do mais, ele ampliou sua influência política em países menores, como Nicarágua, Equador, Bolívia e até mesmo na Argentina."
Na opinião de Guedes, o papel ideológico pioneiro em termos de socialismo pertence claramente aos irmãos Castro, em Cuba.
Norte contra Sul
Enquanto internamente Chávez distingue-se sobretudo por impor reformas socialistas, na política externa ele se apresenta como um adversário dos Estados Unidos. A "independência" da América Latina do poderoso vizinho do Norte seria sua principal preocupação. Por esse motivo, em termos regionais, ele se engaja pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que engloba todo o continente americano, com exceção do Canadá e dos EUA. Fora do continente, Chávez se alia a controversos governantes, como o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o chefe de Estado bielorrusso, Alexander Lukachenko.
Para Otálvaro, essas são meras amizades por conveniência. "Chávez aceitou alianças com líderes tão problemáticos principalmente para se posicionar contra a hegemonia dos EUA", disse o historiador. Da mesma forma, o biógrafo alemão de Chávez não vê uma aproximação consciente de regimes ditatoriais. Ele considera isso um desejo de "cooperação econômica sob o signo da solidariedade" e um grau de apoio a países menores, como Nicarágua e Cuba. Twickel lembra que a Venezuela também se beneficiou de médicos e professores cubanos, com a ajuda dos quais foi possível expandir os sistemas de saúde e educação venezuelanos, especialmente nas áreas rurais.
Autor: Jan David Walter (ca)
Revisão: Francis França
Revisão: Francis França
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