10/01/2013
Uma semana para não esquecer
O jornalismo praticado pelo dispositivo
conservador tem cada vez mais o prazo de validade de um pote de iogurte
vencido. A 'grave denúncia' da noite azeda no contato com o oxigênio
da manhã.
A manchete garrafal e assertiva da hora desaba ao primeiro sopro dos fatos. Como um frango desossado da Sadia, não se sustenta sem os ganchos de uma desconcertante indiferença à realidade.
Não raro, a afronta à opinião pública balança sua indignidade por dias seguidos nas páginas e sites, como a carcaça putrefata da credibilidade conservadora.
A insistência do vetusto 'Estadão' em manter uma 'barrigada' histórica na manchete --a 'decisão' do Ministério Público de pedir a investigação de Lula'-- é o exemplo arrematado da carnificina da notícia no cepo conservador.
No futuro, quando o historiador autopsiar esse açougue onde cortes especiais redesenham o país ao gosto de interesses pantagruélicos, será possível avaliar melhor as consequências da injeção sistemática de semi-informação, meias verdades, semi-cultura, mentiras e vulgaridade no imaginário social.
Não se trata apenas de aferir votos. A cidadania plena é inseparável da consciência histórica adquirida através da razão argumentativa que politiza os fatos e materializa os valores que sustentam a convivência compartilhada.
Por ora, trata-se de resistir à matéria tóxica.
Poucas tarefas terão maior importância do que essa nos dias que correm.
A capacidade de entorpecer o discernimento social é o principal trunfo político de um feixe de interesses cada vez mais dissociado dos anseios da população. Cada vez mais disfuncional em relação à agenda do desenvolvimento. Cada vez mais avesso ao aggiornamento que a democracia requer em nosso tempo. (Leia também o blog do Emir; nesta pág.)
Sites e blogs progressistas devem redobrar esforços na tarefa de oferecer um contrapeso de equilíbrio ao aluvião beligerante embutido nessa asfixia narrativa.
Não ceder ao discurso panfletário já encerra em si um contraponto.
Mas ele somente será eficaz se adquirir a abrangência capaz de romper os torniquetes da infantilização da opinião pública promovida pelo monopólio midiático.
Discutir alternativas críveis a uma crise igual ou pior que a vivida pelo capitalismo em 1929 é o que de mais importante deveria fazer um sistema de comunicação plural e democrático.
A dimensão política dos impasses em jogo, rusticamente condensados na incompatibilidade entre a supremacia financeira e as necessidades vitais da sociedade, convoca a imaginação a erguer linhas de passagem não usuais ao passo seguinte da história.
Quando as coisas atingem o ponto a que chegamos a resistência concentrada nas questões convencionais da sobrevivência não basta.
Urge uma disposição mudancista desassombrada para redefinir o papel do Estado e da democracia na retomada do crescimento, em meio à desordem neoliberal.
O conjunto requer um salto de discernimento, organização e engajamento que não se materializará sem a mobilização de ideias e agendas que um jornalismo isento teria obrigação de espelhar .
Não é esse o presente imediato, tampouco o horizonte visível da chamada grande mídia no Brasil.
A sofreguidão das machetes nos últimos dias colecionou provas suficientes de um empenho que avança na contramão desse imperativo.
Foi uma semana para não esquecer.
Um apagão midiático, uma investigação contra Lula, salvas ao 'candidato anti-intervencionista' das gerais, a concentração de vapor golpista contra o regime venezuelano e um alarmismo inflacionário improcedente compuseram o repertório da isenção informativa aspergida insistentemente nos corações e mentes da sociedade.
O saldo distorce os fatos, mas informa o que vem pela frente.
O incompreensível desdém do governo em relação aos meios de comunicação progressistas --a ponto de discriminá-los no agendamento da publicidade oficial de interesse público-- assume assim contornos de um erro político de consequências desestabilizadoras.
Sempre se poderá alegar em defesa da inércia que o limite do abuso é o contrapeso implacável da realidade objetiva. Esta favoreceria o discernimento político da sociedade.
Em termos.
O economicismo que se acredita autossuficiente na disputa pela hegemonia é tão equivocado quanto o laissez-faire, que dispensa ao Estado o menosprezo de um estorvo burocrático.
No fundo, ambos entregam o destino da Nação às forças de mercado. Com as consequências conhecidas, quando o conflito de interesses atinge a polarização prenunciada nas manchetes da semana que passou.
A manchete garrafal e assertiva da hora desaba ao primeiro sopro dos fatos. Como um frango desossado da Sadia, não se sustenta sem os ganchos de uma desconcertante indiferença à realidade.
Não raro, a afronta à opinião pública balança sua indignidade por dias seguidos nas páginas e sites, como a carcaça putrefata da credibilidade conservadora.
A insistência do vetusto 'Estadão' em manter uma 'barrigada' histórica na manchete --a 'decisão' do Ministério Público de pedir a investigação de Lula'-- é o exemplo arrematado da carnificina da notícia no cepo conservador.
No futuro, quando o historiador autopsiar esse açougue onde cortes especiais redesenham o país ao gosto de interesses pantagruélicos, será possível avaliar melhor as consequências da injeção sistemática de semi-informação, meias verdades, semi-cultura, mentiras e vulgaridade no imaginário social.
Não se trata apenas de aferir votos. A cidadania plena é inseparável da consciência histórica adquirida através da razão argumentativa que politiza os fatos e materializa os valores que sustentam a convivência compartilhada.
Por ora, trata-se de resistir à matéria tóxica.
Poucas tarefas terão maior importância do que essa nos dias que correm.
A capacidade de entorpecer o discernimento social é o principal trunfo político de um feixe de interesses cada vez mais dissociado dos anseios da população. Cada vez mais disfuncional em relação à agenda do desenvolvimento. Cada vez mais avesso ao aggiornamento que a democracia requer em nosso tempo. (Leia também o blog do Emir; nesta pág.)
Sites e blogs progressistas devem redobrar esforços na tarefa de oferecer um contrapeso de equilíbrio ao aluvião beligerante embutido nessa asfixia narrativa.
Não ceder ao discurso panfletário já encerra em si um contraponto.
Mas ele somente será eficaz se adquirir a abrangência capaz de romper os torniquetes da infantilização da opinião pública promovida pelo monopólio midiático.
Discutir alternativas críveis a uma crise igual ou pior que a vivida pelo capitalismo em 1929 é o que de mais importante deveria fazer um sistema de comunicação plural e democrático.
A dimensão política dos impasses em jogo, rusticamente condensados na incompatibilidade entre a supremacia financeira e as necessidades vitais da sociedade, convoca a imaginação a erguer linhas de passagem não usuais ao passo seguinte da história.
Quando as coisas atingem o ponto a que chegamos a resistência concentrada nas questões convencionais da sobrevivência não basta.
Urge uma disposição mudancista desassombrada para redefinir o papel do Estado e da democracia na retomada do crescimento, em meio à desordem neoliberal.
O conjunto requer um salto de discernimento, organização e engajamento que não se materializará sem a mobilização de ideias e agendas que um jornalismo isento teria obrigação de espelhar .
Não é esse o presente imediato, tampouco o horizonte visível da chamada grande mídia no Brasil.
A sofreguidão das machetes nos últimos dias colecionou provas suficientes de um empenho que avança na contramão desse imperativo.
Foi uma semana para não esquecer.
Um apagão midiático, uma investigação contra Lula, salvas ao 'candidato anti-intervencionista' das gerais, a concentração de vapor golpista contra o regime venezuelano e um alarmismo inflacionário improcedente compuseram o repertório da isenção informativa aspergida insistentemente nos corações e mentes da sociedade.
O saldo distorce os fatos, mas informa o que vem pela frente.
O incompreensível desdém do governo em relação aos meios de comunicação progressistas --a ponto de discriminá-los no agendamento da publicidade oficial de interesse público-- assume assim contornos de um erro político de consequências desestabilizadoras.
Sempre se poderá alegar em defesa da inércia que o limite do abuso é o contrapeso implacável da realidade objetiva. Esta favoreceria o discernimento político da sociedade.
Em termos.
O economicismo que se acredita autossuficiente na disputa pela hegemonia é tão equivocado quanto o laissez-faire, que dispensa ao Estado o menosprezo de um estorvo burocrático.
No fundo, ambos entregam o destino da Nação às forças de mercado. Com as consequências conhecidas, quando o conflito de interesses atinge a polarização prenunciada nas manchetes da semana que passou.
por Saul Leblon
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