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Filme lança olhar complexo sobre caçada a Bin Laden
Kathryn e Boal querem que o público não leve em consideração as controvérsias de 2012, que incluíram alegações - negadas por eles - de que tiveram acesso a informações sigilosas. "Trata-se de um olhar sobre o interior da comunidade de inteligência. A força e o poder, a coragem e a dedicação e a tenacidade e vulnerabilidade desses homens e mulheres", diz a diretora de 61 anos.
Ela ganhou o Oscar em 2010 por "Guerra ao Terror", sobre um grupo de especialistas em desarmamento de bombas do exército americano em ação no Iraque. Kathryn diz que seu novo filme, que entra em cartaz no Brasil no dia 18, coloca a plateia no centro da missão para encontrar Bin Laden, e oferece uma nova perspectiva sobre o serviço de inteligência dos EUA e como seus métodos mudaram nos anos que se seguiram aos atentados do 11 de Setembro.
"É um assunto controverso, que vem sendo continuamente politizado. O filme foi mal interpretado durante um ano e meio e nós adoraríamos se as pessoas fossem assisti-lo e julgassem por si próprias", diz Boal. O thriller de ação está sendo visto como candidato ao Oscar, depois de já ter recebido várias nomeações e prêmios de grupos de Hollywood. O anúncio será feito hoje.
Quando Bin Laden foi morto por soldados da Marinha americana em maio de 2011, Kathryn estava a poucos meses de começar a rodar um filme sobre a fracassada tentativa de encontrá-lo nas montanhas de Tora Bora, no Afeganistão, durante invasão liderada pelos EUA uma década antes.
Ela reviu o projeto. "A Hora Mais Escura" começa não muito tempo depois dos atentados do 11 de Setembro, com cenas fortes de tortura que incluem a chamada "simulação de afogamento", humilhação sexual e um detido sendo forçado a entrar dentro de uma caixa. O filme é estrelado por Jessica Chastain, que faz Maya, agente da CIA que usa informações recolhidas durante interrogatórios brutais, vigilância eletrônica e métodos de espionagem à moda antiga para rastrear Bin Laden.
As cenas de tortura, que são vistas no filme como produtoras de informações corretas e falsas dos prisioneiros, estão provocando debate inflamado. Kathryn e Boal disseram que o filme não pretende fazer um julgamento - positivo ou negativo - sobre esses métodos de interrogatório. "O que estamos tentando mostrar é que houve tortura", diz Boal. "Obviamente está havendo uma discussão. É uma discussão dentro da comunidade de pessoas que são especialistas e tenho certeza de que essa discussão vai perdurar por muitos anos."
Kathryn afirma que grande parte da segunda metade do filme mostra agentes usando outros métodos como a vigilância eletrônica. O longa usa várias locações, como as prisões secretas da CIA fora dos EUA, conhecidas como "Black Sites", a cidade paquistanesa de Islamabad e Camp Chapman, em Khost, no Afeganistão. Sua intenção não é ser representação exata dos participantes envolvidos na caçada ao líder da Al Qaeda. O que o filme faz é contar a história pelos olhos de Maya, jovem sem muita experiência de campo, e sua luta contra as ameaças à segurança dos EUA, a burocracia da CIA e chefes que acabam descobrindo o esconderijo de Bin Laden em Abbottabad, no Paquistão.
"Ela é baseada em uma pessoa real. Há outras que também contribuíram e que não estão representadas e cujos trabalhos espero que estejam representados em sua caracterização - trata-se de uma personagem em um filme, e não de um documentário", diz Boal. "Queria apresentar para o público a perspectiva dessas pessoas, esses homens e mulheres que participaram dessa caçada", diz Kathryn. "São dez anos comprimidos em pouco mais de duas horas... Mas é na verdade o ritmo da caçada que dá ritmo ao filme."
Jessica disse em entrevista que a mulher que ela representa ainda está na ativa. "The Washington Post" informou que a agente está hoje na casa dos 30 anos, continua como agente secreta e embora tenha recebido a mais alta medalha da CIA, recusou uma promoção.
Boal, jornalista que virou escritor e ganhou o Oscar de roteiro por "Guerra ao Terror", não dá mais detalhes, limitando-se a dizer que a agente é "uma pessoa real". "Conversei com pessoas, reuni o maior número de informações em primeira mão que pude", diz Boal, que nega ter recebido informações que vazaram ou ter solicitado material confidencial. As críticas do filme têm sido positivas, especialmente em relação ao ritmo e doses de suspense impostos por Kathryn.(Tradução de Mario Zamarian
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