*José Álvaro de Lima Cardoso.
Segundo ótimo estudo divulgado pela Subseção
do DIEESE na FUP, Federação Única dos Petroleiros[1], em
2015 e 2016 a direção da Petrobrás vendeu ativos que somam US$13,6 bilhões, cerca de 90% do que foi planejado para
os referidos dois anos. A companhia só não vendeu 100% do que estava previsto
porque foi impedida, por decisão da Justiça de Sergipe, de realizar a venda dos
campos de Tartaruga Verde e Baúna, localizados na Bacia de Campos e de Santos,
respectivamente. O estudo do DIEESE observa que a política de tentar reduzir a
dívida, via vendas de ativos, não tem levado em conta as necessidades de longo
prazo e as tendências estratégicas do setor.
Além disso, para atrair compradores a
empresa utiliza uma estratégia de reavaliar os valores dos ativos, depreciando-os.
O resultado imediato destas políticas é a perda de dinheiro, especialmente
neste contexto de recessão e de crise mundial, na qual os ativos como um todo
já perderam valor. Por exemplo, segundo o texto da Subseção, o Complexo
Petroquímico de Suape tinha seu valor contábil registrado em R$4,5 bilhões em
2015, nas demonstrações contábeis do 3T2016, estava avaliado em R$1,6 bilhões e
foi vendida em dezembro de 2016 pelo valor de R$1,25 bilhões. Ou seja, em
relação ao preço avaliado em 2015 a perda foi de R$3,25 bilhões.
É,
de fato, impressionante a pressa com que os golpistas estão desmontando a
empresa e entregando o seu patrimônio à voracidade das multinacionais. O que
confirma o que o mundo já sabe, ou seja, que uma motivação central do golpe de
Estado é disponibilizar às multinacionais do petróleo as imensas reservas do pré-sal.
Exatamente por isso a Petrobrás está no olho do furacão desde o começo da crise
e por isso montaram uma operação (Lava Jato) para liquidar a Companhia e o seu
entorno de empresas de engenharia. A retirada da empresa da condição de
operadora única do pré-sal, como sancionado recentemente pelo presidente
golpista, foi somente uma etapa, o objetivo é destruir a Petrobrás enquanto
empresa pública e entregar o pré-sal às multinacionais.
Para
tanto, vale qualquer mentira ou mistificação. Se falou, durante todo o tempo de
construção do golpe, que a Petrobrás estava completamente endividada, devido à roubalheira
e à má administração verifica nas gestões do governo anterior. O balanço da
Petrobrás revela uma dívida de quase R$400 bilhões, inferior à receita de 2015
da empresa. Ora uma empresa cuja receita
anual é superior à dívida está “endividada”? Obviamente que não, ainda mais se
considerarmos que a Petrobrás, em 2015, tinha um dos maiores planos de
investimentos do mundo, em função das necessidades de expansão decorrentes das
descobertas do pré-sal. Investimentos estes que, ademais, já começaram a gerar
caixa para a empresa, em função, inclusive, da velocidade com que o pré-sal vem
aumentando a sua produção e produtividade no período recente.
Outro
aspecto fundamental a ser considerado é o de que a empresa está vendendo ativos
depreciados, que iriam no curto prazo gerar dinheiro vivo, e cujo total
arrecadado com as vendas - 13,6 bilhões de dólares - não representa nem 10% da
dívida. Não há portanto, lógica contábil nessas transações e muito menos lógica
financeiro-comercial. Para termos uma
ideia, em setembro do ano passado, a Petrobrás dispunha em caixa de R$ 73
bilhões, quase 70% acima dos valores apurados com as vendas dos ativos em 2015
e 2016. Quantas empresas no mundo têm R$ 73 bilhões em caixa? Qual é a racionalidade
desse tipo de política, que não resiste a alguns cálculos simples? É a do
entreguismo, do desmonte intencional da empresa, para resolver o problema das
grandes multinacionais do petróleo, que diminuíram seus lucros com a queda
recente do preço do petróleo.
Muitos brasileiros ainda hoje duvidam que
o desmonte da Petrobrás e a entrega do pré-sal é o golpe dentro do golpe, que o
petróleo foi cálculo fundamental na participação no golpe por parte do
imperialismo. É que somos ingênuos e prezamos pouco pela história, mesmo a
recente. Em 2013, a imprensa no mundo todo, e também no Brasil, noticiou que a
Petrobrás foi alvo de espionagem de organismos de inteligência dos EUA,
especialmente na questão das tecnologias de exploração de petróleo em águas
profundas e ultra profundas, o pré-sal. Foi revelado naquela ocasião que a Agência de Segurança Nacional dos
Estados Unidos (NSA) agiu em parceria com a inteligência do Reino Unido, do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia.
Ficamos sabendo que a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores
também foram espionados pela NSA, fato inclusive que levou ao cancelamento de
uma viagem da presidente aos EUA, prevista para 2013.
Nos primeiros dias de janeiro foi
divulgada uma entrevista do criador do Wikileaks, Julian Assange, concedida ao
jornalista Fernando Morais. Dentre as várias informações relevantes da
entrevista, uma delas é a de que, ao contrário do que se poderia pensar, na
América do Sul o país mais espionado pelos EUA é o Brasil. E isto por duas razões
principais, segundo Assange: trata-se da maior economia da América Latina e que
fez recentemente a maior descoberta de petróleo do milênio. Possivelmente este
seja o primeiro golpe de Estado do Brasil, no qual está sendo possível dissecar
vários de seus aspectos enquanto ele ainda se desenvolve.
*Economista.
[1] Efeitos
do processo de privatização da Petrobrás e a posição dos petroleiros da FUP,
divulgado em 29/12/16.
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