terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Os números da Petrobrás e o golpe.



                                                                                     *José Álvaro de Lima Cardoso.
          Segundo ótimo estudo divulgado pela Subseção do DIEESE na FUP, Federação Única dos Petroleiros[1], em 2015 e 2016 a direção da Petrobrás vendeu ativos que somam US$13,6 bilhões, cerca de 90% do que foi planejado para os referidos dois anos. A companhia só não vendeu 100% do que estava previsto porque foi impedida, por decisão da Justiça de Sergipe, de realizar a venda dos campos de Tartaruga Verde e Baúna, localizados na Bacia de Campos e de Santos, respectivamente. O estudo do DIEESE observa que a política de tentar reduzir a dívida, via vendas de ativos, não tem levado em conta as necessidades de longo prazo e as tendências estratégicas do setor.
         Além disso, para atrair compradores a empresa utiliza uma estratégia de reavaliar os valores dos ativos, depreciando-os. O resultado imediato destas políticas é a perda de dinheiro, especialmente neste contexto de recessão e de crise mundial, na qual os ativos como um todo já perderam valor. Por exemplo, segundo o texto da Subseção, o Complexo Petroquímico de Suape tinha seu valor contábil registrado em R$4,5 bilhões em 2015, nas demonstrações contábeis do 3T2016, estava avaliado em R$1,6 bilhões e foi vendida em dezembro de 2016 pelo valor de R$1,25 bilhões. Ou seja, em relação ao preço avaliado em 2015 a perda foi de R$3,25 bilhões.
       É, de fato, impressionante a pressa com que os golpistas estão desmontando a empresa e entregando o seu patrimônio à voracidade das multinacionais. O que confirma o que o mundo já sabe, ou seja, que uma motivação central do golpe de Estado é disponibilizar às multinacionais do petróleo as imensas reservas do pré-sal. Exatamente por isso a Petrobrás está no olho do furacão desde o começo da crise e por isso montaram uma operação (Lava Jato) para liquidar a Companhia e o seu entorno de empresas de engenharia. A retirada da empresa da condição de operadora única do pré-sal, como sancionado recentemente pelo presidente golpista, foi somente uma etapa, o objetivo é destruir a Petrobrás enquanto empresa pública e entregar o pré-sal às multinacionais.
        Para tanto, vale qualquer mentira ou mistificação. Se falou, durante todo o tempo de construção do golpe, que a Petrobrás estava completamente endividada, devido à roubalheira e à má administração verifica nas gestões do governo anterior. O balanço da Petrobrás revela uma dívida de quase R$400 bilhões, inferior à receita de 2015 da empresa.  Ora uma empresa cuja receita anual é superior à dívida está “endividada”? Obviamente que não, ainda mais se considerarmos que a Petrobrás, em 2015, tinha um dos maiores planos de investimentos do mundo, em função das necessidades de expansão decorrentes das descobertas do pré-sal. Investimentos estes que, ademais, já começaram a gerar caixa para a empresa, em função, inclusive, da velocidade com que o pré-sal vem aumentando a sua produção e produtividade no período recente.
        Outro aspecto fundamental a ser considerado é o de que a empresa está vendendo ativos depreciados, que iriam no curto prazo gerar dinheiro vivo, e cujo total arrecadado com as vendas - 13,6 bilhões de dólares - não representa nem 10% da dívida. Não há portanto, lógica contábil nessas transações e muito menos lógica financeiro-comercial.  Para termos uma ideia, em setembro do ano passado, a Petrobrás dispunha em caixa de R$ 73 bilhões, quase 70% acima dos valores apurados com as vendas dos ativos em 2015 e 2016. Quantas empresas no mundo têm R$ 73 bilhões em caixa? Qual é a racionalidade desse tipo de política, que não resiste a alguns cálculos simples? É a do entreguismo, do desmonte intencional da empresa, para resolver o problema das grandes multinacionais do petróleo, que diminuíram seus lucros com a queda recente do preço do petróleo.
        Muitos brasileiros ainda hoje duvidam que o desmonte da Petrobrás e a entrega do pré-sal é o golpe dentro do golpe, que o petróleo foi cálculo fundamental na participação no golpe por parte do imperialismo. É que somos ingênuos e prezamos pouco pela história, mesmo a recente. Em 2013, a imprensa no mundo todo, e também no Brasil, noticiou que a Petrobrás foi alvo de espionagem de organismos de inteligência dos EUA, especialmente na questão das tecnologias de exploração de petróleo em águas profundas e ultra profundas, o pré-sal. Foi revelado naquela ocasião que a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) agiu em parceria com a inteligência do Reino Unido, do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia. Ficamos sabendo que a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores também foram espionados pela NSA, fato inclusive que levou ao cancelamento de uma viagem da presidente aos EUA, prevista para 2013.
          Nos primeiros dias de janeiro foi divulgada uma entrevista do criador do Wikileaks, Julian Assange, concedida ao jornalista Fernando Morais. Dentre as várias informações relevantes da entrevista, uma delas é a de que, ao contrário do que se poderia pensar, na América do Sul o país mais espionado pelos EUA é o Brasil. E isto por duas razões principais, segundo Assange: trata-se da maior economia da América Latina e que fez recentemente a maior descoberta de petróleo do milênio. Possivelmente este seja o primeiro golpe de Estado do Brasil, no qual está sendo possível dissecar vários de seus aspectos enquanto ele ainda se desenvolve.
                                                                                                                                              *Economista.


[1] Efeitos do processo de privatização da Petrobrás e a posição dos petroleiros da FUP, divulgado em 29/12/16.

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