*José
Álvaro de Lima Cardoso.
A Petrobrás convidou no dia 11 de
janeiro, trinta empresas para participar da licitação para a construção da
Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Complexo Petroquímico do Rio
de Janeiro, o Comperj. Todas as empresas convidadas são estrangeiras. Segundo
os especialistas do setor este é um dos maiores investimentos do setor
petrolífero e petroquímico do mundo. O Brasil, reconhecidamente, tem excelência
na área de engenharia de grandes obras. Segundo Haroldo Lima, que foi coordenador
da Agência Nacional do Petróleo (ANP) entre 2005 e 2011, em 2013, das 50
maiores obras de engenharia em curso no mundo, 14 estavam no Brasil.
Retirar das empresas nacionais a possibilidade de participar de uma
grande obra pública, num momento em que o país amarga uma taxa de desemprego que
em alguns centros está em 17%, é só uma das maldades que a gestão entreguista
da Petrobrás vem colocando em prática. O rosário de absurdos é longo: depreciam
os ativos para acelerar sua venda; desmontam, com pressa, a integração da Empresa
e entregam o seu patrimônio à voracidade das multinacionais; retiraram da
empresa a condição de operadora única do pré-sal e a estão tentando destruir
enquanto empresa pública.
Desde o seu início, ficou bastante
evidente que o alvo da Lava Jato não era o combate à corrupção, mas atacar a
Petrobrás e arrebentar as empresas nacionais de infraestrutura que compunham,
com muitas limitações um projeto de desenvolvimento nacional, que se configurava
no país. A operação abalou a Petrobrás, com base em mentiras e técnicas de Guerra
Híbrida, e praticamente destruiu as grandes empresas nacionais de engenharia e
construção que dispunham de competividade internacional. As empresas
estrangeiras, mesmo envolvidas em casos de corrupção, foram, o tempo todo,
poupadas das investigações e pressões da Lava Jato. Em 2015, a imprensa mostrava
que 22 empresas internacionais com sedes na Itália, Holanda, EUA, Grécia
e Cingapura foram citadas nas delações premiadas da Lava Jato como envolvidas
no esquema de corrupção da Petrobrás. Porém nada aconteceu com elas, as ações
foram todas voltadas para as empresas brasileiras, especialmente, além da
Petrobrás, a Odebrecht. As empresas estrangeiras continuaram a operar
normalmente, inclusive expandindo seus investimento no Brasil no período
recente.
Os responsáveis pela Operação não queriam
nem que fosse aprovada, no começo de 2016, a lei de Leniência no Congresso. Um mecanismo
que possibilita que, quando constatado o caso de corrupção, os responsáveis na
empresa sejam punidos, porém a empresa (tecnologia, empregos, ativos), seja
preservada. É difícil aceitar que a atitude se devia apenas à ignorância do que
ocorre em outros países, ou por absoluto desconhecimento de princípios básicos de
economia. Queriam mesmo quebrar as empresas.
Os governos, a partir de 2003, ousaram
praticar políticas minimamente soberanas, como a rejeição da Alca, e a
organização do BRICS, que ameaça, inclusive a hegemonia do dólar, comprou
aviões da Suécia, ao invés das empresas norte-americanas. Adquiriram
helicópteros da Rússia e montou o projeto de submarino nuclear em parceria com
a França. Encaminharam a votação, em 2010, da lei de Partilha, contra o desejo
das multinacionais do Petróleo. Além disso, se aproximou dos parceiros sul-americanos,
fortaleceu o Mercosul e continuou o projeto de produção de enriquecimento de
urânio, estratégico para o Brasil. Isto desagradou muita gente e a Lava jato
veio para ajudar a interromper esse processo.
Desde o início da operação os indícios
de que os objetivos centrais da Lava Jato era quebrar a Petrobrás, abrindo
caminho para mudar a lei de Partilha eram muito fortes: a) denúncias do Wikileaks de que os estadunidenses estavam preocupados com
o crescimento da Odebrecht; b) grande contrariedade das multinacionais com a
Lei de Partilha; c) financiamento, por parte dos bilionários do petróleo, Irmãos
Kock, dos movimentos de direita no Brasil que tentavam desestabilizar o
governo; d) visita do Procurador Geral da República aos EUA, com equipe de
procuradores, para coletar informações que serviriam de munição para abrir
processos contra a Petrobrás.
Em
entrevista concedida ao jornalista Fernando Moraes, em 10.01.17, o criador
do Wikileaks, Julian Assange, afirmou que o
Brasil é, na
América do Sul o país mais espionado pelos EUA. E isto por duas razões
principais, segundo Assange: trata-se da maior economia da América Latina, e
que fez recentemente a maior descoberta de petróleo do milênio. Na referida entrevista
Assange lembra que, conforme a publicações do Wikileaks, feitas desde 2006, o
golpe está sendo construído há muito tempo. Afirmou que, no caso da Petrobrás e
do tratamento dado ao Petróleo, a questão que está colocada é que tipo de Estado
o Brasil quer ser. Um Estado forte, ou fraco, com seus recursos naturais
dominados por grandes petrolíferas estrangeiras e multinacionais. Pedro Parente,
presidente entreguista da Petrobrás, certamente já se definiu em relação às
indagações do fundador do Wikileaks.
*Economista.
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