quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Petrobrás convidou apenas empresas estrangeiras para participar de licitação. Precisa desenhar?



                                                                                                    
                                                                                                      *José Álvaro de Lima Cardoso.

        A Petrobrás convidou no dia 11 de janeiro, trinta empresas para participar da licitação para a construção da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj. Todas as empresas convidadas são estrangeiras. Segundo os especialistas do setor este é um dos maiores investimentos do setor petrolífero e petroquímico do mundo. O Brasil, reconhecidamente, tem excelência na área de engenharia de grandes obras. Segundo Haroldo Lima, que foi coordenador da Agência Nacional do Petróleo (ANP) entre 2005 e 2011, em 2013, das 50 maiores obras de engenharia em curso no mundo, 14 estavam no Brasil.
       Retirar das empresas nacionais a possibilidade de participar de uma grande obra pública, num momento em que o país amarga uma taxa de desemprego que em alguns centros está em 17%, é só uma das maldades que a gestão entreguista da Petrobrás vem colocando em prática. O rosário de absurdos é longo: depreciam os ativos para acelerar sua venda; desmontam, com pressa, a integração da Empresa e entregam o seu patrimônio à voracidade das multinacionais; retiraram da empresa a condição de operadora única do pré-sal e a estão tentando destruir enquanto empresa pública.
        Desde o seu início, ficou bastante evidente que o alvo da Lava Jato não era o combate à corrupção, mas atacar a Petrobrás e arrebentar as empresas nacionais de infraestrutura que compunham, com muitas limitações um projeto de desenvolvimento nacional, que se configurava no país. A operação abalou a Petrobrás, com base em mentiras e técnicas de Guerra Híbrida, e praticamente destruiu as grandes empresas nacionais de engenharia e construção que dispunham de competividade internacional. As empresas estrangeiras, mesmo envolvidas em casos de corrupção, foram, o tempo todo, poupadas das investigações e pressões da Lava Jato. Em 2015, a imprensa mostrava que 22 empresas internacionais com sedes na Itália, Holanda, EUA, Grécia e Cingapura foram citadas nas delações premiadas da Lava Jato como envolvidas no esquema de corrupção da Petrobrás. Porém nada aconteceu com elas, as ações foram todas voltadas para as empresas brasileiras, especialmente, além da Petrobrás, a Odebrecht. As empresas estrangeiras continuaram a operar normalmente, inclusive expandindo seus investimento no Brasil no período recente.
        Os responsáveis pela Operação não queriam nem que fosse aprovada, no começo de 2016, a lei de Leniência no Congresso. Um mecanismo que possibilita que, quando constatado o caso de corrupção, os responsáveis na empresa sejam punidos, porém a empresa (tecnologia, empregos, ativos), seja preservada. É difícil aceitar que a atitude se devia apenas à ignorância do que ocorre em outros países, ou por absoluto desconhecimento de princípios básicos de economia. Queriam mesmo quebrar as empresas.
        Os governos, a partir de 2003, ousaram praticar políticas minimamente soberanas, como a rejeição da Alca, e a organização do BRICS, que ameaça, inclusive a hegemonia do dólar, comprou aviões da Suécia, ao invés das empresas norte-americanas. Adquiriram helicópteros da Rússia e montou o projeto de submarino nuclear em parceria com a França. Encaminharam a votação, em 2010, da lei de Partilha, contra o desejo das multinacionais do Petróleo. Além disso, se aproximou dos parceiros sul-americanos, fortaleceu o Mercosul e continuou o projeto de produção de enriquecimento de urânio, estratégico para o Brasil. Isto desagradou muita gente e a Lava jato veio para ajudar a interromper esse processo.
       Desde o início da operação os indícios de que os objetivos centrais da Lava Jato era quebrar a Petrobrás, abrindo caminho para mudar a lei de Partilha eram muito fortes: a) denúncias do Wikileaks de que os estadunidenses estavam preocupados com o crescimento da Odebrecht; b) grande contrariedade das multinacionais com a Lei de Partilha; c) financiamento, por parte dos bilionários do petróleo, Irmãos Kock, dos movimentos de direita no Brasil que tentavam desestabilizar o governo; d) visita do Procurador Geral da República aos EUA, com equipe de procuradores, para coletar informações que serviriam de munição para abrir processos contra a Petrobrás.
        Em entrevista concedida ao jornalista Fernando Moraes, em 10.01.17, o criador do Wikileaks, Julian Assange, afirmou que o Brasil é, na América do Sul o país mais espionado pelos EUA. E isto por duas razões principais, segundo Assange: trata-se da maior economia da América Latina, e que fez recentemente a maior descoberta de petróleo do milênio. Na referida entrevista Assange lembra que, conforme a publicações do Wikileaks, feitas desde 2006, o golpe está sendo construído há muito tempo. Afirmou que, no caso da Petrobrás e do tratamento dado ao Petróleo, a questão que está colocada é que tipo de Estado o Brasil quer ser. Um Estado forte, ou fraco, com seus recursos naturais dominados por grandes petrolíferas estrangeiras e multinacionais. Pedro Parente, presidente entreguista da Petrobrás, certamente já se definiu em relação às indagações do fundador do Wikileaks.
                                                                                         *Economista.

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