No DCM
Por Kiko Nogueira
Rodrigo Janot está entusiasmadíssimo com sua participação no Fórum Econômico Mundial em Davos.
O personagem que surge das entrevistas que deu sobre a viagem guarda
uma semelhança com o pintado por seu ex-amigo, atual desafeto, Eugênio
Aragão, subprocurador e ex-ministro da Justiça.
Segundo Janot, o convite se deveu “à curiosidade quanto ao exercício no Brasil de combate à corrupção”.
Ao Valor, teceu considerações sociológicas sobre modelos econômicos.
“O que se quer é evitar o capitalismo de compadrio, a cartelização,
assegurar a concorrência, a eficiência econômica e o desenvolvimento
tecnológico”, disse.
“A Lava Jato é pró-mercado”, cravou. Um salve para você que achou que era pró-Constituição e pró-Estado de Direito.
Janot estava lá representado um governo afundado em escândalos, com
presidente citado mais de 40 vezes em delação e seis ministros a menos
em oito meses.
Mas a maior contradição, e especialmente emblemática do passeio, foi a
cena do encontro caloroso com um personagem sul-americano
controvertido.
Clóvis Rossi, em reportagem baba ovo na Folha, escreveu que o Fórum “abraçou” a Lava Jato.
Reproduzo um trecho:
O abraço foi tão apertado que o chanceler paraguaio Eladio Loizaga
fez questão de puxar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
para uma “selfie” com seu chefe, o presidente Horácio Cartes.
Pouco antes, Cartes qualificara de “histórica” a Lava Jato, em um
debate sobre o futuro da América Latina em que Janot nem sequer estava
inscrito para falar.
De acordo com Clóvis, o procurador geral da República citou a
cooperação com países latino americanos como uma das chaves de seu
sucesso. Destacou o Paraguai.
“O que está acontecendo no Brasil com o Ministério Público é um
exemplo para o mundo”, saudou Cartes. Clóvis registra que o paraguaio
foi acusado de ser o principal responsável pelo contrabando de cigarros
falsificados para o Brasil. “Mas o ruído amenizou bastante depois da
posse e nos anos mais recentes.”
O ruído amenizou (!?!), mas a ficha corrida não desapareceu com o
vento. O cidadão que festejou efusivamente Rodrigo Janot está envolvido
em uma nuvem de contravenções barra pesada.
Um dos homens mais ricos do Paraguai, filiado ao conservador Partido
Colorado, Cartes é presidente de um conglomerado que produz bebidas,
cigarros, charutos, roupas e carnes, além de gerenciar centros médicos.
Em 2000, a polícia encontrou um avião com registro brasileiro em sua
fazenda, levando um carregamento de cocaína e maconha. A presidente de
seu partido, Lilian Samaniego, sugeriu que ele tinha vínculos com o
narcotráfico.
É suspeito também de lavagem de dinheiro através de operações em seu banco, conforme vazamentos do Wikileaks.
Em abril de 2013, a Istoé publicou uma matéria sobre sua parruda
ficha criminal, “conservada em absoluto sigilo há quase dez anos na
residência de uma autoridade da Justiça daquele país”.
Ela inclui “prisão por evasão de divisas e processos por falsidade ideológica, falsificação de documentos e estelionato”.
Como soi acontecer, é um bastião da moralidade. Durante a campanha,
declarou que “atiraria nos próprios testículos” se tivesse um filho gay.
Levar um abraço apertado e um sorriso dobrado de Cartes não parece a coisa mais recomendável. Nem em Asunción.
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