Sensor publica ótimo artigo de Cláudio da Costa Oliveira, colunista do blog O Cafezinho.
Após reunião com a Federação Única do Trabalhadores (FUP), realizada
na última quinta-feira (05/01) a Petrobrás explicou: “Embora a
convergência final não tenha sido alcançada na reunião, a decisão da FUP
de apresentar uma proposta é bem-vinda pela Petrobras, porque mostra o
início de uma aproximação entre as demandas dos trabalhadores e a
situação financeira atual da empresa”.
Em muitas oportunidades a empresa tem utilizado o argumento de estar
passando por uma situação financeira difícil para pressionar os
trabalhadores. É preciso que os representantes dos petroleiros seja a
Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) ou a Federação Única dos
Petroleiros (FUP) solicitem que a empresa esclareça bem onde estão estas
dificuldades, porque as Demonstrações Financeiras publicadas pela
empresa mostram uma realidade completamente diferente.
Qualquer analista, por mais primário que seja, quando olha o balanço
de uma empresa a primeira coisa que vê é a liquidez, pois ele tem bem à
sua frente a Ativo Corrente e o Passivo Corrente. Dividindo o Ativo
Corrente pelo Passivo Corrente nós temos a chamada Liquidez Corrente. A
Liquidez Corrente mostra a capacidade da empresa em cumprir com seus
compromissos financeiros no curto prazo (1 a 2 anos ).
Nas Demonstrações Financeiras do 3º trimestre de 2016 a Petrobras
mostra um Ativo Corrente de R$ 144,75 bilhões e um Passivo Corrente de
R$ 82,33 bilhões. Portanto, a empresa tem uma Liquidez Corrente de 1,76
(144,75/82,33). Significa dizer que para cada R$ 1,00 que tem para pagar
no curto prazo a empresa dispõe de R$ 1,76. Uma situação financeira
muito confortável.
A Petrobras registrava uma dívida bruta de R$ 398 bilhões no final de
setembro de 2016, sendo que já em 2015 a receita da companhia foi
superior a R$ 400 bilhões. Ou seja, a dívida da Petrobras é inferior à
sua receita anual. Empresas em fase de investimento tem dívidas muitas
vezes 2 vezes superior à receita anual, sem nenhum problema. A dívida da
Vale é 25% superior à sua receita anual e ninguém diz que ela está
muito endividada.
Por outro lado, se nós incluirmos no patrimônio da Petrobras as
reservas do pré-sal (o que não é feito), que a ANP diz que já tem
comprovado 50 bilhões de barris, a alavancagem (dívida dividida pelo
patrimônio) fica baixíssima, mostrando a grande capacidade de captação
de recursos que a Petrobras tem. Não é à toa que o Banco de
Desenvolvimento da China abriu um crédito de US$ 10 bilhões para a
companhia, pedindo como garantia apenas a promessa de fornecimento
futuro de petróleo. Com as reservas que a Petrobras descobriu, não
existe problema para obtenção de recursos.
Além do exposto acima, no final de setembro de 2016 a Petrobras tinha
em caixa R$ 73 bilhões. Ou seja, a empresa tem só em caixa 18% (73/398)
de sua dívida bruta total. Até setembro de 2016 o Ebitda Ajustado
(geração de caixa) foi de R$ 63 bilhões, 11% superior a igual período de
2015. Só no 3º trimestre de 2016 o fluxo de caixa livre foi de R$ 16,4
bilhões. De janeiro a setembro o fluxo de caixa livre foi 3,6 vezes
superior a igual período de 2015.
Chega, vou parar por aqui e perguntar: onde está o problema
financeiro da Petrobras? A empresa tem de responder esta pergunta,
esclarecer seus funcionários ou mudar o discurso e procurar outros
argumentos.
Convenhamos que isto parece uma brincadeira de mal gosto, com a
Petrobras fingindo que tem problemas financeiros, os sindicatos fingindo
que acreditam e os petroleiros assistindo sem entender nada. É
fantástico.
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