Mauro Santayama em seu blog
Os “hackers” que se identificam como
“anonymous”, envolvidos na espionagem contra o Itamaraty, colocaram em
circulação, na internet, cerca de 100 mensagens de e-mail, trocadas por
diplomatas brasileiros. Elas estão sendo analisadas pela PF e pelo próprio
ministério, para determinar sua origem e autenticidade.
O fato de o Itamaraty ter sido escolhido como
alvo de espionagem é significativo - e exige rigor na identificação da
origem e do propósito dos autores da operação.
Quando estourou o escândalo do Wikileaks, ele se
baseou, em boa parte, na divulgação de correspondência diplomática - e-mails e
mensagens internas - do Departamento de Estado, o Ministério das Relações
Exteriores dos Estados Unidos. Não é segredo também, que, aos norte-americanos,
não agradou o fato de as informações sobre o escândalo da espionagem da
NSA terem sido divulgadas pelo jornalista inglês Glenn Greenwald, amigo de
Edward Snowden, a partir do território brasileiro.
Sempre houve a suspeita de que os Anonymous, que
exerceram papel significativo na campanha de desestabilização institucional
promovida, a partir da internet, no ano passado, nesta mesma época do ano,
estivessem ligados a interesses externos.
As mensagens do Itamaraty escolhidas, até agora,
para serem divulgadas, contrariam, coincidentemente, todas elas, posições
norte-americanas e o discurso adotado pelos EUA na ONU, na imprensa
internacional e em instituições multilaterais, em questões nas quais o Brasil
se tem oposto aos Estados Unidos nos últimos anos.
Esse é o caso da rejeição a sanções contra o
Irã, da defesa do diálogo, da via diplomática e do direito ao uso da energia
nuclear para fins pacíficos; da espionagem do Brasil pela NSA; e da defesa de
Cuba, quanto à sua classificação pelos Estados Unidos, como estado terrorista -
temas abordados nas mensagens divulgadas.
Se o grupo que está por trás da infiltração,
tinha a intenção de colocar o Brasil contra a parede, com a divulgação dos
documentos do Itamaraty, tratou-se - pelo menos até agora - de um tiro
pela culatra.
Os documentos divulgados por Julian Assange e
seus colaboradores no Wikileaks, expuseram ao mundo a arrogância
norte-americana; seu desrespeito pelos outros países; por personalidades; pelas
regras diplomáticas. Os documentos denunciaram também nefasta e rasteira
manipulação das relações internacionais, a fim de preservar atitude
hegemônica e imperial com relação ao resto do mundo.
Os e-mails do Itamaraty provam - ao menos pelo
que foi divulgado até agora - que somos, no âmbito diplomático, uma nação
equilibrada, coerente, e democrática, empenhada na defesa da paz,
do multilateralismo e - salvo por expresso mandato da ONU - do princípio de não
intervenção, em estrita obediência ao nosso texto constitucional.
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