quarta-feira, 11 de junho de 2014

A EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS E O BNDES

Mauro Santayama, em seu blog

 O Valor Econômico informa que as empreiteiras brasileiras correm o risco de perder mercado para concorrentes internacionais, principalmente da Europa e da China se não puderem mais contar com financiamento do Estado brasileiro.

Há crescente preocupação em explicar que cada centavo tomado pelo BNDES para construção de obras como o Porto de Mariel em Cuba foi gasto na contratação de serviços e compra de equipamentos no Brasil, e que as obras no local da obra são financiadas pelo próprio governo-cliente.

E em esclarecer que, a cada vez que se perde um contrato desse tipo, deixam de ser criados no Brasil milhares de empregos. Neste momento as empreiteiras brasileiras, estariam ocupando o segundo lugar no atendimento ao mercado latino-americano de grandes obras de infra-estrutura, quase sendo alcançadas pelas chinesas. O primeiro lugar é da Espanha.        

As construtoras espanholas avançaram na América Latina, porque podiam oferecer crédito barato, o que não é o caso agora, quando seu país, devido à crise, tem uma dívida interna líquida de quase cem por cento do PIB e cerca de 20 bilhões de dólares em reservas internacionais.

Além disso, a credibilidade espanhola – e européia de modo geral - também saiu arranhada de episódios como o conflito em torno das obras de ampliação do canal do canal do Panamá. No ano passado, e até o início deste ano, o consórcio escolhido para a realização da obra, composto pela construtora espanhola Sacyr Vallehermoso, a italiana Impregilo, a belga Jan de Nud e a local Constructora Urbana S.A, do Panamá, ameaçou, por diversas vezes, paralisar as obras, no valor de quase 6 bilhões de dólares, exigindo, por diversas vezes, o pagamento de aditivos  não previstos no contrato, alegando “sobre-preços” não previstos, fazendo com que o governo panamenho ameaçasse levar o caso aos tribunais internacionais.      
   
Com 378 bilhões de dólares em reservas e um dos maiores bancos de fomento do mundo, o Brasil precisa e deve continuar financiando, em condições cada vez mais favoráveis, as obras de nossas construtoras no continente latino-americano, sob pena de perder mercado para concorrentes que fazem o mesmo, de outras regiões do mundo.

Com os chineses, no entanto, em vez de briga, se poderia pensar em estabelecer uma aliança.

Pequim conta com recursos muito maiores que os nossos, e as empreiteiras chinesas conquistaram - como se pode ver na China – enorme competência na execução de obras de engenharia pesada e civil de excelência, nos últimos anos.

Isso pode ser visto, por exemplo, nos seus 10.000 quilômetros de malha de trens de alta velocidade, a maior do mundo, e nos enormes arranha-céus de suas metrópoles.

Com os chineses, aproveitando-nos de nossa condição de sócios nos BRICS, e no futuro banco de fomento do BRICS, que deverá ser lançado na cúpula do grupo prevista para julho em Fortaleza, o Brasil teria tudo para estabelecer nessa área uma  estratégica e fecunda parceria.
Nesse acordo, negociado em nível de governo, nossas empreiteiras poderiam se associar às chinesas na construção de obras na América Latina, com os bancos estatais dos dois países dividindo o financiamento e a indústria brasileira e a chinesa, as encomendas e oportunidades.

Esta semana a maior empresa de construção de máquinas para construção pesada do mundo, a XCMG, vai inaugurar, na cidade mineira de Pouso Alegre, a sua primeira fábrica fora da China.

Com investimentos de aproximadamente 1 bilhão de reais, a indústria deverá produzir 1.500 guindastes pesados e máquinas de terraplenagem no primeiro ano, e 10.000 unidades a partir de 2015, com faturamento de 500 milhões de dólares por ano .
O financiamento do BNDES para a exportação desses equipamentos fabricados no Brasil, considerando-se o nível de conteúdo nacional atingido, e seu uso em grandes obras de infra-estrutura disputadas conjuntamente por consórcios sino-brasileiros na América Latina, poderia ser um dos pontos oferecidos aos chineses para estabelecimento dessa parceria estratégica.           

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