sexta-feira, 27 de junho de 2014

Lucros gigantes dos bancos e o custo do crédito no Brasil




*José Álvaro de Lima Cardoso

     Recentemente o DIEESE divulgou análise do desempenho dos seis maiores bancos em atividade no Brasil em 2013. Os números impressionam. O total de ativos dos seis maiores bancos em atividade no país (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e HSBC) alcançou R$ 4,8 trilhões, equivalente ao PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no país) do Brasil no ano passado. O patrimônio líquido das seis instituições mencionadas expandiu 8,5% em 12 meses, chegando a R$ 315 bilhões.
     No que se refere à oferta de crédito, os destaques foram a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, que juntos, responderam, por 48,1% do total das operações de crédito realizadas nos seis maiores bancos no ano passado. Nos bancos privados nacionais (Bradesco e Itaú), houve um razoável crescimento do crédito, 12,3%, e nos privados estrangeiros (Santander e HSBC), a carteira de crédito também cresceu, mas bem menos (8,9%).
     Em termos de lucro líquido o destaque no ano ficou por conta do Itaú, R$ 15,8 bilhões, alta de 12,8% em relação ao ano anterior (num ano em que o PIB cresceu 2,3%). Este foi o maior lucro obtido por um banco na história do sistema financeiro nacional. O Banco do Brasil, obteve lucro quase tão elevado quanto o Itaú (R$ 15,7 bilhões), tendo apresentado o maior crescimento do lucro líquido, alta de 29,1% em relação ao ano anterior.
     A rentabilidade média sobre o patrimônio líquido nos seis bancos ficou em 18% e as receitas de prestação de serviços e cobrança de tarifas, continuaram crescendo em 2013, tendo atingido R$ 96,4 bilhões. Estas receitas, apesar de serem consideradas secundárias pelas instituições financeiras, superaram as despesas com pessoal (entre os seis maiores bancos), em 28%. Em alguns bancos privados esse tipo de receita supera largamente a despesa com pessoal. É o caso do Santander, onde a receita de prestação de serviços supera o gasto com pessoal em 47,4%, ou seja, este tipo de receita cobre o pagamento de pessoal e ainda sobram 47%.
     Apesar dos ótimos indicadores de lucratividade, nos últimos anos os bancos, especialmente os privados, têm reduzido o quadro de trabalhadores. Nas seis instituições analisadas no estudo do DIEESE, o número de postos de trabalho apresentou queda em 12 meses, passando de 477.345, em dezembro de 2012, para 470.034, em dezembro de 2013, com redução de 7.311 postos de trabalho. A redução no nível de emprego só não foi maior porque houve expressiva contratação na Caixa Econômica, com 5.272 novos empregados. Os demais bancos da amostra demitiram: Santander foi o que fechou o maior número de postos de trabalho (- 4.371); seguido pelo Bradesco (-2.896); Itaú Unibanco (-2.734); Banco do Brasil (-1.966) e HSBC (-616). Juntos, estas cinco instituições eliminaram 12.583 postos de trabalho em 2013.
     É difícil aceitar que os bancos demitam, levando em conta que ganham muito dinheiro com as taxas de juros estratosféricas praticadas no Brasil. A taxa Selic, que remunera os detentores de títulos públicos, como é o caso dos bancos, é uma das taxas de juros mais elevadas do mundo. Ademais, as taxas cobradas pelos bancos ao tomador final no Brasil equivalem, em regra, a cerca de dez vezes os juros praticados internacionalmente. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2009, a taxa real de juros para pessoa física (descontada a inflação) cobrada pelo HSBC no Brasil é de 63,42%, quando, ao mesmo tempo, equivale a 6,60% no mesmo banco para a mesma linha de crédito no Reino Uni­do, país de origem do banco. Para o Santander, as cifras correspondentes são 55,74% para o Brasil e 10,81% para a Espanha. No Citibank essa taxa é 60,84% no Brasil e 7,28% nos EUA. Nos juros cobrados para a pessoa jurídica, fundamental para a produção e para o custo de produção, o HSBC, por exemplo, cobra 40,36% no Brasil, e 7,86% no Reino Unido. Os grandes bancos brasileiros, mesmos os estatais, cobram também taxas absurdas. Segundo o citado estudo do Ipea, para empréstimos à pessoa física o custo do crédito no Brasil, em relação ao custo internacional, chega a ser quase 10 vezes mais elevado. Para empréstimos à pessoa jurídica, em decorrência da existência dos bancos públicos a diferença de custo é menor, mas, assim mesmo, é mais de 4 vezes maior para o brasileiro, segundo o Ipea.
     A taxa de juros média para as pessoas físicas no Brasil supera 100% ao ano, enquanto a inflação, está abaixo de 6%. No caso do juro médio cobrado sobre o cartão de crédito a taxa anual é de 232% no Brasil, enquanto nos EUA gira em torno dos 16,00% e de 18% no Reino Unido. Com esse custo do crédito claro que haverá uma pressão sobre o custo final dos produtos e serviços. Apesar disso, curiosamente, muitos economistas e formadores de opinião econômica defendem o aumento de juros como antídoto para o aumento da inflação (mesmo quando esta decorre de problemas climáticos, que reduzem a oferta de alguns hortifrutigranjeiros, como ocorreu recentemente).                       *Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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