*José Álvaro de Lima Cardoso
Recentemente o DIEESE divulgou
análise do desempenho dos seis maiores bancos em atividade no Brasil em 2013.
Os números impressionam. O total de ativos dos seis maiores bancos em atividade
no país (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú Unibanco,
Santander e HSBC) alcançou R$ 4,8 trilhões, equivalente ao PIB (Produto Interno
Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no país) do Brasil no ano passado. O
patrimônio líquido das seis instituições mencionadas expandiu 8,5% em 12 meses,
chegando a R$ 315 bilhões.
No que se refere à oferta
de crédito, os destaques foram a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, que
juntos, responderam, por 48,1% do total das operações de crédito realizadas nos
seis maiores bancos no ano passado. Nos bancos privados nacionais (Bradesco e
Itaú), houve um razoável crescimento do crédito, 12,3%, e nos privados
estrangeiros (Santander e HSBC), a carteira de crédito também cresceu, mas bem
menos (8,9%).
Em termos de lucro
líquido o destaque no ano ficou por conta do Itaú, R$ 15,8 bilhões, alta de
12,8% em relação ao ano anterior (num ano em que o PIB cresceu 2,3%). Este foi o
maior lucro obtido por um banco na história do sistema financeiro nacional. O
Banco do Brasil, obteve lucro quase tão elevado quanto o Itaú (R$ 15,7 bilhões),
tendo apresentado o maior crescimento do lucro líquido, alta de 29,1% em
relação ao ano anterior.
A rentabilidade média
sobre o patrimônio líquido nos seis bancos ficou em 18% e as receitas de
prestação de serviços e cobrança de tarifas, continuaram crescendo em 2013,
tendo atingido R$ 96,4 bilhões. Estas receitas, apesar de serem consideradas
secundárias pelas instituições financeiras, superaram as despesas com pessoal (entre
os seis maiores bancos), em 28%. Em alguns bancos privados esse tipo de receita
supera largamente a despesa com pessoal. É o caso do Santander, onde a receita
de prestação de serviços supera o gasto com pessoal em 47,4%, ou seja, este
tipo de receita cobre o pagamento de pessoal e ainda sobram 47%.
Apesar dos ótimos indicadores
de lucratividade, nos últimos anos os bancos, especialmente os privados, têm
reduzido o quadro de trabalhadores. Nas seis instituições analisadas no estudo
do DIEESE, o número de postos de trabalho apresentou queda em 12 meses, passando
de 477.345, em dezembro de 2012, para 470.034, em dezembro de 2013, com redução
de 7.311 postos de trabalho. A redução no nível de emprego só não foi maior
porque houve expressiva contratação na Caixa Econômica, com 5.272 novos
empregados. Os demais bancos da amostra demitiram: Santander foi o que fechou o
maior número de postos de trabalho (- 4.371); seguido pelo Bradesco (-2.896);
Itaú Unibanco (-2.734); Banco do Brasil (-1.966) e HSBC (-616). Juntos, estas cinco
instituições eliminaram 12.583 postos de trabalho em 2013.
É difícil aceitar que
os bancos demitam, levando em conta que ganham muito dinheiro com as taxas de
juros estratosféricas praticadas no Brasil. A taxa Selic, que remunera os
detentores de títulos públicos, como é o caso dos bancos, é uma das taxas de
juros mais elevadas do mundo. Ademais, as taxas cobradas pelos bancos ao
tomador final no Brasil equivalem, em regra, a cerca de dez vezes os juros
praticados internacionalmente. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), de 2009, a taxa real de juros para pessoa física
(descontada a inflação) cobrada pelo HSBC no Brasil é de 63,42%, quando, ao
mesmo tempo, equivale a 6,60% no mesmo banco para a mesma linha de crédito no
Reino Unido, país de origem do banco. Para o Santander, as cifras
correspondentes são 55,74% para o Brasil e 10,81% para a Espanha. No Citibank
essa taxa é 60,84% no Brasil e 7,28% nos EUA. Nos juros cobrados para a pessoa
jurídica, fundamental para a produção e para o custo de produção, o HSBC, por
exemplo, cobra 40,36% no Brasil, e 7,86% no Reino Unido. Os grandes bancos
brasileiros, mesmos os estatais, cobram também taxas absurdas. Segundo o citado
estudo do Ipea, para empréstimos à pessoa física o custo do crédito no Brasil,
em relação ao custo internacional, chega a ser quase 10 vezes mais elevado.
Para empréstimos à pessoa jurídica, em decorrência da existência dos bancos
públicos a diferença de custo é menor, mas, assim mesmo, é mais de 4 vezes
maior para o brasileiro, segundo o Ipea.
A taxa
de juros média para as pessoas físicas no Brasil supera 100% ao ano, enquanto a
inflação, está abaixo de 6%. No caso do juro médio cobrado sobre o cartão de
crédito a taxa anual é de 232% no Brasil, enquanto nos EUA gira em torno dos 16,00% e de 18% no Reino Unido. Com esse custo do crédito claro
que haverá uma pressão sobre o custo final dos produtos e serviços. Apesar
disso, curiosamente, muitos economistas e formadores de opinião econômica defendem
o aumento de juros como antídoto para o aumento da inflação (mesmo quando esta decorre
de problemas climáticos, que reduzem a oferta de alguns hortifrutigranjeiros,
como ocorreu recentemente). *Economista
e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.
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