Paula Moreira Leite, em seu blog
Através da Suprema Corte dos EUA, bancos querem impor política de ruína e austeridade à Argentina
Ao rejeitar o pedido do governo da Argentina para renegociar o pagamento de uma dívida com o Banco de Nova York, a Suprema Corte dos Estados Unidos tomou uma decisão grave, do ponto de vista financeiro, e absurda, do ponto de vista das relações entre países soberanos.
O caso é gravíssimo
e, se for conduzido pelos caminhos definidos pela Suprema Corte, onde
os conservadores do Partido Republicano têm maioria, pode jogar a
economia mundial, que sequer se recuperou do colapso de 2008, em novo
pântano.
Tudo isso porque a
mais alta Corte dos Estados Unidos considerou que tem poderes para
deliberar medidas que terão impacto direto sobre os destinos da
população de outro país e de outras nações do Continente. Trouxe para si
uma decisão que está longe de ser jurídica.
Ao lado do governo
brasileiro, do México e da França, o governo de Barack Obama pressionava
por outra solução, que envolvesse uma saída negociada. Numa típica
judicialização imperial, a Suprema Corte passou por cima das negociações
entre países, aque envolve uma jurisprudência que está longe de ter
caráter nacional.
Até o New York
Times, insuspeito de qualquer simpatia pelas ideias do governo de
Cristina Kirchner, publicou um artigo cauteloso e crítico, com várias
advertências para as consequências da decisão.
Embora não seja a
primeira vez que a Suprema Corte de um país se envolve em questões
internacionais, não é muito comum uma intervenção que envolve o banco de
um país e o governo de outro. O mais comum, até aqui, são sentenças que
envolvem diferenças entre cidadãos de países diferentes -- ou entre
governos diferentes. Em Israel, a Suprema Corte deu seu aval a contrução
do muro que separa o país da Cirsjordania palestina. Na Russia, a
Suprema Corte desconheceu os direietos dos chechenos a sua
independência.
Pelo sentença da Suprema Corte
contra o governo da Argentina, temos uma tragédia anunciada. No final
desde mes, vence uma parcela de 1,3 bilhões de dólares em juros –
quantia que o governo de Buenos Aires pretende honrar. Assumindo a causa
dos credores, a Suprema Corte exigiu mais.
Quer que o país
pague toda sua dívida de uma vez. Isso daria perto de US $ 15 bilhões,
quantia impensável num país com US$ $29 bilhões em reservas.
Embora jornais
brasileiros já falem da situação como “calote”, num palavreado típico de
quem quer acreditar de que se trata de um simples problema de
contabilidade, obra de governos imprudentes e autoridades gastadoras,
como diz a ladainha conservadora, o impasse envolve uma situação que não
pode ser vista de forma leviana.
Na prática, a
decisão da Suprema Corte pretende que se aplique, numa das principais
economias da América do Sul, as mesmas medidas desastradas que
produziram a crise mundical iniciada em 2008. Só para refrescar a
memória: em vez de tomar medidas que teriam amenizado o desastra e
permitido uma preservação do crescimento e a geração de estímulos para
manter empregos, os Bancos Centrais dos dois lados do Atlantico tomaram
decisões que aprofundaram a recessão, a crise e o empobrecimento. O
resultado está aí, sem saída, à vista de todos. A Europa segue no fundo
do poço. Os Estados Unidos patinam. Sob pressão das maiores economias do
planeta, o mundo encontra-se à deriva.
A situação
financeira realmente difícil que a Argentina enfrenta hoje é,
essencialmente, produto do apoio irresponsável dos grandes centros
financeiros norte-americanos a uma polítia suicida de dolarização
ocorrida no governo de Carlos Menen, na ultima década do século XX.
Queridinho dos mercados em seu tempo, em uma Menen criou um impasse que
só poderia ser resolvido de duas formas. Ou os argentinos resistiam a
pressão dos credores, preservando ao menos uma parte de suas riquezas,
ou fariam um retorno forçado a idade das cavernas.
A questão, antes e depois da decisão da Suprema Corte, é uma solução política, que envolve povos soberanos.
Este é o debate.
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