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Antonio Lassance no Carta Maior |
Embora o futebol seja, de longe, o esporte preferido dos brasileiros, um novo esporte ganhou muitos adeptos desde o ano passado.
É o esporte de falar mal da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, de torcer para que a competição seja um fiasco e para que a imagem do País seja a pior possível, aqui dentro e lá fora.
O campeonato nacional de esculhambação da Copa e do Brasil é um esporte diário que envolve pessoas que se dividem em pelo menos dois grupos.
Um é o pessoal totalmente anticopa, que empunha a bandeira do #NãoVaiTerCopa e quer sabotar o evento custe o que custar.
Outro é a turma dos Empata-Copa, que é cheia de dedos, de "veja bem" e "não é bem assim". Eles até acham que vai ter Copa porque a Copa "já foi" - o dinheiro já foi gasto.
Ambos compartilham o mesmo objetivo: fazer que essa Copa seja inesquecível - no pior sentido, claro.
Os Anticopa são o pessoal do ataque. Os Empata-Copa são os da retranca.
A turma do #NaoVaiTerCopa é o pessoal da ação direta. Os Empata-Copa não querem inviabilizar o evento, mas torcem por um empate. Para esses retranqueiros, o empate já seria uma grande vitória. O importante é todo mundo sair de cabeça baixa.
Essa turma tem um olho só - é aquele que só vê malefícios. Em terra de cego, quem tem um olho é contra a Copa. Assim tratam os que defendem o evento: como cegos e idiotas.
Os Empata-Copa e os Anticopa acham que defender o Brasil é patriotada do tipo "ame-o ou deixe-o". A velha ditadura de 1964 a eles agradece por ser condecorada como "patriótica" - que bela homenagem de uma gente insuspeita!
O regime que cunhou a doutrina de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” agradece a força do pessoal que tem esse espírito crítico tão aguçado.
O “patriotismo” do "ame-o ou deixe-o", para quem já se esqueceu ou para quem nasceu ontem, é mera tradução do slogan usado pelo ex-presidente Richard Nixon: "USA: love it ou leave it". Patriótico pra caramba, né?
Engraçado que o antiamericanismo de alguns que vão às ruas não os impede de empunhar cartazes em Inglês. Seria injusto dizer que essa turma não torce por nada. Eles torcem para serem filmados pela CNN ou fotografados pela Reuters.
Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor, mesmo que oculta por uma fantasia de Batman ou pela máscara pálida de Guy Fawkes, imortalizado pela produção hollywoodiana “V de Vingança” - à venda nas melhores lojas.
Uma coisa é certa - a Copa trouxe o malefício de fazer com que algumas pessoas se esqueçam dos grandes problemas do País.
Por exemplo, os que reclamam dos R$ 8 bilhões gastos em estádios, crime número 1 desta Copa. Os R$ 8 bi são empréstimos. Retornarão aos cofres públicos do BNDES e da Caixa Econômica Federal.
Os Empata-Copa e os Anticopa, porém, não se mostram nada incomodados com o fato de que se paga um Maracanã a cada dois dias em juros da dívida pública. Só em 2013, se pagou R$ 248 bilhões em juros. Será que nosso real problema são R$8 bi de empréstimos?
Por ano, serão pagos R$ 20 bilhões a mais para o mercado financeiro a cada vez que o Copom do Banco Central vier a elevar a taxa de juros em 1 ponto percentual. Detalhe: esse dinheiro não retorna para os cofres do BNDES ou da Caixa.
A Copa é o alvo errado. É um palpite infeliz de quem malha o Judas fingindo estar enfrentando o Império Romano.
Virou um misto de performance teatral e de indignação mal informada que mais parece pura babaquice - é o termo técnico mais preciso.
Os brasileiros têm direito à saúde, à educação, ao transporte para levá-los ao trabalho, à escola, ao domingo no parque.
Pois torcer pelo Brasil também é um direito. As pessoas que quiserem podem e devem exercê-lo em paz, sem sofrer constrangimento de qualquer espécie. Os que quiserem sentir vergonha também podem ficar à vontade.
Vai ter Copa e milhões de brasileiros vão exercer o seu direito a essa alegria fugaz que só dura 30 dias. Dias inesquecíveis. Cada qual tem o direito de escolher a maneira que achar melhor para se lembrar desse momento.
(*) Antonio Lassance é cientista político.
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