Leia, abaixo, trecho de um artigo de Maria da Conceição Tavares, publicado originalmente na revista Insight Inteligência.
As pessoas estão perdidas, não sabem como se guiar
do ponto de vista político, econômico. E com isso a história parece que
não se move. O futuro fica ilegível, amorfo.
Na verdade, se o PIB é pibinho ou não, qual o problema? Vai
ser 2%, 3% ou 4%? O problema é ter emprego. Para mim, os critérios
clássicos são emprego, salário mínimo e ascensão social das bases.
Desde o século XVIII, os movimentos políticos, sociais e econômicos
deixaram de se orientar pela ideia de tradição, substituindo-a pela de
um futuro diferente e melhor.
Eles acreditavam que a história tinha um sentido, um objetivo, uma utopia: criar uma sociedade mais livre e mais igualitária.
A busca da liberdade pautou o século XIX: liberdade do indivíduo, política e econômica, representada pela Revolução Francesa.
Depois, no século XX, veio o marxismo e a promessa do reino da igualdade, representada pela Revolução Russa.
Foi também em nome da igualdade que se construiu o Estado do bem-estar, como uma alternativa ao socialismo.
O planejamento era uma ideia inseparável dessa visão de mundo.
Democratização, planificação, esse é o século XX.
As pessoas acreditavam que o futuro estava destinado a isso.
E orientavam-se politicamente em função da reconstrução do mundo.
Mas essa orientação histórica rumo à liberdade e à igualdade, elaborada no Iluminismo, acabou no final do século XX.
Acho difícil saber para onde vamos. Não dá para dizer se o resultado
do que está ocorrendo será positivo ou negativo, à luz do que se
conheceu até aqui.
O que ocorre hoje pode ser uma transição ou um apodrecimento.
Transição não sei para quê, porque não há uma utopia prévia. Você
podia falar em transição para o socialismo no século XVIII ou XIX porque
estavam lá as manifestações e as utopias prévias.
Mas, agora, a transição para o socialismo quer dizer o quê?
Tudo bem, pode ser que seja um viés reformista da minha geração…
Eu sou uma adolescente do século XX e me identifico muito com ele, a favor do que era bom, e contra o que era ruim.
Por outro lado, não vejo causas que sirvam para agregar de forma propositiva tantos interesses fracionados.
Ninguém sabe como reagir se não há conceito e pensamento, organizados a partir de uma utopia.
Acho que esta sensação de impotência, de não se ver ninguém pensando diferente, deriva daí.
Diga-me um autor relevante que não esteja pensando dessa maneira,
prostrado pela falta de alternativas? Não há ousadia em nada, pelo menos
do ponto de vista do pensar.
Ninguém na academia está falando nada muito diferente.
Por isso, não gosto de dar entrevista, não quero engrossar o coro de
lamentação dos intelectuais. Pode ser que eu já esteja ultrapassada, que
esteja velha. Mas é como eu estou vendo.
De qualquer forma, esse ciclo vai passar. Torcemos para que ele não seja longo.
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