por Valéria Nader, no Correio da Cidadania, em 08.04.2014
Não é a primeira vez na sua história que a Petrobras é alvo de uma
possível CPI. Foi assim quando houve a mudança da Lei de Concessão,
criada por FHC, e que acabou com o monopólio estatal do petróleo, para o
modelo de Partilha, sob Lula. E agora, em ano eleitoral, mais uma vez a
empresa está sujeita à abertura de um processo de investigação.
Para o engenheiro Fernando Siqueira, ex-presidente e atual
vice-presidente da AEPET (a Associação de Engenheiros da Petrobras), não
se trata de uma CPI séria. Afinal, “o investigador mais sério e
confiável é o Ministério Público, e este já está investigando. CPIs
infelizmente foram transformadas em chantagens, holofotes, politicagens e
palanques eleitorais”.
O que está de fato em jogo, para o engenheiro, é um acontecimento
agora apenas requentado pela mídia, atrelada que está ao jogo do cartel
internacional, com o intuito de acabar com a Petrobras, para entregar
Pré-Sal, e de “sangrar” a presidente Dilma, presidente do Conselho de
Administração à época da compra da refinaria. E bem mais grave do que a
polêmica em torno a Pasadena, segundo Siqueira, é o estrangulamento
político e financeiro a que tem sido submetida a Petrobras,
consequência, dentre outros, da entrega do maior campo do Pré-Sal e do
mundo para a Shell/Total (40%) e uma aliada chinesa (20%). “Mas isto a
grande mídia defende (…) E não para aí. Há uma campanha para o governo
leiloar parte de Franco, que é uma estrutura contígua de Libra”,
enfatiza o ex-presidente da AEPET.
“O objetivo do cartel do petróleo é derrubar a Petrobras para ganhar o
Pré-Sal. E o da oposição é este, derrubar a Dilma”, diz Siqueira. Mas a
atual presidente não sai nem um pouco ilesa das avaliações de Siqueira,
muito pelo contrário. “O governo Dilma começou bem, baixando os juros,
varrendo a corrupção, mas acabou cedendo às pressões e se submeteu aos
banqueiros, elevando os juros, e fundamentalmente ao cartel
internacional do petróleo, fazendo três leilões em um único ano: o 11º,
que englobou a Margem equatorial (muito promissora), entregou Libra e
fez o absurdo leilão do shale gas. Dilma entregou 60% de Libra para o
cartel e vai entregar muito mais se o povo brasileiro não se defender”.
Correio da Cidadania: Acha que os atuais escândalos em torno à
Petrobras, associados a alguns outros dados negativos na economia,
chegarão a impactar a candidatura Dilma?
Fernando Siqueira: O objetivo da oposição é este, derrubar a Dilma. O
do cartel do petróleo é derrubar a Petrobras para ganhar o Pré-Sal. E a
Dilma se submete aos dois em detrimento do país. Ela é mais fraca
politicamente do que o Lula, e se deixa dominar por interesses
antinacionais e eleitoreiros. Por isto acho que a alternância de poder é
necessária. O PMDB, que está sempre no poder, se transformou num bando
de fisiológicos. O PT está chegando lá.
Correio da Cidadania: Como você vê o fato de o novo escândalo
em torno à Petrobras, relacionado à questionada compra da refinaria
Pasadena, enquanto a presidente Dilma era parte do Conselho Gestor da
empresa, explodir somente agora, em um ano eleitoral, e praticamente 8
anos após os acontecimentos?
Fernando Siqueira: Na verdade, trata-se de um fato requentado pela
mídia que faz o jogo do cartel internacional, a fim de acabar com a
Petrobras para ficar com o Pré-Sal. Em 2012, como primeiro Conselheiro
de Administração da Petrobras eleito pelos empregados, o atual
presidente da AEPET, Silvio Sinedino, fez essa denúncia. Como defensores
da companhia, somos favoráveis à investigação de qualquer que seja o
indício de irregularidade cometida, por quem quer que seja. O mais
importante é preservar a Petrobras dos ataques que visam inviabilizá-la.
Infelizmente, o presidente do Conselho na época, Guido Mantega, não
levou adiante, como deveria, uma investigação séria. O ex-presidente
Gabrielli foi ao Senado e mostrou que o negócio era bom e fazia parte do
plano estratégico da companhia. Os conselheiros Jorge Gerdau e Fabio
Barbosa também afirmaram que o aprovaram por ser bom negócio. O
problema, ao nosso ver, era o preço total pago.
Agora, em ano eleitoral, a mídia citada resolveu requentar o assunto,
pois quer sangrar a Petrobras, e a presidente Dilma, presidente do
Conselho de Administração na época da compra. Esta, por sua vez, de
forma muito irresponsável, emitiu uma nota infeliz e covarde, saindo de
fininho para deixar toda a culpa com a Petrobras. E, oito anos depois,
demitiu o diretor Cerveró para criar o bode expiatório. Claro que isto
não resolve, e até distorce o problema.
Correio da Cidadania: Quanto aos acontecimentos em si,
relativos à compra que vem sendo questionada, teria mais detalhes?
Vislumbra alguma correlação entre ele e outros semelhantes na empresa?
Fernando Siqueira: Como eu disse acima, como negócio a compra foi
boa. O que se questionou foi o preço pago. Há a nossa preocupação quanto
à atual venda de ativos, o tal “desinvestimento”, pois os lobistas que
intermediam esses negócios não primam pela integridade. Foi vendido o
BMS-65 na Bacia de Campos para a Shell e 40% de um Campo no Rio Grande
do Norte para a BP, na iminência de sua descoberta.
Não podemos concordar com isto. Não fosse a obrigação da Petrobras de
importar derivados e vender para as concorrentes por preço mais baixo,
isto não seria necessário. E a mídia comprometida deita e rola: o
Estadão manipulou uma declaração do presidente da Astra, o dono da
refinaria, que disse que a compra foi o negócio do século, pois os
furacões reduziram a produção das outras refinarias e a demanda por
derivados aumentou. O Estadão pegou o final da frase para dizer que a
venda para a Petrobras é que foi o negócio do século.
Correio da Cidadania: O que pensa da instalação de uma CPI
para averiguar a polêmica aquisição da refinaria pela Petrobras e a que
resultados imagina que se possa chegar?
Fernando Siqueira: Eu acho que toda denúncia deve ser investigada.
Mas o investigador mais sério e confiável é o Ministério Público, e este
já está investigando. CPIs infelizmente foram transformadas em
chantagens, holofotes, politicagens e palanques eleitorais. Quando
estava em elaboração a lei de partilha que iria mudar o entreguismo da
lei de concessão, inventaram a CPI para atrapalhar a recuperação da
soberania. No ano eleitoral, inventaram outra. Não é sério.
Correio da Cidadania: O escândalo de Pasadena chega, por sua
vez, concomitante a outros acontecimentos que têm colocado a Petrobras
no centro dos noticiários, como, por exemplo, uma administração
temerária para a saúde da empresa, com o rebaixamento de tarifas como
forma de controlar a inflação. O que tem a dizer, nesse sentido, sobre
esta política e a condução administrativa da empresa no geral nos
últimos anos?
Fernando Siqueira: Como dito acima, isto visa enfraquecer a Petrobras
para deixar o Pré-Sal para o cartel do petróleo e os EUA, que, quando o
Pré-Sal foi descoberto, reativou a 4ª Frota Naval e a colocou no
Atlântico Sul, violando a soberania da Argentina e do Brasil. O objetivo
era pressionar o governo pelo Pré-Sal, e funcionou, pois a Dilma
entregou 60% de Libra para o cartel e vai entregar muito mais se o povo
brasileiro não se defender. A administração da empresa tem sido muito
prejudicada pelo aparelhamento político feito pela base do governo.
Gerentes nomeados politicamente acabam fazendo o jogo dos partidos em
detrimento de uma administração técnica em favor da companhia e do
interesse da nação brasileira. Isto é péssimo. A produção vem caindo, os
acionistas vêm perdendo e o país perde mais ainda.
Correio da Cidadania: Têm sido divulgados ainda diversos
dados sobre a queda na receita e rendimentos da empresa nos últimos
meses, impactando de forma negativa o seu valor na Bolsa, que está em
evidente queda. O que tem a dizer sobre esses dados e também sobre a
divulgação que lhes é dada pela mídia corporativa?
Fernando Siqueira: Muito mais grave do que este negócio de Pasadena, é
o fato de se estrangular a Petrobras financeiramente e entregar o maior
campo do Pré-Sal e do mundo para a Shell/Total (40%) e uma aliada
chinesa (20%). Mas isto a grande mídia defende. A Globo, no Jornal
Nacional de terça-feira, 6/11/2013, atropelou a matemática para mostrar
uma conta manipulada, na qual o país vai ficar com 85% do campo de
Libra. Fiz as contas e, no máximo, o país vai ficar 40,4% de Libra. O
edital criminoso levará este valor a decrescer ao longo do tempo. Dá
para acreditar que os gringos pagaram 60% e vão levar só 15%? Claro que
não. Isto é crime. É manipulação de opinião.
Mas não para aí. Há uma campanha para o governo leiloar parte de
Franco, que é uma estrutura contígua de Libra. Ambos foram entregues à
Petrobras por conta da sua capitalização via cessão onerosa: a Petrobras
comprou sete blocos da União, que deveriam conter 5 bilhões de barris, e
pagou por eles R$ 85 bilhões. Perfurou Franco e achou 10 bilhões de
barris. Perfurou Libra e achou 15 bilhões. Pela lei, o governo deveria
negociar com ela o excedente dos 5 bilhões através de contratos de
partilha. Ao invés disto, o governo tomou Libra da Petrobras e fez um
leilão fajuto entregando 60% para estrangeiros. Agora quer leiloar o
excedente de Franco.
Outro absurdo: em janeiro de 2012, a ANP doou para a Shell uma área
da União, de 250km², contígua ao Bloco BMS-54, adquirido pela Shell sob a
lei antiga. Dupla ilegalidade: 1) a lei só permite entrega de áreas sem
leilão à Petrobras; 2) pela lei a Petrobras é a operadora única do
Pré-Sal. Quando estourou o escândalo, a ANP desfez a doação e mandou a
Pré-Sal Petróleo SA (PPSA) negociar com a Shell. Os diretores da PPSA
são “amigos” da Shell.
Correio da Cidadania: Ou seja, os fatos recentes têm plena
associação com o recente leilão do Pré-Sal, que já carreou tantas
críticas quanto à entrega de nosso ‘bilhete premiado’.
Fernando Siqueira: Exato. O leilão do campo de Libra, o maior do
Pré-Sal e do mundo, foi um crime de lesa pátria, que a grande mídia
defendeu de forma torpe, inclusive manipulando contas, como já dito. O
campo, pela lei, tinha que ser negociado com a Petrobras, pois é uma
área estratégica e a lei nova estabelece isto. Libra tem uma reserva de
15 bilhões de barris ou mais. Ao valor de US$ 100 por barril, chega-se a
US$ 1,5 trilhão, dos quais 60% foram entregues ao capital externo.
Então, esta campanha visa mesmo é enfraquecer a Petrobras para que seja
entregue o resto do Pré-Sal.
Correio da Cidadania: Faria uma comparação entre os governos
FHC, Lula e, agora, Dilma, no que se refere à administração da empresa e
aos resultados, benéficos e/ou maléficos, a que se chegaram em cada um
desses governos?
Fernando Siqueira: O governo FHC foi, a meu ver, o pior da nossa
história. As mudanças que ele patrocinou na Constituição, no capítulo da
ordem econômica e financeira, foram desastrosas. Quebrou monopólios;
escancarou o subsolo e navegação dos nossos rios para empresas
estrangeiras; eliminou a diferença entre empresa nacional e empresa
estrangeira; emitiu um decreto que isenta do imposto equipamento
estrangeiro, matando 5000 empresas fornecedoras de equipamentos do setor
petróleo; desnacionalizou estatais estratégicas; e propiciou a venda de
3000 empresas nacionais, privadas, para estrangeiros; abriu o monopólio
do petróleo e fez uma lei em que todo o petróleo é de quem o produz.
Iniciou o processo de desnacionalização da Petrobras. Sua política na
área internacional teve a postura de submissão total aos EUA.
O governo Lula tentou recuperar alguns valores. Embora tenha feito a
reforma previdenciária e continuado os leilões de petróleo, mudou a lei
de concessão para partilha de produção, que recupera a propriedade da
União, colocando a Petrobras como operadora única do Pré-Sal. Fez uma
política internacional muito boa, abrindo mercados e se integrando com a
América Latina e com a África e prestigiando o Mercosul, a Unasul e o
G20.
O governo Dilma começou bem, baixando os juros, varrendo a corrupção,
mas acabou cedendo às pressões e se submeteu aos banqueiros, elevando
os juros, e fundamentalmente ao cartel internacional do petróleo,
fazendo três leilões em um único ano: o 11º, que englobou a Margem
equatorial (muito promissora), entregou Libra e fez o absurdo leilão do
shale gas.
Correio da Cidadania: Acha que os atuais escândalos em torno à
Petrobras, associados a alguns outros dados negativos na economia,
chegarão a impactar a candidatura Dilma?
Fernando Siqueira: O objetivo da oposição é este, derrubar a Dilma. O
do cartel do petróleo é derrubar a Petrobras para ganhar o Pré-Sal. E a
Dilma se submete aos dois em detrimento do país. Ela é mais fraca
politicamente do que o Lula, e se deixa dominar por interesses
antinacionais e eleitoreiros. Por isto acho que a alternância de poder é
necessária. O PMDB, que está sempre no poder, se transformou num bando
de fisiológicos. O PT está chegando lá.
Valéria Nader, jornalista e economista, é editora do Correio da Cidadania.
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