*José Álvaro de Lima Cardoso
Segundo os dados do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (CAGED-MTE) o emprego formal no Brasil, nos últimos
12 meses, cresceu 2,5%, pouco mais de 1 milhão de novos postos de trabalho. Em
Santa Catarina, um dos estados onde o emprego formal mais cresceu no período
referido, a expansão do emprego foi de 4,3%, o equivalente a um saldo líquido
de 84.000 novos postos de trabalho. Nos últimos anos, o número de empregos
formais em Santa Catarina vem crescendo acima do ritmo de crescimento da População
Economicamente Ativa (PEA). Não por acaso, a taxa de desocupação medida pela Pesquisa
Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD-IBGE) em Santa Catarina, apresentou
queda entre 2011 e 2012. A referida taxa em 2012 foi de 3% em Santa Catarina
(último dado disponível), o que significa um contingente de 103 mil pessoas
desocupadas que estavam à procura de emprego por ocasião da pesquisa.
O termo
pleno emprego, em economia, se refere à utilização de todos os fatores
disponíveis (trabalho e capital, por exemplo) a preços de equilíbrio.
Geralmente se utiliza esta expressão pensando em pleno emprego do fator
trabalho, isto é, o pleno emprego de trabalhadores. Uma situação de pleno
emprego no mercado de trabalho, representa um ambiente em que todos os
trabalhadores que aceitem receber os chamados “salários de equilíbrio” estão
empregados. Apesar do Brasil estar, em termos de mercado de trabalho, no melhor
momento da sua história, não podemos afirmar que o pais tem pleno emprego. A
Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, por exemplo, revela que existe,
ainda, uma taxa de desemprego, em torno dos 10% no país.
O certo
é que, independentemente do debate conceitual sobre a existência ou não de
pleno emprego, a situação do mercado de trabalho brasileiro e catarinense é a
melhor da história. Não parece que teremos um esgotamento dessa tendência no
curto e médio prazos. Está havendo, por exemplo, um aumento na geração de
empregos, desde o início da preparação da Copa do Mundo, em função dos
serviços relacionados ao evento, conforme previram alguns estudos relacionados ao
assunto. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estimou, em 2010, que a Copa
iria gerar 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos ao ano, num total de 14
milhões até 2014. O problema do Brasil, neste momento, é
até a falta de mão de obra em algumas regiões do país, especialmente a qualificada
para atender certas especialidades, como é o caso de Santa Catarina.
Outros fatores contribuem para a geração de
empregos. Os investimentos, medidos pela formação bruta de capital fixo (FBCF),
cresceram 6,3% em 2013, alavancados pela expansão da produção interna de
máquinas e equipamentos. A balança comercial de janeiro/14 mostrou um aumento
nas importações de bens de capital, o que pode sugerir certa retomada da
indústria nacional para os próximos meses. Um detalhe fundamental é que segundo
os dados do PIB de 2013, o consumo das famílias subiu, pelo décimo ano seguido,
2,3%. Este é um dado que não pode ser desconsiderado: o país apresenta 120
meses de crescimento ininterrupto do consumo das famílias, temos novos
protagonistas na sociedade brasileira.
Claro
que a qualidade do emprego no país ainda é muito baixa. A rotatividade de
trabalhadores, por exemplo, é absurda, como mostram os dados de Santa Catarina: para gerar
84.000 postos de trabalho, as empresas contrataram em 12 meses 1.287.000
trabalhadores e demitiram 1.203.000. Reduzir a rotatividade do trabalho e a
desigualdade da sociedade brasileira são pré-requisitos para a elevação da própria
produtividade. Com a significativa desigualdade de renda, com grandes levas de
trabalhadores, inclusive, com baixos níveis de escolaridade, há um reflexo na
própria estrutura produtiva, que é desigual e precária no país. É um círculo
vicioso: empregos com produtividade baixa, possibilitam baixos salários,
fenômeno que se reproduz ao longo dos anos.
É
preciso fazer muita coisa ao mesmo tempo: investir em educação básica, em
formação profissional, cuidar do câmbio, aumentar salários, cuidar das contas
externas, fazer planejamento de longo prazo. Como enfrentamos duas décadas
perdidas para o crescimento (1980 e 1990), não tem outra saída: o país tem que
trocar a turbina do avião em pleno voo.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa
Catarina.
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