O
jornal Folha
de S. Paulo da
quinta-feira, 10 de abril,
publicou matéria
intitulada
“Filial do Ipea na
Venezuela ignora crise e
elogia governo”,
assinada por Fabiano
Maisonnave. Com ares de
pretensa denúncia, o texto
diz, entre outras coisas:
“Única
representação
internacional do Ipea
(Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), a
filial do órgão na
Venezuela prioriza
análises favoráveis ao
chavismo e projetos de
integração com o Brasil ao
estudo dos graves
problemas macroeconômicos
do país”.
É público desde
2010 que o Ipea mantém um
escritório – e não
“filial” – dedicado a
estudos e assessoria para
tarefas de integração
regional em Caracas. Não é
essa a novidade da
matéria. Trata-se de mais
um capítulo de uma guerra
ideológica que a imprensa
busca fazer,
principalmente em anos
eleitorais. O roteiro é
conhecido. Um jornal
publica notícia, alguns
sites repercutem e os
parlamentares da oposição
incorporam a pauta
midiática. No mesmo dia em
que a notícia foi
publicada, ganhou espaço
no blog de Reinaldo
Azevedo e subsidiou a
atuação política da
oposição. No caso
concreto, o deputado
Eduardo Barbosa (PSDB-MG),
presidente da Comissão de
Política Exterior e de
Defesa Nacional e
candidato à reeleição em
outubro, subiu a tribuna e
afirmou que a Missão do
Ipea na Venezuela depõe
contra a credibilidade do
país. Ganhou espaço no
site do partido.
O que está em
pauta
A Missão do Ipea na Venezuela está em linha com a ampliação de atribuições adotadas pelo órgão nos últimos anos e com a política externa do Estado brasileiro. Na última década, o Brasil ampliou sua presença internacional. Mais de quarenta embaixadas foram abertas, o país estabeleceu contatos com novos parceiros comerciais, colocou-se como ator importante na seara política e econômica e tem peso decisivo na integração continental. Empresas como Petrobras, Banco do Brasil, Embraer, BNDES, Odebrecht, Camargo Correa e outras estão presentes em vários países da América Latina. Além disso, deixamos de ser receptores de iniciativas de cooperação internacional e nos tornamos ativos no quesito.
Nesse contexto, o
Ipea criou, em 2009, a
Diretoria de Estudos e
Relações Econômicas e
Instituto,
inicialmente com a
instalação de escritórios
na Venezuela, Argentina,
Paraguai, Uruguai, China e
Angola.
A primeira representação coube ao país que se tornou nosso segundo parceiro regional. É bom lembrar que a balança comercial entre Brasil e Venezuela aumentou de US$ 880 milhões/ano em 2003 para mais de US$ 6 bilhões/ano em 2013 e a Venezuela é responsável por um dos três principais superávits comerciais do Brasil desde 2007.
Representação
qualificada
Para chefiar a representação foi escolhido um Técnico de Planejamento e Pesquisa, concursado do Ipea. Ele foi indicado em processo de seleção interno, aberto a todos os técnicos da instituição. Trata-se de Pedro Silva Barros, formado em Economia e em Direito pela USP, com doutorado no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina (Prolam/USP). Pedro também é professor licenciado do Departamento de Economia da PUC-SP.
Vale ressaltar
que, além do Ipea, mantêm
representação em Caracas a
Embrapa, a Caixa Econômica
Federal, a Polícia
Federal, a ABIN, as três
forças armadas e várias
empresas privadas. Isso
mostra claramente que a
Venezuela é um país
estratégico para o Brasil.
São 1492 km de fronteiras
com o pais que tem as
maiores reservas de
petróleo do mundo. Apesar
da crise conjuntural que
atravessa, a Venezuela se
constitui em um enorme
mercado potencial para
produtos e serviços
brasileiros. O maior
interessado em sua
estabilidade, depois dos
próprios venezuelanos, é o
Brasil.
Assim, a Missão
do Ipea tem como único
propósito apoiar as
políticas do Estado
brasileiro, entre as quais
a de promover a integração
regional.
Produção e
pesquisa
Entre o segundo semestre de 2010 e os dias de hoje, o escritório do Ipea em Caracas já produziu dez relatórios específicos no âmbito da cooperação bilateral, com temas ligados à urbanização, indústria petroquímica, desenvolvimento na região da fronteira, integração produtiva e de infraestrutura entre os dois países, entre outros. A lista de atividades realizadas inclui ainda oito cursos sobre planejamento, políticas públicas e integração regional, editados dois livros (um no prelo), seis artigos e relatórios de pesquisa. Houve, além disso, participação em dezenas seminários, conferências, palestras e debates, congressos acadêmicos, reuniões de organizações internacionais e várias publicações em jornais, revistas e sites. A Missão do Ipea na Venezuela participou da delegação brasileira nas reuniões ministeriais preparatórias para a criação da Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe (Celac), em Caracas (2011), e integra a delegação brasileira junto ao Sistema Econômico Latino-Americano e do Caribe (SELA) desde a reunião anual de 2010.
As pesquisas da
Missão do Ipea na
Venezuela priorizam
claramente os temas
econômicos, em sentido
amplo, que aborda
logística e
infraestrutura,
desenvolvimento urbano e
da região de fronteira,
integração produtiva e
comércio. Um exemplo é o
estudo sobre o Canal
Cassiquiare, integração
natural entre as bacias do
Orinoco e Amazônica, que
não seria feito se o
escritório do Ipea não
tivesse sido instalado em
Caracas.
Temos
um déficit no conhecimento
sobre os nossos vizinhos.
As responsabilidades que o
Brasil assume como um global
player,
particularmente em sua
atuação hemisférica,
implica que as decisões de
Estado estejam subsidiadas
por estudos produzidos por
suas múltiplas
instituições, que devem
ter inserção e presença
internacional.
Portanto, a
consolidação do escritório
do Ipea na Venezuela é de
interesse do Brasil. Oxalá
que o sucesso da missão
leve o IPEA a retomar o
projeto de abertura de
representações similares
em outros países, em
particular do Mercosul.
São Paulo, 14 de
abril de 2014
Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI)*
grri@brasilnomundo.org.br
Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI)*
grri@brasilnomundo.org.br
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