*José
Álvaro de Lima Cardoso
Tem havido um aumento do
pessimismo entre a população acerca do comportamento da economia brasileira.
Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas
(Ibre-FGV), a confiança de empresários e consumidores voltou ao mesmo patamar
observado em 2009, quando o Brasil ainda sofria os efeitos da crise global. A
elevação do pessimismo entre os chamados agentes econômicos, de alguma forma,
afeta as possibilidades de crescimento na medida em que, consumidores e
empresários tendem a adotar comportamento defensivo na hora de consumir ou
investir. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pela FGV, por
exemplo, 1,7% em fevereiro, a terceira queda consecutiva em relação ao mês
imediatamente anterior, e chegou ao menor nível desde maio de 2009. As famílias
que consideram a situação econômica ruim em fevereiro aumentaram de 35,7% para
41% do total, enquanto aqueles que consideram o quadro bom representam 15,2% do
total, um pouco mais do que os 14,2% em janeiro.
No entanto, os dados
conjunturais da economia brasileira, nestes primeiros meses do ano, não
justificam tal pessimismo. O resultado do PIB, por exemplo, se não foi nada de
muito excepcional (2,3%), ficou acima das expectativas da maioria dos analistas
(principalmente os mais pessimistas). Um aspecto positivo nos números do PIB,
inclusive, foi o crescimento dos investimentos que, medidos pela formação bruta
de capital fixo (FBCF), cresceram 6,3%, alavancados pela expansão da produção
interna de máquinas e equipamentos. Outro dado importante: o consumo das
famílias subiu, pelo décimo ano seguido (2,3%). São 120 meses de crescimento
ininterrupto. No período, 17 milhões de empregos foram gerados e o salário
mínimo apresentou aumento real superior a 60%. Este e outros indicadores
revelam que mudanças capitais estão ocorrendo na economia e é fundamental saber
interpretá-las.
Mais recentemente, foi a
divulgação dos dados do emprego formal de fevereiro, que foram extremamente
positivos. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED),
foram gerados 260.283 empregos formais
no Brasil em fevereiro, o segundo melhor saldo para o mês na série
histórica. Este resultado só foi inferior ao registrado em fevereiro de 2011
(+280.799 postos), ano em que ocorreu a segunda melhor geração de empregos
formais brasileiro (2.026.571 postos). Um número elevado de empregos, como o de
fevereiro, mais recentemente, só foi observado pela última vez em abril de 2011 (272.225 postos).
Este foi o sétimo mês consecutivo de
desempenho superior, quando comparado ao mesmo período do ano anterior.
Os principais indicadores
conjunturais do primeiro bimestre (indústria, varejo, emprego) ficaram acima do
projetado pelos analistas. Além da demanda mais forte na área de bebidas,
ventiladores e aparelhos de ar-condicionado em função das altas temperaturas
nos primeiro meses do ano, a proximidade da Copa do Mundo vem alavancando a
venda de televisores. O impacto da realização da Copa no Brasil sobre a geração
de empregos era esperado. Ainda que seja difícil estimar um número preciso,
está havendo um aumento na geração de empregos, desde o início da preparação da
Copa, em função dos serviços relacionadas ao evento. Em 2010, um estudo da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) previa que a Copa iria gerar 3,6 milhões de
empregos diretos e indiretos ao ano, num total de 14 milhões até 2014.
Incremento de empregos indiretos são sempre mais difíceis de calcular, mas o
país vive o melhor momento de sua história em geração de empregos e nesse
processo, certamente houve a contribuição das obras do Mundial.
Boa parte do pessimismo
entre famílias e empresários está diretamente relacionada com a cobertura de
uma parte da mídia, extremamente negativa e que está sempre prevendo que “se
neste momento não está acontecendo o pior, ele virá na semana que”. O caso da
decisão da agência de classificação de risco Standard & Poors (S&P),
que rebaixou o Brasil de BBB para BBB-, é emblemático. A agência não tem
nenhuma credibilidade, porque, dentre outras coisas, na crise de 2008, no mês
de agosto, atribuiu nota máxima AAA ao banco Lehman Brothers, instituição que
entrou em falência 30 dias depois. O
desleixo da agência é tão grande que o governo norte-americano, quando foi
rebaixado por essa agência, descobriu um erro de cálculo de “meros” US$
2 trilhões nas contas realizadas, que serviram de elementos para a agência
rebaixar a posição de rating do país
em 2002. Curiosamente, após alguns debates, a agência reconheceu o erro
cometido, porém, mesmo assim, não reviu a decisão tomada em relação ao
rebaixamento.
Após a crise de 2008, ao
se justificarem no senado estadunidense, essas agências alegaram que estavam
exercendo a liberdade de expressão e emitindo as suas opiniões. As quais
ninguém era obrigado a aceitar. O certo é que a lógica dessas agências, é de
curto prazo, está em linha com os interesses dos grandes bancos e especuladores
e não tem nenhum tipo de compromisso com nenhum país, muito menos com o Brasil.
Apesar destes fatos
extremamente relevantes, pois dizem respeito ao próprio crédito que se deve dar
à decisão de rebaixamento, uma parte da imprensa no Brasil reagiu como se o
fato significasse uma verdadeira desgraça para a economia nacional. A ninguém
ocorreu colocar em discussão a credibilidade da agência, tomou-se a decisão
como se fosse prova irrefutável de que a economia brasileira vai muito mal.
Quando a nota, agora rebaixada, foi dada, em novembro de 2011, não aconteceu
nada de significativo na economia brasileira. A nota atual, aliás, é a mesma
que o país tinha em 2010, ano em que a economia cresceu 7,5%. Porque não se
discutem esses aspectos, que são extremamente relevantes para a compreensão da
questão?
A campanha de veiculação
de más notícias, não poderia esquecer, claro, da Petrobras. A fim de destacar o
caso Pasadena, por razões eleitorais, os críticos aproveitam para desgastar a
Petrobras, que é apresentada como um empresa endividada, dominada pela
corrupção e financeiramente inviável. Obviamente que ações equivocadas ou
desonestas de investimentos têm que ser rigorosamente investigadas. Mas isso é
muito diferente de querer aproveitar estes acontecimento para atingir a mais
importante empresa do país, localizada numa área vital de negócios e que ocupa
a posição de locomotiva da economia brasileira. Segundo avaliação de
especialistas, é possível que a refinaria de Pasadena, tenha faturado US$ 16
bilhões, entre 2006 e 2012. Com esse faturamento, é muito provável que o
prejuízo com a compra da empresa já tenha sido inteiramente amortizado, ou
esteja em vias de sê-lo.
*Economista e supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina.
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