Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa: retirado do Blog do Miro
A edição de sexta-feira (20/12) da Folha de S. Paulo oferece espaço generoso para o livro do delegado aposentado Romeu Tuma Jr. (Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado, Editora Topbooks), no qual, segundo a reportagem, constam denúncias de que agentes da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Informações eram encarregados de produzir dossiês contra adversários do governo a partir de 2007, bisbilhotando até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal.
Um dos trechos mais polêmicos do livro seria a afirmação de que o ex-presidente Lula da Silva teria sido informante do sistema de repressão na época em que dirigia o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O jornal paulista não coloca em dúvida essa afirmação do ex-delegado. Apenas observa, num quadro, que Tuma Jr. teria acesso a essa indiscrição por ter sido investigador no Dops. Segundo sua versão, apenas ele, seu pai e o ex-ministro Golbery do Couto e Silva teriam conhecimento dessa suposta condição do então líder operário. Como os dois outros personagens já morreram, fica o dito a ser comprovado pelo denunciante e investigado pela imprensa.
Em outras circunstâncias, nas quais se poderia esperar algum compromisso da Folha de S.Paulo com a busca da verdade, algum repórter teria sido despachado em busca de outras fontes que pudessem trazer indícios sobre a verossimilhança das acusações contidas no livro.
Jornalistas veteranos que tiveram acesso ao Serviço Nacional de Informações no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 considerariam essa denúncia no mínimo fantasiosa. Para qualquer jornalista que tenha tido conversas privadas com o general Arnaldo de Carvalho Braga, então chefe do SNI em São Paulo, naquele período, a hipótese de Lula da Silva ter sido informante do Dops soaria no mínimo bizarra: Lula era considerado um dos mais perigosos inimigos do regime, por sua capacidade de mobilização, seu prestígio internacional e sua recusa ao uso da violência.
No mais, registre-se que a Folha, afinal, chama o regime de exceção por seu nome próprio: no primeiro parágrafo do texto, o jornal usa a expressão “ditadura militar”, abandonando aquela patética versão da “ditabranda”.
O outro livro
As acusações de Romeu Tuma Jr. devem ser tomadas em seu valor relativo, uma vez que o autor tem motivos de sobra para desaguar seu pote de mágoas e anda necessitado de mídia para se lançar candidato a deputado federal.
Após uma carreira à sombra do pai, conseguiu a melhor posição na vida pública, como titular da Secretaria Nacional de Justiça, quando o então senador se aproximou de Lula, já presidente, por conta da aliança de sustentação parlamentar do governo. Tuma Jr. foi afastado do cargo sob a acusação de nepotismo e suspeita de ligação com o chefe de uma quadrilha de contrabandistas, e afinal inocentado por falta de provas.
A reputação do ex-delegado junto à imprensa era muito baixa até o lançamento do livro, conforme se pode observar nos arquivos de notícias a seu respeito. O que o torna autor com credibilidade é o conteúdo das denúncias: não é preciso apelar para a imaginação para constatar o critério usado pela imprensa brasileira para definir o que é ou o que não é notícia.
Tuma Jr. representa o oposto do que ocorreu com o jornalista Amaury Ribeiro Jr. Ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo em duas ocasiões, quatro vezes vencedor do Prêmio Vladimir Herzog, Ribeiro Jr. entrou no index prohibitorum da mídia após publicar o livro intitulado A Privataria Tucana.
A obra de Ribeiro Jr. foi ignorada pelos jornais, pelas duas revistas semanais de maior circulação, pelos principais noticiosos da televisão e do rádio, mesmo tendo sido finalista do prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e de ter permanecido entre os livros mais vendidos nas semanas seguintes à sua publicação, em 2010.
Resultado de doze anos de investigações, com a compilação de 140 páginas de documentos sobre supostos casos de desvio de dinheiro em privatizações realizadas durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, o trabalho do jornalista só teve repercussão em blogs e sites da internet não ligados aos grandes grupos de comunicação.
O livro de Romeu Tuma Jr., produzido em uma série de depoimentos para um jornalista, deveria merecer um trabalho investigativo por parte da imprensa, assim como o livro de Amaury Ribeiro Jr., que resultou de um longo trabalho de reportagem. Ao produzir a resenha engajada de um e ignorar o outro, a imprensa justifica a suspeita de que suas pautas são movidas por interesses partidários.
A edição de sexta-feira (20/12) da Folha de S. Paulo oferece espaço generoso para o livro do delegado aposentado Romeu Tuma Jr. (Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado, Editora Topbooks), no qual, segundo a reportagem, constam denúncias de que agentes da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Informações eram encarregados de produzir dossiês contra adversários do governo a partir de 2007, bisbilhotando até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal.
Um dos trechos mais polêmicos do livro seria a afirmação de que o ex-presidente Lula da Silva teria sido informante do sistema de repressão na época em que dirigia o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O jornal paulista não coloca em dúvida essa afirmação do ex-delegado. Apenas observa, num quadro, que Tuma Jr. teria acesso a essa indiscrição por ter sido investigador no Dops. Segundo sua versão, apenas ele, seu pai e o ex-ministro Golbery do Couto e Silva teriam conhecimento dessa suposta condição do então líder operário. Como os dois outros personagens já morreram, fica o dito a ser comprovado pelo denunciante e investigado pela imprensa.
Em outras circunstâncias, nas quais se poderia esperar algum compromisso da Folha de S.Paulo com a busca da verdade, algum repórter teria sido despachado em busca de outras fontes que pudessem trazer indícios sobre a verossimilhança das acusações contidas no livro.
Jornalistas veteranos que tiveram acesso ao Serviço Nacional de Informações no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 considerariam essa denúncia no mínimo fantasiosa. Para qualquer jornalista que tenha tido conversas privadas com o general Arnaldo de Carvalho Braga, então chefe do SNI em São Paulo, naquele período, a hipótese de Lula da Silva ter sido informante do Dops soaria no mínimo bizarra: Lula era considerado um dos mais perigosos inimigos do regime, por sua capacidade de mobilização, seu prestígio internacional e sua recusa ao uso da violência.
No mais, registre-se que a Folha, afinal, chama o regime de exceção por seu nome próprio: no primeiro parágrafo do texto, o jornal usa a expressão “ditadura militar”, abandonando aquela patética versão da “ditabranda”.
O outro livro
As acusações de Romeu Tuma Jr. devem ser tomadas em seu valor relativo, uma vez que o autor tem motivos de sobra para desaguar seu pote de mágoas e anda necessitado de mídia para se lançar candidato a deputado federal.
Após uma carreira à sombra do pai, conseguiu a melhor posição na vida pública, como titular da Secretaria Nacional de Justiça, quando o então senador se aproximou de Lula, já presidente, por conta da aliança de sustentação parlamentar do governo. Tuma Jr. foi afastado do cargo sob a acusação de nepotismo e suspeita de ligação com o chefe de uma quadrilha de contrabandistas, e afinal inocentado por falta de provas.
A reputação do ex-delegado junto à imprensa era muito baixa até o lançamento do livro, conforme se pode observar nos arquivos de notícias a seu respeito. O que o torna autor com credibilidade é o conteúdo das denúncias: não é preciso apelar para a imaginação para constatar o critério usado pela imprensa brasileira para definir o que é ou o que não é notícia.
Tuma Jr. representa o oposto do que ocorreu com o jornalista Amaury Ribeiro Jr. Ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo em duas ocasiões, quatro vezes vencedor do Prêmio Vladimir Herzog, Ribeiro Jr. entrou no index prohibitorum da mídia após publicar o livro intitulado A Privataria Tucana.
A obra de Ribeiro Jr. foi ignorada pelos jornais, pelas duas revistas semanais de maior circulação, pelos principais noticiosos da televisão e do rádio, mesmo tendo sido finalista do prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e de ter permanecido entre os livros mais vendidos nas semanas seguintes à sua publicação, em 2010.
Resultado de doze anos de investigações, com a compilação de 140 páginas de documentos sobre supostos casos de desvio de dinheiro em privatizações realizadas durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, o trabalho do jornalista só teve repercussão em blogs e sites da internet não ligados aos grandes grupos de comunicação.
O livro de Romeu Tuma Jr., produzido em uma série de depoimentos para um jornalista, deveria merecer um trabalho investigativo por parte da imprensa, assim como o livro de Amaury Ribeiro Jr., que resultou de um longo trabalho de reportagem. Ao produzir a resenha engajada de um e ignorar o outro, a imprensa justifica a suspeita de que suas pautas são movidas por interesses partidários.
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