Mairon Edegar Brandes, economista e técnico do DIEESE na subseção da FETIESC
Conforme apontado em artigo anterior, o governo brasileiro
tem recebido críticas pela condução da política fiscal. Citamos os relatórios
do FMI, da OCDE e mesmo artigos de analistas nos principais jornais e revistas
de circulação no país e no mundo, além do rebaixamento da posição por agências
internacionais de risco.
Entendemos que as críticas estavam relacionadas,
exclusivamente, ao fato da conta de superávit primário (recursos para pagar
juros da dívida) do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e
Banco Central) apresentar resultado pífio até outubro (R$ 33,4 bilhões) diante
da meta ajustada para o ano (R$ 73 bilhões). Afinal, a relação dívida bruta do
governo e líquida do setor público ao PIB é de 60% e 35%, respectivamente, um
patamar que não justifica todo o alarido.
Antes da divulgação oficial do resultado fiscal para o mês de
novembro, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, procurou
tranquilizar o mercado financeiro, afirmando que o governo tinha expectativa de
obter recorde de receitas extraordinárias nos últimos dois meses do ano e que a
meta seria respeitada.
De fato, apenas em novembro, a União arrecadou R$ 20,4 bilhões (vale mencionar que é quase o
orçamento do Programa Bolsa Família para 2013), com a reabertura do parcelamento
de dívidas de contribuintes, denominado como Refis da Crise, e a criação de
dois parcelamentos extraordinários para instituições financeiras e
multinacionais. O que impressiona é que, segundo o próprio Fisco, 96,4% desse
valor foram pagos por, aproximadamente, 75 instituições financeiras e 55
multinacionais brasileiras.
Como informa a Agência Brasil, do pagamento das dívidas de
130 grandes empresas (produtivas e financeiras) depende o cumprimento da meta
de superávit primário do Governo Central brasileiro. Para obter esses recursos
à vista, ou fazer com que essas empresas desistissem de questionar o pagamento da
dívida na justiça, o governo ofereceu 100% de desconto em multas e juros na
maior parte dos casos. Nos casos de parcelamento, o percentual de desconto foi
pouco menor e variou de acordo com o montante da primeira parcela (por exemplo,
desconto de 80% no montante de multa e 40% nos juros para o contribuinte que
quitasse 20% do principal da dívida como entrada).
Em última análise, a classe dominante (capital produtivo e,
sobretudo, financeiro) evidencia claramente o poder que detém sobre a estrutura
do Estado. Pressiona o governo através da mídia e outros meios de influência
indiretos, como o rebaixamento da posição da economia brasileira pelas agências
de risco internacionais, para obter o que é de seu interesse particular. Perdem
os trabalhadores e o conjunto da sociedade brasileira.
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