Os meios de comunicação são, de fato, instrumento de luta política e ideológica. Ninguém – ou quase ninguém – monta uma estrutura de mídia com o único propósito de disseminar informação. Há muito tempo que o objetivo primário do jornalismo foi deixado em segundo plano.
Isso por si só não significa dizer que se tem uma mídia ruim. Se a comunicação social é democratizada, tem pluralidade se tem qualidade na informação transmitida às pessoas. Pois dessa forma existe toda uma gama ideológica circulando na descrição dos fatos que mereceram destaque e se tornaram notícia.
Isso não acontece no Brasil. Aqui a mídia é concentrada. Sempre foi. É voltada aos interesses das elites. Também sempre foi. A liberdade de imprensa existe até a página dois quando os interesses dos donos dos veículos entram na berlinda. Sempre nas entranhas da disputa do poder político e econômico.
Dentre as famílias mais ricas do Brasil estão as donas de grupos de mídia. Em todos os momentos em que a democracia foi atacada no país estavam lá os grupos de mídia.
A manipulação da informação é a melhor arma na luta política e ideológica. Imagine os vinte anos de ditadura civil-militar no Brasil e a “grande imprensa” dizendo que tudo era um mar de rosas. Ou mesmo a campanha midiática que levou Getúlio Vargas ao suicídio ou mesmo ao golpe de 1964.
Com todo esse poder não é surpresa que os barões da comunicação sejam também grandes chantagistas. Dos tempos de Assis Chateubriand até hoje esse é o tipo de relação que se tem com governantes, membros do Poder Legislativo e do Poder Judiciário. Basta checar os recursos milionários que saem dos cofres públicos para sustentar o luxo do baronato da mídia.
É claro que nem sempre a chantagem é direta. Na maioria das vezes acorre com as campanhas difamatórias e inversão dos fatos, sem que haja uma única conversa direta entre o dono do veículo de comunicação e o ente público (também pode ser privado).
E para dar ares democráticos, de vez em quando surge uma capa aqui, uma matéria positiva ali. Desde, é claro, que o gordo recurso publicitário tenha caído na conta bancária do veículo de comunicação. Fica como se fosse o jogo do “João Sem Braço”.
Se a pressão midiática é grande em cima de governos, especialmente os de cunho trabalhista, imaginem se não houvesse todo o montante que é despejado nas contas dos veículos de comunicação. Romper esse circulo vicioso é imprescindível, mas não é fácil. Já se tem toda uma estrutura montada dos grandes meios para atingirem todo o território nacional. Porém, começar é fundamental.
Observem o que revelou Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, em entrevista concedida no último dia 16. “Recebi um telefonema de um dono de muitos meios de comunicação dizendo que não daria trégua à prefeitura e que colocaria todos seus veículos contra o IPTU progressivo. Isso não me foi contado. Isso foi dito”.
Segundo o site Conversa Afiada, quem ameaçou Haddad foi Johnny Saad, dono do Grupo Bandeirantes de comunicação, e proprietário de vários imóveis na capital paulista.
Para quem não sabe, o IPTU progressivo proposto pela prefeitura paulistana mudou o calculo do valor a ser pago no imposto predial. Quem mora melhor, paga mais. Ou seja, que mora nos bairros nobres, paga mais por que pode pagar mais. Por que tem os serviços de saneamento e iluminação, por exemplo, garantidos. Que mora na periferia, paga menos. Simples e justo.
Na média o valor a ser pago no IPTU de São Paulo diminuiu. Mas aumentou entre os mais ricos.
Fazer os ricos pagarem mais por alguma coisa é tudo o que as elites não querem. Por consequência, os grandes meios de comunicação. Como também não querem que o Estado brasileiro se volte, um mínimo que seja, para os mais pobres. Daí toda a campanha difamatória contra programas sociais.
Se por acaso a taxação das grandes fortunas entrar realmente na pauta política do Brasil será um “Deus nos acuda”. Como será no ano que vem. Ano eleitoral. Com os candidatos de oposição que não decolam, nem com a mídia a favor. Viveremos dias de terrorismo midiático. É assim que a mídia faz suas chantagens.
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