Mauro Santayama, em seu blog
13/12/2013
(JB) _ - Uma das mais importantes vitórias brasileiras, no contexto geopolítico, nos últimos anos, foi a conquista da Diretoria Geral da OMC - Organização Mundial do Comércio, pelo diplomata Roberto Azevedo, em dezembro do anos passado.
Embora sua eleição tenha sido classificada pelos perdedores, mais como triunfo do próprio
candidato do que do país em que nasceu, tratou-se, na verdade, de uma vitória
eminentemente nacional.
Apesar da férrea oposição das grandes potências ocidentais,
os EUA e a União Europeia – na Europa, só Portugal nos apoiou - Roberto Azevedo
foi eleito com uma frente de mais de 20 votos entre os de 159 países de todas
as regiões do mundo.
Diplomata experiente, trabalhando há anos na OMC como
representante do Brasil, Azevedo e a equipe brasileira na OMC, já haviam
colocado os Estados Unidos e a Europa de
joelhos em outras ocasiões: a vitória brasileira e a derrota dos EUA nos
contenciosos do suco de laranja e do algodão – que ajudou muito países em
desenvolvimento; a vitória do Brasil contra a União Europeia nos casos do
açúcar e do frango congelado, e contra o Canadá, devido a subsídios ilegais (Embraer
x Bombardier) à
exportação de aviões.
Não satisfeito em derrotar de forma decisiva o candidato mexicano
Hermínio Blanco, os EUA e a Europa, na sua eleição para a OMC, Roberto Azevedo
alcançou, na semana passada, uma emblemática vitória, não apenas para si mesmo e
para a organização que dirige, mas também para o Brasil, do ponto de vista
diplomático e geopolítico.
Em um encontro da Organização Mundial do Comércio em Bali, na
Indonésia, conseguiu destravar as negociações comerciais da Rodada Doha, que sofriam
um impasse histórico há anos, e fez com que a OMC alcançasse o primeiro acordo
global de comércio - um objetivo que era perseguido desde sua fundação, em
1995.
Depois de dias de difíceis negociações, quando o acordo
caminhava para sua finalização, foi preciso enfrentar forte resistência da
Índia, que não queria abrir mão de subsidiar sua agricultura, para garantir
alimentos locais para a população mais pobre, e de Cuba, que, junto com outros
países bolivarianos, exigia que os Estados Unidos levantassem o embargo
econômico sobre seu território, como condição para assinar a declaração final.
No final do processo, ficou claro que nenhum outro país, ou
representante, que não o Brasil – sócio da Índia no IBAS e no BRICS, e
responsável pelo financiamento e construção do novo Porto de Mariel em Cuba –
ou Azevedo, poderia remover as resistências indianas e cubanas e alcançar o
mínimo de consenso necessário para se alcançar o entendimento.
Depois, as pessoas se perguntam por que o Brasil trata bem
países como Cuba, Venezuela, Bolívia,
Nicarágua, ou outros, ainda menos favorecidos, do continente africano. Não é
apenas pelo fato de fazermos bons negócios -somos superavitários com a maioria
deles – mas também porque é assim – com diplomacia, equilíbrio e inteligência -
que se constrói e mantêm uma posição de liderança. E, como vimos pelo acordo de
Bali, assinado por 159 nações, uma forte influência global, o que não é pouco.
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