Algumas análises culpam a insuficiência dos investimentos como causa central desse fracasso. Defendem que ele deve ser de 22% do PIB para o País crescer 5% ao ano. São números estranhos sem nenhuma base empírica. Antes pelo contrário. Nos trinta anos (1950 a 1979) o crescimento médio anual foi de 7,4% e o investimento apenas 19,2% do PIB, nível próximo ao atual e, na década de 80 o investimento foi 21,8% e o crescimento 1,7% (!).
Tenho defendido que o que impede o crescimento é o medo da inflação. A política econômica de Lula, Dilma e FHC em nada se diferem quanto a essa diretriz central. Isso faz com que o comando da economia se desloque para o Banco Central e esse usa todas as formas possíveis para segurar o consumo, sendo a principal a convivência pacífica com as maiores taxas de juros ao tomador do mundo, a mais baixa liquidez da economia entre os países e uma taxa de juros que o governo paga aos aplicadores das mais altas visando atrair os especuladores internacionais, que lucram anualmente U$ 10 bilhões (média dos últimos seis anos) e que tornam o câmbio artificial barateando o produto importado, o que reduz o crescimento.
Há consenso ao reconhecer que a crise internacional vem derrubando o crescimento em todos os países, e nesse ambiente investir é arriscado para as empresas.
Há os que apostam que na insuficiência do investimento privado a solução é o governo federal investir mais, mas é apostar numa eficiência de gestão com sérias dificuldades para conseguir tirar as obras do papel.
Há também consenso de que o crescimento não virá pela via das exportações, pois o mercado externo está saturado e fortemente vendedor. A não ser em algumas commodities, na agricultura e pecuária é possível algum resultado, mas mesmo assim sem expansão significativa sobre o ano anterior.
O consumo das famílias, segundo essas análises, atingiu seu limite devido o que consideram ser excessivo o endividamento, com cerca de 1/3 do orçamento doméstico comprometido com o pagamento de prestações.
Interessante notar que sobre os juros embutidos nessas prestações há omissão. Segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) os juros médios anuais em 2011 foram de 119,8%, em 2012 atingiram 101,7% e desde outubro do ano passado gira em torno de 90%. Nos países emergentes a média é de 10% e nos países desenvolvidos 3%. Assim, quase metade das prestações são juros. Eis a razão da inadimplência e o principal freio ao crescimento.
O que fazer?
A primeira coisa a reconhecer é que a economia está emperrada devido ao potente conjunto de freios que o governo ainda não removeu por medo do fantasma da inflação. São eles: Selic, juros bancários e carga tributária sobre o consumo, dos mais altos do mundo e liquidez das mais baixas do mundo. Para remover esses freios são necessárias medidas de curto e longo prazo.
Curto prazo – A redução dos juros (básico e bancário) e da carga tributária vai aliviar o orçamento doméstico, bem como o custo de produção e o capital de giro da empresa. Mas isso é factível? Sim e rápido. Se o governo decidir reduzir a Selic para 5% (não se justifica 10%) vai economizar os recursos necessários à desoneração sensível na carga tributária com foco nos bens e serviços de maior consumo popular.
Além disso, a queda da Selic reduz os ganhos de tesouraria dos bancos e se tabelar, reduzindo as tarifas bancárias (não sei porque ainda não foi feito) vai empurrar os bancos privados na ampliação da oferta dos empréstimos gerando a necessária concorrência bancária, com aí sim, a redução dos juros.
Não basta o Banco do Brasil e a Caixa reduzirem seus juros. É necessário seguir o conselho uma vez dado pelo economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diante da solicitação do governo para reduzirem as taxas de juros: "Você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”. Sem querer, ensinou o caminho das pedras: aperte o lucro dos bancos. Isso é que vai levar o cavalo ao rio. É bom o governo ouvir quem é do ramo.
Para ativar exportações, a medida de maior eficácia é a desvalorização cambial que pode ser alcançada sem ônus via ampliação da liquidez, à semelhança do que vêm fazendo os países desenvolvidos, que desvalorizaram suas moedas para elevar suas exportações. O câmbio para isso deve ser ligeiramente acima de R$ 3,00, que é o nível necessário para permitir o equilíbrio nas contas externas. Para isso é necessário elevar a liquidez (6% do PIB) no País, que é metade da praticada na Argentina e México.
Mas se o governo continuar acreditando nos pacotes de estímulo e nas concessões nos modais de transporte e não remover os freios que ele próprio impôs ao desenvolvimento, dificilmente irá conseguir ultrapassar o crescimento de 2% no qual patina a economia. É hora, pois, de tirar o pé no freio (juros e carga tributária elevada e liquidez baixa) e deixar o País crescer. A bola está só com o governo.
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