A mãe que trabalha de manicure e faxineira comprou um lindo relógio de presente de Natal para o marido, que é empreiteiro.
O filho, de 16 anos, que trabalha com o pai, pediu pra dar uma volta com o presente novo. Queria mostrar pros amigos. Saiu de casa e em menos de 30 minutos estava de volta.
Tinha sido assaltado.
Um carro da PM parou os garotos, deu uma blitz e um dos policiais ficou indignado com o que viu.
- Como você tem um relógio desses, garoto? Ladrãozinho, né?
O garoto tentou explicar que era do pai.
Não adiantou.
Tomou um chacoalhão e ainda viu o policial levar os 30 reais que tinha na carteira.
Voltou para casa desolado, com raiva e chorando.
A mãe me contou essa história hoje pela manhã, remediada.
É comum, me disse.
Garotos de periferia que saem bem vestidos e são parados em blitz costumam ser assaltados e apanhar da polícia.
São tratados como malandros.
Ladrãzinhos.
Os rolezinhos que assustam os frequentadores de shopping centers são café pequeno. Sobremesas do que essa garotada passa diariamente.
E são apenas um alerta.
Um grito de existência.
Por enquanto eles só estão pedindo para que se respeite o direito deles à diversão. A poder fazer seus bailes funks sem serem atormentados e agredidos.
Atendê-los o quanto antes, entender por que eles tem um ódio imenso da polícia e tentar criar uma nova situação é fundamental.
É bizarro que a gente considere esse apartheid social algo normal.
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