José Álvaro de Lima Cardoso
Uma das
questões fundamentais da economia brasileira é se, com o nível de crescimento
atual, o país conseguirá manter a expansão do emprego, mesmo que crescendo mais
devagar, como foi em 2013. A taxa de desemprego está
estabilizada em 9,0%, na média do ano, segundo o DIEESE. A taxa de desemprego
de novembro, calculada pelo IBGE, recuou para 4,6%, menor taxa desde da série
histórica iniciada em 2002. Em 2014, o mercado de trabalho deve seguir
razoavelmente aquecido, o que afasta a hipótese de oscilações muito
significativas no emprego, tanto num sentido quanto no outro, o que é
fundamental para o país.
Para o nível
de geração de empregos pelo menos se manter, é fundamental a expansão do
crescimento. A economia brasileira vem andando de lado nos últimos três anos,
período em que o crescimento médio do PIB foi algo em torno de 2%. Tudo indica
que esse cenário não se alterará significativamente em 2014. Se considerarmos o
crescimento esperado para este ano (2,5%) e para 2014 (3%) a taxa de
crescimento média nos quatro anos do Governo Dilma ficará em escassos 2,3%.
Esse desempenho, se confirmado, não poderá ser creditado exclusivamente ao
contexto internacional, pois, no período 2011 a 2013, os países emergentes
cresceram à taxa de 5,3% e o mundo 3,3%.
É possível atribuir o baixo crescimento do Brasil a um conjunto de
fatores. No entanto, sem dúvida a manutenção do Brasil na condição de pais com
a maior taxa de juros do mundo, figura como um dos principais. Os juros
estratosféricos inibem o consumo e valorizam o real, atraindo capital
especulativo e barateando as importações, o que afeta diretamente as nossas contas
externas. No começo de 2013 o Brasil praticava as menores taxas
de juros da história (menos de 2% em termos reais), caminhando em direção a
confluência com as taxas internacionais. Se o país persistisse nessa mudança, no
médio prazo haveria expressivos benefícios para o setor produtivo, que teria
custos de obtenção do capital compatíveis com os internacionais.
Essa medida era fundamental também porque, somada à outras medidas,
permitiria a redução dos preços, combatendo a inflação e estava contribuindo
para elevar a competitividade da indústria brasileira. Mas a
pressão do sistema financeiro e dos “rentistas” para aumentar a Selic (com o
argumento falacioso de que a inflação estava “fora de controle”) foi muito
grande e o governo teve que recuar em 2013. O aumento da inflação no Brasil, no
primeiro semestre de 2013, não decorreu de um problema de excesso de demanda, e
sim, pelo menos em boa parte, em função da valorização dos preços das
commodities internacionais, especialmente as alimentares, o chamado “choque de
oferta”. Elevação de juros para uma inflação que não advém de pressão de
demanda, não funciona no controle da inflação e acaba funcionando como uma
“bola de ferro” na economia, que impede que o crescimento deslanche. A
sinalização do Banco Central é de que o ciclo de elevação dos juros se
prolongue ainda nos próximos meses. Mas se o Brasil quiser crescer em 2014 tem
que adotar as medidas adequadas e não temer a pressão dos “rentistas”.
Economista e supervisor técnico
do DIEESE em Santa Catarina.
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