“O
melhor do Brasil é seu Povo.
E
o pior, é um governo golpista!”
Exmo.
Sr. General,
Queremos cumprimentá-lo
por sua entrevista, “Somos um país que está a deriva”, concedida ao jornal Valor Econômico e publicada dia 17 de
fevereiro/2017.
Alegra-nos sua coragem e
discernimento e a postura cívica das Forcas Armadas do Brasil, de respeito à
Constituição Federal, nesses tempos em que os três poderes de Estado não
hesitaram em desrespeitá-la com o processo de impechment ilegítimo e
vergonhoso.
Sua entrevista traz diversos
aspectos que merecem atenção de todo povo brasileiro e é com eles que queremos
dialogar. Suas declarações, lastreadas pela investidura do cargo que ocupa e em
sua vasta experiência pessoal, conhecedor da nossa dura realidade social, adquirem
uma importância ainda maior.
1.
Uma
crise Profunda. Vivemos um momento complexo, difícil, em
que a sociedade brasileira enfrenta uma grave crise econômica, política, social
e ambiental.
É realmente estarrecedor
que este grande país, dotado de um povo trabalhador, com invejável conhecimento
e capacidade técnica,com riquezas naturais fantásticas e uma estrutura
produtiva situada entres as dez primeiras economias do planeta, registre
dificuldades para encontrar um rumo emancipatório, soberano e de prosperidade
social para toda sua gente, e não apenas para um minoria de 76 mil milionários,
entre 204 milhões que vivem do trabalho.
Lamentavelmente os
grandes meios de comunicação, um dos principais responsáveis pela crise
política que se instalou no país, monopolizados e partidarizados, não se
interessaram em informar a população e em repercutir seu grave alerta sobre o
rumo do nosso país.
2.
A
defesa dos interesses do povo e da soberania nacional.
Somamo-nos à sua apreciação, e acreditamos que a mesma é unânime dentro das
Forças Armadas, quando afirma que a tarefa da Defesa Nacional não cabe apenas
aos militares. Manifestamos, assim, a nossa preocupação com a Defesa Nacional e
com a Soberania do Brasil e de nosso povo.
Enxergamos perigos quando
projetos estratégicos, gestados à décadas e realizados em parceria com empresas
de engenharia nacional, são minados e encontram-se sob intenso bombardeio promovido
pelo mesmo grupo politico que açambarcou os poderes do Estado.
Ataques que são incentivados
e potencializados pelo oligopólio mediático, que sempre hostilizou as empresas
publicas, o Programa Nuclear Brasileiro, a Petrobrás, a Vale do Rio Doce, a
Telebrás.
Querem finalizar, agora,
o que o antinacional governo de Fernando Henrique Cardoso iniciou na década de
1990.
Nossa maior empresa
estatal, a Petrobrás, está sendo esquartejada, suas funções estratégicas estão
sendo reduzidas e, até, paralisada em vários de seus projetos indispensáveis à
sua sobrevivência e crescimento.
Não é segredo para
ninguém que programa do submarino nuclear está em vias de paralisação.Um
projeto que atesta nossa capacidade científica e de planejamento estratégico,
ameaçado por um governo golpista, antipopular e entreguista.
Também,é motivo de
profunda apreensão junto aos movimentos populares, aos sindicatos dos trabalhadores,
nos meios intelectuais e estudantis, as informações indicando que está sendo
elaborado um acordo que prevê a transferência do controle da Base de
Lançamentos de Foguete de Alcântara para o Estados Unidos.
Se tal acordo for
aprovado por decisão política desse governo golpista, mais uma vez, estaremos
entregando aos interesses estrangeiros as vantagens e privilégios que a
natureza legou ao nosso país, como é a localização geográfica da Base de
Alcântara.
Pior, anuncia-se que o
governo golpista enviara ao congresso nacional Medida provisória autorizando a
venda de nossas terras ao capital estrangeiro, e ainda nos ridicularizam ao
estabelecer os limites de até , apenas,
200 mil hectares. Desafiamos os seus
defensores tentarem comprar igual quantidade de terras nos Estados Unidos eou
na Europa!
A engenharia nacional
está sendo entregue de bandeja aos concorrentes estrangeiros o que, direta e
indiretamente, prejudica projetos
essenciais na Indústria de Defesa Brasileira.
Todas essas investidas atendem a interesses de capital estrangeiro e de
governos imperiais, como foram claramente revelados e comprovados nas denuncias
do Wikileads, sobre a espionagem realizada em nosso país.
Desafiamos a encontrar
nos países ditos desenvolvidos a adoção dos mesmos métodos e praticas adotadas
aqui para penalizar empresas nacionais envolvidas em processos de corrupção.
Como
movimentos populares e pessoas engajadas de nosso povo não permitiremos que se
entregue nossas riquezas, nossas terras e a base de Alcântara, nem a soberania
da Petrobras.
3.
A
crise política e a necessária democracia
das urnas. Também nos preocupa muito a crise política em que
vive o pais, por causa da irresponsabilidade dos partidos políticos derrotados
nas ultimas eleições presidenciais.
A democracia,
imprescindível para o desenvolvimento político, econômico, social e cultural do
nosso país, só pode ser construída pelas urnas, pela participação e pelo
respeito à vontade da maioria do povo brasileiro.
O desrespeito com que o
Poder Legislativo e setores do Poder Judiciário – inclusive com a conivente
omissão do STF (Supremo Tribunal Federal) - trataram a Constituição Federal
para que tivesse êxito o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff,
legitimamente eleita, pode não ocupar espaços nos noticiários da mídia, também,
golpista.
Como parte do que fazer
de um governo ilegítimo, tentam nos impor diversas reformas anti-democráticas
que inviabilizarão a melhor das condições de vida de nosso povo. Como foi o
limite de gastos públicos, sem citar que o maior custo é o pagamento de juros
ao capital especulativo dos bancos. A
proposta da reforma da previdência que condenará milhões de trabalhadores ao
trabalho eterno. E a reforma trabalhista
que terceirizará e romperá a estabilidade social conquistada pela CLT, pela
constituinte e pelos avanços sociais de todo século XX.
Mas esse ataque à
Democracia e ao Estado de Direito está presente na memória do povo e já faz
parte dos anais da história do nosso país.
No futuro a sociedade
brasileira será capaz de responsabilizar e punir os protagonistas do crime
cometido.
Já, agora, o povo não
reconhece no atual governo a legitimidade para construir um novo projeto de
país.
4.
A
corrupção é um modo permanente de governar das elites.
Toda e qualquer corrupção deve ser combatida e punida, de acordo com nossas
leis. No entanto, aqui o combate à corrupção está servindo para atender
interesses políticos partidarizados, destruir as empresas nacionais que
disputam o mercado internacional e facilitar a ingerência externa em nosso
país.
Muitos ministros e
parlamentares se notabilizam pelo enriquecimento ilícito, pela desmoralização
da política e das instituições do Estado. Estão mais empenhados em não aparecer
nas manchetes policiais do que em construir uma Nação e cuidar do bem-estar do
povo brasileiro.
5.
O
papel das Forças Armadas. Diante desse momento histórico que
vivemos, cabe reconhecer e parabenizar as Forças Armadas pela acertada decisão
em rejeitar os pedidos, feitos por uma minoria da sociedade brasileira mas amplificados
pela mídia golpista, de intervenção
militar na crise política do país.
Como o Sr menciona na
citada entrevista, há a necessidade do Exército participar nos debates dos
temas importantes da sociedade brasileira.
Partilhamos de sua visão
e preocupação quanto a equivocada decisão política de empregar as Forças
Armadas em comunidades carentes, assumindo atribuições de policia ,com o
pretexto combater a criminalidade. Ou
para exercer apenas o ridículo papel de policia.
Os problemas de
criminalidade, tem raízes estruturais e sociais e não se resolvem apenas com
repressão militar. É preciso medidas políticas que enfrentem os problemas de
fundo, que levam a nossa juventude à criminalidade. É preciso combater,
estruturalmente, a miséria, a desigualdade social e o desemprego crônico da
juventude.
Como o Sr sinaliza, para
resolver os problemas fundamentais da sociedade, o emprego das Forças Armadas
contra o narcotráfico será sempre ineficiente, contraproducente, com efeitos temporários e ilusórios.
O que de fato reduz a
captura da juventude pobre pelo narcotráfico e o crime, é a geração massiva de
empregos, acesso à educação e condições dignas de vida.
Para isso é preciso a
retomada do crescimento, com o indispensável investimento público em obras,
como a construção de moradias, hospitais, ferrovias, hidrovias, estradas,
saneamento básico, e, fundamentalmente, com uma reforma agrária que interrompa o êxodo rural e promova um
desenvolvimento social e econômico em nosso vasto território nacional.
6.
As
raízes da crise do país. No entanto, Sr. General, a crise
instalada hoje no país, não tem suas causas restrita às esferas da política e
das instituições do Estado.
O monopólio dos meios de
comunicação de massas, inexpugnável em nosso país, certamente é um dos fatores,
senão o principal, da crise politica existente.
A democracia, e a política,
vem sendo sistematicamente vilipendiada para atender e preservar os interesses
particulares das famílias que monopolizam a mídia e seus braços
político-partidários.
Além disso, meios de
comunicação privados de maior alcance, descumprem o previsto na Constituição no
que tange a difusão dos valores humanistas e de nacionalidade; não primam pela
missão educativa da informação como um bem social; mantem no esquecimento, ou
relegada ao silencio, a nossa cultura própria eos personagens relevantes da
nossa história; promovem um verdadeiro culto à violência, ao consumismo e a um
exacerbado individualismo, promovendo um esgarçamento da vida social.
Precisamos urgentemente
rever as diretrizes constitucionais para a concessão publica dos serviços de
radiodifusão, democratizando a produção e o acesso à comunicação no Brasil.
Assim, temos vigorosas
razões para estarmos preocupados e , também, para entender a gravidade de seu
alerta quando afirma que “Somos um país que está à deriva”.
Diante
da gravidade da situação e da urgência em encontrar saídas para a crise, é
imprescindível a ocorrência de novas eleições gerais no país e as mudanças
Constitucionais que assegurem o fortalecimento do Estado Democrático de
Direito. Que sabemos, virá, apenas quando instalada uma nova Assembleia
Constituinte, eleita sem as influencias do poder econômico e respeitando a
verdadeira diversidade e pluralidade existente na sociedade.
Enfim,
temos tudo para não estar à deriva.
Queremos construir um
novo projeto para o pais, que enfrente a raiz dos problemas e proponha soluções verdadeiras para os
problemas do povo.
Exmo. Sr. General,
queremos nos colocar à disposição para debater todos os pontos mencionados em
sua entrevista.
Consideramos muito
salutar que possamos ter um canal para debater tais temas, principalmente,
aqueles que, afetam perigosamente a soberania brasileira e colocam em risco as
condições de vida e o futuro de nosso povo.
Assim, receba os
cumprimentos pela relevância dos temas abordados e ao apelo à reflexão sobre os
graves problemas que nos cercam.
Atenciosamente..
Seguem-se adesões de
dirigentes de movimentos populares e intelectuais comprometidos com nosso povo.
1.
Fernando Morais, escritor
2.
Beto Almeida, Jornalista
3.
Joao Pedro Stedile, ativista do MST e da Frente Brasil Popular.
4.
Ana
Corbisier, socióloga, tradutora, SP
5.
Siba Machado, Acre
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