Por Fernando Brito, no blog Tijolaço. Transcrito no blog do Miro.
Não dá nenhuma alegria a decisão dos empregadores de dois dos médicos envolvidos na monstruosa chacota feita nas redes sociais com o AVC de Marisa Letícia Lula.
Também não tenho “peninha” do que lhes aconteceu: são adultos e caso se pretendam médicos o mínimo que que se pode pedir a quem confiamos para nos abrir a barriga a bisturi é que saiba, ao menos, fechar a própria boca quando o ódio quer transformá-la em cloaca.
O que me entristece, mesmo, são duas outras coisas.
O primeiro é o grau de degradação no comportamento humano é tanto que chegamos a um ponto em que xingar tornou-se algo que perdeu todos os limites, até os da decência profissional.
E não pense que é só à direita, não: há os que se dizem de esquerda mas não vão além de querer, como um Bolsonaro, a desgraça, a supressão, a morte de alguém por suas convicções.
Este, o campo do ódio, é o terreno deles e não vou dar ao meu adversário a vantagem de jogar na sua casa de horrores. Nosso campo é o da civilização, da humanidade, da dignidade e da tolerância.
O segundo, e isso é mais constrangedor, é que estas pessoas ganharam habilidades e conhecimentos médicos com o dinheiro da população, com o dinheiro do Estado brasileiro, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, mas não se sentem devedores – por isto ou por sua profissão – sequer de um mínimo de equilíbrio em seu comportamento social, que dirá de humanidade.
Hoje mesmo, cedo, li a mensagem de meu amigo – e médico – Eduardo Costa, comemorando o fato de, há 50 anos, ter entrado no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), criado por Vargas e ampliado por Juscelino – um “Mais Médicos” de 70 anos atrás, e com apoio não dos cubanos, mas de Franklin Roosevelt – para levar saúde à Amazônia e ao Vale do Rio Doce. Ambos eram quase desertos humanos, aos quais a borracha e a exploração mineral levaram gente pobre, gente desassistida, igualzinho a milhões de brasileiros que ainda estão assim, nas lonjuras ou nas periferias urbanas.
Conta um pouco da história, dele e de outros médicos gaúchos que foram para a Amazônia, onde ” não tinha água encanada, e luz (só) de um motorzinho que funcionava das 19 às 21 horas”. Era a Boca do Acre, no Amazonas; era Brasil e era lugar onde havia seres humanos vindo de longe, como os 56 cearenses que fundaram o lugar, entre eles Alexandre de Oliveira Lima. que enricou e ganhou o apelido de Barão de Boca do Acre.
Isso, gente que veio de longe para essa terra de oportunidades, como vieram os Casa e os Rocco, pais e avós italianos de Marisa Lula e como vieram também os país e avós árabes do Dr. Richam, o que desejou que seus colegas fizessem logo ela “dilatar as pupilas”.
Ao longo da vida, alguns de meus melhores amigos foram ou são médicos. Sei que sua tristeza, neste momento, é maior que a minha, porque a profissão é, para muito de nós, a única religião e seu deus é a dignidade dos nossos semelhantes.
Nos anos 80, logo que surgiu a Aids e não havia praticamente com o que tratá-la, um deles que tratava pacientes muitas vezes terminais, dizia que se não pudesse fazer mais nada, dar a eles o direito a morrer numa cama limpa era ser médico.
Os que fizeram esta brutalidade não são. Nem podem ser, até que se curem do ódio.
Não dá nenhuma alegria a decisão dos empregadores de dois dos médicos envolvidos na monstruosa chacota feita nas redes sociais com o AVC de Marisa Letícia Lula.
Também não tenho “peninha” do que lhes aconteceu: são adultos e caso se pretendam médicos o mínimo que que se pode pedir a quem confiamos para nos abrir a barriga a bisturi é que saiba, ao menos, fechar a própria boca quando o ódio quer transformá-la em cloaca.
O que me entristece, mesmo, são duas outras coisas.
O primeiro é o grau de degradação no comportamento humano é tanto que chegamos a um ponto em que xingar tornou-se algo que perdeu todos os limites, até os da decência profissional.
E não pense que é só à direita, não: há os que se dizem de esquerda mas não vão além de querer, como um Bolsonaro, a desgraça, a supressão, a morte de alguém por suas convicções.
Este, o campo do ódio, é o terreno deles e não vou dar ao meu adversário a vantagem de jogar na sua casa de horrores. Nosso campo é o da civilização, da humanidade, da dignidade e da tolerância.
O segundo, e isso é mais constrangedor, é que estas pessoas ganharam habilidades e conhecimentos médicos com o dinheiro da população, com o dinheiro do Estado brasileiro, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, mas não se sentem devedores – por isto ou por sua profissão – sequer de um mínimo de equilíbrio em seu comportamento social, que dirá de humanidade.
Hoje mesmo, cedo, li a mensagem de meu amigo – e médico – Eduardo Costa, comemorando o fato de, há 50 anos, ter entrado no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), criado por Vargas e ampliado por Juscelino – um “Mais Médicos” de 70 anos atrás, e com apoio não dos cubanos, mas de Franklin Roosevelt – para levar saúde à Amazônia e ao Vale do Rio Doce. Ambos eram quase desertos humanos, aos quais a borracha e a exploração mineral levaram gente pobre, gente desassistida, igualzinho a milhões de brasileiros que ainda estão assim, nas lonjuras ou nas periferias urbanas.
Conta um pouco da história, dele e de outros médicos gaúchos que foram para a Amazônia, onde ” não tinha água encanada, e luz (só) de um motorzinho que funcionava das 19 às 21 horas”. Era a Boca do Acre, no Amazonas; era Brasil e era lugar onde havia seres humanos vindo de longe, como os 56 cearenses que fundaram o lugar, entre eles Alexandre de Oliveira Lima. que enricou e ganhou o apelido de Barão de Boca do Acre.
Isso, gente que veio de longe para essa terra de oportunidades, como vieram os Casa e os Rocco, pais e avós italianos de Marisa Lula e como vieram também os país e avós árabes do Dr. Richam, o que desejou que seus colegas fizessem logo ela “dilatar as pupilas”.
Ao longo da vida, alguns de meus melhores amigos foram ou são médicos. Sei que sua tristeza, neste momento, é maior que a minha, porque a profissão é, para muito de nós, a única religião e seu deus é a dignidade dos nossos semelhantes.
Nos anos 80, logo que surgiu a Aids e não havia praticamente com o que tratá-la, um deles que tratava pacientes muitas vezes terminais, dizia que se não pudesse fazer mais nada, dar a eles o direito a morrer numa cama limpa era ser médico.
Os que fizeram esta brutalidade não são. Nem podem ser, até que se curem do ódio.
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