Autor: José Carlos de Assis
A agenda da globalização, entendida
como um mandato livre conferido ao capital para transitar livremente
pelo mundo explorando mão de obra dos países pobres e em
desenvolvimento, caminha para ser revertida de forma espetacular pelo
grande fenômeno político do nosso tempo, o político que não é político
Donald Trump. O recado está dado. Enquanto os globalizantes de Davos
esperavam perplexos pelos sinais do novo Presidente, Trump em pessoa
fulminou com qualquer esperança de contemporização com uma celebração
surpreendente de valorização do nacionalismo e do patriotismo.
Entre nós a imprensa ignorante e
vassala do neoliberalismo não entendeu e ainda não entende nada. Basta
ver os debates da Globo News. O nacionalismo é visto como um mal
político, assim como uma ameaça ao livre comércio. Santa ignorância. Não
há nenhum país do mundo que se desenvolveu que não tenha apelado para o
nacionalismo em seu processo de construção. E não há país desenvolvido,
a exemplo da Inglaterra e dos próprios Estados Unidos, que não tenha
combatido o nacionalismo em sua área de influência quando esta tentou se
desenvolver, disso extraindo evidentes benefícios próprios.
A turma de Davos está em pânico. São os
grandes beneficiários da globalização financeira. Surgiram dos anos 80
para cá, no rastro da avalanche ideológica suscitada pelo neoliberalismo
de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, consolidando-se como os grandes
instrumentos de um processo inédito de concentração de renda no mundo, o
1% que tem 50% da renda planetária. A grande contradição, contudo, é
que no processo de superexploração dos pobres com a liberação financeira
acabaram provocando pobreza também nos países ricos, notadamente no
maior deles, os Estados Unidos, cuja classe média desaparece.
Os únicos grandes beneficiários do
processo de globalização são os ricos e os muito ricos. As outras
classes são afetadas pelo desemprego ou pela queda de renda. É claro que
só uma curiosa virada do destino poderia fazer com que um bilionário
sem tradição política tomasse as dores da classe média e dos pobres
americanos de forma a provocar uma verdadeira mudança de paradigma na
administração pública do país. Claro, tudo está ainda no começo. É
preciso esperar os atos, disse a propósito de Trump o Papa Francisco.
Contudo, os sinais são indiscutivelmente promissores. É sintomático o
Dia do Patriotismo.
Por que não devemos temer o
nacionalismo de Trump? As pessoas se fixaram na sua proposição de
“primeiro a América”, e se esqueceram do compromisso complementar de que
os Estados Unidos não mais se meterão na vida política de outros povos.
Não era justamente isso o que queríamos? Ou nossa intenção é ter os
Estados Unidos como cabeça de um império mais preocupado em cobrar
tributos do que em promover sua própria riqueza, sua agenda de empregos,
e sua tecnologia. Salve, pois, o nacionalismo americano. Isso não quer
dizer que seu mercado será fechado. Quer dizer simplesmente que vão ser
cobrados impostos.
É uma idade nova que se anuncia no
mundo. Na era da hegemonia inglesa a Inglaterra impunha ao resto do
mundo o liberalismo econômico, monopolizando a venda de manufaturas e
promovendo o monopsônio na compra de matérias primas. Os Estados Unidos,
até na fase com que Trump promete acabar, seguia o mesmo figurino.
Agora vai haver sim, livre comércio, mas em igualdade de condições para
todos. Se um país quer competir, que compita também com sua mão de obra,
pois se houver desequilíbrio salarial grande haverá imposto na razão
direta para nivelar as trocas. É ruim isso? Os trabalhadores do mundo
dirão que não.
Tendo em conta essas considerações
relacionando Trump e Davos, a pergunta óbvia é: o que o procurador geral
da República do Brasil, Rodrigo Janot, foi fazer em Davos? A imprensa
noticiou que ele disse lá que o trabalho da Procuradoria é
“pró-mercado”. O que significa exatamente isso? Pró-globalização? Se foi
isso, o procurador chegou atrasado, a globalização financeira vai
acabar. É claro que ele não disse que é um patriota, pois isto não cola
para quem está entregando segredos de brasileiros a potências
estrangeiras. Também não disse que é pró-serviço público, pró-emprego,
pró-distribuição de renda. Na verdade ele se comportou como um cipayo,
palavra argentina que, segundo a citada entrevista do Papa Francisco,
designa “quem vende a pátria à potência estrangeira que lhe dá mais
benefício.”
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